ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝐢. the pevensie brothers.
─ CHAPTER ONE
os irmãos pevensie.
SEMANAS SE SEGUIRAM NORMALMENTE após o acontecimento na casa dos Evans mas medidas haviam sido estritamente tomadas. De manhã bem cedinho, a família Evans já se deslocava para a estação de trem que, inclusive, estava completamente lotada de pessoas. Algumas pessoas vinham e voltavam de seus devidos trabalhos, comentando sobre a guerra (comentários que Bella fez questão de ignorar), já outras pessoas enviavam seus filhos para a casa de parentes longínquos ou amigos da família, na intenção de proteger as crianças daquele pesadelo londrino. Bella sentia pena dos pequeninos, que entravam no trem de maneira inocente, sem notar que seus irmãos mais velhos tentavam segurar o choro, o medo de voltar e não ter mais seus pais era enorme.
E isso Bella entendia muito bem.
A menina suspirou profundamente, agarrando com força a mão direita de sua tia e a esquerda de seu tio; ambos devolveram o aperto, querendo passar segurança.
Tentavam se esquivar do empurra-empurra e por vezes Tiana tentava proteger a sobrinha dos empurrões fortes e mal educados das pessoas, que não tinham nem o mínimo de senso para pedir desculpas. Bella quase caiu de cara no chão certa hora ao levar um esbarrão muito forte de um homem barbado, mas Augustus conseguiu segurá-la e silenciou um palavrão na sua garganta, puxando-a às pressas para o carrinho de bilhetes.
Ao comprar o bilhete para o embarque do trem, Tiana colou um número na vestimenta de Bella e a entregou, em seguida, a passagem e o passaporte. Por fim agarrou a menor com força, deitou sua cabeça sobre a de Bella e suspirou profundamente, logo em seguida escutando alguns soluços da sobrinha, que se agarrou contra o corpo da tia e não queria sair dali nunca mais.
Lágrimas e mais lágrimas desciam sobre as bochechas da criança, tendo ela de puxar o ar com força várias vezes, pois o seu nariz já estava entupido. Bella tremia e a cada segundo agarrava com mais força a tia. As crianças ao redor não eram muito diferentes em relação aos pais e responsáveis. Assim como Bella, eles sentiam que o mundo estava desmoronando e tinham medo de nunca mais ver seus pais. Tiana e Augustus eram a única família de Bellatrix e a última coisa que ela queria era perdê-los, então se agarrava a tia como se ela fosse o último pilar no universo inteiro que poderia impedi-la de cair num poço profundo. Seu corpo tremia de medo, seus lábios estavam brancos de nervosismo e sua cabeça girava.
Tiana se separou da pequena ao escutar o soar do trem, olhando bem para ela pela última vez por um bom tempo. Segurou seu rosto entre as mãos e tentou sorrir em meio às lágrimas. Bella aproveitou aquele momento para decorar cada detalhe de sua tia.
── Minha querida Bella ── iniciou com a voz fraca, acariciando a bochecha da menor.──, se comporte está bem? Não quero receber nenhuma carta denunciando que fez bagunça ou desobedeceu as regras.
── Promete que estará aqui quando eu voltar?── perguntou entre soluços, ignorando a fala anterior de mulher de cabelos negros.
Tiana suspirou profundamente, o sorriso sumindo de seus lábios rosados.
── Sabe que não posso prometer isso, querida.── respondeu e os olhos de Bella exalavam desespero.── Mas vou tentar o meu máximo, como sempre. Enviarei a maior quantidade de cartas que puder e quero que faça o mesmo. Desejarei notícias suas todos os dias.
── Hey, meu amor ── tio Gus havia se ajoelhado na altura da sobrinha, que rapidamente também o agarrou num abraço e ele respondeu na mesma intensidade, tentando segurar suas lágrimas que imploravam desesperadamente para descer.── fiquei bem, ok? Pelo amor de Deus, se cuide, quero que volte inteira. Se lembre que seus pais são seus anjos da guarda, tudo bem? Eles sempre estarão com você onde quer que esteja e sei que cuidarão de você enquanto estiver na casa do sr. Kirke, já que nós não poderemos fazer isso. Além de que Deus estará sempre ao seu lado, tenho certeza que ele não deixará de te vigiar um minuto se quer.
Bella só sabia chorar naquele momento.
Mais um soar de apito.
Tiana pegou a mala da sobrinha e entregou-a assim que Gus e ela se separaram do abraço. Bella, entendendo o recado, deu um último beijo de despedida na bochecha da tia, uma na do tio e outra sobre a barriga da tia, onde uma criança dormia tranquilamente, sem nem imaginar o que acontecia ao seu redor.
Em seguida saiu correndo para o trem. Entregou o passaporte e a passagem, sendo logo liberada pelo bilheteiro; adentrou o trem e se debruçou por uma das janelas, sendo esmagada por outras crianças e acenando para seus tios. Um sorriso triste escapou de seus lábios e ela só conseguiu gritar "vejo vocês em breve! Mandarei milhões de cartas para não se esquecerem de mim!". Não que ela achasse que eles fossem esquecer dela, mas era uma forma de precaução.
Virou-se com as costas rígidas e um peso em seu peito. Reprimiu um suspiro e passou a andar pelo corredor, em busca de cabines em que ela pudesse se acomodar e passar o resto da viagem lendo seus livros ou apenas descansando. A maioria das cabines estavam lotadas, sendo elas preenchidas em maior parte por crianças e adolescentes. Andou mais um pouco e finalmente achou uma cabine pouco cheia mas onde poderia se acomodar. Duas crianças sentavam de um lado e outras quatro sentavam-se do outro.
── Posso sentar-me aqui?── questionou com sua voz solene, atraindo a atenção de todos os seis.── As outras cabines estão lotadas.
O mais velho dentre todos - este que possuía cabelos louros brilhantes e olhos azuis - acenou em concordância e o restante deu de ombros. Bella sorriu fraco e adentrou a cabine, fechando a porta atrás de si e colocando a mala no bagageiro, sentando-se no banco mais vazio.
Nenhuma palavra foi trocada perante todo o percurso. As duas crianças que antes estavam assentadas ao lado de Bella não demoraram muito para encontrarem seus destinos; e os outros quatro ocupavam-se em fazer qualquer coisa, tirando conversar. Bella também não puxou muito assunto, apenas retirou um livro de sua bolsa de mão e folheou em busca da página onde parara, finalmente encontrando-a e passando a ler.
── Jane Austen?── perguntou uma voz feminina e Bella ergueu o olhar, encontrando um par de orbes azuis e sardas. A menina mais velha de cabelos negros olhava para a garota de cabelos castanhos com curiosidade e um sorriso pendendo nos lábios.
Bella apenas ergueu o livro, comprovando a desconfiança da garota à sua frente.
── Susana adora essa escritora.── comentou a menorzinha de cabelos cor-de-chocolate, que estava agarrada a irmã.
── Gosto mesmo dela.── e virando-se para Bella:── Me chamo Susana Pevensie. Esses são meus irmãos, Lúcia, Edmundo e Pedro. E você? Como se chama?
── Bellatrix Evans mas me chamem apenas de Bella. É um prazer conhecer todos vocês.── respondeu, com um sorriso fraco.
── O prazer é todo nosso.── disse Pedro, também sorrindo.
── Para onde está indo? Digo, qual o seu destino?── questionou Lúcia.
──Irei ficar na casa de campo de um antigo amigo de meu pai, bom, pelo o que meus tios disseram é isso.── respondeu.── E vocês?
── Para uma casa de campo também, mas é de um professor, chamado sr. Kirke.── respondeu Susana.
── Oh! ── exclamou Bella, atraindo olhares curiosos dos novos conhecidos. Ela sorriu alegremente, como a muito tempo não fazia.── Parece que nossos destinos estão interligados.
── Como assim?── perguntou Edmundo, este era o mais baixo e também possuía cabelos escuros, como Susana.
── O nome do amigo de meu pai é sr. Kirke, bom, Kirke alguma coisa, não sei o primeiro nome dele e minha tia nunca fez questão de contar.── deu de ombros. Definitivamente no momento o assunto do primeiro nome do sr. Kirke não era importante.── Vamos ficar hospedados na mesma casa.
── Que demais!── exclamou Susana, levantando-se às pressas e sentou-se ao lado de Bella.── Quais são seus livros favoritos?
E ali se iniciou uma conversa bastante extensa sobre livros. Pouparei vocês disso, sei que estão aqui porque talvez gostem de livros mas muitos foram citados naquela conversa e eu fico tonta e com a garganta seca só de lembrar. Eu não conseguiria passar aquele tempo inteiro falando e permanecer com a minha garganta intacta, mesmo se fosse para falar sobre livros. Posso até dizer que Pedro, Lúcia e Edmundo entendem minha situação, pois se sentiram da mesma forma.
Logo os campos se tornaram verdejantes e chegou a hora dos Pevensie's e da Evans deixarem o trem e embarcarem para a casa do sr. Kirke.
As cinco crianças apanharam suas devidas malas e seguiram pelo corredor extenso, chegando alguns minutos depois na saída e dando de cara com uma placa enorme e gasta, com os dizeres 'Coombe Halt'.
Bella sentiu a brisa gelada chocar-se com sua pele e ela suspirou profundamente, adquirindo aquela calmaria que sentiu de repente. Mas a calmaria não durou muito porque um carro vinha ao longe, as cinco crianças escutaram o som como um cachorro da polícia sente o cheiro para onde o inimigo foi. Correram rapidamente, descendo a elevação de madeira e se decepcionando em poucos segundos, quando o carro passou direto e atravessou os trilhos, seguindo em frente e nem notando que haviam pessoas logo atrás.
── O professor sabia que viríamos e provavelmente também sabia de Bella.── comentou Susana.
── Talvez essas etiquetas estejam erradas.── sugeriu Edmundo.
── Ou talvez só esteja atrasado, nem todo mundo é pontual.── supôs Bella, olhando aos arredores e logo escutando ao longe cavalgadas e chicotes, além de altas ordens que uma mulher de voz severa dizia. Os olhos da Evans brilharam e ela apontou em direção ao barulho.── Vejam! Deve ser a nossa carona.
A primeira vista que puderam ver foi de um cavalo altamente branco, logo em seguida uma carroça aparecia e uma mulher sobre ela era revelada. Em poucos segundos ela apareceu há poucos centímetros das crianças e olhou-as de cima para baixo, como quem julga se algum alimento está estragado ou não.
Susana, Pedro e Bella trocaram olhares.
── Dona Marta?── foi Pedro quem falou e saiu mais parecido com uma pergunta do que com uma afirmação.
── Receio que sim.── respondeu a velha senhora rapidamente.── Então isso é tudo? Não trouxeram mais nada?
── Não, senhora.── disse Pedro.
── Apenas nós.── completou Bella, sorrindo fraco.
── Acho melhor assim.── disse ela, com um sorriso de escanteio e indicou para que eles subissem.
As malas foram colocadas primeiro. Em seguida, Pedro, que era o mais velho e consequentemente o mais forte, ajudou Lúcia a subir, logo depois foi Edmundo - que inclusive não queria a ajuda do irmão mas era tão pequeno em relação a carroça que foi obrigado a aceitar; logo chegou a vez de Susana, que colocou o pé no joelho de Pedro e tomou impulso, subindo quase por conta própria. Bella imitou a forma de Susana e não demorou para o último Pevensie também subir.
Seguiram sobre as colinas e os olhos de Bella deslumbram-se com o que viram. Passou a viagem inteira comentando com Lúcia e Susana que aquele local daria um ótimo cenário para um romance. Lúcia sugeriu que talvez uma garota crescida morava na enorme mansão Kirke a muitos anos e sempre saía para passear pelo jardim, Susana completou o raciocínio dizendo que num dia ela conheceu um jovem muito bonito, filho de uma das empregadas e Bella falou que o amor deles era impossível, já que o pai dela era muito rígido e não aceitava alguém com menor conta bancária que a deles.
Ainda estavam tensas com todos os acontecimentos de Londres mas naquele momento elas conseguiram se despistar do mundo real. Eram apenas as três, inventando uma história de romance que nunca seria publicada. Elas se perderam em seus pensamentos e, por um minuto, pareciam amigas há muitos anos e como se suas famílias também fossem próximas, sendo assim eles estariam viajando para uma casa de campo para passar aquela época de férias (e o fato de isso não ser real era decepcionante).
Passaram quase o caminho todo falando sobre a história, com Pedro por vezes se intrometendo e adicionando alguns detalhes malucos que tanto Bella como Lúcia recebiam como uma maneira de apimentar a história. E isso aconteceu tantas vezes que, no final, o rapaz era um príncipe perdido e que havia ido lutar na guerra do país de seu desconhecido pai, deixando para trás sua amada. Ela tomou verdadeiramente um rumo louco.
Finalmente chegaram à velha casa. As crianças entraram logo atrás da Dona Marta, nem tendo tempo para observarem a casa por fora, mas tinham certeza que teriam outras oportunidades.
── O professor Kirke não está acostumado a receber crianças em casa, portanto existem regras a serem seguidas.── Dona Marta começou a tagarelar.── É proibido gritar, correr, nada de ficar brincando no elevador manual...
Dizia tudo isso enquanto subia as escadas e as crianças iam em sua cola. Susana parou e estendeu a mão para tocar numa velha estátua de gesso mas parou quando escutou Dona Marta:
── Não toque nos artefatos históricos!
A velha senhora havia esbugalhado seus olhos e ficou tão branca quanto um urso polar. Bella a assimilou como um besouro naquele momento, tendo assim que segurar o riso para não gargalhar da imagem que projetou em sua mente.
── E, acima de tudo, vocês nunca devem incomodar o professor.── finalizou.
E todos seguiram escada acima, por exceção de Lúcia e Bella que ficaram um pouco atrás quando pararam a escutarem passos. Trocaram um olhar desconfiado e abaixaram as orbes para encararem as sombras que eram projetadas para fora da sala, pela festinha no chão. Ao ver alguém parar defronte a porta como se tivesse as notado, Bella começou a empurrar Lúcia da maneira mais silenciosa possível escadaria acima. Não queria levar bronca logo no primeiro dia.
Os quartos foram mostrados logo em seguida e ficou determinado que Lúcia e Susana ficariam juntas em um, da mesma forma que Pedro e Edmundo ficariam juntos em outro; já Bella dormiria num quarto sozinha. Edmundo ficou enciumado por esse privilégio que não ganhou mas Bella sentiu-se totalmente abalada; gostaria de ficar com as outras garotas, pelo menos assim teria alguém com quem conversar quando não estivesse com sono mas também não estava sendo ingrata, afinal, ter aquele quarto só para si era uma verdadeira benção.
Após um jantar muito silencioso, todos seguiram para suas camas e Bella se despediu dos amigos. Adentrou seu quarto e rapidamente colocou sua camisola branca e amarrou os cabelos ondulados num rabo de cavalo baixo e desgranhado.
Seu quarto não era tão grande. Havia uma cama bem no centro com as cobertas azul celeste, um baú ao pé da cama, uma janela com um banquinho almofadado ao lado direito e uma cômoda ao lado esquerdo. Em cima da cômoda havia alguns livros e um rádio.
Ignorou todas as decorações e seguiu até a cama, deitando-se no colchão meio duro e se enrolando com os lençóis ásperos. Bufou e encarou o teto. Milhares de pensamentos passaram a rodear sua cabeça.
Tinha medo da guerra, de que seus tios não estivessem bem quando voltasse. Tinha muito medo e estaria pior agora se não tivesse se distraído quando Lúcia derrubou brócolis na roupa, ou quando Edmundo colocou o guardanapo na gola do pescoço e não sobre as pernas (recebendo assim uma baita bronca de Dona Marta), ou quando inventou uma história maluca de romance com Susana e Lúcia. Esses foram só alguns dos acontecimentos daquele dia que fizeram Bella esquecer de seus problemas.
Direcionou seu olhar para uma janela que estava posicionada a sua direita, passou a observar as estrelas e sorriu, vendo como o céu estava bonito e salpicado de pequenos pontos de luz. Por um segundo, Bella conseguiu ver uma um brilho rápido pelo céu, ela supôs que fosse uma estrela cadente, por isso, juntou as mãos como numa reza e sussurrou:
── Que amanhã seja um ótimo dia.
Logo voltou a abrir os olhos, sorrindo por fim.
Colocou as mãos atrás da cabeça e encarou o teto, com esperança e suspirando. Fechou os olhos lentamente e ali ela mergulhou no mundo dos sonhos, onde voltava para casa e reencontrava sua família completa.
Guerras não duram para sempre. E Bella torcia para que isso fosse real e assim seu sonho se realizasse.
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