02 | Piloto.
Palavras são como cacos de vidro, ou você engole e se corta, ou joga fora e corta outra pessoa...
OS GRANDES OLHOS CINZAS SE ABRIRAM. O pequeno garoto, Caim, tinha apenas 10 anos e já havia passado por muita coisa. Seu corpo doía devido ao esforço e pela quantidade de químicos aplicados nele. Ele não sabia mais, mas havia morrido há exatos 5 minutos. Esse foi o tempo que demorou para seu corpo absorver todo o químico injetado e se livrar do vírus por completo em seu organismo, o qual não percebeu, mas sua marca de mordida agora estava cicatrizada, deixando apenas um pequeno avermelhado em sua mão. Ele continuava na maca, tendo certeza de que desmaiaria a qualquer momento.
Caim sentiu um arrepio percorrer sua espinha, uma sensação forte que o fez perceber que deveria sair dali o mais rápido possível. Essa sensação foi o empurrão suficiente para que o garoto juntasse forças para se levantar daquela maca, se soltando facilmente das correntes.
Com sua pouca força, ele se sentou na maca. Tudo girava, e, após alguns piscares, sua visão se estabilizou. Ele levantou, e seus pés descalços tocaram o chão, fazendo um arrepio percorrer seu corpo magro. Caminhou até a porta já conhecida, que, por algum motivo, estava aberta. Olhou para os lados, atento a tudo, mas não viu ninguém, nenhum cientista. Nada. Tudo estava vazio e mal iluminado.
Meio desajeitado, Caim caminhava pelo corredor escuro, seguindo em frente, esperando conseguir entender o mapa do lugar e encontrar uma maneira de fugir o mais rápido possível. Com suas forças se esgotando, ele conseguiu chegar até a enorme porta, resistente até mesmo a um foguete. Levantando sua mão esquerda e se concentrando, a porta foi arrancada por ele em questão de minutos.
Ele olhou para frente e viu muitas pessoas, algo que jamais havia visto em toda a sua vida. Elas eram estranhas e não pareciam cientistas pelas roupas. Todos estavam espantados com a porta que havia sido arrancada aparentemente por uma criança que não aparentava ter mais de 10 anos.
— Projeto HI31, volte para a sala agora! — exclamou Jenner, sua fala atingindo Caim em cheio.
A garota, em fúria, o fez ser arremessado para o outro lado da sala cheia de computadores. Todos prestavam bastante atenção enquanto ele caminhava desajeitadamente em direção aos computadores.
Bastaram cinco segundos, e Caim já havia decorado a planta do prédio. Agora ele só precisava sair dali. Mas, ao virar para frente, ele viu todas aquelas pessoas olhando para ele. Sentia medo deles, então estava em alerta caso algum deles tentasse impedi-lo ou algo assim.
Um homem com uma besta nas costas se aproximou devagar. Caim, por sua vez, se alarmou, pronto para jogá-lo para o outro lado da sala, se necessário.
— Tá tudo bem, garoto! — ele disse. — Ninguém vai te machucar!
Caim viu sinceridade no que aquele homem falava. Ele era bom em ler as pessoas, mas ainda não baixou a guarda.
— Eu sou Daryl. — ele disse. — Qual seu nome?
Caim não respondeu, mas o olhava atentamente, sem tirar os olhos dos outros ao redor.
— Você não é muito de falar, né? — Daryl perguntou, mas não obteve resposta. — Pode nos ajudar a sair daqui? Te dou a minha palavra de que não vamos te machucar.
Caim olhou dentro dos olhos de Daryl, ainda sem baixar a guarda, assentiu com a cabeça. Logo todos ouviram a voz de VI, o computador anunciando a contagem regressiva para a destruição do local.
Ele seguiu até Daryl, segurou a blusa dele e fez um sinal com a cabeça, apontando para a porta por onde havia entrado. Sem baixar a guarda.
— Isso quer dizer para seguir você? — perguntou Daryl.
O garoto assentiu com a cabeça. Todos observaram atônitos enquanto se levantavam e seguiam Caim, juntamente com Daryl. Ele os guiou até o dormitório e a cozinha. Esperou que pegassem suas coisas e o que mais fosse útil do laboratório. Em menos de cinco minutos, todos estavam correndo pelas escadas atrás de Caim. Ele estava no colo de Daryl, que o pegou no colo, já que, segundo ele, as pernas do garoto eram pequenas demais para correr. Caim apontava o caminho.
Seguindo as instruções da criança, eles chegaram ao andar superior faltando dez minutos para que o cronômetro chegasse ao fim e tudo explodisse. Ignorando o medo, os homens do grupo se concentraram em tentar quebrar as portas resistentes. Daryl colocou o garoto no chão e se abaixou na frente dele, segurando delicadamente seus braços.
— Pode fazer aquilo que fez com a porta lá embaixo de novo? — Daryl perguntou, e Caim confirmou com a cabeça. — Se protejam! — gritou o besteiro, atraindo a atenção do grupo.
Caim se concentrou, levantou as duas mãos, e pouco a pouco tudo começou a tremer. Sangue começou a sair de seu nariz. O vidro da porta já mostrava sinais de rachadura e, logo, explodiu. Todos se protegeram como puderam, e Daryl foi rápido o suficiente para pegar o garoto antes que ele caísse no chão de exaustão.
— VAMOS, PRA FORA AGORA! — gritou Rick, e todos se apressaram para sair correndo.
Daryl, junto com os demais, pegou suas coisas, ajeitou Caim em seus braços e correu para fora do prédio. Ele corria em direção à sua caminhonete, com o garoto desacordado nos braços. Viu sangue saindo do nariz de Caim. Quando finalmente chegou à caminhonete, colocou o garoto de forma rápida e desajeitada no banco de trás e fechou a porta. Depois, abriu a porta do motorista e fechou-a.
Em questão de minutos, o CDC foi pelos ares. Daryl olhou para o garoto desacordado no banco do seu carro e suspirou. Nunca fora muito bom com crianças, mas ele queria muito ajudar aquele pequeno serzinho. Ele não sabia, mas, em um futuro próximo, ele amaria aquele garoto com toda sua alma, e seria retribuído da mesma forma. Um elo de pai e filho se formaria. O destino se encarregaria disso.
[....]
Um dia após a explosão no CDC, Caim continuava inconsciente. Todos estavam preocupados com tudo, e, ainda mais, com o garoto desanimado no carro de Daryl. Este, de certa forma, se apegara a Caim e cuidava muito bem dele, como se fosse seu próprio filho. Não deixava ninguém se aproximar do garoto.
As preocupações se intensificaram quando ficaram presos em um cemitério de carros abandonado, onde o trailer quebrou e, sem a coisa mais vital, a gasolina, o grupo estava em apuros.
Todos saíram de seus carros, e o plano dado por Rick e Shane era simples: dividir o grupo em três partes. Um para vasculhar os carros em busca de algo útil e gasolina, outro para vigiar, e o último para consertar o trailer. Daryl tomou a liberdade de se locomover entre os carros com sua moto, vendo o que havia à frente. Assim, ele voltou, querendo estar por perto quando o garoto acordasse. Quando chegou ao acampamento, viu todos fazendo suas tarefas. Aproximou-se de Rick e Shane, que conversavam.
— Acaba a alguns quilômetros à frente. — Daryl disse assim que se aproximou deles.
— Certo. Acho que podemos fazer agora e esperar o grupo vasculhar os carros e ver se encontramos algo útil, um grupo para vigiar e alguém para ajudar o Glenn com o trailer. — Rick disse, e eles concordaram.
— Também temos que decidir o que fazer com o garoto! — Shane disse.
— Como assim, o que fazer com ele? — Daryl perguntou. De forma estranha, ele já se apegara a Caim, que continuava desmaiado em seu colo. — Ele é apenas uma criança!
— Não, não é. — retrucou Shane, de forma arrogante.
— Se acalmem. — Rick tentou intervir na discussão que se formava. — E, como Daryl disse, ele é apenas uma criança!
— Crianças não quebram portas que nem foguetes conseguem, só com a mente. — Shane se exaltou. — Crianças não quebram vidros à prova de balas com a mente. — Ele respirou fundo. — Ela é um experimento, Rick! — finalizou.
— Ele é uma criança, Shane! — Rick gritou, atraindo a atenção dos demais.
— Foi aquela criança que salvou essa sua bunda mole. — Daryl rebateu, também exaltado. — Ele é uma criança! Assim como Sophia e Carl!
— Não, ele não é. — Shane rebateu. — Sophia e até mesmo Carl não movem coisas com a mente, e sabe-se lá o que mais. — gritou Shane. — Ele é perigoso! Vocês viram o que ele fez com Jenner!
— Ei, Shane. — Glenn se aproximou deles para tentar ajudar Rick a acalmar Shane e Daryl, ambos exaltados.
— Eles estão certos! — o coreano disse. — ele não tem culpa de ser um experimento. — finalizou o asiático e voltou para seus afazeres no trailer.
Dale, que estava de vigia em cima do trailer, se assustou quando viu zumbis caminhando em direção a eles, atraídos pela discussão.
Desesperado, Dale desceu do trailer e correu em direção aos outros membros do grupo.
— Rick! — Dale se aproximou dos três. — Parem de gritar! Graças a essa briga, vocês atraíram uma horda dessas coisas pra nós! — Ouvindo o mais velho, todos entraram em pânico.
— Para debaixo dos carros! — Rick pensou rápido, e todos seguiram a ordem imediatamente.
Logo, era possível ouvir os grunhidos dos mortos. A horda tinha chegado. Eles eram muitos, e nenhum deles conseguiria matar sozinho. Os mortos haviam sido atraídos pelos gritos da discussão.
Seus passos eram arrastados, seus grunhidos ecos de fome insaciável por carne humana. Lori tampava a boca de Carol, ambas estavam escondidas debaixo de um carro. À frente, Carl estava em outro carro, e ao lado, Sophia também se escondia. Rick e Daryl estavam lado a lado, perto das crianças.
Shane havia corrido para a frente do engarrafamento para avisar os outros, se jogando para debaixo de um caminhão de água, levando consigo Glenn e T-Dog. Andrea estava dentro do trailer, e Dale voltou para cima dele.
Tudo estava indo bem até aquele momento, até ouvirem o som da porta da caminhonete se abrindo. Sem poder ver muito, eles notaram os pés infantis saindo do veículo, e logo se lembraram da pequena criança que antes estava desmaiada na caminhonete. Mas não foram só eles que notaram.
Antes que qualquer um pudesse reagir, tudo aconteceu muito rápido. O barulho dos crânios podres sendo esmagados ecoou pelo cemitério de carros. Os zumbis caíam à medida que Caim caminhava, e logo não sobrou mais nenhum morto-vivo em pé.
Pelo menos, isso era o que eles pensavam. Tudo aconteceu tão rápido que Sophia, que estava debaixo do carro, saiu correndo ao ver dois zumbis restantes. Ela gritou, correndo para a mata ao lado do cemitério de carros. Rick teve uma reação rápida e foi atrás dela.
Carol saiu debaixo do carro desesperada e quase gritou, mas Lori tampou a boca dela a tempo.
— Tem dois zumbis atrás da minha filha! — Carol chorava.
— Vai ficar tudo bem. — Lori a abraçou. — Rick foi atrás dela.
(1798 Palavras.)
Revisado.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro