
Capítulo 1
A perda é uma sensação que nunca vai embora, sempre terá algo para te lembrar do ente querido que se foi... quando perdemos, parece que somos jogados em um limbo, onde tudo é tão vazio, quase difícil de ver uma saída.
— Você está bem? — A voz rouca do meu pai, veio de trás de mim.
Assenti com dificuldade, as pessoas entravam e saíam da sala choramingando, pessoas nas quais nunca vi na minha vida. Um quadro grande com a fotografia da minha mãe chamava toda a atenção, com minhas mãos trêmulas segurei as lágrimas e caminhei até o quadro.
— Aly, sinto muito. — Rosalya, uma das amigas da minha mãe, que cuidou de mim durante a infância, me cumprimentou. Apenas assenti em resposta, não conseguia nem abrir a boca para falar.
— Vamos. — Meu pai me ajudou a livrar-me da situação constrangedora.
Caminhei até o quadro, cercado por anéis de flores e tentei sorrir, diante da bela fotografia, minha mãe não gostaria de me ver chorar em seu velório... segurei as mãos, estavam tremendo.
— E-eu sinto muito mamãe. — Sussurrei lembrando-me do acontecido, foi um acidente. É o que todos me diziam, não, não foi um acidente.
Meu pai estava desolado, entristecido, já fazia meses que não conversava com a minha mãe, e agora o afastamento era mais um motivo para sentir culpa.
— Partimos amanhã de manhã, tudo bem pra você? — Ele perguntou, com o olhar frio e distante, apenas assenti e me abracei tentando sentir algum conforto.
Depois de me despedir de todos, voltamos para casa, fiz as malas e tomei um banho frio para aliviar a tensão do meu corpo. Quando deitei-me na cama, todo o silêncio desapareceu, não conseguia parar de pensar na escola, na minha transferência, na cidade nova na qual nunca ouvi falar.
Levantei e puxei meu notebook velho, digitei o nome da cidade na barra de pesquisa, haviam algumas fotos, a escola, o centro da cidade, o posto policial.
— Beacon Hills, o que mais está escondendo? — Sussurrei para mim, enquanto passava as fotos, quando cliquei em "notícias" meu coração acelerou, assassinatos, desaparecimentos, parecia algo comum.
— Aly? Está acordada? — Meu pai bateu, fechei o notebook e o escondi em baixo das cobertas.
— Pode entrar! — Avisei, me ajeitando na cama, ele entrou e sentou-se na cama.
— Hoje foi... difícil. — Dizia, levantei e sentei-me para prestar atenção. — Sinto muito que tenha que passar por isso.
Assenti, suas palavras tentando me confortar apenas serviam de lembrança para o dia de luto que tivemos. Era assustador pensar que nunca mais ia vê-la de novo, que a perdi, e a culpa era toda minha.
— E-eu vou superar. — Disse à ele, sua expressão era de pena, por mim, pelas mentiras que estava contando-o quase que o tempo todo. — Posso dormir agora?
— Claro, vou deixar você dormir. — Ele levantou, e saiu do quarto.
Quando ele fechou a porta, me joguei na cama exausta, o corpo tenso e a angustia apertando meu peito, peguei o travesseiro e pressionei contra o meu rosto tentando descontar tudo. Quando acordei, senti meu cabelo tocando parte da minha boca, a mão caía para um lado da cama, enquanto o pé caía para o outro lado, estava dormindo de uma forma completamente desajustada.
— Aly, já acordou? Vamos sair em algumas horas. — Meu pai avisou com algumas batidas na porta, levantei da cama sentindo o peso do meu corpo.
Troquei de roupa e fiz minhas malas rapidamente, meu pai estava me esperando na cozinha enquanto tomava seu café, peguei uma caneca e coloquei café para me energizar naquela manhã, seria difícil para ambos convivermos juntos nos próximos dias.
— Está pronta? — Perguntou-me uma última vez, amarrei meus cabelos e assenti.
Meu pai pegou a chave do carro, e sua pasta com evidências do caso que o levou a cidade. Meus olhos à seguiam com curiosidade, mas nem em sonho ele me deixaria espiar o que havia escondido nela. Entrei no carro, e coloquei meus fones, pronta para uma viajem longa e tediosa até Beacon Hills, fechei os olhos e adormeci no meio do caminho.
— Já estou chegando na cidade, o que? Houve outro? Agora? — Meu pai dizia quando acordei, era logo cedo, o Sol havia deixado meu rosto quente e vermelho.
— Aconteceu alguma coisa? — Resmunguei, ele assentiu e pisou no acelerador, segurei firme no carro, preocupada com a velocidade.
— Precisam de mim para algo, vou te deixar na escola está bem? Já resolvi a questão da matrícula, você só precisa dar entrada na coordenação. — Dizia, com o olhar distante, apenas concordei, não queria atrapalhar em seu primeiro dia no caso misterioso.
Assim que chegamos na escola, desci do carro conferindo o material dentro da mochila.
— Te vejo em casa mais tarde está bem? Se cuide. — Pediu, assenti outra vez, ele subiu o vidro e me deixou.
— Ótimo. — Soltei a palavra como se estivesse soltando toda a ansiedade no meu peito.
O campus estava vazio, os estudantes estavam todos em suas salas, para a minha sorte não teria que olhar para ninguém no meu primeiro dia.
— Olá? — Cumprimentei todos na coordenação, uma mulher levantou-se os cabelos cacheados e a pele castanha escura.
— Posso ajudar querida?
— Eu... meu pai pediu transferência, me chamo Alycia.
— A garota nova, sim, vou te levar até sua turma. — Ela dizia, com um olhar curioso.
— Engraçado, quase confundi o seu sobrenome.
— O que tem meu sobrenome?
— Não é nada, desculpe. — Ela sorriu, desajeitada.
Desviei o olhar de forma desconfortável, ela me guiou até minha sala e entrou interrompendo o professor.
— Desculpem atrapalhar a aula, vim apresentar sua nova colega de classe, Alycia.
— Alycia McCall? — O professor leu meu nome completo em voz alta, e fez uma careta ao ler meu sobrenome.
— Algum problema? — Perguntei, preocupada pela segunda vez naquele mesmo dia.
— Nenhum, pode se sentar. — Apontou para um lugar vazio no fundo, caminhei rapidamente até o mesmo.
O primeiro período foi confuso, haviam conteúdos que não vi na minha outra escola, ela certamente não seguia o mesmo ritmo. Quando o sinal tocou, todos deixaram a sala aos poucos, fiquei no meu lugar guardando o material até que todos fossem embora.
— O Scott não me avisou de você, são parentes distantes? — O professor perguntou, enquanto organizava sua mesa, peguei minha mochila e caminhei até sua mesa.
— Scott?
— Scott McCall. Não o conhece? Que estranho, vocês tem o mesmo sobrenome, eu só pensei que... bom, deve ser coincidência. — Ele dizia, dei de ombros confusa, meu pai me contaria se tivesse família na cidade, não contaria?
Fui até meu armário, os alunos caminhavam rapidamente conversando e rindo, era bom não chamar atenção, ser uma estranha e não estar mais ligada a... um acidente. Derrubei meu material no chão, os livros caíram espalhados, me abaixei para pegar.
— Que droga. — Praguejei, coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha e comecei a pegar o material, de repente uma garota alcançou meu caderno, e nos levantamos juntas.
Seu sorriso era marcante, e sua pele clara, as bochechas coradas, e um brilho que não dava para distinguir se era maquiagem ou natural, sorri de forma desajeitada.
— D-desculpa, eu sou um desastre. — Afirmei, negando com a cabeça de forma insegura.
— Primeiro dia?
— É, tipo isso.
— Meu nome é Allison. — Estendeu a mão de forma amigável, ela devia ser uns três anos mais velha e mesmo assim era gentil.
— Alycia. Aly. — Corrigi, a garota sorriu e assentiu.
— Olha, me lembro do meu primeiro ano, se precisar de ajuda pode falar comigo... — Sugeriu, assenti em resposta e retribuí o sorriso.
— Tudo bem, não precisa.
Os garotos com uniforme do time de lacrosse passaram por nós, roubando toda a atenção de Allison, atrás das camisetas estavam seus números e sobrenomes, Stilinski e McCall.
— Aquele é o Scott? — Apontei, ela ajeitou a postura rapidamente.
— Conhece ele?
— Não. Não é nada. — Neguei, curiosa com o sobrenome, a primeira coisa que ia fazer ao chegar em casa, era perguntar ao meu pai.
Depois do intervalo a turma foi para o campo, ao menos conseguia distrair a cabeça correndo nesse meio tempo. O professor nos fez correr em voltas por horas até que a aula chegou ao fim, era injusto assistir os garotos treinarem lacrosse e não poder jogar, não era um crânio da educação física mas praticar algum esporte no tempo livre era uma forma de lidar com a minha ansiedade.
Quando a aula acabou fui até a saída da escola, tentei ligar para o meu pai mas ele não atendia, lembrei-me que deveria encontrar ele em casa, mas nunca havia sequer ido à casa nova. Praguejei, estar em uma cidade desconhecida completamente sozinha era assustador, ao menos sabia onde ficava o posto policial, com certeza ele estava por lá. No caminho até o posto policial de Beacon Hills, um Jeep azul passou por mim mas não consegui ver quem estava dirigindo. Curiosamente quando cheguei, o mesmo Jeep estava parado em frente ao posto de polícia, entrei no prédio procurando pelo meu pai, a mulher na recepção me impediu de passar, e pediu para que esperasse pelo meu pai ali mesmo.
— E-eu to procurando por Rafe McCall, ele é agente do FBI.
— Ele acabou de sair em uma emergência, mas você pode esperar ali. — Apontou para os bancos, assenti e me joguei em um, meu estômago estava fazendo sons esquisitos, me abracei tentando contê-lo da necessidade de carboidratos.
— Você poderia nos dizer onde eles estão, aí tudo ficaria mais fácil. — O garoto resmungou alto no banco ao lado, a mulher nem sequer olhou para ele.
— Seu pai também trabalha aqui?
— Ele é o xerife. Eu sou Stiles, vi você na escola.
— É amigo do Scott não é? Q-quero dizer, vi vocês caminhando juntos no corredor. Estavam com o uniforme do time de lacrosse. — Tentei argumentar, ele sorriu.
— E você deve ser a novata. O seu pai trabalha aqui? Eu o conheço?
— Isso parece um interrogatório. — Me ajeitei no banco, desconfortável.
— Desculpa. É que, quem sabe se eu conhecer ele e...
— Stiles, teve outro! Você não achou o seu pai? — Scott entrou pelas portas e foi correndo até o amigo.
— Você sabe onde foi? — Stiles levantou, os dois pareciam nervosos.
— Temos que ir.
— Espera, quer ver o seu pai não é? Ele deve estar lá. — Assenti, e aceitei a carona do garoto.
— Qual é o seu nome? — Stiles perguntou entrando no carro.
— Alycia, Aly. Eu detesto meu nome.
— É um nome bonito. — Scott acrescentou, sorri sem jeito.
O percurso foi silencioso, quase me esqueci de que estava na carona com dois garotos, quando chegamos ao local, Scott pulou do banco, fiz o mesmo e o segui até a multidão de policiais.
— Pai? Não sabia que estava na cidade. — Scott foi direto até o meu pai.
— Espera, pai? — Scott se virou para mim, confuso, meu pai coçou a nuca levemente constrangido.
— Aly esse é o Scott, vieram juntos pensei já se conheciam. — Olhei para Scott confusa, ele fez o mesmo. — Ele é... o seu irmão. Meio-irmão.
— Eu tenho uma irmã? — Scott virou-se para ele, ignorando completamente minha existência.
— Meia-irmã. — Corrigi, ele apontou para mim concordando com a correção.
— O que eu perdi? — Stiles se juntou a nós, Scott ainda estava surpreso.
— Eu tenho uma meia-irmã. — O amigo respondeu, ainda tentando absorver a notícia.
— Vocês são irmãos? Que maneiro, você tem uma irmãzinha cara. — Stiles abraçou Scott, e deu dois tapinhas no peito dele.
— Meia-irmã! — Nós dois corrigimos juntos, meu pai sorriu, e Stiles levantou as mãos em rendição.
— Que bom que estão se dando bem. — Acrescentou, de forma sarcástica.
— O que fazem aqui? Não podem ficar aqui. — O xerife, pai do Stiles, se aproximou de nós. A polícia e o FBI estavam trabalhando juntos nesse caso.
— E-eu não queria ir pra casa sozinha. — Me abracei, desconfortável com a situação.
— A gente leva ela. — Stiles sugeriu, Scott o encarou com uma careta mortal.
— Ele está certo, não é seguro pra ela ficar sozinha por aí. — O xerife pediu, Stiles assentiu na mesma hora.
— Tudo bem. — Meu pai concordou levemente hesitante, ele estava focado em outra coisa agora para se preocupar comigo. — Depois conversamos.
— É Scott, você tem uma irmã. Meus parabéns. — Assim que demos as costas para eles, Stiles voltou a caçoar do amigo, Scott o encarou irritado.
— Onde você quer ir? — O mais velho me perguntou, cauteloso.
— Podemos comer alguma coisa?
— Legal, vamos comprar comida e... conversar, se quiser. — Deu de ombros, tentando me animar. Entrei no carro em completo silêncio, e permaneci assim até chegarmos em uma lanchonete local.
— Pode pedir o que quiser, eu pago. — Scott sugeriu, assenti e escondi o rosto por trás do cardápio. Pedi um combo comum de batata, hambúrguer e refrigerante, Stiles sentou na frente com um notebook em mãos, ele abriu o aparelho e começou a digitar rapidamente.
— O que está vendo aí? — Pulei para o lado de Stiles, me inclinando para ver, eram várias notícias sobre os assassinatos.
— S-São notícias, sobre u-uns casos de... — Stiles começou a gaguejar desajeitado, a voz falha, mal não conseguia fazer contato visual.
— Aly, seu pedido. — Scott colocou a bandeja sobre a mesa, o aroma da fritura me fazia salivar, alcancei o hambúrguer e mordi com vontade, Stiles parecia vidrado na mordida.
— Quer? — Perguntei, a boca ainda cheia, ele negou e voltou a focar no notebook. Empurrei a batata para ele, o garoto alcançou-a enquanto olhava a tela concentrado.
— E então?
— Tudo que eu sei é que tiveram três a vítimas eram virgens, até aí tinha um padrão, mas tem uma quarta vítima e ele quebra esse padrão. — Ele dizia. — Mas todos foram mortos da mesma forma.
— Espera, ta falando dos assassinatos?
— Sabe alguma coisa sobre isso? — Stiles foi direto.
— O meu... quero dizer, o nosso pai veio pra cidade pra trabalhar nesse caso. — Acrescentei, ainda era estranho falar dele como nosso pai. — Mas tem uma pasta, com uns arquivos do caso, ele anda com ela por aí o tempo todo. Deve ter muita coisa lá, ele a protege com a vida.
— Você acha consegue dar uma olhada? — Ele insistiu, mesmo depois de receber outro olhar mortal do meu novo irmão.
— Acho que posso tentar.
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