
Capítulo 4
Quando acordei minhas mãos estavam cheias de terra, eu estava deitada sobre uma pilha de folhas no meio da floresta ainda de pijama, o Sol estava queimando meu rosto já faziam boas horas.
— Cacete! — Levantei e comecei a correr, meu coração estava tão acelerado quanto meus passos enquanto corria descalço pela mata.
Saí da floresta direto para o meio da estrada, um carro estava vindo tão rápido que nem me viu no caminho, a batida quebrou o meu braço e deixou alguns arranhões pelo meu corpo. Comecei a gemer de dor enquanto o processo de cura fazia efeito sobre o osso quebrado, de repente uma mulher de olhos bem azuis saiu do carro assustada, seu coração também estava acelerado.
— Meu deus! Você está bem? Eu vou ligar para uma ambulância.
— Não! Não! Está tudo bem. — Levantei com as mãos em forma de rendição, a última coisa que preciso é ir para no hospital para preocupar ainda mais o meu pai.
— Que estranho, podia jurar que ouvi o seu braço quebrar. — Ela disse, assustada.
— F-Foi a adrenalina, a senhora estava dirigindo muito rápido, mais cuidado na próxima vez. — Respondi, me afastando com cautela, antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa voltei a correr.
Precisava chegar em casa com urgência para tomar um banho e ir para a escola, não era só o meu pai no meu pé naquele dia, Scott e Stiles viriam me procurar por causa da lua cheia, e se descobrissem o que aconteceu... o Stiles, esqueci completamente que teria que vê-lo depois do que aconteceu, ainda estava envergonhada depois de tudo, eu fui emocionada? Ou só completamente estúpida?
— Que droga. — Saí do banho e me vesti rapidamente, os cortes cicatrizaram tão rápido que nem me preocupei em sentir dor. — O que?!
Gritei, minhas unhas estavam à mostra mal conseguia fechar os punhos, fiz mesmo assim, tinha que escondê-las de qualquer modo. A dor me fez lacrimejar, mas ia curar, saí de casa e fui correndo até a escola, a única parte boa de ser um lobisomem era ter super velocidade e curar.
Felizmente quando cheguei ao campus os alunos já estavam entrando, Scott estava estacionando sua moto, ele sentiu minha presença de longe e me seguiu com os olhos, apressei o passo para tentar evita-lo.
— Aly! Você está bem? — O garoto correu até mim, e segurou-se pelo braço.
— Por que não estaria?
— A lua cheia, esqueceu? — Tentei continuar entrando mas ele me puxou, e levantou minha mão ensanguentada. — Precisa de ajuda.
— Ta tudo bem Scott. — Me soltei, respondendo-o com seriedade, quando virei-me desviei de Stiles e fui até o meu armário.
— O que foi? — Ele perguntou ao amigo, Scott me seguiu com os olhos até sumir no corredor. — Está preocupado.
— É. Ela é tão nova, ter que lidar com isso...
— Você lidou.
— Mas é diferente.
— É, ela tem você. — Stiles deu dois tapinhas no ombro do amigo, ele esticou os lábios com a resposta.
Sentei-me no meu lugar, o ponteiro do relógio em cima do quadro se movia de forma agressiva, e a cada vez que o fazia, o som fazia-me pular na cadeira. Cobri os ouvidos com as mãos, o suor pingou na folha do meu caderno, olhei em volta, haviam alguns colegas me encarando modo estranho.
— Alycia? Você está bem? — A professora me perguntou, de repente estavam todos olhando pra mim.
Saí da sala tremendo em raiva, fui até o banheiro para tentar me controlar, quando me olhei no espelho os olhos estavam amarelos e as presas à mostra.
— Merda merda merda. — Comecei a tremer, ouvi alguém se aproximando, entrei no primeiro banheiro vazio e me agachei no canto.
Cobri a cabeça com o capuz e apertei os punhos até sangrar, a garota entrou e caminhou pelo banheiro, as gotas de sangue começaram a acumular formando uma poça.
— Oi? Quem ta aí? Ta tudo bem? — Uma voz amigável veio do outro lado da porta, a garota começou a bater tentando abrir. — Precisa de ajuda? Oi!
— Ta tudo b-bem. — Resmunguei, o sangue continuou a pingar cada vez mais rápido, mas minha raiva era maior. — Sai daqui!
— Abre a porta! Me deixa te ajudar!
— Sai daqui agora! — Gritei, minha voz saiu diferente do normal, alterada.
— Eu vou chamar o diretor. — A garota saiu correndo, levantei e saí do banheiro dando de cara com Scott outra vez.
— Vem. — Ele escondeu minhas mãos e me levou para fora da escola, Stiles estava esperando em seu Jeep.
— Como sabia? — Perguntei entrando no carro.
— Senti cheiro de sangue.
Engoli em seco e me encolhi no banco de trás, Stiles olhou para mim através do espelho retrovisor outra vez, desviei o olhar incomodada.
— Para onde vamos?
— Pra minha casa. — Scott respondeu no mesmo segundo, engoli em seco, nunca estive na casa dele antes.
Quando chegamos bebi um copo de água e fiquei no quarto de Scott olhando em volta, analisando traços que representavam sua personalidade. Meu corpo estava fervendo, fechei as mãos outra vez tentando controlar as garras.
— Vai manchar o tapete com sangue. — Um garoto alto, com cabelos cacheados, se escorou na batente da porta.
— Desculpe. — Coloquei as mãos nos bolsos.
— Tem que achar uma âncora. — Ele se aproximou e sentou-se do meu lado, me encarando fundo. — Uma lembrança, um sentimento, um pessoa. Para te acalmar.
— Qual é a sua?
— Meu pai. — Respondeu, fechei os olhos e tentei mentalizar qualquer coisa que pudesse servir de âncora.
A dor, toda vez que o sangue escorria pela ferida nas minhas mãos sentia dor, era uma lembrança... era essa a minha âncora. Tirei as mãos do bolso, estava ensanguentadas, mas sem garras.
— Viu, conseguiu. — Ele apontou, e sorriu.
— Obrigada.
— É a irmã do Scott, não é? Alycia.
— Aly. — Corrigi, ele assentiu. — E você?
— Isaac temos um problema. — Scott nos interrompeu, ele levantou preocupado. — Deaton foi levado, temos que procurar ele antes que seja sacrificado.
— Está bem, vou com a Cora até a cidade procurar por ele.
— Vou encontrar a Allison. — Scott sugeriu, antes de deixar o cômodo levantei chamando a atenção dos dois.
— M-mas e a lua cheia?
— O Stiles vai ficar aqui com você, vai ficar tudo bem. Ele já cuidou de mim uma vez, pode cuidar de você. — O mais velho respondeu confiante, senti um frio no estômago só de pensar que poderia ferir Stiles por acidente.
— Scott. — Segurei a manga da sua camiseta, ele me encarou.
— Vai ficar bem. — Ele insistiu, o abracei com força. — Aly, tudo bem.
Voltei para a sua cama, o garoto passou pelo corredor, explicou ao Stiles tudo que deveria fazer para me manter presa e então saiu num carro com Isaac.
— O Scott já foi.
— Eu ouvi. — Me escolhi no meu lugar, e abracei minhas pernas.
Horas depois, já estava tarde, a luz da lua entrava pela janela do quarto do Scott e refletia diretamente em mim no chão do quarto, acorrentada.
— Tem algo errado Stiles, e-eu acho que não deveria me sentir assim.
— Se acha que não deveria se sentir assim, então é normal. — Stiles agachou-se perto de mim, e percebeu o suor escorrer no canto do meu rosto.
— E-eu não sei Stiles. — Minha respiração ficou desregulada, senti um membro do meu corpo torcer. — Deveria doer assim?
— Assim como?
— Sai daqui Stiles, sai logo! — O empurrei, tentei lutar contra o meu corpo mas a cada vez que fazia, estava mais perto de acontecer. — Liga pro Scott! Liga agora!
Gritei com um rosnado, Stiles correu para fora com o celular na mão. Continuei gritando de dor, o corpo mudando, os pelos nascendo... minha visão ficou turva, avermelhada e desfocada.
— Aly eu já lig... puta merda! — Ele gritou e fechou a porta.
Pulei pela janela quebrando o vidro, quando caí sobre a grama estava na forma perfeita de um lobo cinza, uivei para a lua e corri em direção da floresta, nunca me senti tão livre e entregue aos meus instintos, agilidade, olfato, audição, tudo estava alterado e em perfeita sincronia.
Corri durante a noite inteira, quando acordei estava deitada sobre outro amontoado de folhas, o meu corpo estava na forma humana outra vez e eu estava completamente nua. Haviam folhas, pelos e sujeira espalhados por todo o meu corpo, me abracei tentando esconder as partes mas de qualquer forma estava no meio da floresta, ninguém ia me ver...
— Está perdida? — Uma voz conhecida veio de trás das árvores, avistei Derek com seus olhos vermelhos.
Ele se aproximou retirando o casaco, e então jogou na minha direção, por sorte seu casaco servia como um roupão já que era pequena demais comparada à ele.
— Scott.
— Ele me ligou, disse que a irmã podia estar em perigo. — Ele dizia enquanto desviava o olhar.
— Então... você viu?
— Sua transformação? Sim. Você estava perfeita. — O elogio me fez corar, foi tão de repente que fiquei sem reação. — Sabe, o que você tem é algo muito especial, não são todos os lobisomens que conseguem ter isso.
— Já conheceu alguém assim?
— Há muito tempo. — Seu olhar estava distante, talvez em uma lembrança. — Posso te ensinar a controlar, se quiser.
— Quando o alfa transforma um beta, tem influência sobre ele, não tem? — O encarei, esperando uma confirmação.
— Os alfas são superiores sim, mas, é mais como uma família, ficam mais fortes. — Respondeu, segui Derek na floresta, sem saber exatamente que rumo estávamos tomando. — Está preocupada.
— A Kali, tenho medo do que ela possa fazer, por causa da nossa ligação.
— Tem medo de ela te usar para afetar o seu irmão. — Sugeriu, concordei no mesmo instante.
— Derek. E-eu não quero voltar, não até que esteja completamente sobre controle. — Segurei seu braço, ele me encarou nos olhos e então assentiu.
— Tem um lugar, pode ficar lá até controlar sua transformação.
— É seguro?
— Nem tanto, mas você é um lobisomem, consegue se defender. — Explicou confiante em suas palavras.
— Onde fica?
— Em um metrô abandonado, não é muito longe. Pra falar a verdade, já usei durante a lua cheia para controlar o meu bando.
— Haviam outros?
— Mais uma. Ela era forte, mas deu a vida lutando contra a sua alfa.
— Ela me transformou à força, é injusto você nos ligar assim.
— Tudo bem, está com a gente agora. — Disse de forma séria, era difícil vê-lo mudar de expressão.
— Espero que o Deaton esteja bem... ele foi gentil comigo.
— Ele vai ficar bem, o seu irmão é bem insistente quando se trata de salvar alguém. — Ele dizia como se soubesse exatamente o que estava falando.
Chegamos no loft de Derek onde estavam seu tio Peter Hale, e Boyd. Para passar o tempo, peguei alguns livros para estudar a matéria que perdi na escola, para a minha sorte Derek era um grande apreciador da literatura clássica.
— Scott vai chegar logo para te buscar. — Derek disse, se referindo a mim como uma criança.
— Então essa é a loba? — Peter disse, sentado em uma escada que dava para o segundo andar, me encolhi na cadeira envergonhada. — Não existem muitos como você por ai, sabia?
— Derek me disse.
— Curioso.
— O que?
— Uma beta como você ganhar um poder tão... significante. — Seus olhos azuis se ascenderam sobre mim, engoli em seco com a sensação de inveja.
— E-eu acho que vou pra casa agora. — Levantei-me sentindo tensão em ter seus olhos sobre mim.
— Você não pode. — Derek entrou no cômodo.
— Mas o-o meu pai precisa de mim, quero dizer, se não estou segura então ele também não está...
— É mais seguro para os dois se continuar assim.
Encarei o chão entristecida, quando Scott viria afinal? O que estava acontecendo? Por que todos escondiam segredos de mim? Derek me cedeu um quarto, deitei-me e adormeci em poucos minutos, minha cabeça estava carregada, implorando por um descanso faziam horas.
— Onde ela está? — Acordei quando ouvi o som da porta do loft se abrindo, já era tarde, Derek deu espaço para Scott entrar.
— Lá em cima no meu quarto, ela estava cansada. — Scott assentiu e entrou no prédio, Derek segurou seu braço. — Deixe-a ficar.
— Por quê?
— Ela está segura aqui.
— Não, aqui é o último lugar em que ela estaria segura. — Stiles se colocou na frente de Scott, levantei da cama e fui a escada.
— Me deram até a lua cheia Scott, não vão voltar aqui tão cedo.
— Ela é responsabilidade minha. — Scott soltou o braço de Derek e parou assim que me viu descendo as escadas. — Tudo bem?
Assenti e passei por eles ficando atrás de Scott, que sorriu amigavelmente, Stiles me empurrou para trás, senti minhas bochechas corarem.
— Desculpa Derek, você parece legal, mas eu quero voltar pra casa agora... — Falei num tom de chateação, ele nem sequer piscou, insistia na ideia de que Scott estava cometendo um erro.
— Scott não é seguro pra ela voltar pra casa, você sabe disso.
— Sei. Por isso ela vai ficar na minha casa. — Ele olhou para mim e esticou os lábios formando um sorriso, assenti sentindo-me segura pela primeira vez.
O caminho foi calmo até a casa do Scott, quando chegamos, entrei primeiro e dei de cara com uma mulher com lindos cabelos cacheados.
— Oi! Scott não me disse que ia trazer alguém. — A mulher se encostou na batente do corredor e cruzou os braços, ela parecia ser mais velha, presumi que fosse sua mãe.
— M-mãe essa é... — Scott coçou a nuca tentando pensar em algo.
— Eu sou a prima do Isaac. — Apontei para o garoto do outro lado, ele franziu o cenho confuso.
— E-é. Ela é.
— Aly.
— É um prazer Aly, meu nome é Melissa McCall e eu sou mãe do Scott.
— É um prazer senhora Mccall, sua pele é tão brilhante e seus cachos são lindos. — Peguei sua mão para cumprimentar, meus olhos brilhavam diante daquela linda mulher, ela sorriu com os elogios.
— Gostei dela. — Disse ao filho. — Já tem onde ficar querida?
— Mãe é... esperávamos que ela pudesse ficar aqui hoje. — Scott sugeriu.
— Pode ficar no meu quarto, eu fico com o sofá. — Isaac apontou.
— Tudo bem, eu já vou indo, ouve um acidente na estrada e precisam de mim no hospital. Se cuidem!
— Pode deixar! — Scott disse, sua mãe nos seguiu com os olhos até entrar no carro e sair.
— Bom então, o que vamos fazer?
— Eu to morrendo de fome. — Resmunguei, Isaac riu, o encarei surpresa.
— Vamos pedir algo.
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