Secret Love | Hyunlix

A CASA de Lee Seungho era tão confortável quanto seu jeito. Tapetes persas enfeitavam a sala, mandalas penduradas na parede, além de apanhadores de sonhos. A lareira sempre limpa, a cozinha tinha um misto de sabores e aromas.

A escada de madeira polida tinha flores em pequenos vasos.

Batendo a bengala no chão, de forma impaciente e rápida, Seungho pediu para que os convidados se sentassem.

— Naomi, adivinha quem chegou? — Seungho chamou a sua dama de companhia.

A mulher japonesa, com seus cabelos trançados chegou. Havia tirado a beca de economista e usava apenas o terninho e um avental, representando que devia uma lealdade para Seungho.

— Ah meu Deus. — ela soltou o pano de secar pratos. — Meu bebezinho!

Félix sorriu ao ver o amor de Naomi e foi abraçado por ela. Lágrimas surgiram no rosto dela, ao se lembrar de como o vira pela última vez. De como Naomi sempre voltava do trabalho do escritório de contadores e não desgrudava da cabeceira da cama que ele ficou.

— Meu amorzinho. — ela soluçou. — Olhe para você. Tão robusto, tão forte novamente.

— Eu também estava com saudades de você.

Ela sorriu.

— Akira irá adorar saber que você está aqui. — ela sorriu. — Pedirei para que ele venha te ver.

— Estarei esperando. — Félix sorriu para a mulher.

— Vou trazer o desjejum para você, e Seungho, nada de tomar vinho. — ela olhou para o senhor que já ia em direção à adega. — O médico disse que deve evitar o vinho.

— Um gole não faz mal. — ele resmungou.

— Você disse isso semana passada e tivemos que te levar ao médico. — ela começou a andar para a cozinha. — Sente-se e fique quieto.

O senhor resmungou mais vezes e se instalou na poltrona.

— Como eu sinto saudades de um bom Chatelé 2008. — pigarreou. — Mas minha saúde não é a mesma de anos atrás.

Minho olhava para as pinturas na parede. Reconheceu uma, durante seus estudos aprofundados sobre a família extinta, com seu pai.

— Essa fazia parte da família Im. — ele apontou para um quadro, onde exibia-se um casarão. — Essa é a casa dos Im's em uma pintura única.

Seungho assentiu.

— Acredite, o chefe da família me deu em mãos. — ele sorriu. — Foi o último presente dele antes de falecer.

— O que você pode nos contar sobre a família Im, senhor? — Hyunjin o questionou.

As damas entraram com os pratos e serviram na mesa de centro. O silêncio pairou de maneira pesada.

Quando saíram, Naomi dando mais um beijo em Félix, em um ato maternal, Seungho pousou a bengala no chão e se serviu de chá.

— Eu sempre me lembrarei de como a Liga maltratou toda a família Im. Bailes grandes e ricos, mas sem nenhum Im presente. Talvez fosse a inveja, o medo... Mas eles não se importavam. O que importava para eles era o bem da família, seja ela de sangue ou não.

Félix se lembrou da mãe. Os ensinamentos que ela tinha sobre os Ômegas que escondia em casa.

— Os Im's trouxeram grandes ensinamentos para a sociedade. Todas as famílias adotaram seu jeito de viver, seu lema, sua bandeira. Não havia preconceito com nenhuma casta, seja ela pura ou não. Eles gostavam de trazer a paz e a serenidade com todos. Uma pena que o destino tenha interrompido tão cedo.

— O senhor acha que tem alguma ligação do preconceito com os Ômegas com os Im's?

Seungho ergueu os olhos azuis claros. Seu olhar foi diretamente em Jisung, que havia soltado a pergunta. Changbin e Félix prenderam a respiração, enquanto Christopher e Minho encaravam toda a situação. Hyunjin apenas observava, calado.

— Com os Im's, Senhor Han? — o velho torceu o nariz. — Talvez sim, talvez não. Basta saber que lado quer ficar se eu contar a história de porquê você e os outros semelhantes não são bem vindos.

— Sou todo a ouvidos. — Jisung se aproximou.

Seungho olhou para a beleza dos três Ômegas jovens em sua frente. Ainda custava acreditar que seu neto era um deles.

— Olhem para vocês. — ele sorriu. — Ambos os três Alfas são sortudos por tê-los.

Félix quase engasgou-se com o biscoito de mel.

— Vovô!

— Não adianta esconder nada para o velho Lee aqui, Félix. — tossindo, ele encarou. — Acha que o cheiro só fica pela mordida? Quando se cria um laço com seu Alfa, o cheiro dele começa a ficar com você, mesmo que de forma fraca. E por fim, descobri que você está se envolvendo com Hwang Hyunjin.

Hyunjin se permitiu ficar um pouco vermelho. Nada escapava do olhar do velho.

— Não me interprete mal, Sr. Lee. — Hyunjin interveio. — Mas eu amo seu neto.

Algo como susto invadiu o coração de Félix, que deixou o biscoito de mel cair dentro da caneca de chá. Changbin começou a tossir.

— Isso não é muito... Recente? — ele questionou. — Digo, tá tudo muito rápido e o amor...

— O amor vem de diversas formas, Changbin. — Seungho se levantou e andou até a janela. — Pode vir rápido para alguns, ou pode vir lento e de atos… Certo, Sr. Bang?

Christopher que mordia uma banana da cesta de frutas, parou a fruta no caminho de sua boca.

— Eu?

— E existe outro Bang nessa sala? — Seungho zombou. — Me diga, como é estar apaixonado pelo Changbin? Eu digo que não é fácil lidar com Changbin, ele sempre é meio... Esquentadinho.

— Barraqueiro, vô. — Félix mostrou língua para o Changbin, que revirou os olhos.

— Eu? Apaixonado? O quê? — Christopher começou a rir nervosamente. — Félix, o que seu avô é? Desde do momento que eu cheguei aqui, ele tá demonstrando que conhece tudo da minha vida, e isso está me assustando.

O velho gargalhou.

— Você desbloqueou o celular perto de mim na entrada, meu filho. Deu pra ver que a foto de bloqueio era o Changbin trabalhando em um escritório.

Christopher adquiriu uma cor de vermelho tomate em suas bochechas brancas. Changbin ergueu uma sobrancelha.

— É sério isso? Chan!

— Você estava tão bonito... Que não resisti...

Seungho andou até Jisung e tocou em sua mão.

— E você, pequeno esquilo. — ele segurou a mão frágil de Jisung. — Não há dúvidas sobre quem o seu coração pertence. Seus olhos brilham na presença dele. É assim que o amor começa. De pequenos atos, para grandes declarações.

E então, Minho sorriu e abraçou Jisung para mais perto. Seungho olhava toda a cena de maneira apaixonada.

— Antigamente, o amor de vocês poderia ser livre assim. — ele começou a contar, deixando o ar pesado novamente, ambos em silêncio. — Amor e família, amor entre dois... Se apreciava de uma maneira tão doce... Ômegas machos representavam amor, beleza e fertilidade em alguns casos. Fora assim durante muito tempo... Eu era jovem quando tudo aconteceu.

— Vovô?

Seungho continuou a andar, lento e frágil.

— A família Im anunciou em alto e bom som: O filho Alfa, Heejun estava atingindo a idade do matrimônio. Ele era o último da linha de descendência pura da família. Todas as damas tentaram conquistar ele, mas uma ganhou. E não por amor, mas por lucro. Ela se chamava Choi Jisu.

Hyunjin ficou pálido.

— A avó de Jisu? — espantou.

O velho ignorou a expressão de Hyunjin.

— Ela era muito bonita. Os cabelos eram negros como a noite mais escura. Seus olhos eram atraentes e ela sempre chamava a atenção de todos os homens. Foi tudo uma questão de tempo, para que ela se apaixonasse por Heejun. Ele era um homem muito belo, com traços únicos da família. O casamento foi marcado, mas por motivos políticos, Jisu não pode viver com Heejun. Ela deveria manter-se pura para o casamento. Heejun aceitou e então voltou para sua casa de veraneio, em algum lugar da Ásia.

— Heejun não estava contente com a decisão do casamento. Dizendo todos que ele implorou para que o casamento fosse anulado, mas a família não permitia. Afinal, eles tinham que impor respeito dentro da Liga. Enquanto vivia em sua casa de veraneio, Heejun saiu em uma tarde para buscar mantimentos em seu carro, quando encontrou um corpo jogado no chão. Desacordado durante a tórrida chuva que alagava a região, ele viu que o corpo ainda tinha pulso. Era de um garoto, que parecia estar abatido e quase morto. Heejun o buscou e o levou para casa, cuidando.

Hyunjin e Félix trocaram olhares. A mesma história...

— Quando o desconhecido acordou, ele contou que estava fugindo de seu país, pela pobreza que assolava sua vida, desde jovem. Ele se chamava Hwan. Diziam que ele era lindo e que tinha um sorriso bonito. Como pedido, Heejun o pediu para que ficasse com ele na casa de veraneio, juntamente com outros empregados, em troca de pagar pelas despesas médicas. Hwan aceitou de bom grado. Durante os meses, eles começaram a viver como amigos, depois Heejun transformou Hwan em seu confidente. Foi nessa época que Heejun descobriu que ele era Ômega. Eles não sabiam, mas já estavam completamente apaixonados, de maneira única. Até mesmo a família de Heejun aceitava o Ômega em suas vidas.

As mãos de Félix e Hyunjin se tocaram lentamente, como se fosse a primeira vez se tocassem. Seungho continuou a história.

— Hwan então se declarou. Heejun fez o mesmo, e proibidos, começaram um romance. Mas não duraria muito: Durante uma noite de tempestades, Hwan e Heejun acabaram se deitando. O resultado foi uma mordida e uma gravidez. Inesperadamente, Heejun se vê livre de Jisu e das obrigações. E quando voltou para a sociedade da Liga, ele voltou apenas para anunciar que o noivado foi extinto e apresentar o noivo, Hwan. Jisu não se deu por vencida, e então, promoveu os muxoxos e mentiras que os Ômegas começariam a tomar o lugar das damas da corte. Como uma figura fluente, ela imaginava a polêmica.

— Foi um inferno na vida de todos os Ômegas. Havia tristeza e destreza na vida dos Ômegas, que começaram a não serem bem aceitos na sociedade. As damas começaram a falar... E então, Heejun se sentiu culpado. Mas quando seus filhos, os gêmeos nasceram, nomeados de Jungsu e Jaesang, a sociedade caiu em amores pela família ter se recuperado gradativamente. E com o tempo, veio Junseok e depois, a família estava completa.

Félix olhou para o avô.

— É por culpa dos Choi que os Ômegas não são bem vistos?

— Praticamente sim. — ele deu de ombros. — Jisu começou a alimentar um ódio profano de todos os Ômegas de maneira terrível. Enquanto ela alimentava, Hwan e Heejun viviam o mais belo amor que toda a sociedade já vira. O amor deles era de invejar, o laço era firme e tão duradouro... Ressinto que, após a morte de Hwan, Heejun nunca mais foi o mesmo. E com a extinção da família, com o aparecimento da ARO, tudo fez questão de piorar.

— Do que Hwan morreu?

— Não sobreviveu ao parto da filha. Mesmo com todo o cuidado, ele veio a falecer dias mais tarde. — o velho tossiu. — Ele morreu nos braços de Heejun. Infelizmente, dias depois, a pequena Ômega veio a óbito também. A família Im sofreu muito.

— Meu pai dizia de um baile. — Hyunjin levantou-se. — Um baile que causou tanta polêmica que não deveria ter sido comentado durante anos. O que aconteceu naquele baile?

Seungho se virou para Hyunjin, os lábios tremendo.

— Por que não pergunta para seu pai, Hyunjin? Ele sabe o motivo para que o baile não devesse ser comentado, afinal… Foi ele que destruiu a noite de festejos.

Hyunjin sentiu uma espécie de pânico invadir seu corpo.

— Do que está falando? Meu pai?

— Seu pai tinha uma obsessão curiosa sobre a jovem Principessa. E foi naquela noite que tudo o que Heejun havia construído para seu único herdeiro, Hwang Kwangsun destruiu.

— Junseok era o único herdeiro da família. Mas e os gêmeos? Eles...

— Morreram. — Seungho suspirou profundamente. — O desejo dos homens Alfas terem um Ômega, fez com que Jungsu e Jaesang se casassem muito cedo. Logo após a perca de seu Abeoji, e de sua irmã, Jungsu e Jaesang também se foram, devastados por uma doença, definharam na cama até falecer. Heejun teve que enterrar os filhos em um período que ainda sofria com a perda da única pessoa que ele amou. Os maridos dos Ômegas nem sequer demonstraram respeito e saudades pelo seus companheiros. No dia do enterro, já estavam em busca de outros parceiros. Isso alimentou um ódio avassalador em Heejun. E para tudo piorar, Hwang Kwangsun o traiu.

— O senhor...

— Deveria perguntar ao seu pai, jovem Hwang. — Seungho bateu a bengala no chão. — Ele sabe mais coisas que eu. Afinal, ele que matou a família Im. Ele e todos da Liga, tiveram uma parcela de culpa.

Hyunjin suspirou e saiu da casa, nervoso. Félix tentou o seguir, mas seu avô barrou o caminho.

— Deixe-o. Apenas o aguarde. Vocês queriam respostas e terão suas respostas, mesmo que o passado comece a pesar em suas costas e as palavras comecem a machucar. A verdade dói mais que uma lâmina, mas cicatriza rapidamente.

Félix sentiu a dor de Hyunjin. Sentiu as palavras pesadas de Hyunjin, que estava nervoso fora de casa.

O laço entre Hyunjin e Félix estava começando a ficar mais firme, mais forte. Félix não esperava que fosse assim, ele não queria que fosse assim. Iria machucar seu jovem peito novamente, como se a história se repetisse.

Enquanto via Hyunjin entrar dentro do carro, e dar uma ré quase falha, ele soube que já estava preso no amor e na vida de Hyunjin.