Secret Love | Hyunlix

HYUNJIN ACORDOU antes do despertador, ao ver que a chuva havia diminuído para uma garoa leve. O céu estava cinzento ainda, e ele quis ficar na cama.

Se revirando na cama, seu nariz pinicou e ele sentiu o rude cheiro do Ômega e de café.

Sua mente voltou a noite anterior, onde havia um Ômega macho em sua casa, dormindo nos lençóis de seda branca do outro lado do corredor.

Ele ainda não acreditava no que aconteceu. Uma hora, no trânsito e na outra, seu casaco de quase 15 mil estava jogado sob o corpo molhado de um Ômega macho, considerado um perigo para as famílias tradicionais.

Como um ser daquele poderia ser considerado perigoso?

Era bem claro que Félix guardava um certo rancor dos Alfas. Qualquer Ômega tem uma certa raiva de Alfas. Mas Félix parecia que tinha muito mais do que uma pequena desavença.

Ele fechou os olhos e lembrou da conversa. Repassou diversas vezes na cabeça e então, andou até o banheiro, escovando os dentes e esvaziando a bexiga. (Claro que não tudo de uma vez só).

Vestindo uma calça clara, ele saiu do quarto e atravessou o pequeno corredor e entrou na cozinha duplex italiana.

Havia café fresco e quente em uma caneca. O cheiro fez seu corpo tremer, e ele aproveitou-se da bem-ventura do Ômega e pegou a caneca.

Mas onde estaria a peça rara?

Ele rodeou o apartamento e então encontrou a silhueta magra de Félix. Ele estava sentado, com as pernas cruzadas no estofamento da janela, vendo que a garoa se transformara em uma chuva complicada de aurora.

Félix era muito bonito. Seu nariz era fino, seus lábios eram talhados, como se um escultor tivesse a quantidade certa de paciência para fazer cada detalhe daquela boca. As pequenas sardas que cobriam suas bochechas lhe davam um ar inocente. Nem comentava dos olhos de cor tão bela que lembrava as ondas do mar.

Os cabelos eram tão dourados quanto o ouro e os raios de sol. Ou seja, Félix era a magnus opus de um artista.

Ele parecia tão frágil, mas era feroz. Como um felino pronto ao ataque: Mostrava as garras depois de deixar a vítima vulnerável com sua beleza e meiguice.

Enquanto Hyunjin analisava Félix, ele pensava em quão honrado foi o Alfa: Trouxera da rua, sem esperar que ele fosse dar escândalo.

Félix não contava com a bondade das pessoas. Ele era um Ômega, um sinal de vergonha. Changbin e ele já dormiram na rua em dias de chuva forte, onde Félix fazia seu corpo de escudo para Changbin, para que o mesmo dormisse.

Eles cresceram a base da fé e da esperança. Não tinham medo de nada, a não ser da ARO. Minkyu e Hyorin fizeram o possível, mas após Changbin ter seu primeiro heat e querer sair de casa, Félix não hesitou em seguir o amigo quase irmão.

Havia dias que eles dormiam em hotéis baratos, ou na rua. Quando eles se juntavam com outros Ômegas, para se esconder da ARO. Ou quando Changbin ficou tão doente que quase desistiu da vida nos braços de Félix.

Era talvez por isso que Félix tinha nojo da burguesia e da família Original. Eles ostentavam festas e pureza de sangue, enquanto muitos Ômegas morriam.

Infelizmente, a realidade era a companheira de Félix: Sozinho, ferido e rígido.

Ele percebeu que o Alfa o olhava. O cheiro de Hyunjin era delicioso, ativava seus instintos. Hyunjin tinha um cheiro brutal, como algo metálico, mas ao mesmo tempo tão intenso quanto doce.

Também poderia descrever o quão perfeito era aquele homem: Na madrugada, Félix o viu dormir. Hyunjin tinha o corpo de puro músculo, coxas torneadas e malhadas, tatuagens espalhadas como um mapa de tesouro, cabelos sedosos... Hyunjin era uma arte humana.

O Alfa deu um passo a frente, fazendo Félix mostrar os dentes e ali, mostrava-se as pontas de caninos ainda não desenvolvidos, como se esperasse a evolução: O crescimento dos caninos de um Ômega só completava seu ápice após a mordida.

Mas diante da cena, Hyunjin achou extremamente fofo, da forma que Félix demonstrou que estava em alerta: Como um filhotinho rude de gato, Félix estava encolhido.

— Relaxa, felino. — Hyunjin se sentou em sua frente. — Só quero tomar um café.

Félix fechou a boca e voltou a olhar pela janela.

— Obrigado. — ele murmurou. — Mas não fique achando que isso é o suficiente para que eu me ajoelhe em sua frente.

— Não aprecio Ômegas machos. — Hyunjin soltou. — Apesar que vocês são uma raça curiosa a ser estudada.

— Não somos ratinhos de laboratório para vocês. — ele voltou a mostrar os dentes.

Hyunjin revirou os olhos.

— Saia do modo de ataque, gatinho. Não quero te agredir.

— Alfas não são de confiança.

— Uma matilha sem seu lobo chefe se perde em dias. Se não houver confiança em seu lobo chefe, ele não sente necessidade de ficar com essa matilha.

— Uma metáfora não me fará confiar em sua espécie.

— Não confia porque eu sou um Alfa ou porque eu sou um Original? — Hyunjin bebericou do café.

— Ambos. — Félix continuou a olhar. — Você é um duplo perigo.

O silêncio se instalou, até que Hyunjin olhou para Félix.

— Vamos unir o útil ao necessário. — Hyunjin se inclinou. — Pensou na minha proposta de emprego?

— Fico me questionando o porquê de contratar um cara de rua do que uma fiel secretária.

— Ômegas fêmeas são complicadas de lidar. Ou você lida com elas ou acaba demitindo.

— Eu sou um Ômega. Não é difícil?

— Achei que não se limitasse a sua espécie. — Hyunjin mostrou-lhe a sua face de indiferença, vendo Félix bufar.

— Acontece que vocês, da perfeita sociedade, nos limitam. Sou melhor que muita mulher.

— Não se gabe de algo que ainda não conseguiu provar. — Hyunjin deu de ombros, provocativo.

Filho da puta maldito, Félix bufou dentro da mente.

— O que você quer de uma vez, seu Alfa maldito? — Félix esbravejou. Hyunjin sorriu.

— Eu preciso de um assistente de confiança, em tempo integral para minhas empresas. Reuniões, viagens, compromissos... Eu pago bem e te dou direito a benefícios.

Félix coçou o queixo.

— Não é uma pegadinha para me entregar?

— Eu detesto a ARO tanto quanto você. — Hyunjin piscou. — Acho que você já imagina que a sociedade está modificada e está te aceitando. Digo, sua espécie.

— Não fazem mais do que a obrigação. — Félix esbravejou. — Temos todo o direito de sermos felizes, mesmo sendo Ômegas machos.

— Sua espécie deveria ser idolatrada. — Hyunjin se aproximou e Félix empalideceu.

— Por que?...

Hyunjin deixou a caneca na mesa.

— Venha para mais perto, Félix. — ele comandou, sua voz ficando grave e conspícua.

Félix suspirou profundamente, segurando a vontade de estapear Hyunjin.

— Sua voz de Alfa não me atinge.

Hyunjin sorriu.

— Não tem problema, eu me aproximo então.

Hyunjin fez mais um movimento e Félix não viu quando Hyunjin o arrastou para seu colo. Nada sexual, nada romântico.

Mas extremamente atrativo.

Hyunjin arrastou a ponta do seu nariz na glândula de cheiro de Félix, que ficava localizada abaixo do pescoço.

— Ômegas machos são como ambrósia. — Hyunjin murmurou. — Adorados, eles são capazes de amar mais, trazer mais desejo, mais felicidade e mais filhos. — ele arrastou a ponta do nariz até a clavícula de Félix. — Divindades, como eu diria. São raros, entretanto, o número de Ômegas aumentou drasticamente. Mas apenas alguns... Alguns carregam um cheiro que faz qualquer Alfa cair de quatro e uivar feito um lobo ancestral...

Hyunjin se sentiu embriagado pelo cheiro que Félix exalava. Era tão único e tão poderoso que nem mesmo o maldito inibidor conseguia disfarçar tão bem.

Um empurrão fez Hyunjin se afastar e Félix, corado e rude, se encostar na janela.

— Não te dei ordem de explorar meu cheiro. — ele se encolheu. — Não é meu Alfa e nem sequer, gosto de você.

Hyunjin deu uma revirada de olhos e depois, um sorriso meticuloso.

— Trabalhe para mim e eu te ajudarei. — ele se levantou. — Te garanto segurança, comida e claro, será fichado como meu assistente Beta. Sem ressentimentos. Pense a respeito.

Quando começou a andar para a cozinha, afim da travessa de cookies que deixou perdida no forno desde da manhã passada, Hyunjin escutou a voz de Félix.

— Eu aceito trabalhar. Mas com a condição de que fique longe de mim e de meu companheiro de moradia, Changbin. Ele é um Ômega como eu. Quero que ele também seja protegido.

Hyunjin sorriu sem que Félix percebesse.

— Fechado.