ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝐨𝐨. the disaster.
─ THE PROLOGUE
o desastre.
O TILINTAR DE PANELAS E UM AROMA preenchiam o estabelecimento ao qual Bellatrix acabara de abrir a porta. A menina sorriu instantaneamente ao reconhecer o restaurante, não deixando de notar que o prato do dia seria Bangers and Mash, o prato é servido com purê de batatas, ervilhas cozidas e um molho especial criado pelo tio da garotinha. É um verdadeiro sucesso no Evan's! (é, sim, o nome é meio estranho mas digamos que o pai do tio Gus não tinha muita criatividade).
Bella cumprimentou todos os clientes que ali se encontravam, até porque conhecia a maioria, todos os dias os mesmos clientes estavam lá, sempre diziam que não se cansavam da comida e que era maravilhosa. Era um ótimo elogio de se escutar após um dia de trabalho bastante cansativo.
Logo os olhos castanhos da menina encontraram o tio, que estava no caixa fazendo mais e mais contas. Ela rapidamente correu até lá e se sentou num dos banquinhos que ficava defronte a ele. Jogou a mochila no chão e não demorou para captar a atenção do tio Gus, que sorriu abertamente ao ver a sobrinha.
── Como foi a escola, Thulile?── questionou e, ah, ele era o único que podia a chamar daquela forma.
── Como sempre, chata 'pra caramba!── resmungou, retirando algumas moedas do bolso e jogando-as na bancada.── Duas caixinhas de suco de maçã. Sabe como é, dia difícil.
Tio Gus apenas segurou o riso e se virou, indo até uma geladeira de bebidas que havia ali e retirando de lá duas caixinhas de suco médias, não demorando para entregá-las a Bella, que retirou o saquinho de um dos canudos e enfiando no buraco da caixa amarela. Levou o conteúdo à boca e deu um belo gole.
── O que aconteceu na escola?── perguntou Tio Gus, aceitando a outra caixinha de suco que Bella havia lhe oferecido.
── O mesmo de sempre.── suspirou profundamente.── Conteúdo novo de matemática, todo mundo ficou caçoando a Mary Brown por causa dos óculos dela de novo, Hugo e sua trupe ficaram jogando bolinhas de papel no quadro e atrapalhando a aula, como sempre. Acho que nada de novo, só a rotina monótona que todos já estão acostumados. Ah, e Amelie Jones teve uma crise histérica por causa de uma barata de brinquedo.── riu baixinho.── Foi bem maldoso, mas engraçado.
── E por que isso seria engraçado?── perguntou o tio, não achando nenhuma graça com a brincadeira de mau gosto que fizeram com a pobre Amelie.
── Porque ela ficou tão, mas tão, mas tão nervosa que vomitou no Hugo.── gargalhou de uma maneira contagiante, até as pessoas que nem sabiam do que ela falava sorriram sem nem perceberem.── Bem que ele estava merecendo, afinal, quem escondeu a aranha na mochila dela havia sido ele. Porém, infelizmente, ele é filho da diretora e ela não o deu uma suspensão e sim teve uma conversa de igual para igual, além dele ter ficado sem recreio, enquanto James Berryann foi suspenso por ter esquecido o material em casa. Isso é injusto!
── A vida nem sempre é justa, querida. Sempre haverão pessoas mais beneficiadas por seus status ou de quem são filhos, além de vários outros fatores quanto a renda, o estilo de vida e a cor da pele. São pessoas que acreditam que são superiores. A injustiça prevalece no mundo desde que os seres humanos o decidiram estragar. Infelizmente o mundo não é perfeito.
── Bom, eu espero que daqui há alguns anos tudo esteja bem e sem injustiças, serão novos tempos e até lá o ser humano pode ter evoluído.── falou esperançosa, sugando o último líquido do suco de maçã.
── Você tem muita esperança, Thulile. Continue assim.── falou tio Gus, sorrindo fraco.
── Não acredita que o Senhor Deus pode fazer o mundo melhorar?
── Eu acredito em Deus. Ele é meu pai e é capaz de tudo. Em quem não acredito são nas pessoas. Sabe, Lile, Deus nos deu o livre arbítrio para tomar nossas próprias decisões. Ele não invade nossa privacidade, então se alguém não quiser ser mudado, Ele não irá obrigá-lo a mudar.── disse, muito sério.
── Você tem razão…── disse, soando pensativa enquanto encarava suas próprias mãos, estas que brincavam com o saquinho de plástico do canudinho. Mas logo a garotinha abriu um belo sorriso e encarou o tio nos olhos.── Mas não vou desistir de orar pela nação. Acho que algum dia tudo irá se encaixar nos eixos e viveremos bem, como Deus sempre desejou que acontecesse.
── Essa é a minha garota.── disse Gus, bagunçando os cabelos castanhos da menor.
A atenção dos dois foi mudada para a porta atrás do balcão que dava acesso à cozinha. De lá saiu uma mulher de cabelos negros, pele como a terra em dias de chuva, olhos castanhos e um sorriso dançando em seus lábios. Ela trajava um vestido branco com linhas azuis que iam até debaixo de seus joelhos e utilizava um avental branco por cima das vestes, além de calçar seu par favorito de sapatilhas brancas. Bella não deixou de notar a grande barriga que ela carregava, parecia que haviam descoberto ontem que Tiana estava grávida mas já fazia sete meses!
Tiana, ao encontrar a família, caminhou até eles e em poucos metros já estava sendo abraçada por Augustus, este havia dado um beijo em sua testa e se agachado para bater um papo com o filho ou filha. Tiana apenas riu com a situação e acariciou os cabelos desgrenhados do marido, que, particularmente, adorou o carinho. Bella se esticou por cima do balcão para poder escutar melhor o que o tio falava.
── Hey, pequeno Frank…
── Frank?! Sério, tio Gus? Metade dos meninos daqui se chamam Frank. Seja mais criativo.── protestou a menina, soando estar zoando do tio.
── Ele vai se chamar Frank, pirralha.── disse, se levantando e abraçando a esposa por trás.── É um nome lindo e era o nome do meu avô.
── Pois eu acho que, se for menino, deveria se chamar Regulus, aprendi na escola que é um nome de uma estrela. Tem Sirius também, mas achei muito nome de cachorro, por mais que seja belíssimo. E, se for menina, quero que seja Andrômeda! É a minha estrela favorita. Sempre que a professora fala dela só falta eu enlouquecer.── quando ansiosa ou animada com algo, Bella costuma falar tudo muito rápido e isso aconteceu dessa vez. Quase que seus tios não conseguiram acompanhar mas, no final, deu tudo certo.
── Achei esses nomes muito estranhos.── rebateu Gus, fazendo uma careta.
── Falou o homem que colocou o meu nome do meio de Thulile! Eu amo meu nome, mas de onde tirou ele? Havia bebido demais no dia em que pensou nele?── expôs suas (meia) indignação e deixou o tio sem palavras, o que fez Tiana soltar uma risada gostosa.
── Está bem, está bem, pessoal.── Tiana tentou acalmar a tensão que se criava.── Nem sabemos ainda se é menino ou menina, tudo bem? Quando chegar a hora, vamos decidir seu nome, não se preocupem. Levarei todas as opções em consideração.
── Admita, titia, os nomes que eu escolhi são bem mais bonitos do que os que… ele escolheu.── disse, fingindo uma careta de nojo, apenas para tentar irritar o tio, que a mostrou a língua.
── Bom, tenho que concordar com você, meu docinho de mel.
── Hey!── protestou o homem, fingindo estar ofendido.
── Amor, sejamos sinceros, Frank é um nome muito comum. Tem oito Frank's na escola da Bella. Quero um nome que se destaque, um nome forte, que, talvez, venha mostrar a personalidade do nosso pequeno raio de sol.
── OK e que tal Kevin?!
── Ultrapassado.── Bella cantarolou em tom de irritação.
── Não vou colocar o nome do seu melhor amigo no nosso filho, Augustus!
── Mas eu fiz uma promessa com ele quando criança.
── Esse assunto se encerra aqui. Agora venha me ajudar à servir às mesas, os clientes estão quase verdes de fome. Ande, logo.── e virou para Bella, mudando logo de expressão para um sorriso largo e não uma feição séria:── Querida, faça seus deveres de casa e, quando terminar, pode ir brincar com as outras crianças lá fora. Só tente não sujar seu uniforme.
── Tudo bem, tia Tiana. Bom trabalho.── desejou e sua responsável lhe enviou um beijo no ar e a menina fez o mesmo.
Não demorou para Tiana sair arrastando o marido para a ala da cozinha dentro do restaurante, para colocarem a mão na massa.
Horas mais tarde, os três (ou quatro, se contarem com o bebê) estavam sentados na mesa de jantar. A casa estava quase cheia naquele dia, Roberta e o filho, que se chamava George, também acompanhavam a família Evans no jantar. Roberta era uma grande amiga de Tiana (melhores amigas desde crianças, inclusive) e ela ajudava no restaurante igualmente, sendo uma baita força agora que a matriarca Evans carregava uma criança em seu ventre.
Degustavam uma belíssima salada de beterraba, cenoura, tomate, repolho e folhas de alface; carne vermelha e arroz, além de uma garrafa de vinho para os adultos e suco de laranja para as crianças como bebida. Bella nem se quer pronunciou alguma palavra nas horas que se seguiram o jantar, até porque estava com a boca cheia de comida maior parte do tempo. Adorava a comida de Roberta e aquela em especial estava magnífica. Até chegou a guardar um espacinho para a sobremesa mas, no final de tudo, estava jogada no sofá com a barriga cheia demais e o sono batendo em sua porta.
Mesmo estando com muita preguiça, ela havia aceitado jogar uma partida de xadrez com George e agora se encontravam sentados no chão e o tabuleiro estava sobre a mesinha de centro.
Os adultos estavam assentados no sofá, tagarelando sobre política e coisa do tipo. Assunto que as crianças fizeram questão de ignorar.
── Xeque-mate!── exclamou o garotinho, manifestando sua total contentassão com a última jogada.── Sua vez, Bella.
A menina bufou. Gostava de xadrez e jogava muito bem mas estava jogando muitas desculpas pelo fato de estar perdendo. Reclamando que estava cansada demais para raciocinar mas George não sentia nenhum pouco de pena dela, pois ele estava ganhando do mesmo jeito e, dos seus onze anos de vida que a conhecia, não tinha ganhado uma partida de xadrez se quer.
── Bom, se eu mexer o cavalo é provável que meu rei seja capturado…── sussurrava para si mesma, era uma ótima forma de pensar logicamente quando seu cérebro pedia por uma cama.── Por que eu fui arriscar minha rainha aquela hora? Agora estou mais ferrada que nunca! Bom, o bispo é quase um segurança particular do rei, não posso mexer nele nem que porcos comecem a latir. E se eu…
E deixou a mão direita suspensa sobre a torre, se preparando e fazendo traçadas (quase como as de batalha) para capturar o rei de seu amigo, que não tirava os olhos da torre, preocupado com o que aconteceria.
Tudo estava muito tenso e, para os dois jogadores, tudo ocorria de maneira muito lenta, como se uma guerra estivesse próxima a acontecer.
Mas, estragando os planos de Bella para ganhar o jogo, um som estridente soou e o chão tremeu. A pancada foi tão forte que raspas do teto chegaram a cair e as paredes ameaçaram a desmoronar. Bella sabia exatamente o que havia acontecido, com isso pulou sobre a mesinha de centro e a primeira coisa que fez foi proteger George de mais um ataque, que veio segundos depois do primeiro.
Os dois escorregaram pelo chão e caíram alguns metros longe, Bella ainda abraçada ao menino. A garota de cabelos ondulados ergueu a cabeça e só conseguiu ver seu tio empurrando Tiana e Roberta para fora da casa, gritando algo sobre um abrigo. Bella não estava escutando direito, seus ouvidos só emitiam um som muito alto e repetitivo, como um zumbido. Só voltou a realidade quando seu tio estava próximo demais dela e gritava "ande, Bella, para o refúgio! Para o refúgio! São bombas!"
Rapidamente ela ajudou George a se levantar e se pôs de pé logo em seguida, começando a ser empurrada por Augustus até o esconderijo (que era uma casinha feita de madeira debaixo de uma montanha de areia que ficava do lado de fora da casa). Ao chegarem na porta, entraram aos tropeços e acabaram sentados numa das pequenas camas que tinham lá.
A respiração de Bella estava acelerada, ela só escutava seu coração bater e um nó se formou em sua garganta. A angústia crescia em seu peito e parecia que o mundo estava se despedaçando, como se a cada dia que se passasse uma parte dele estivesse caindo e daqui a pouco eles estariam flutuando pelo espaço sideral, sozinhos, abandonados.
A única coisa que conseguiu sentir foi o abraço caloroso que sua tia havia lhe dado e escutou (parecia meio longe mas a verdade é que estava bem perto) o choro de George, que debulhava-se em lágrimas no colo da mãe; ele estava assustado e isso era completamente explicável. Bella sabia o que se passava na cabeça dele, porque também se passava na dela.
Por mais que não fosse sua primeira vez se escondendo ali, sentia a mesma sensação de quando foi a primeira vez. E tudo que queria fazer era dormir, para esquecer da situação atual e mergulhar num sono profundo, onde sonharia com um mundo melhor e com menos guerras. Além dos livros que lia, dormir estava sendo um dos seus únicos escapes da realidade no momento.
E, como desejado por ela, assim fez. Caiu no sono alguns minutos depois, ainda escutando os barulhos de bombas, dos aviões por cima de sua casa e o choro compulsivo de George. Mesmo com todos esses empecilhos, ela caiu num sono profundo, como a Bela adormecida após ser enfeitiçada.
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