Meses se passaram desde que começamos a busca pelo irmão mais novo de Joel, Tommy. O inverno finalmente chegou, tivemos que saquear diversas lojas de roupas para usar os casacos em camadas como cobertores. Depois de se afastar da cidade e andar por horas no meio da floresta, finalmente chegamos à uma cabana afastada de todos.
— Porra, ta muito frio vamos entrar. — Esfreguei as mãos, Joel me puxou para baixo e olhou para a casa. — O que foi?
— Pode ter alguém ali, eu vou na frente e vocês entram depois.
— Não vamos esperar aqui fora. — Avisei, Ellie concordou no mesmo segundo.
— Está bem.
— Não podemos só bater? Seja lá quem mora aqui deve estar sozinho há muito tempo. — Ellie sugeriu, olhei em volta.
— Ela tem razão. — Concordei, Joel carregou a arma e seguiu devagar até a cabana.
— Ele vai mesmo fazer isso? — Ellie perguntou por cima do meu ombro.
— É melhor não arriscar. — Puxei minha pistola e a carreguei, Ellie revirou os olhos e me seguiu em silêncio. — E então?
— Parece vazia. — Joel sussurrou, Ellie foi até a porta e a abriu. — Espera.
— Voltou cedo da... — Uma senhora cruzou o corredor e então congelou, Joel apontou sua arma.
— Quem voltou? Quem mais vive aqui? — Ele perguntou, a senhora arregalou os olhos.
— Apenas eu e meu marido. — Ela explicou e então notou nossos lábios secos e o rosto corado por causa do frio. — Estão com fome? Querem comer? Eu fiz sopa.
— Porra eu to faminta. — Ellie passou por Joel rapidamente, fiquei ao seu lado e o encarei.
— Desculpe a invasão de repente, vamos aceitar a sopa. — Expliquei, o mais velho baixou a arma e a guardou no cinto.
A senhora foi até a sala e se sentou em uma cadeira, Joel puxou um mapa do bolso e jogou sobre a mesa.
— Pode me dizer onde estamos?
— Claro, estão bem aqui. — Ela apontou no mapa, fui até Ellie na cozinha e alcancei uma tigela.
— Olha os modos, somos visitas, não vamos comer tudo que eles tem. — Pedi, a garota soltou a concha dentro da panela.
A sopa estava com um cheiro delicioso, fazia um bom tempo que não comia algo de dar água na boca. Fiz uma tigela para Joel e levei até a sala, entreguei para ele, o mais velho me encarou com apreensão.
— É melhor comer, se só estão de passagem vão precisar de energia. — A senhora avisou, Joel pegou a tigela e começou a comer.
— Quando seu marido volta? — Perguntei e dei outra colherada na tigela.
— Eu não sei, depende do tempo que demora para caçar, as vezes mais as vezes menos. — Ela dizia, Joel colocou a pistola em cima da mesa.
— Vamos esperar.
— Obrigada pela recepção outra vez. — Peguei sua pistola e coloquei de volta no seu cinto, ele me encarou confuso.
— Já vi que tem sido dias difíceis. — A mulher riu, olhamos para ela. — É normal, meu marido é bem teimoso também.
— Nós não somos próximos. — Respondi rapidamente, ela riu.
— Claro que não.
— Caralho isso é um cervo?! Que maneiro! — Ellie gritou do segundo andar, deixei a tigela na mesa e fui até ela.
— Ellie o que está fazendo?
— Lorie olha aqui, isso é muito foda! — Apontou, havia a cabeça de um certo pendurada na parede.
— Argh, sempre detestei caçadores por isso. — Praguejei, Ellie riu e olhou para mim.
— E olha pra você agora.
— Eu caço pra você jantar, não pra pendurar cabeça de animais como troféu. — Coloquei as mãos na cintura, Ellie deu de ombros.
— Aposto que esse cervo tava uma delícia. — A encarei incrédula. — O que você acha que ele fez com o corpo?
— Você é má.
— Eu sou uma sobrevivente, e você também. — Apontou, antes de respondê-la Joel nos chamou do andar de baixo.
Desci rapidamente, ele estava parado em frente a mesa da sala apontando sua arma para o velho marido da mulher que nos recebeu.
— Não queremos problemas. — Expliquei, o homem soltou a arma e sentou-se perto da mulher.
— Então não aponta sua arma pra mim. — O velho pediu, olhei para Joel, ele se negou a baixar a arma.
— Eu to procurando meu irmão, o nome dele é Tommy você o viu?
— Não tem ninguém para esses lados. — Ele negou, Joel colocou a pistola no bolso.
— Em que parte do mapa estamos? É melhor responder igual sua esposa. — Ameaçou, fui até o mapa e virei para o senhor.
— Estão bem longe, como podem estar perdidos? — O velho resmungou, Joel segurou o cinto. — Disse a verdade pra eles?
— Disse. — A esposa respondeu.
— Isso é sopa? Deu sopa pra eles?
— Dei.
— Sinceramente mulher. — O velho resmungou outra vez, soltei uma risada frouxa.
— Anda logo. — Joel pediu, o homem se inclinou e apontou o local certo no mapa.
— Sabem se tem algum lugar como uma cidade ou algo assim? Com pessoas, vaga-lumes?
— Eles não parecem ver pessoas há um tempo Joel. — Olhei para ele, a mulher concordou.
— Moramos aqui há anos, tudo que vemos são corpos.
— Corpos? Onde?
— No rio da morte. — O velho apontou no mapa. — Eles descem o rio, as vezes monstros, as vezes pessoas. Seja lá quem está matando eles, não deve ser do bem.
Olhei para Joel confirmando, era para lá que devíamos ir. Ele pegou o mapa e guardou no bolso, Ellie desceu as escadas rapidamente.
— Desculpem o incômodo. — Ele pediu, estiquei os lábios aliviada por finalmente agir feito humano.
— Não vão até o rio, só vão encontrar coisa ruim por lá. — O velho avisou, deixamos a cabana.
Ellie roubou os coelhos que o velho conseguiu na caça e correu até nós, a encarei repreensiva.
— O que? To garantindo nossa janta, aliás você não gostou dele.
— Como é? — Joel perguntou, segurei os ombros de Ellie empurrando-a na frente.
— Nada. Não é nada. — Respondi rapidamente, a garota sorriu. — Porra a cada dia que passa fica mais frio.
— Melhor montarmos acampamento logo, vamos fazer uma fogueira alta, não deve ter ninguém por aqui e é mais quente assim. — Joel dizia, montamos acampamento perto de algumas rochas onde o fogo esquentava deixando mais confortável, me encostei em um delas e adormeci em segundos, estava tão cansada que minhas olheiras estavam cada vez mais escuras.
— Pode dormir também, eu fico de vigia. — Ellie avisou, Joel carregou seu rifle.
— Sem chance.
— Vocês precisam mais que eu, e podem pegar o turno da noite. — Ela dizia, Joel olhou para mim e então negou.
— Pode dormir. — Ele foi direto, Ellie deitou-se perto da fogueira e dormiu com o calor do fogo, algumas horas depois acordei, Joel estava dormindo perto da mesma e ninguém estava de guarda.
Acendi a fogueira outra vez fazendo-o acordar, ele olhou em volta rapidamente e sentiu alívio ao nos vez em segurança.
— Você dormiu. — Falei baixo para não acordar Ellie.
— Cochilei.
— Acha que o Tommy está lá? Depois do rio? — Sentei do seu lado, ele olhou para frente.
— Eu espero que sim. — Respondeu, quem dera pudesse ler seus pensamentos agora.
— Vai encontrá-lo. — Toquei seu ombro e me levantei. — Pode dormir um pouco, eu vigio agora.
— Tudo bem, já descansei. — Ele levantou e me encarou, desviei o olhar para o chão.
— Aquele casal vivia lá há bastante tempo, não devem ter visto o caos que as cidades se tornaram.
— Isso é péssimo, estão sozinhos e desprotegidos. — Ele colocou as mãos na cintura e olhou para frente.
— Eu chamo de liberdade, já que todos vamos morrer um dia, gostaria de não ter passado por tudo aquilo no começo. — O respondi, ele voltou a me encarar. — A quarentena foi horrível do início ao fim, não desejo aquele tipo de proteção à ninguém.
— Os militares foderam com tudo, quando o real inimigo era outro.
— Mataram inocentes, crianças, jovens. E depois foi pior, criaram uma comunidade onde todos tinham que trabalhar arduamente enquanto aqueles escrotos comiam e dormiam em suas camas quentes. — Quase cuspi as palavras, ele concordou. — Me diz Joel, teve algum momento bom depois que tudo isso começou? Teve algum momento em que se sentiu bem? Feliz?
— Nem tudo era ruim.
— Não. Pra um passarinho em uma gaiola, ter comida e água não é ruim. — Me referi como exemplo, ele permaneceu sério.
— É assim que se sentia?
— É. — Engoli em seco, o olhar distante, pensando em como era a vida dentro dos muros daquela cidade antes de me juntar a causa dos vaga-lumes. — Vou arrumar as coisas, vamos sair logo.
— Ta.
O caminho foi silencioso exceto por Ellie puxando assunto a cada três passos, descemos a trilha até o rio e seguimos até chegar em uma represa.
— Cacete, é assim que produzem energia?
— É, não me pergunte como, eu não sei. — Joel foi direto, considerando todas as questões que Ellie fez durante o caminho, ele já estava sem paciência.
— Aí gente, esse é o rio da morte? — Ellie olhou pro mapa, paramos, Joel foi até a garota e encarou o papel.
De repente várias pessoas montadas em cavalos surgiram, Joel puxou Ellie para trás.
— Malorie.
— Tudo bem. — Larguei a arma e levantei as mãos.
— Larguem as armas agora! — Um dos homens perguntou, pisquei algumas vezes assustada, estavam todos armados e encapuzados. — Quem são vocês?!
— Joel, Ellie, Malorie. — Apresentei, o homem franziu o cenho. — Escuta, não queremos problemas, estamos procurando alguém.
— Vieram no lugar errado. — Ele apontou para mim, Joel foi a frente e me puxou para trás.
— O meu irmão Tommy, ele está com vocês?
— Eu não sei, pode ser. — Ele deu de ombros, Joel arregalou os olhos esperançoso.
— Primeiro vamos ver se estão infectados, depois conversamos. — O homem trouxe um cachorro, recuei. — Se ele atacar vocês, vamos atirar na hora.
— Não estamos infectados. — Expliquei, ele deu de ombros outra vez.
— Não é negociável.
O homem soltou o cachorro que partiu para cima de nós, segurei o braço de Joel com medo, não temia os infectados mas sim um mero cachorro. Ele passou por nós me cheirando rapidamente e então foi até Ellie, Joel segurou meu braço impedindo de interferir, a garota estremeceu preocupada, em segundos poderia ser mutilada por um cachorro raivoso. Para nossa sorte ele latiu e então pulou em seu colo, a garota riu aliviada fazendo carinho e distribuindo afagos.
— Bom. — O homem disse, uma mulher foi até ele e sussurrou algo.
— Venham com a gente. — Ela disse, Joel assentiu.
Recebemos dois cavalos, Ellie subiu comigo em um e Joel em outro. Os seguimos até uma cidade distante como uma fortaleza, certacada por muros e com torres de vigia em todos os lados. Assim que entramos a cidade parecia uma pequena vila, tudo construído com o tempo. Havia um grupo de construtores bem próximos de um prédio erguendo uma parede, Joel pulou do cavalo surpreso.
— Tommy! — Gritou, o irmão desceu do andaime e correu até ele o recebendo com um abraço caloroso. Sorri, levemente feliz pela recepção, e aliviada pelo reencontro que levou meses para acontecer.
— Bem-vindos a Jackson. — Ele nos recebeu, a mesma mulher que falou com o homem mais cedo se juntou à nós. — Pelo visto já conheceram a Maria.
— Recepção calorosa. — Ellie respondeu em tom de deboche, Joel a encarou apreensivo.
— Estão com fome? — A mulher perguntou, dei de ombros.
— Claro.
Nós a seguimos até um grande refeitório onde havia comida quente e bem temperada, Ellie comia rapidamente como se fosse fugir do seu prato.
— Ei, vai com calma. — Repreendi, Maria, a mulher que nos recebeu riu.
— Perdeu alguma coisa aqui porra? — Ellie disse para a garota no outro lado, a repreendi outra vez.
— Você é nova, ela não está acostumada seu comportamento. — Maria explicou.
— Eu posso ensinar.
— Ellie. — Repreendi outra vez.
— Foi mal, é estranho, só isso. — A garota explicou, neguei envergonhada.
— São parentes? — Maria perguntou-me.
— É minha mãe. — Ellie brincou, a encarei outra vez.
— Não sou mãe dela.
— Em que você se meteu Joel? — Tommy o perguntou.
— A Ellie é de uma família importante, temos que levá-la até os seus pais. — Ele explicou, Tommy olhou para mim.
— Juntos? E a Tess não veio com vocês?
— Não. — Ele foi direto, encarei o prato na minha frente.
— Joel não é lá o melhor colega de equipe. — Tentei brincar para descontrair, Tommy riu.
— Sei bem como é, desculpe ter que aturar meu irmão por tanto tempo.
— Obrigada! — Concordei, ambos rimos.
— Ta legal, bom papo. Mas será que podemos conversar só entre a família? — Ele se referiu a Maria, Tommy segurou a mão da mulher.
— A Maria é da família, estamos juntos. — Tommy explicou, Ellie largou a colher boquiaberta.
— Cacete, meus parabéns. — Ela disse, Joel estava surpreso e irritado. — Joel, dá parabéns.
— Parabéns. — Ele resmungou.
— Escuta podem trocar de roupa, tomar banho e ficar a vontade, nós deixamos uma casa pra vocês no final da rua. Não é tão grande, mas é bem confortável. — Maria dizia, olhei para Joel esperando uma resposta.
— Pois é, bem confortável. — Tommy concordou, levantei quebrando o clima tenso.
— Vamos adorar, obrigada. — Agradeci, puxei Ellie comigo, Joel levantou logo depois.
— O que acham desse lugar? — Ellie perguntou enquanto seguíamos atrás a casa, os olhos notando cada detalhe pelo caminho.
— Parece estável, tem água quente, animais, comida. É diferente da quarentena. — Expliquei, Joel parecia irritado com o irmão. — Não acha?
— Acho que acabamos de chegar. — Ele dizia, olhei em volta, haviam lojas e um mural com todas as fotos de entes queridos perdidos ou mortos bem no centro da cidade, ele parou e encarou o mural como se reconhecesse alguém.
— Joel, ta tudo bem? — Ellie perguntou, notei seu pânico de começo, puxei a garota pelo braço.
— Vamos até a casa, ele vem logo atrás não é? Nos vemos lá.
— Ele reconheceu alguém? — Ellie me perguntou, olhei para trás.
— Acho que sim, mas isso não é da nossa conta.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro