Capítulo 11
A casa era realmente grande e confortável, havia uma lareira, sofás, uma cozinha enorme e um segundo andar com dois quartos e um banheiro.
— Olha esse quarto. — Ellie entrou boquiaberta, era um quarto completamente rosa com pôsteres de filmes adolescentes, roupas. — Que porra é essa?
Ellie segurou um coletor menstrual, era emborrachado, transparente e em formato de copinho, a garota o apertou algumas vezes confusa.
— É pra quando você menstruar, você dobra ele assim. — Expliquei enquanto a garota o encarava fascinada. — E sabe, enfia lá dentro.
— Como eu tiro depois?
— Do mesmo jeito que colocou, eu usava absorventes, mas esse aí deve ser mais prático. — Apontei, a garota franziu o cenho.
— É nojento. — Resmungou fazendo careta.
— É natural, vai se acostumar. — Dei de ombros, Maria entrou no quarto.
— Gostaram da casa?
— É confortável, só reparei que tem uma cama de casal. Tem como nos darem duas camas separadas? — Coloquei as mãos nos bolsos, Maria arregalou os olhos.
— A-ah, claro que sim, que bobagem achei que você...
— Não. Nós não. — Corei, Ellie escondeu um sorriso malicioso.
— Vou ver o que posso fazer. — Maria respondeu e nos deixou, olhei para Ellie.
— Cala a boca.
— Devia tomar um banho, está fedendo! — Ela pós a camiseta no nariz, mostrei o dedo do meio e fui até o quarto que nos prepararam.
Maria havia deixado tudo, roupas, toalhas, cobertores, outro coletor menstrual e... preservativos.
— Ai meu deus. — Escondi em baixo dos travesseiros completamente envergonhada, nunca sequer havia pensado em Joel desse jeito, ele era irritante, rabugento, e bem mais velho.
Peguei a toalha e as roupas e fui até o banheiro do quarto e liguei a torneira do chuveiro, a água quente caindo sobre a minha pele me deixava animada.
— Puta merda. — Tirei a roupa rapidamente e pulei em baixo do chuveiro, fazia meses que não tomava um banho decente.
Camadas de sujeira escorreram pelo ralo da banheira, meu cabelo finalmente voltou a coloração normal, os ferimentos, as cicatrizes, já havia me esquecido delas por baixo da camada de terra na minha pele. Quando saí do banheiro terminando de secar o cabelo e já vestida, avistei Joel tirando seu casaco.
— Não sabia que estava aí, desculpe. — Ele colocou de volta.
— Tudo bem, eles nos deram só um quarto. Eu já pedi pra Maria nos dae camas separadas. — Expliquei, ele concordou. — Devia tomar um banho, tem água quente, shampoo, sabonetes.
— Precisamos conversar. — Ele me interrompeu, cruzei os braços segurando a toalha. — Falei com Tommy, ele vai levar vocês até a universidade onde os vaga-lumes estão.
— O que?
— Eu não posso fazer isso, não posso proteger vocês duas. — Ele dizia com seriedade.
— Nos proteger? Joel, que merda você ta falando? O que o seu irmão faria de diferente?
— O Tommy é novo, tem mais agilidade, e ele já conhece a área. — Ele dizia, neguei incrédula.
— Então é isso? Quer saber, foda-se o Tommy. Você já contou pra Ellie? — Cruzei os braços, Joel negou. — Ótimo, eu acho melhor fazer isso logo porque ela não vai gostar nada da notícia.
— Lorie. — O deixei, encontrei Ellie no corredor ouvindo toda a conversa, peguei meu casaco e saí da casa irritada.
Joel não significava nada pra mim, mas depois de meses juntos nos protegendo, rindo, trocando piadas, contando nossas histórias. Ele simplesmente dizer que vai nos deixar pelo irmão... me deixava revoltada, saber que tudo que passamos significou nada. Não. Isso não deveria me incomodar, principalmente porque Joel era apenas um homem chato que se enfiou na minha missão, era pra ser só Ellie e eu nisso.
Entrei em um bar, parecia bem movimentado, parei quando avistei Tommy sentado perto da bancada bebendo.
— Então ele te contou? — Ele riu, sentei-me do seu lado.
— Seu irmão merece uma surra. — Serrei os punhos, Tommy riu.
— Pode acabar com ele, eu quero fazer isso desde que nasci.
— Você concordou com isso? — Fui direta, Tommy pediu um drink para mim e me encarou.
— A Maria ta grávida, disse pra ele que vou ser pai, e ele me pede pra ir em uma missão dessas pra proteger você e aquela garotinha. — Ele bebeu. — Ele está bravo comigo.
— Por quê?
— Porque eu consegui seguir a vida, e ele não mudou nada. — Me explicou, encarei minhas mãos.
— O quadro dos entes queridos, quem ele perdeu?
— O nome dela era Sarah, minha sobrinha. — Agora entendi tudo, Joel tinha medo de algo acontecer conosco, como aconteceu com a sua filha.
— Vocês dois. Ele tem medo de algo acontecer e não ser capaz de impedir. — Tommy dizia, recebi meu drink e o bebi.
— Ele não tem esse direito. — Reclamei, Tommy riu.
— Então convence ele, tenho certeza de que é mais capaz do que eu.
— Como assim? — O encarei confusa, Tommy olhou para o seu copo.
— Ele não odeia você. — Me encarou outra vez, bebi todo o drink em um gole e levantei.
— Espero que esteja certo.
Tommy levantou o copo, deixei o bar determinada a convence-lo, por quê? Eu não sei, Joel estava começando a me deixar confusa, mas ele não podia passar meses ao meu lado e simplesmente me deixar. Quando subi as escadas, Ellie passou por mim irritada, provavelmente Joel já havia lhe dado a notícia.
— Vocês conversaram? — Entrei no quarto, ele virou-se para mim. — Ela não curtiu a ideia, não é?
— Ela vai entender.
— Só que eu não entendo Joel. — Cruzei os braços, ele encarou o chão. — Eu vou sair com a Ellie amanhã, só nós duas.
— O que? Não, temos um acordo. — Ele apontou, soltei os braços.
— Você tem um acordo, não o seu irmão, nem ninguém. — Retruquei, Joel negou incrédulo. — A mulher o seu irmão está grávida, vai mesmo arriscar a vida dele por nós? Por medo?
— Você não entende.
— Isso, seja ignorante. — Gritei irritada, Joel continuou negando.
— Tudo que eu fiz foi perder até agora, não vou arriscar a vida de vocês também. — Ele dizia.
— Então não arrisque. — Me aproximei, ele me encarou nos olhos. — Não arrisque nossas vidas, não arrisque a vida do seu irmão e a família dele.
Engoli em seco, o coração disparado, não conseguia entender... Joel me deixa irritada, me deixava nervosa só de me encarar com seriedade. Sempre certo, sempre decidindo as coisas por mim, mas esta decisão era minha agora.
Toquei o seu rosto, ele me encarou confuso, mas resposta estava bem ali diante dos seus olhos. Ele não ia mudar de ideia.
— Vou dormir no sofá, pode ficar com a cama. — Dei dois tapinhas no seu ombro e saí do quarto, Ellie estava sentada perto da janela lendo um diário velho. — Ei, vamos sair cedo, vai dormir.
— Beleza. — Ellie veio até a porta cabisbaixa, me encostei na batente.
— Não é culpa sua. — Expliquei, Ellie encarou o chão. — Vamos ficar bem, vem cá.
A abracei, a garota envolveu os braço em volta de mim e então voltou para o quarto.
— Descansa, saímos cedo. — Avisei, Ellie assentiu e se jogou na cama.
Desci até a sala, acendi a lareira e me enrolei em alguns cobertores, encarei o teto pensativa. Não conseguia parar de pensar no calor do seu rosto, na expressão diante dos seus olhos... ele realmente ia nos deixar.
Quando acordei comecei a arrumar as mochilas, senti cheiro de café vindo da cozinha, Joel havia deixado um pequeno favor como despedida. Sorri e peguei uma caneca, a neve ficava cada vez mais grossa na rua, as manhãs eram calmas com exceção das risadas das crianças brincando na frente da rua. Ellie desceu as escadas com sua mochila nas costas, assim que notou a ausência de Joel ficou ainda mais cabisbaixa.
— Pronta pra ir?
— Claro. — Ela respondeu e foi até a porta, o percurso até o celeiro onde ficavam os cavalos foi silencioso.
Tommy nos encontrou e ajudou a preprarar as coisas, Ellie não parava de olhar em volta implorando para que Joel aparecesse com sua mochila.
— Ellie, ele não vem. — Subi no cavalo e estendi a mão para a garota, Ellie pulou.
— Levo vocês até o portão. — Tommy segurou na corda e puxou o cavalo, encarei o chão pensativa.
— Eu falei que só você ia conseguir. — Tommy puxou assunto, pisquei algumas vezes confusa.
— Como é?
— Filho da puta! — Ellie gritou, Joel estava perto do portão com seu cavalo pronto para partir, senti alívio em vê-lo novamente.
— Prontas? — Ele perguntou, neguei seriamente irritada com a enganação.
— Mudou de ideia?
— Eu ainda acho que deveriam ir com o Tommy. — Ele insistiu, neguei.
— Vai se foder Joel. — Ellie praguejou, sorriu ainda desacreditada.
— Vão logo. — Tommy riu, Joel partiu na frente guiando o caminho, Ellie e eu seguimos logo atrás.
Pelo menos uma vez a cada três minutos inteiros ele virava para trás, seus olhos cruzavam os meus, havia algo nesse ato além de verificar nossa segurança.
— Como convenceu Joel a vir? — Ellie sussurrou nas minhas costas, olhei para ele logo na frente.
— Eu não convenci ninguém.
— Mas tentou, eu vi. — A garota rebateu, engoli em seco.
— Não devia espionar conversas entre adultos. — Respondi sem jeito, Ellie sorriu.
— Ficou com medo de eu ver algo mais? — Acrescentou de forma maliciosa, corei.
— Nós não temos nada, não confunda as coisas.
— Mas eu não falei nada. — A garota riu outra vez insinuando algo, tossi levemente sem jeito. — Você gosta dele?
— Não.
— Respondeu rápido demais, eu te deixei nervosa? — Perguntou outra vez, respirei fundo.
— Para de insinuar essas coisas, Joel e eu temos uma grande diferença de idade.
— Eu duvido que alguém se importe com isso agora. — A garota acrescentou, neguei.
— Esse não é o ponto, eu, ele, não vai acontecer.
— Continue negando pra si mesma. — Ela resmungou, revirei os olhos.
— Se continuar falando sobre isso eu te jogo de cima desse cavalo. — Ameacei, a garota arregalou os olhos.
— Foi mal.
— Do que estão falando? — Joel olhou para trás, olhei para Ellie.
— Que você foi muito babaca. — A garota brincou, Joel riu.
— Acho que ele já entendeu Ellie. — Alimentei sua mentira, a garota me encarou com o olhar malicioso outra vez.
Seguimos por mais dois dias direto até a universidade na qual Tommy nos enviou, onde ficavam os vaga-lumes que iam estudar a Ellie. A cidade estava completamente desabitada, dominada pela natureza pós apocalíptica.
— Encontrei! — Gritei, Joel veio até mim. Havia uma placa com o nome da universidade e o símbolo dos vaga-lumes nela, era esse o lugar.
— Ellie, vamos! — Ele avisou, deixamos os cavalos perto da universidade e seguimos caminhando.
— Não acha que devia estar mais movimento? — Ellie me perguntou, dei de ombros.
— Os vaga-lumes costuma fazer tudo de uma forma mais discreta. — Sugeri, a garota franziu o cenho.
O prédio principal estava realmente uma bagunça, deveria ao menos ter sinal de vida. Quando entramos embuma das salas no segundo andar, havia alguns macacos bagunçando o resto das coisas.
— Pra fora, sai! — Gritei, ele mostrou os dentes e saiu de forma hostil pela janela. — Que merda estão fazendo aqui?
— Provavelmente fugiram do laboratório de testes.
— E os vaga-lumes também, pelo visto deixaram esse lugar. — Ellie foi até o quadro no centro da sala onde estavam os papéis e mapas indicando sua nova base.
— Foram pra um lugar mais reservado, talvez aqui não fosse seguro. — Sugeri, entreguei o mapa para Joel, ele encarou as rotas pensando no melhor caminho.
— Todas as indicações apontam para cá, vamos pra esse lugar é nossa melhor aposta agora. — Ele sugeriu, concordei.
Deixamos o prédio rapidamente mais macacos apareceram em bandos se esgueirando pela cidade, Ellie parecia fascinada em vê-los tão de perto.
— O que foi? — Joel puxou assunto, encarei o chão pensativa.
— Os vaga-lumes, por que fugir? A cidade foi comprometida? Teriam nos avisado.
— Não sabiam que estávamos vindo. — Ele dizia quando avistei alguns homens mascarados seguindo estrada a baixo, o puxei.
— Saqueadores.
— Por aqui. — Joel nos guiou pelo outro lado, cortamos caminho por entre os prédios e seguimos até os fundos onde estavam os cavalos.
— Anda Ellie, sobe! — Ajudei a garota a subir enquanto Joel desamarrava meu cavalo, de repente um homem me arremessou para trás.
— Filho da puta, aqui! Estão aqui! — Começou a gritar enquanto Joel partia para cima, meu cavalo fugiu assustado enquanto eles lutavam.
Levantei com dificuldade enquanto Joel acabava com ele, por sorte não estava armado, mas em meio ao conflito o homem acabou quebrando seu taco de basebol e acertando Joel em cheio. Só percebi quando parei para recuperar o fôlego, tentei conter o sangramento com minhas mãos mas não serviu de nada.
— Por aqui! — Ouvi os homens gritando dos fundos, olhei para Ellie.
— Sobe Joel, sobre na porra do cavalo! — O ajudei, ele segurou meu braço e me encarou.
— Não. — O mais velho disse, puxei minha arma.
— Leva ele pra longe daqui. — Pedi, dei dois tapinhas no cavalo fazendo-o seguir em frente.
Assim que ele desapareceu da minha visão atirei para cima e comecei a correr, o grupo de homens mordeu a isca e começou a correr atrás de mim.
— Eu to aqui seus merdas! — Gritei e atirei outra vez, entrei em um dos prédio e comecei a subir as escadas rapidamente.
Estavam tão angustiados atrás de mim que acabaram se esquecendo de Joel e Ellie, ao menos meu plano iria servir de alguma coisa, salvá-los pelo menos uma vez. Me escondi em baixo de uma bancada em um dos laboratórios, o coração disparado quase saindo pela boca.
— Cadê você vadia. — Um dos homens disse ao entrar na sala, cobri a boca e o nariz com a mão. — Quando eu te achar, vou acabar com você.
Sua voz estava cada vez mais perto, de repente ouvi um estouro, um dos macacos deve ter entrado e derrubado algo.
— Encontrei! Ela ta aqui! — Ouvi eles gritarem, o homem saiu da sala deixando-me aliviada.
Levantei e saí da sala com cautela, andei devagar olhando atenta para trás até que fui encurralada, apontei minhar arma direto para o homem mascarado.
— O-o que. — Não hesitei em abaixar nem mesmo quando ele revelou seu rosto.
— Oi garota.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro