𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝗼𝗻𝗲 | novo começo
CAPÍTULO UM
── ❝novo começo.❞
Após o que ocorreu na escola, Elliot foi parar em frente a um tribunal. Ele nunca imaginou que sua raiva o colocaria ali, sentado diante de um juiz que avaliava sua vida como se ela fosse uma sentença escrita em um pedaço de papel. O ambiente era frio, carregado de formalidade e tensão. O juiz, um homem de expressão dura e olhar implacável, estava realmente considerando mandá-lo para um reformatório por no mínimo dois anos.
Elliot permanecia imóvel, tentando esconder o nervosismo enquanto seu advogado, um homem experiente e persuasivo, lutava por ele.
── Meritíssimo, meu cliente reconhece o erro e está disposto a cooperar para evitar futuras infrações. Gostaria de propor um acordo ── disse o advogado, sua voz firme, mas carregada de urgência.
O juiz arqueou uma sobrancelha, visivelmente cético.
── Um acordo? Depois de um ato de violência dessa magnitude? Ele espancou um colega a ponto de o garoto ser levado ao hospital. Isso não pode ser tratado como um deslize impulsivo.
Elliot fechou os olhos por um momento, tentando não imaginar novamente as imagens daquele dia. Ele sabia que tinha ido longe demais, mas, ao mesmo tempo, não conseguia sentir arrependimento completo. Ele havia reagido à violência. Só que agora era ele quem pagava o preço.
O advogado deu um passo à frente, mantendo a calma.
── Entendo a gravidade do caso, Meritíssimo. Mas acredito que reclusão em um reformatório não é a solução para Elliot. Ele precisa de supervisão, acompanhamento psicológico e uma oportunidade de reconstruir sua vida em um ambiente mais estável. O pai de Elliot, Charlie Swan, está disposto a assumir sua guarda e levá-lo para viver em Forks, longe de influências negativas e dos eventos que o levaram a este ponto.
O nome de Charlie ecoou na mente de Elliot como um peso inesperado. Seu pai. Um homem que ele mal conhecia, que vivia em uma cidade pequena e chuvosa onde nada parecia acontecer. A ideia de morar com ele era estranha, desconfortável até. Mas era isso ou o reformatório.
O juiz ficou em silêncio por alguns instantes, o que pareceu uma eternidade. Finalmente, ele suspirou, ajustando os óculos enquanto folheava os papéis em sua frente.
── Muito bem. Aceitarei o acordo. Elliot Swan será colocado sob a guarda de seu pai, Charlie Swan, e deverá residir em Forks. Como parte do acordo, ele cumprirá serviço comunitário e será submetido a acompanhamento psicológico obrigatório. Qualquer violação desse acordo resultará em reavaliação do caso e possível reclusão. Estamos entendidos?
Elliot apenas assentiu, incapaz de confiar em sua voz naquele momento. Quando o martelo do juiz bateu, encerrando a audiência, ele sentiu como se o chão tivesse saído debaixo de seus pés. Sua vida estava prestes a mudar drasticamente, e ele não sabia se isso era para melhor ou pior.
Agora, Forks o aguardava. Uma nova cidade, um novo começo — ou talvez apenas mais um lugar para tentar sobreviver.
Após sair do tribunal, Elliot viu o brilho familiar dos cabelos loiros e sedosos de Kara Wilson, sua mãe, reluzindo sob a luz fraca do corredor. Ela estava parada perto da porta, os braços cruzados como se tentasse se proteger do peso daquele momento. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, claros sinais de que havia chorado, mas um sorriso suave iluminava seu rosto ao ouvir a sentença do juiz.
Assim que Elliot se aproximou, ela não hesitou. Envolveu-o em um abraço apertado, tão cheio de amor que ele quase se esqueceu de onde estava. Ela segurou-o como se estivesse tentando protegê-lo de tudo, até de si mesmo. Ele sentiu o perfume leve que sempre a acompanhava e, por um breve instante, permitiu-se relaxar, sentindo-se novamente o menino que, tempos atrás, acreditava que o mundo não podia machucá-lo.
── Vai ficar tudo bem, meu amor ── disse Kara, a voz suave, mas firme. ── Não importa o que digam, eu sei quem você é de verdade. E eu estou tão, tão orgulhosa de você por enfrentar isso.
Elliot não respondeu de imediato. Ficou ali, parado, deixando que ela o abraçasse como se quisesse costurar os pedaços quebrados dele com o calor do amor que só uma mãe podia oferecer. Ele sabia o quanto ela tinha sofrido, não apenas por causa das consequências de seus atos, mas também pelas coisas que as pessoas diziam sobre eles.
"Ela não sabe educar o próprio filho."
"É culpa dela ele ser assim."
"Ele é um problema ambulante, como ela ainda o defende?"
Eram palavras que ele sabia que ela ouvia, mas Kara nunca se importou. Para ela, Elliot era perfeito. Não importava sua raiva, suas falhas ou as coisas que o mundo dizia sobre ele. Ele era seu filho, e ela o amava com uma intensidade que ninguém podia compreender.
── Mãe... ── começou Elliot, com a voz baixa, quase um sussurro, mas parou. O nó em sua garganta o impediu de continuar.
Kara afastou-se apenas o suficiente para olhar em seus olhos, ainda segurando seus braços com firmeza.
── Você vai ficar bem, Elliot. Forks é... diferente. E Charlie... bem, ele vai cuidar de você, à maneira dele. Só não se esqueça de quem você é, meu filho. E nunca deixe que ninguém faça você se sentir menos do que realmente é.
Ele assentiu lentamente, as palavras dela ecoando em sua mente. Não sabia o que o futuro reservava, mas naquele momento, com o olhar cheio de esperança e amor de sua mãe, ele sentiu que, talvez, houvesse uma chance de mudar. Mesmo que fosse pequena.
Nos dias seguintes, Elliot e sua mãe passaram cada momento possível juntos, como se quisessem congelar o tempo antes de sua partida. Organizaram as malas, revisaram documentos e discutiram detalhes da nova vida que ele teria em Forks. Mas, acima de tudo, aproveitaram a companhia um do outro. Assistiram aos filmes favoritos de Elliot, cozinharam juntos — mesmo que a cozinha terminasse um caos — e, pela primeira vez em muito tempo, riram com facilidade.
Kara fazia questão de demonstrar o quanto o amava, escondendo a tristeza por trás de sorrisos calorosos. Mas Elliot sabia. Ele via a preocupação nos olhos dela, ouvia em sua voz quando ela insistia para que ele ligasse sempre, mesmo que fosse só para dizer que estava bem. Ele fingia não perceber, porque sabia que, no fundo, isso também a ajudava.
Agora, o momento havia chegado. Estavam no aeroporto, e Elliot estava abraçando a mãe com força, como se pudesse absorver toda a coragem que precisaria para essa nova fase da vida. Kara segurava-o com o mesmo fervor, tentando não chorar, mas ele sentiu uma lágrima quente em seu ombro.
── Cuide de você, meu amor ── disse ela, a voz embargada. ── Eu sei que vai ser difícil, mas você vai se adaptar. E, se não der certo, você sabe que sempre pode voltar para casa.
── Eu sei, mãe ── respondeu ele, tentando manter a voz firme. Mas a ideia de estar longe dela, a única pessoa que parecia entendê-lo de verdade, era mais difícil do que ele queria admitir.
Ela segurou seu rosto com ambas as mãos, os olhos brilhando com amor e tristeza.
── Lembre-se de quem você é, Elliot. Não importa o que aconteça, você sempre será meu filho perfeito.
Ele engoliu seco e assentiu, lutando contra o nó na garganta.
── Eu te amo, mãe.
── Eu também te amo, meu menino ── respondeu ela, sorrindo apesar das lágrimas que escorriam por seu rosto.
Quando o voo foi chamado, Elliot pegou sua bagagem e deu um último olhar para sua mãe antes de seguir para o portão de embarque. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, mas ele sabia que essa era sua nova realidade.
Enquanto o avião decolava, ele olhou pela janela, vendo a cidade que conhecia tão bem desaparecer sob as nuvens. Forks o aguardava. Uma nova vida, um novo começo — mas o amor de sua mãe ainda estava com ele, como um farol que ele carregaria em qualquer lugar que fosse.
Durante o voo, Elliot colocou os fones de ouvido e deixou as músicas preencherem o silêncio incômodo de sua mente. A batida constante o ajudava a se distrair, a não pensar em tudo que havia deixado para trás — sua mãe, sua casa, sua vida inteira. Eventualmente, embalado pelo cansaço, ele acabou adormecendo, o som abafado das músicas misturando-se a sonhos indistintos.
Foi despertado pelo toque leve da aeromoça em seu ombro e pela voz calma informando que estavam prestes a pousar. Ele levou alguns segundos para se situar, ajustando os fones ao redor do pescoço enquanto olhava pela janela. Tudo parecia cinza e úmido, o céu encoberto por nuvens densas. “Bem-vindo a Forks” pensou, com uma mistura de resignação e curiosidade.
Depois de pegar suas malas, Elliot saiu pelo pequeno aeroporto, os olhos atentos à procura de um rosto que só conhecia por fotos antigas. Foi então que o avistou. Charlie Swan, seu pai, estava parado em um canto, usando o uniforme de Xerife. A postura rígida e o olhar nervoso o tornavam fácil de identificar. Era evidente que o homem estava ansioso, mexendo no cinto de utilidades enquanto tentava parecer calmo.
Elliot caminhou até ele com passos firmes, mas hesitantes. Charlie o viu se aproximando e abriu um pequeno sorriso, embora parecesse ainda mais nervoso.
── Elliot? ── perguntou, com a voz levemente trêmula.
── Sou eu ── respondeu o garoto, parando na frente dele.
Houve um momento de silêncio constrangedor antes de Charlie pigarrear e estender a mão.
── É bom te ver. Eu... ah, bem, espero que a viagem tenha sido tranquila.
Elliot olhou para a mão estendida e, em vez de apertá-la, deu um meio sorriso e disse, de forma quase casual:
── É bom te ver também... pai.
A palavra pairou no ar, carregada de significado. Charlie ficou visivelmente surpreso, os olhos se arregalando por um momento antes de desviar o olhar, emocionado. Ele deu um passo para trás, ajeitando o chapéu com um gesto nervoso enquanto limpava a garganta.
── Ah, é... obrigado. Isso... isso significa muito para mim, garoto.
Elliot percebeu que as palavras o haviam tocado profundamente. Era um contraste interessante com o que sua mãe havia contado sobre Charlie. Ele parecia um homem simples, mas claramente carregava muito peso emocional. Elliot sabia que essa dinâmica seria diferente, especialmente porque já tinha ouvido falar de Bella, a filha mais nova de Charlie, que o chamava apenas pelo nome.
Enquanto Charlie pegava uma das malas de Elliot e começava a guiá-lo para o carro, o garoto teve uma impressão inesperada: talvez esse recomeço não fosse tão ruim assim.
Durante a pequena viagem de carro, o som da chuva suave batendo contra o para-brisa preenchia o silêncio entre os dois. Charlie dirigia com as mãos firmes no volante, mas Elliot percebia os olhares furtivos que o pai lançava na sua direção, como se tentasse decifrar algo sobre ele. Após alguns minutos, Charlie finalmente quebrou o silêncio.
── Então, Elliot... tem algo que eu acho que você precisa saber antes de chegar em casa.
Elliot ergueu uma sobrancelha, intrigado.
── Sobre?
Charlie respirou fundo, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.
── É sobre a Bella, minha filha. Sua... irmã.
A palavra “irmã” soava estranha para Elliot. Ele nunca a tinha conhecido pessoalmente, só sabia que ela era um ano mais nova e que vivia com Charlie.
── O que tem ela?
Charlie apertou o volante com um pouco mais de força, o olhar fixo na estrada.
── Ela... bem, ela está passando por uma situação complicada.
Elliot esperou que ele continuasse, mas o homem parecia estar lutando para encontrar o tom certo. Depois de um longo suspiro, Charlie finalmente disse:
── O namorado dela... terminou o namoro. Ele e a família se mudaram daqui. Foi meio... abrupto, sabe? Desde então, Bella não é mais a mesma.
Elliot ficou em silêncio, processando a informação. Ele não era exatamente especialista em relacionamentos, mas conseguia imaginar o impacto de algo assim.
── E você quer que eu... faça o quê?
Charlie deu um sorriso cansado, olhando rapidamente para Elliot antes de voltar os olhos para a estrada.
── Não estou pedindo que você faça nada, garoto. Só... tenha paciência com ela. Bella tem o jeito dela, e isso talvez demore um pouco para você entender. Mas sei que ela é uma boa garota, só está... perdida agora.
Elliot assentiu lentamente, olhando para a paisagem úmida e cinzenta que passava pela janela. Ele não sabia exatamente como seria conviver com uma irmã que ele nunca conheceu, ainda mais uma que parecia estar no meio de uma crise pessoal. Mas, considerando sua própria situação, talvez não fosse tão difícil assim.
── Tudo bem — disse finalmente. ── Vou tentar não piorar as coisas.
Charlie soltou um riso curto e aliviado.
── Isso já é mais do que eu poderia pedir.
O resto da viagem transcorreu em silêncio, mas havia algo mais leve no ar agora. Elliot olhou novamente para a chuva que caía, pensando em como seria sua chegada à nova casa e como seria conhecer Bella pela primeira vez.
Depois de um tempo, o carro parou em frente a uma casa modesta e acolhedora, situada no meio de uma rua tranquila. A casa era simples, com paredes revestidas de madeira em um tom claro que contrastava com o céu cinzento de Forks. O telhado inclinado, coberto por musgo devido à constante umidade, dava ao lugar um charme rústico. Na varanda, havia uma cadeira de balanço de madeira ao lado de um pequeno vaso com flores já murchas. Uma caminhonete vermelha antiga estava estacionada no canto da entrada, completando o cenário.
Charlie desligou o motor e olhou para Elliot com um sorriso leve.
── Bem, aqui estamos. Não é nada muito grande, mas é o que temos.
Elliot apenas assentiu, saindo do carro e respirando fundo o ar úmido de Forks. Eles pegaram as malas, e Charlie segurou uma das maiores, tentando ser prestativo.
── Seja bem-vindo, garoto ── disse ele com um tom genuinamente caloroso, apesar da tensão inicial.
Ao entrar na casa, Elliot não sabia bem o que esperar, mas definitivamente não era o que encontrou. Assim que cruzou a porta, seus olhos foram imediatamente atraídos pelas paredes. Havia dezenas de fotos emolduradas espalhadas por todo o lugar. Ele reconheceu a si mesmo em várias delas, de todas as fases de sua vida.
Na primeira parede, havia fotos dele ainda bebê, com bochechas gordinhas e sorriso desdentado. Ao lado, uma sequência de imagens mostrava seu crescimento: Elliot no jardim de infância, em aniversários, jogando bola e, mais recentemente, em uma foto em que ele parecia ter uns quinze anos.
── Isso é... muita coisa ── murmurou, surpreso, enquanto percorria o olhar pelas imagens.
Charlie coçou a nuca, visivelmente constrangido.
── Sua mãe mandava essas fotos pra mim desde que você era pequeno. Eu... guardei todas. Achei que fosse importante, sabe? Ter você aqui de alguma forma, mesmo que... bem, mesmo que a gente não estivesse juntos.
Elliot olhou para Charlie, sem saber exatamente o que sentir. Apesar do desconforto, havia algo profundamente humano naquele gesto. Ele desviou os olhos para outra parede, onde também havia algumas fotos de uma garota que ele supôs ser Isabella, ou Bella, como Charlie a chamava.
Mas, mesmo com a presença das imagens de sua irmã, a quantidade de fotos suas era impressionante. Parecia que cada canto daquela casa guardava um pedaço de sua história. Isso o deixou intrigado, mas também um pouco desconcertado.
── Isso é... meio louco ── admitiu, com um meio sorriso. — Mas obrigado, eu acho.
Charlie deu de ombros, tentando disfarçar sua emoção.
── Você é meu filho. Era o mínimo que eu podia fazer.
Enquanto explorava o ambiente, Elliot percebeu que aquela casa, com todos os seus detalhes simples e memórias impregnadas nas paredes, talvez fosse mais acolhedora do que ele imaginara.
Elliot caminhou pela sala, observando o ambiente simples e organizado, antes de seguir para a cozinha. O espaço era igualmente modesto, com armários de madeira antiga e um cheiro leve de café no ar. Ele notou pequenos detalhes: uma toalha de mesa xadrez, um porta-temperos já desgastado e uma pilha de contas deixadas sobre o balcão. Enquanto explorava, ouviu seu pai caminhar até o pé da escada, chamando por Bella.
── Bella! ── gritou Charlie, a voz firme. ── Ele chegou, desça para conhecê-lo!
Um silêncio desconfortável tomou conta da casa. Charlie bufou, colocando as mãos na cintura.
── Deve estar dormindo. Ela não tem dormido bem à noite... sempre acorda de madrugada aos berros por causa de pesadelos.
Elliot, que havia se aproximado da geladeira, ergueu uma sobrancelha e segurou um pedaço de papel grudado ali com um ímã de caminhonete.
── Duvido muito ── disse ele casualmente, lendo o bilhete. ── Segundo isso aqui, ela foi para a Itália com alguém chamada Alice.
Ele mal terminou de falar quando ouviu um baque alto atrás de si. Virando-se rapidamente, viu Charlie caído no chão, desmaiado.
── Pai?! ── exclamou, largando o bilhete na bancada e correndo até ele.
Charlie estava estirado no chão da sala, a expressão tensa mesmo inconsciente. Elliot se ajoelhou ao lado dele, sacudindo-o levemente pelos ombros.
── Charlie, acorda! ── insistiu, mas não obteve resposta.
Sem saber o que fazer, Elliot olhou novamente para o bilhete na geladeira. As palavras escritas em uma caligrafia arredondada e apressada pareciam confirmar a situação absurda:
"Fui para a Itália com Alice. Não se preocupem, volto em breve. Bella."
Elliot passou a mão pelos cabelos, tentando processar o que estava acontecendo. Ele havia acabado de chegar em Forks, e já estava lidando com desmaios, bilhetes misteriosos e sua irmã fugindo para outro continente.
── Ótimo começo ── murmurou, voltando a tentar acordar o pai.
┊ ┊ ┊ ˚✧01: Oficialmente o primeiro capítulo de tsotm, espero que gostem! Deixe nos comentários o que estão achando.
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