15-Pedido
Quando você se machuca sob a superfície
Como água gelada turbulenta
Bem, o tempo pode curar, mas isso ele não vai...
Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer seu coração bater melhor?
Se pelo menos eu soubesse que você tinha uma tempestade para enfrentar
Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer tudo parar de doer?
➪ 𝙱𝚎𝚏𝚘𝚛𝚎 𝚢𝚘𝚞 𝚐𝚘|𝙻𝚎𝚠𝚒𝚜 𝙲𝚊𝚙𝚊𝚕𝚍𝚒|
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Pensei a noite inteira sob a decisão que irei tomar e o quanto isto é nocivo para minha mente danificada e meu coração em frangalhos... Lavo minhas mãos, desisto do Victor, é em vão.
Opto por um vestido vinho jeans mangas longas, meias pretas opacas e coturnos cano curto — passo maquiagem para esconder as profundas olheiras resultado de uma péssima noite de sono e amarro minhas tranças, cogito pôr a touca preta por cima, mas dispenso — estou anestesiada por tanto sono ainda agredindo minha carcaça toda.
Mastigo o nada e respiro fundo, tenho que ter disposição e garra para aguentar mais um dia, o frio assolando tudo lá fora — a cabeça latejando e a garganta dolorida também para ajudar.
"Se recomponha Leila Tavares", ordena a voz mental contida em mim.
Cada som, cada gesto que eu produzo, é apenas o passar das horas, não tem sentido, em câmera lenta, atrasados feito o meu projetar de pensamentos.
Que dia horrível, quero apagá-lo da memória o mais rápido possível.
— Leila, queria te avisar que quando chegar e for tomar banho, espero alguns minutinhos porque o chuveiro está demorando para esquentar. — Informa dona Ivone que está adoçando o café acima do fogão aceso.
Está avisando porque tomo banho todos os dias quando chego do trabalho e aos domingos às vezes dois banhos, a conta de água está num preço absurdo, porém estou trabalhando para ter no mínimo água limpa para me limpar né.
Apenas me sento sob a dura cadeira branca e agarro o pão com manteiga feito quase agora que exala calor, o alimento desce rasgando como se uma placa invisível impedisse o caminho até o estômago.
— Meu amor, estou te achando abatida, aconteceu alguma coisa? — Repara a mulher de poucas rugas que cruza os braços a frente do peito.
— Na verdade aconteceu mãe. — Desabafo após mastigar mais um pedaço de pão.
Imediatamente Ivone fica preocupada.
— Estou aqui para te ajudar filha, qualquer problema que tiver, me diz e eu vou tentar te ajudar se estiver ao meu alcance. — A bondade ingênua dela é incrível.
— O caso é: estou me apaixonando. — Despacho qualquer preocupação desnecessária que a deixe nervosa excessivamente.
Ivone suspira aliviada.
— Isto é bom ou ruim? — Ivone questiona estreitando o cenho.
— Não sei ainda...sei que não consigo tirar ele da cabeça. — Sinto sufoco somente em citar tal coisa.
Ivone arregala as íris escuras surpresa.
— Está dizendo que... Ah Leila. — Soou com uma pontinha de decepção, não por mim nutrir o sentimento por quem ela já suspeita... e sim por ser ele.
— O problema que me dá dor de cabeça é que... Victor não é meu... já tem dona. — Dou uma pausa para conseguir dizer tudo.
Ivone faz careta em reprovação e dúvida.
— O fato dele ser cego não te incomoda filha? — Minha mãe toma cuidado com as palavras ao dizer.
Não gostei do comentário, por isso irei responder usando a sinceridade e parcialmente.
— Considero justa toda forma de amor, seja a pessoa que recebê-lo como for. — Esfrego o nariz com coriza e procuro papel para assoar, além de tudo estou gripado, inferno.
— Tive uma ideia! — A mulher negra da bunda grande estala os dedos diante do próprio busto.
Presto atenção, pois ela é sábia e experiente e a melhor conselheira que tenho.
— Abre essa linda boquinha e fala que ama o bonitão, depois rouba ele da oxigenada antipática, pronto, problema resolvido. — Dá a solução com extrema segurança.
Quem dera fosse tão fácil...os anéis solares não giram em torno da minha vontade.
— Vou indo, beijos mãe. — Me despeço dela depositando um beijo em sua pele quente, sem beber café mesmo, estou ficando atrasada.
Horas depois.
Chego a casa e escuto um barulho vindo da cozinha, mal cumprimento Carlota que estava bebendo chá na sala em seu sofá confortável e corro até o cômodo.
— Puta que pariu. — Xinga o branquelo caído sob o piso tentando levantar, aparentemente escorregou... que irresponsabilidade das domésticas.
A passos cuidadosos, agacho os joelhos e o ajudo a levantar agarrando seus bíceps e cotovelos, Victor geme quando meus dedos entram em contato com uma parte específica do braço dele.
— Calma, levanta devagar e confia em mim. — Peço cautelosa o ajudando a ficar de pé e tentando evitar relar na parte ferida, deve ter quebrado algum osso.
Resmungando de dor, o dos olhos verdes aflitos faz o que eu pedi.
— Sempre confiei. — Murmura baixinho respondendo o que comentei a pouco.
Ficamos de pé e eu ainda mantenho o amparo, segurando a ponte do seu cotovelo.
— O que foi isso? Ouvi um barulho altíssimo da sala... — Carlota entra feito um tornado na cozinha molhada e quase escorrega também, equilibrando o corpo sob o armário bege claro.
— A negligência do pessoal da limpeza, poderia ter causado uma tragédia... que absurdo. — Fico indignada pelo acontecido, Victor remexe o braço desconfortável, chiando de dor.
Carlota fica pasmada notando a consequência do escorregão que Victor tomou.
— Vou levá-lo ao médico, deve ter machucado algum osso. — Informo decidida, mantendo a firmeza do sapato antiderrapante sob o piso escorregadio.
— Não deve ser nada, somente irão pedir raio-x e vai ver que...
— Foi um aviso, não um pedido, você vai e pronto docinho. — Concretizo sendo mais grosseira do que necessitava.
Carlota concorda em resmungo.
Victor bufa insatisfeito antes que eu envolva a mão na cintura dele e o conduza até o quarto, irei apenas pegar sua documentação e iremos, fim de papo.
Procuro a documentação básica para que Victor seja atendido dentro das gavetas da cômoda.
— Preciso da sua ajuda. — Reduz ele sem nenhum esboço de leveza, todavia ainda excitante em cada sutil sílaba proferida.
— Com o que. — Respondo desinteressada ajoelhando para procurar entre as gavetas inferiores.
— Hoje quero pedir Júlia em casamento. — As palavras saem simples, casuais — e dentro de mim algo racha impiedosamente, sinto a órbita que me abriga balança feito uma montanha-russa desgovernada.
As mãos começam a formigar e a visão fica embaçada, luto contra a vontade de me estirar no tapete e refletir sobre isto, tentar digerir a realidade que chega sem piedade.
Letras foram roubadas e as pernas falham.
— Leila? — Escuto a voz sensual me chamar, fui golpeada e enfraqueci.
— Estou aqui. — Comunico tentando emitir som da voz, pareço estar fora da realidade.
Ergo as pernas e alongo a coluna, enchendo o peito de ar — o fio de sombra se projeta em volta do pescoço dele, a seriedade bela se mantém.
— Acho que tem algo errado com você. — Diz parecendo preocupado comigo, aproximando alguns passos corajosos.
Forço as pálpebras e engulo a amargura que envolve laringe — apoio as mãos na cômoda atrás de mim e tento controlar a respiração.
— Impressão sua. — Balbucio sentindo o cheiro adocicado dele invadir minhas narinas, basta um passo e posso colar meus lábios aos seus.
— Não, não é... porque eu sinto infinitamente tudo que você transparece. — Perco mais um pouco da minha instabilidade ereta nestas palavras.
Eu te quero tanto, quero sentir seus lábios nos meus...não posso, minha conduta e respeitosa e não farei o que não desejo que alguém um dia faça comigo.
A mão esquerda dele se desprende da coxa coberta pela calça de moletom e envolve a minha como uma guia.
— Não acredita em mim? — Diz menos rígido e indiferente, colocando minha mão insensível em seu coração escondido por camadas de pele e a blusa preta gola alta.
Abro os dedos neste local, está disparado e quase escuto música fazer fundo para tal.
— Quero que sinta. — O mundo inteiro parou, só existe nós e minha percepção sob o coração entregue quase de bandeja para mim, transmitindo verdade pura e crua.
Não quero afastá-lo, não quero tirar minha palma do seu peito, muito menos negar que estou apaixonada por Victor Avelar.
— Eu acredito. — Digo sem falhar, firme e romântica, como no cenário exclusivo do telão que passa nosso filme.
Me sinto flutuando sob estrelas, a ansiedade é gostosa e quero imaginar como é senti-lo, já que não posso tê-lo... boba, boba apaixonada e rendida.
"O deixe saber, despeje o desejo ardente que brilha e aquece teu coração, diga a ele antes que seja tarde, enfrente a tempestade porque você é o sol e a luz".
Aquela voz interior ruge novamente em mim, empurrando ralo abaixo qualquer outra preocupação.
Hesito, guardando para mim.
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