Capítulo 43
Quando cheguei em casa estava pingando, o cheiro da floresta ainda estava por todo o meu corpo, fechei a porta e me encostei sentindo-me extasiada. Um sorriso enorme preenchia meu rosto, de repente o dia com ele se passou pela minha cabeça e comecei a me sentir estranha, os seus lábios, o momento em que nos aproximamos... eu estava tão perto.
— Que droga! Que droga! Eu cheguei tão perto! — Cobri o rosto com as mãos e dei alguns pulinhos no lugar.
— Tão perto de quê? — Meu pai entrou no corredor segurando uma cerveja, ele tinha uma camiseta regata velha e seus shorts de andar em casa. Sua barba estava tão grande e grisalha que ele parecia um lenhador.
— N-nada. A mamãe já chegou? — Olhei em volta, ele negou e foi até a sala.
— Sabe que ela tem turno até as onze, e as pessoas precisam dela no hospital. — Meu pai disse abrindo uma caixa de pizza no centro da mesa.
Peguei uma fatia e me joguei ao seu lado no sofá, ele me puxou para um abraço. Assistimos ao jogo de basquete pelo resto da noite, até eu finalmente adormecer. Meu pai colocou a garrafa de cerveja vazia em cima da mesa e me pegou no colo, me levantou, e levou até até o meu quarto.
Era tarde, minha mãe chegou em casa e encontrou meu pai saindo do quarto, eles sussurraram algumas coisas e ele a ajudou a tirar o casaco do uniforme de serviço. Ela o abraçou, e então ele a tirou para dançar ali mesmo e os dois terminaram a dança com um selar de lábios.
— Como foi o turno hoje? — Liam perguntou, Alycia foi até o banheiro e começou a trocar de roupa.
— Cheio de ferimentos e curativos. — Dizia retirando os sapatos sentada sobre o vaso, Liam cruzou os braços e encarou o chão pensativo. — O que foi? Aconteceu alguma coisa hoje?
— Ela saiu pra correr depois da aula, estava treinando os garotos e a vi indo para a trilha.
— Isso é bom. Fico feliz que ela está perdendo o medo cada vez menos e se arriscando. — Alycia levantou, Liam sorriu e concordou.
— É. Muito bom. — Ele dizia, a mulher sorriu e se aproximou.
— Está tudo bem Liam, ela é nossa garotinha, e está crescendo. — Respondeu tentando aliviar a tensão do marido, ele concordou de imediato.
— Tem razão, é que... é difícil não me preocupar, ela é tão nova. Quero dizer, tínhamos a mesma idade.
— E tínhamos um ao outro. — Ela segurou a mão do marido, ele sorriu e deixou um beijo delicado.
— Acha que devíamos voltar com as consultas com a Nora? Quero dizer, ela fugiu outra noite. Pode ser necessário.
— Acho que ela tem que passar um tempo com outro alfa. — Cruzou os braços, Liam franziu o cenho. — Eu tenho uma ideia.
— E eu não tenho outra escolha a não ser concordar com a minha linda esposa. — Liam a puxou pela cintura e selou seus lábios, Alycia sorriu.
Aquela noite foi turbulenta como todas as outras, mas desta vez, não era o mesmo pesadelo. Eu estava na escola, e ao invés da noite, havia um Sol e chuva quente. Meu cabelo pela primeira vez estava bonito e ondulado, e eu estava usando um vestido rosa cheio de cerejas com glitter delicado.
— Ual, você está linda. — A voz veio do outro lado, quando virei avistei Eli parado, vestindo terno e gravata borboleta.
— Obrigada.
— Vamos? — Ele estendeu o braço, sorri e o alcancei.
— Você também está lindo. — Sussurrei e deixei um beijo na sua bochecha, ele corou e então me guiou pelo corredor até a quadra de basquete do colégio.
Havia música vindo de lá, e alguns balões espalhados pelo chão. Eli parou em frente a porta, quando o olhei, parecia surpreso e nervoso.
— Eli o que foi? O que está acontecendo?
— Está sentindo esse cheiro? Parece... — Me virei para a porta, uma luz estranha parecia vir por baixo, e o cheiro era de... sangue.
Quando abri a porta me deparei com sangue para todos os lados, havia um incêndio, corpos flechados e rasgados, parecia uma cena pós-guerra. Meu coração disparou tão rápido que parecia querer saltar para fora do meu peito, quando me virei Eli estava parado bem diante dos meus olhos com uma flecha cravada no peito, ele a arrancou com as próprias mãos e sangue começou a escorrer por entre seus lábios.
— Lya. — Disse antes de cair no chão, coloquei as mãos sobre o seu ferimento tentando estancar o sangue.
— Eli. Vai ficar tudo bem! Vai ficar tudo.
Acordei, estava no meu quarto, era de manhã e meus pais ainda não haviam acordado. Me levantei e fui até o banheiro, tomei um banho quente e me preparei para mais um dia de aula ainda pensando sobre o pesadelo híbrido, já que o ambiente não parecia tão aterrorizante no começo mas então houve a reviravolta.
— Já está de pé? Caiu da cama? — Minha mãe me assustou parada na batente da porta do banheiro, passei por ela e desci as escadas rapidamente.
— Acho que sim. — Resmunguei, abri o armário e alcancei o saco de pão.
Peguei duas fatias e passei pasta de amendoim em um lado, e geleia no outro. Dei uma mordida enquanto abria a geladeira para pegar o suco de laranja, enchi um copo enquanto segurava o pão entre os meus dentes. Fechei a geladeira e levei o copo com suco até a mesa, peguei outra maçã do cesto de frutas e joguei dentro da mochila, então finalmente tirei o pão da boca e mastiquei o pedaço por entre meus dentes.
— Bom dia amor, caiu da cama? — Meu pai entrou no cômodo, dei de ombros e virei o copo com suco na minha boca. — Outro pesadelo?
— É. Parece que estou amaldiçoada a não ter mais boas noites de sono. — Brinquei num tom sarcástico, ele soltou um sorriso frouxo.
— É só uma fase querida, vai passar. — Minha mãe entrou usando seu uniforme de enfermagem, ela conseguia ficar linda mesmo dormindo menos de oito horas por noite. Me perguntava se um dia, minha genética finalmente seria uma benção como foi para ela.
— Eu espero que sim, ou vou ter que dormir em uma toca na floresta. — Brinquei outra vez, os dois me encararam com seriedade e trocaram olhares aflitos. — É brincadeira, eu não faria isso.
— Eu já dormi em várias tocas, inclusive fiz uma em baixo da minha própria cama uma vez. — Minha mãe dizia colocando café em sua caneca, notei meu pai puxar um sorriso discreto. — O seu pai disse que eu cheirava a chulé de meia suja.
— Eu me lembro muito bem daquele fedor mortal. — Ele retrucou, minha mãe deu um tapa no seu ombro, ele gargalhou alto.
— Não era tão fedido, saí as pressas naquele dia, quase me atrasei pra aula.
— Vocês são fofos. — Levantei, ele a abraçou mesmo sentado perto da mesa, minha mãe sorriu e bebeu mais um gole do café.
— Eu te levo. — Sugeriu, neguei de imediato.
— Tudo bem, eu vou andando.
Peguei minha mochila e me despedi, saí de casa e cortei caminho pela floresta até a escola. Estava chutando algumas folhas secas no caminho para a aula quando me deparei com cinzas, era um círculo perfeito de árvores queimadas.
— Mas o que... — Olhei em volta, não havia ninguém, me aproximei das árvores tentando sentir algum cheiro específico.
— Dunbar? O que faz aqui? — Me assustei com Mason segurando sua arma e vestindo o uniforme da polícia, pisquei algumas vezes e olhei em volta sem jeito.
— Oi tio Mason. E-eu estava indo pra aula, encontrei isso, tem alguma ideia do que é? — Apontei, ele guardou a arma e se aproximou.
— Tem alguém queimando essas florestas, não devia andar por aí assim, estamos investigando ainda então pode ser perigoso. — Ele colocou as mãos na cintura e me repreendeu.
— Claro. Não vai acontecer de novo. — Esclareci, ele concordou.
— Xerife Stilinski, eu encontrei outro. — Ele disse no rádio, o xerife o respondeu dizendo que já estava á caminho. — Devia ir.
Assenti e apenas me apressei, saí da floresta com a imagem das árvores queimadas na minha cabeça, de algum modo estava tentando ligar o meu pesadelo com tudo aquilo.
— Lya! — Ouvi Anika chegar, ela se separou do irmão e correu até mim. — Veio andando?
— Precisamos conversar. — Eu comecei, ela segurou meu braço curiosa.
— Vamos até a arquibancada esperar o treino dos meninos. — Disse e me guiou para o campo de lacrosse, nos sentamos nos bancos que até então estavam vazios onde podíamos conversar.
— Eu tive outro pesadelo, foi bizarro parecia nosso baile de formatura mas aí tudo estava em chamas e havia sangue e corpos para todos os lados. — Dizia contando cada detalhe, a garota ouvia atentamente com uma careta aterrorizada.
— Você viu mais alguém lá? Alguém que possa ter feito isso?
— Não consegui reconhecer os corpos, e o Eli estava comigo. — Afirmei, ela parou para pensar e então me encarou com um sorriso malicioso. — O que?
— Pelo menos foram ao baile juntos. — Deu de ombros, desviei o olhar incrédula. — É sério! Já é um progresso.
— Eu o encontrei outra vez ontem, ele me levou até um tronco esquisito no meio da floresta. Ficamos lá por um tempo e... — Lembrei-me do que ele me disse sobre sua situação, não tinha certeza se podia contar para alguém.
— E? O que mais?! Vocês ficaram?
— Quase nos beijamos, mas começou a chover então eu corri pra casa. — Mudei de assunto, ela quase gritou de onde estava.
— Ai meu deus! Eu não acredito, pra alguém que não conseguia nem falar com ele você parece estar indo bem rápido. — Ela me acertou no ombro, cruzei os braços sem jeito.
Os meninos chegaram para treinar, Samuel nos avistou e acenou. Ele entrava de peito aberto no campo carregando toda a fama de filho do capitão do time, é claro que ele também seria capitão já que além de ser filho de Scott McCall, também carregava o poder sobrenatural de um lobisomem beta.
— Ai, eles são tão lindos. — Anika apoiou a cabeça entre as mãos, revirei os olhos. — E ali está o seu futuro namorado.
Avistei Eli acompanhado de Derek e meu pai, os dois adultos estavam conversando enquanto o gatoto carregava todo o equipamento nos braços. Avistei um grupo de garotos rindo, começaram a correr pelo campo para aquecer assim que Eli chegou nos bancos. Me concentrei para ouvir a conversa de Derek com o meu pai, ele logo reparou na nossa presença na arquibancada e acenou com a cabeça, estiquei os lábios.
— Eu quero que dê uma forcinha para o meu filho, ele não está indo bem mas tem potencial. — Derek dizia, Liam apenas concordou com tudo e eles se despediram.
— Hale! — Chamou Eli, o garoto levantou do banco de reserva, ele apontou para o campo e apitou.
Eli se juntou aos meninos na corrida de aquecimento, Anika tirou uma garrafa com água da mochila e me entregou, a encarei confusa.
— Meu irmão não vai morrer de cede se ficar sem água por um dia. — Deu de ombros, me encolhi no meu lugar segurando a garrafa como se fosse a coisa mais importante para mim naquele momento.
Os garotos entraram em posição no campo, me senti levemente tensa ao ver Eli pela primeira vez no gol, o meu pai só podia estar enlouquecendo para colocar ele lá. Mordi os lábios tensa, Anika segurou minha mão e o treino começou, os meninos formaram uma fila e começaram a arremessar contra o gol um a um.
Eli conseguia ser terrível mesmo tentando com todas as suas forças defender uma bola, e Samuel não hesitava em acertar todos os gols para deixar meu pai orgulhoso. Ele olhava para mim toda vez que fazia, e então voltava para o final da fila, sabia como eu gostava de Eli e me deixava irritada toda vez que tentava humilhar o garoto. A garrafa de água começou a se amassar entre meus dedos de tanta raiva acumulada, Anika segurou minha mão deixando-me um pouco aliviada.
— Vai Eli! — A garota gritou chamando a atenção de Eli, só então ele notou minha presença, acenei envergonhada. Ele sorriu e voltou a posição inicial, conseguia ouvir seu coração disparado e o corpo tensionado. Se ao menos ele tivesse o controle do poder sobrenatural, não seria um grande desastre no campo.
Ouvi os garotos sussurrando algo, e então um deles foi à frente com determinação e peito bem aberto, ele pegou a bola e arremessou com tudo acertando a cara do garoto, Eli caiu no chão cobrindo o rosto, meu pai apitou e correu até ele. Estava com a mão cobrindo o olho, tentei ouvir, ele parecia sentir muita dor.
— Droga, vamos! — Anika desceu os degraus rapidamente, meu pai ajudou Eli a sair do campo.
— Vamos pra enfermaria. — Ele dizia quando o encontramos, Anika e eu o ajudamos.
— Nós levamos ele tio Dunbar, pode deixar. — Anika disse, concordei, meu pai nos encarou e então cedeu e nos deixou ir.
— Melhor colocar um gelo. — Ele apontou, assenti. Guiei Eli até a enfermaria, o sinal tocou assim que chegamos lá.
— Droga, tenho prova de biologia avançada, eu vejo vocês depois. — A garota de despediu, concordei e apenas fiquei para acompanhar ele.
A enfermeira o atendeu e deixou um saco com gelo sobre seu olho, quando entrei, ele estava deitado na maca olhando para o teto.
— Pensei que tinha prova. — Ele sugeriu, neguei sentando ao seu lado, mas em uma cadeira distante.
— Eu faço biologia I, Anika que é a inteligente. — Apontei, ele riu e apenas concordou.
— Ta muito ruim? — Ele tirou o saco com gelo, me inclinei e arregalei os olhos, estava arroxeado e com alguns pequenos cortes em volta.
— É melhor deixar o gelo aí. — Sugeri, ele colocou de volta. Comecei a sentir um odor de culpa e vergonha, parecia estar se sentindo humilhado depois do lance.
— Eu falei pro meu pai que era péssimo, ele insiste em me fazer jogar. — Dizia, encarei a garrafa de água em minhas mãos.
— Você não joga muito, mas com o tempo vai melhorar.
— Eu sei lá. — Deu de ombros, parei para pensar em uma sugestão.
— Posso te ajudar. — Ele me encarou surpreso, desviei o olhar. — Quero dizer, o Sam joga bem e posso pedir pra ele te ajudar com isso, ou eu posso te ajudar.
— Você joga lacrosse?
— O meu pai fez questão de me ensinar a jogar, ele também já foi capitão uma vez, então eu meio que aprendi um pouco. — Dei de ombros, ele arqueou as sobrancelhas em surpresa. — Aqui, trouxe água pra você.
— Valeu. — Ele se inclinou para pegar a água e nossas mãos acabaram se tocando, nossos olhos ficaram amarelados outra vez, senti um pico de adrenalina disparar por todo o meu corpo. — O que foi isso?!
— Aconteceu de novo. — Levantei e me afastei, Eli tirou o saco com gelo e tocou o seu olho. — Eli, seu olho curou!
Ele levantou e se olhou no espelho na parede ao lado da cama, parecia confuso e ainda mais surpreso. Ele se aproximou de mim, fiquei contra a cortina e a segurei com firmeza.
— Parece que você tem alguma coisa que me faz me transformar, e-eu não sei, quando nos tocamos. — Ele disse me encarando nos olhos, curioso. — Posso?
Levantei minha mão, Eli a pegou e ficamos um tempo nos encarando, se ele pudesse ouvir meus batimentos cardíacos agora descobriria tudo em questão de segundos. O encarei nos olhos sem nem piscar, era quase impossível não me afogar na clareza profunda do seu olhar.
— Desculpa. — Ele soltou minha mão, desviei o olhar rapidamente tentando me recuperar do ato.
— Nada aconteceu agora. — Cruzei os braços, ele baixou os ombros cabisbaixo.
— É. Deve ser algo momentâneo. Mas é a segunda vez que você me ajuda a curar. — Disse, estiquei os lábios e dei de ombros.
— Eu vim verificar seu ferimento. — Ouvimos a enfermeira entrar na sala, arregalei os olhos.
— Ela não pode ver, vai perceber que curou!
— Droga. A janela, vamos pular! — Eli abriu a janela e começou a sair, franzi o cenho surpresa com a ousadia.
Ele pulou e estendeu as mãos, saí com cautela e pulei de onde estava caindo direto nos seus braços, senti sua respiração soprar em meu rosto mas me afastei rapidamente.
— Pra onde vamos?
— Eu tenho uma ideia.
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