Capítulo 5
Minha cabeça bateu levemente contra o vidro da porta, acordei, Joel ainda tinha seus olhos na estrada e Ellie parecia entretida com coisas esquecidas de Bill em baixo dos bancos.
— Merda. — Coloquei a mão na cabeça, fazia boas horas que não dormia bem, meu corpo estava dolorido de tanta viagem.
— Aqui. — Joel me entregou uma garrafa, era cheiro de café.
— Obrigada.
— Nossa, Bill tinha bom gosto. — Ellie abriu uma revista com fotos de homens sem camisa, fechei a garrafa rapidamente.
— Ellie joga isso fora. — Joel pediu sem graça, tentei disfarçar meu sorriso.
— Nossa esse é bem grande! Cara como vocês andam com um desses no meio das pernas?! — A garota perguntou, olhei para a estrada, naquele segundo só queria pular do carro. — Espera, por que as páginas tão grudando?
— Argh, que nojo. — Reclamei, Ellie gargalhou alto.
— É brincadeira. — Me senti mais aliviada, ela jogou a revista pela janela.
Mais meia hora na estrada Joel decidiu parar em um posto de gasolina abandonado, haviam vários carros no meio da estrada.
— Vou dar uma olhada. — Avisei, Ellie veio atrás de mim. — Você fica.
— Droga. — Resmungou, peguei minha arma e segui até o estabelecimento.
Não havia muita coisas, desde que tudo mudou os primeiros lugares a serem esvaziados foram os mercados de estrada. Tropecei em uma pequena caixa na área de medicamentos, era um teste de gravidez.
— Sete semanas, está bem pequeno mas mas já conseguimos ver bem aqui. — Ela apontou na tela, meu corpo estava congelado e o olhar distante, não sabia como reagir... não era o que eu queria. — O pai já sabe?
— Não. — Empurrei a palavra garganta à fora, estava angustiada.
— Quer as fotos? — Ela sugeriu, e então notou minha aflição. — Quer que eu ligue pra alguém?
— Não, tudo bem. Eu me viro. — Baixei a camisa e desci da maca, ela anotou algumas coisas em sua prancheta.
— Tem que começar a tomar as vitaminas o quanto antes, também está desnutrida. Precisa se alimentar bem. — Ela dizia, sua voz parecia entrar por um lado e sair pelo outro. — Malorie?
— Malorie? — Ellie chamou minha atenção, escondi a caixa atrás de mim. — O que encontrou?
— Nada. Ta vazio, vamos. — Deixei a caixa em uma prateleira e puxei Ellie comigo para fora. — Como estamos?
— Ainda tem combustível nesses carros, vou ver o que consigo pegar. — Joel levantou do chão e enfiou uma mangueira na parte de trás do carro.
— E como funciona isso? Você chupa essa mangueira pra sair combustível? — Ellie apontou, Joel ficou sem graça.
— Na verdade tem que asoprar, é como empurrar o líquido pra fora.
Me afastei para monitorar a área, ouvi Ellie rindo e Joel rabugento como sempre. Segurei minha arma e segui notando cada detalhe, de repente pisei em um urso sujo e rasgado, meu corpo congelou. Quando me agachei para ver melhor, um infectado saiu de baixo do carro se rastejando rapidamente, caí no chão em choque.
— Puta merda. — Era uma criança com metade do rosto infectado, ainda conseguia ver em seus olhos o que já fora uma vez. — Sai caralho! Sai de cima de mim!
Joel acertou um tiro na cabeça do infectado, empurrei o corpo para o lado e levantei em choque, meu coração estava disparado e a audição prejudicada. Me apoiei em meus joelhos tentando recuperar o fôlego, Ellie veio até mim.
— Você ta bem? De onde aquilo veio? — Perguntou, busquei algum ferimento no meu corpo, nada.
— Ela saiu se arrastando, eu não sei. — Apontei, Joel levantou depois de analisar o corpo do infectado e veio até mim.
Ele puxou meus braços, analisou cada centímetro virando-me de costas, depois analisando meus pés, pescoço, cintura.
— Eu to bem! — Gritei, ele não expressou reação. Podia jurar por um segundo que o vi se sentir aliviado.
— Vamos. — Joel resmungou e foi até o carro, quando entrei coloquei o cinto enquanto pensava na sua expressão de desespero.
Ele ficou assustado, com medo de acontecer o mesmo que houve com a Tess. Joel precisava garantir que não seria mais uma vítima deste mundo quebrado, e só agora entendia isso. Fechei os olhos e encostei a cabeça no vidro outra vez, estava exausta, dormi por mais meia hora até acordar no meio da floresta.
— Onde estamos? — Saí do carro, Joel estava montando acampamento.
— Saí da estrada, acho melhor descansarmos por hoje.
— Ta, eu fico de vigia. — Peguei minha arma e fui patrulhar, Joel me seguiu com os olhos.
— Será que ela ta bem? — Ellie perguntou enquanto montava sua cama no chão.
— Ela é durona. — Respondeu, ainda com um pé atrás sobre o que aconteceu.
Estava escurecendo, seguia em silêncio pela mata segurando minha arma com firmeza. De repente ouvi um galho quebrar, era um coelho, baixei a arma sentindo alívio. Era a primeira vez em muito tempo que vi um animal correr livremente pela mata, ao menos não haviam mais caçadores, agora nós éramos as presas.
— Você está bem? — Era a voz de Joel bem atrás de mim, me virei rapidamente e então joguei a arma para trás.
— Só me assustei. — Respondi indo até ele, o acampamento já estava montado e Ellie já estava deitada na sua cama lendo um livro de trocadilhos ruins.
— O que foi? A Ellie ta te incomodando? — Brinquei, ele soltou uma risada frouxa. — Eu fui grosseira mais cedo, você me assustou.
— Não quis ser invasivo.
— Não levei em conta o que você passou, sinto muito. — Me desculpei, o silêncio pairou sobre nós. — Devia dormir, dirigiu por todo esse tempo.
— E você?
— Pode confiar em mim, não vou te amarrar em uma árvore e fugir com a Ellie. — Brinquei outra vez, Joel foi até o seu saco de dormir, ouvi Ellie conversando sobre algo.
Encarei o chão e então continuei de pé, andei por alguns minutos até se tornar horas, meus pés já não aguentavam mais. Voltei para o acampamento para pegar água, Joel já estava de pé enquanto Ellie dormia profundamente.
— Não consegue dormir?
— Sua vez, descansa. — Joel pediu, prguei um pouco de água e bebi rapidamente.
— Eu posso fazer isso.
— Tudo bem, você já vigiou demais, é minha vez. Pode ficar com a cama. — Apontou, apenas assenti em resposta.
Fui até seu saco de dormir, tirei meus sapatos e deixei a arma do meu lado. Me enfiei dentro do saco, não era a melhor cama mas era macia e confortável. Quando me deitei senti o cheiro forte de Joel, algo semelhante a pinho e óleo de amêndoas. Dormi confortavelmente por mais algumas horas, até acordar com o cheiro de café fresco.
— Vocês bebem essa merda? — Ouvi Ellie praguejar, levantei com os cabelos completamente bagunçados, mas aliviada por ter um descanso decente.
— Ei, não fala mal de café. — Avisei, ela levantou as mãos em rendição.
— Ta legal.
Arrumamos as coisas e voltamos para a estrada, era minha vez de dirigir Joel parecia estar tendo dificuldade para se localizar no mapa.
— Pra onde? — Mantive meus olhos na estrada, mas ainda era difícil de decidir para onde seguir.
— Um segundo.
— A gasolina está escassa, não temos um segundo. — Apontei, Joel virou o mapa outra vez. — Joel.
— Espera.
— Joel! — Ellie chamou a atenção por mim, diminui a velocidade o carro até finalmente parar, Joel baixou o mapa.
— Porra. — Ellie se inclinou para frente, havia uma ponte com um caminhão bloqueando o caminho. Devíamos seguir por aquela estrada pelo resto do percurso, mas parecia impossível de passar.
— Esquece o mapa, o que faremos agora? — O encarei, ele puxou sua arma e saiu do carro.
— Joel! — Fiz o mesmo, o segui até a ponte. — Dá pra mover?
— Não. Vamos dar a volta.
— O que? Por onde? — O segui, Joel voltou para o carro.
— Vamos voltar e pegar a outra estrada, vamos contornar por cima. — Mostrou no mapa, desta vez era ele quem iria guiar o carro.
Seguimos na estrada para dentro da cidade, as ruas pareciam ainda mais bloqueadas e difíceis de passar. Joel cortou caminho por algumas ruas implorando para encontrar uma saída.
— Onde estamos? — Ele me perguntou, agora era eu quem estava confusa.
— Eu não sei, nunca estive nessa cidade antes. Ellie me ajuda aqui!
— É só ler a droga do mapa. — Praguejou, estava começando a ficar nervosos.
— Então lê você. — Joguei em sua direção, Joel me encarou com irritação e então pegou o mapa e tentou se localizar enquanto dirigia.
— Espera. — Segurei seu braço, um homem apareceu no meio da estrada, parecia ferido.
— Socorro! Me ajudem! — Ele dizia gemendo em dor, Joel segurou o volante com firmeza.
— Ellie, o cinto. — Pediu, ele pisou no acelerador e disparou para cima do homem.
— O que você ta fazendo?!
— É uma armadilha. — Explicou, o homem saltou para fora da estrada.
— Cuidado! — Ellie gritou, outro homem apareceu em cima de um prédio e atirou uma pedra enorme em cima do vidro, Joel tentou desviar mas não conseguiu há tempo. Por sorte a pedra apenas rachou o vidro, assim que acelerou o carro passou por pregos furando todos os pneus, Joel desviou e saiu da estrada batendo o carro contra uma loja abandonada.
— Puta merda! — Ellie gritou, Joel nos verificou rapidamente e então tirou o cinto.
— Pra fora agora! — Pediu, saí abaixada e me rastejei para dentro do lugar. — Vocês estão bem? Está bem?
— Sim, estamos bem. — Protegi Ellie, Joel avistou uma passagem na parede, os homens insistiam em atirar contra as prateleiras onde estávamos escondidos.
— Tem uma passagem, vocês precisam passar! — Joel apontou, tentei levantar, os outros homens insistiram nos tiros.
— A bala vai acabar, quando pararem de atirar você vai primeiro, Joel e eu ganhamos um tempo. — Puxei meu rifle e o recarreguei, Joel não teve escolha e concordou no mesmo segundo. — Ellie! Você ouviu?!
— Ta. Ta bem!
— Agora! — A empurrei assim que os tiros pararam, Joel e eu começamos a atirar, acertei um em meio a troca e voltei para baixo.
— Você está bem? — Perguntou enquanto me observava recarregar, assenti. — Sua vez.
— O que?
— Vai passar por aquele buraco. — Apontou, olhei para o mesmo, Ellie precisava de mim mas teria que passar rapidamente. — Eu não consigo passar, mas vocês precisam ficar juntas.
— Joel.
— Agora! Vai! — Gritou, corri até metade do caminho, um homem já estava se aproximando e partiu para cima de mim, acertando-me com o cano da arma.
Joel o acertou em cheio e o arrancou de cima de mim, senti o sangue escorrer pela minha testa. Minha visão ficou turva, senti meu corpo pesar enquanto tentava levantar, Joel lutava com o homem usando toda a força. Levantei-me e puxei a pistola do cinto, destravei e apontei.
— Lorie? — Era Daniel, parado bem do meu lado enquanto Joel lutava contra o outro homem.
— Que merda, v-você ta com eles? — Apontei a arma ele levantou as mãos em rendição, Joel conseguiu nocautear o homem e então veio até mim.
— Eu posso explicar.
— Achei que estava morto, eu te vi morrer! — Apontei com firmeza, ele tentou dar um passo.
— O que ta acontecendo aqui? — Joel perguntou confuso e preocupado.
— Quem é ele? Estão juntos? — Ele tentou avançar, fiz sinal com a arma. — Não importa. Eu posso ajudar vocês, posso te ajudar! Só... abaixa a arma, confia em mim Lorie, sou eu. O Danny.
— Você morreu porra! — Minhas mãos começaram a tremer, ele estava vestido como um deles, um dos homens que estava atirando em nós sem parar.
— Pode confiar em mim, e-eu posso ajudar vocês. A Laura, eu to com a Laura.
— Encontrou ela? — Cogitei em baixar a arma, Joel estava começando a ficar nervoso.
— Que droga, o Bryan morreu, vocês mataram ele... tudo bem, eu posso ajudar com isso. — Danny não piscou nem por um segundo, engoli em seco, a respiração desregulada. — Lorie eu...
Disparei um, dois, três, quatro tiros seguidos, o garoto caiu morto no chão. O encarei em choque, de repente outro homem pulou de trás das prateleiras atirando, Joel um tiro de raspão em seu braço. Suas balas acabaram, ele me acertou no estômago e puxou Joel para o chão, tentei alcançar minha arma mas estava me contorcendo em dor. Foi quando Ellie saiu de seu esconderijo e o acertou na coluna, Joel chutou o homem para o outro lado.
— Ellie. — Falei, a garota parecia em choque, havia acabado de atirar em um homem. Ela veio até mim e me abraçou com firmeza, retribuí. — Joel, tudo bem?
— Não foi nada. — Ele resmungou referindo-se ao ferimento no braço. — Ellie, volta lá pra dentro.
A garota de desvencilhou de mim e voltou para o esconderijo, olhei para Danny no chão, o rosto pálido e o corpo ainda quente.
— Sinto muito. — Joel sussurrou, me aproximei do corpo para buscar algo que pudesse nos ajudar.
— Ele estava com eles, fiz o que tinha que fazer. — Fui direta, guardei sua carteira no meu bolso e fui até a passagem. — Vou achar uma entrada, espera aí.
Entrei e analisei a sala, parecia um escritório abandonado, haviam uma mesa impedindo a passagem pela porta.
— Ellie me ajuda. — Fui até a mesa e comecei a puxar, abrimos a porta, assim que Joel entrou empurramos outra vez para garantir que nada nem ninguém entrasse.
Abri a mochila da Ellie e tirei algumas ataduras, fiz Joel sentar na mesa e tirei sua jaqueta. Ele ficou quieto sem contestar, Ellie sentou-se no chão ainda absorvendo tudo que havia presenciado.
— Pra onde vamos? — Perguntei, quebrando o silêncio.
— Tem um prédio bem alto, não é tão longe. — Ellie dizia.
— É, eu vi. Vamos pra lá assim que a poeira baixar. — Joel sugeriu, concordei com ambos.
— Vamos ficar quietos até lá, não podemos mais chamar atenção.
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