21-Distração
Contém assuntos sensíveis. +12
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Revirei os ossos sob a cama que parecia me assar e espetar, a noite inteira atordoa e ansiosa, cheguei a tomar um pouco de leite com achocolatado, para melhorar — inútil.
Conversei com Bel quase a madrugada toda, aquela garota não dorme, parece uma sonâmbula desocupada, eu provavelmente acabo contribuindo para o mal desenvolvimento do desempenho dela na faculdade fazendo isto — estou sendo uma irmã irresponsável e compactuando com a atitude errada da Isabel.
Poxa, ela é jovem ainda, acabou de entrar na fase adulta e apenas quer ser a garota do ensino médio ainda por rasos segundos.
Isabel é uma garota inteligente, ganhou uma boa bolsa por mérito próprio e dedicação junta do esforço, o único erro dela é se distrair muito fácil.
— LEILA, PELA MILÉSIMA VEZ FILHA. — Ouço Ivone gritar da cozinha e saio correndo descalça rumo a ela.
— O que foi mãe? — Questiono apavorada, recuperando as forças após a corrida.
— Deixou de novo o pano perto do fogão menina! Se pegar fogo... onde está sua cabeça hoje hein? Parece estar dormindo acordada? — Sou agredida pela violência das palavras e permaneço quieta.
Queria eu estar dormindo mãe.
— Desculpa mãe, acabei me distraindo... não vai acontecer de novo. — Informo detestando minha distração perigosa que quase causou incêndio na casa toda... que droga, que droga!
— Estou com sono e dor de cabeça, vou enviar o dinheiro da condução para Bel e depois volto. — Informo quase inaudível e retorno ao meu quarto, quero me enfiar debaixo dos edredons e encher a boca de doces, principalmente balas ácidas.
Qual é, tenho o direito de fazer drama.
Ivone continua me esculachando em tom escandaloso sobre o quão perigoso é deixar pano perto da chapa do fogão e como parece que estou boiando fora da realidade, apenas recebo tudo em câmera lenta até o som sumir.
Me jogo sob a cama e penso em como será o dia amanhã, cogito a possibilidade de pedir demissão antes do aniversário de Victor... perdão Carlota, não ficarei perto do seu filho tendo que aguentar a mimada da Júlia fingir gostar dele como é da parte de Victor... reciprocidade passou longe.
Mastigando uma bala, deslizo as cerdas do pincel melado de preto sob a unha — agora é tudo ou nada, tomarei a decisão que for benéfica a mim em primeiro lugar, porque eu devo vir em primeiro lugar; a seguir buscarei outro emprego para distrair minha mente.
Mensagem de Bel:
Podia me levar no cinema né caramelo.
Que cinema o que, folgada você hein? Vai estudar porque não quero uma irmã bonita e lesada.
Se nada der certo eu viro stripper, vc vai me levar sim no cinema chata!
De onde tirou essa ideia absurda de stripper Isabel?! Foram suas amizades, certeza, nenhuma delas presta.
Que nada, foi eu quem sugeri a segunda opção boba, sou a má influência do grupo! Sabe quanto ganha uma stripper para rebolar a bunda e fazer papel de puta? Cacete, é muita grana!
Palhaça, deixa você vir com essa gracinha de novo que eu vou arranca sua franja no tapa, experimenta ir nessas ideias.
E sobre o cinema, vamos combinar direito, só depois que vc me mostrar o boletim esperta.
Aff, tá louco viu Leila! Facilita pow, eu sou uma pobre inteligente, não ganhei a bolsa? Então, posso ter um pouquinho de diversão, alivia a barra, sou uma cachorra esforçada.
Tá, tá, tá, Isabel eu vou pensar muito no seu caso, ficar até tarde no celular é péssimo pra estudar depois e se suas notas caírem eu levo a culpa por colaborar com isso, a mãe e o pai vão me matar, ce sabe.
Desliga.
Isabel não respondeu, então ignorei o restante das mensagens, exceto uma de Marcos: Me encontra lá, não demora dessa vez caralho.
Como assim? Estranho demais.
Um encontro confidencial...
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Dia seguinte.
Antes mesmo de pisar no quarto de Victor, sinto um puxão no braço que me faz desequilibrar.
— Leila, meu doce, preciso que me ajude a organizar a festa do meu garoto. — A voz sensível e amigável de Carlota me diz com um sorriso fofo nos lábios pintados de bordô.
— Claro, como posso ajudar? — Questiono baixinho sorrindo.
— Preciso que pergunte ao Victor qual sabor favorito dele, estou em dúvida entre: morango ou limão. — Resmungo em concordância, parecemos duas espiãs falando sobre provas.
— É claro... só isto? — Esfrego o dorso da mão quando ela me solta.
— Sim, já contatei o buffet que irá fazer as outras coisas como: música e decoração. — Informa a doce mulher de macacão preto sem mangas.
— Está bem, vou acordá-lo agora. — Comento despedindo dela com um sorriso e saio rumo ao quarto após ter o balançar de cabeça em concordância.
Estranhamente sinto que nada está igual hoje, alguma coisa está errada...
De repente sinto uma onda de telecinesia me atingir com bruta força e não consigo mover mais que dou passos dos meus tênis vans pretos.
— Ele não pode saber. — Sussurra a voz trêmula feminina, aproximo a orelha da porta e encosto-a na madeira fria.
Está quase toda fechada, apenas um espaço curtinho está mostrando o que eu não consigo acreditar estar ouvindo neste exato momento.
A loira geme quase alto demais para ouvir de longe, enquanto o canalha a penetra com intensidade, sem o mínimo de preocupação ou empatia por...
Minha garganta se fecha e a visão fica turva, por mim que se fodam os dois, não ligo — mas tem alguém que será afetado por isto, é o que me dói.
Escorrego o quadril até atingir o chão e quase estatelo a bacia violentamente, fazendo o momento íntimo dos dois filhos da puta ser interrompido e o escuro do quarto ser tirado do silêncio, exceto pelos barulhos constrangedores vindo do cômodo, feitos pelos dois.
Malditos, tenho nojo de vocês.
Busco forças para erguer o corpo e tomar coragem, pois preciso contar, não posso guardar isto... ele merece saber.
Caminho desorientada e zonza, até chegar no quarto de Victor, onde fecho a porta e ainda segurando a maçaneta atrás de mim, tento respirar — o ar foge do meu pulmão sufocado, a garganta queima feito brasa.
Vejo que ele está bem humorado e disposto a começar o dia bem.
Não consigo abrir a boca e falar nem bom dia para o homem que está colocando o tênis em minha frente e acaba de me dar bom dia de modo fofo.
— Está calada hoje, aconteceu alguma coisa? — Pergunta Victor parecendo preocupado, notou minha mudança drástica de atitude rotineira.
— N-não. — Balbucio engolindo o choro e buscando algo que sustente meu corpo bambo neste momento... conta para ele, não seja covarde.
— Victor eu preciso te... — Algo dentro de mim me força a calar a boca e eu quase perco força nos joelhos e caio.
Victor torce o nariz desconfiado.
— Está mentindo para mim Leila. — Deduz convicto, não há como fugir do instinto que ele comporta consigo.
Victor agora está perto demais e vai me ouvir fungar e desabar no choro, aguente firme, resista Leila.
Resmungo prendendo o soluçar do choro que já me engole e dando três passos para trás em relação a estrutura dele.
Náusea chega e eu preciso mantê-lo afastado de mim, não por repúdio a ele, mas por não conseguir tirar da mente o que acabo de ver no quarto de hóspedes e o tanto que isto está sufocando.
Se eu não dizer, serei tão traidora quanto eles, porque quando você sabe da verdade e opta por omitir, é tão cúmplice quanto aqueles que apunhalaram pelas costas.
Estou tremendo e enjoada, não consigo mexer um osso do lugar.
— Está chorando, estou sentindo. — Victor eleva a mão para alcançar minha bochecha e eu recuso, afastando o rosto.
A expressão apreensiva dele me deixa pior, porque não poderei esconder por muito tempo, de duas uma: ou eu despejo a verdade cruel em cima dele ou escondo e invento uma mentira banal para justificar o choro aparente.
— Leila, eu me importo com você, preciso que confie em mim, não consigo decifrar seus olhos, mas posso ver com a alma. — Diz Victor baixinho e sensível, me puxando para um abraço que não consigo negar, não posso mexer uma articulação sequer.
Estou tremendo tanto que os espasmos que o soluço do choro causa nem são consideráveis.
— Victor. — Balbucio afundando o rosto em seu sobretudo preto macio, tão baixo que quase nem eu mesma escuto, sinto o acariciar da mão esquerda dele em meu cabelo e o conforto que seus braços trazem.
Não quer ser condizente com a situação e muito menos vê-lo sofrendo, apenas não sai, a maldita frase entalada dentro de mim não quer sair.
Não esperava muito dela, mas Marcos...por que, por que foi tão sujo.
Covarde, pela primeira vez na vida estou sendo covarde e omissa.
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Mal toquei em minha comida até agora, a ânsia não deixa, o pior é que tenho que contemplar a máscara desses dois desgraçados, agindo como se nada tivesse acontecido, cínicos, traidores.
Carlota nem imagina, a inocência não é capaz de teorizar o caso escondido (agora não mais) do filho mais novo e da nora vadia.
— Leila, estava pensando, poderia dizer a sua família vir aqui almoçar conosco qualquer dia, gostaria de conhecê-los. — Victor sugere sendo adorável e até carinhoso.
A fresca do vestido tomara que caia rosa escuro acompanhado de um blazer branco de couro, do outro lado da mesa — repuxa os lábios em reprovação.
— É um convite meu... como foi trabalhar naquela casa onde você trabalhava? — Pergunta descontraído antes de mastigar um pedaço de manga, inofensivo.
Marcos sorri para mim como fazia antes de que eu descobrisse a baixaria que fez com a vagabunda do cabelo oleoso em minha frente.
Não sorria para mim Judas, quero quebrar seus dentes.
— Foi bom até a mulher deve começar a me acusar de ser amante do velho que tinha idade para ser meu avô, ridículo. — Comento apertando o talher na palma com tanta força que quase deixo carimbado as marcas dele em mim, preciso descontar a fúria imensa que estou sentindo antes de espetar o olho azul desta sonsa em minha frente.
— Que horror, qual a paranoia desta mulher? Não vejo pessoa mais confiável que você para cuidar de alguém, principalmente se for uma pessoa com condições complicadas como... enfim. — Dona Carlota repudia o ato e omite o nome do filho da frase, pois pode incomodar citar novamente a condição que o primogênito já sabe de cor e salteado.
— Leila é uma mulher muito bonita e charmosa, então não acho estranho a tal mulher sentir ciúmes do velho babão, apesar de que é bem patético mesmo... seria de péssimo gosto escolher um homem que mal consegue... para se relacionar. — Diz o falso que ainda mantém a expressão cativante no rosto pálido, que hipócrita, falando de escolhas, quando escolheu justo a namorado irmão entre milhões de pessoas no mundo, para transar as escondidas.
Quero que um raio caia na mesa agora, estou cega de ódio. Vocês irão cair, e quem vai derrubá-los sou eu.
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