26 ➵ Rua de Finais
Rua das Flores | Hyunlix
— ESTÁ BELÍSSIMA. — a voz do rei fez Félix fechar os olhos e olhar o mar ao longe.
Estava na sacada no quarto real, o mais longe possível de SeungWoo, aquele monstro, os olhos redondos estavam refletindo o que a alma da duquesa sentia.
O horizonte cortava o oceano virgem, cinza e com as nuvens se formando no céu, a estátua enorme do primeiro rei de Heresia estava ali no centro da cidade perto do palanque que era utilizado em enforcamento, assim como uma fornalha para as bruxas. Queria que apenas a brisa gélida o levasse dali, que o afundasse nas águas cristalinas e que jamais visse novamente qualquer oficial, muito menos o rei.
— Não vai agradecer? — a voz mansa resultou apenas no ômega fechando os olhos lentamente e pensando no porquê suportar aquilo.
— Por que? — o tom pacífico foi embora, a bochecha ainda ardia com a marca dos dedos do alfa, estava perdendo a paciência.
SeungWoo estava sorridente, o cheiro de alfa forte e expressando o quão satisfeito estava de se casar com aquele ômega, ao menos esperou que Subin desse filhos ou fosse estéril, muitos sussurravam sobre aquilo, mas nada tirava do lúpus o nariz arrebitado e a postura arrogante dele.
Céus! Como estava irritando Félix.
— Oras, por salvá-la da pobreza, fazê-la minha rainha e consequentemente dar suas melhores noites. — nada daquilo parecia valioso ou bom, pelo contrário, deixava-o com mais ódio e vontade de saltar do último andar.
— Você não entende, Majestade? — puxou o máximo de ar que pode, lembrou-se de Park e de todos que conheceu no navio, não deveria desistir da sua vida tão fácil assim e por medo? Jamais.
— Como ousa falar assim comigo? É uma ingrata! — o rei então gritou, era a única forma que sabia lidar com as pessoas, usando sua autoridade de forma ditadora para impor suas vontades.
— Você consegue imaginar sobre alguma coisa que não seja você mesmo? — virou-se para o alfa e negou levemente com a cabeça se sentindo péssima.
— É a última chance que lhe darei, ou se case comigo ou então comece a orar por uma salvação divina. — SeungWoo sorriu confiante de que já estava ganho, arrumou o bracelete real nos pulsos e esperou que Félix retomasse o juízo mental, deitasse consigo e se casasse logo. — E então?
— Já sei qual divindade clamar. — falou apenas aquilo antes de voltar para a sacada, algo em meio às ondas chamou sua atenção.
Porém o rei saiu andando pesado, estava louco pela duquesa, desde que a viu pela primeira vez em uma daquelas temporadas ficou encantado pelo dourado dos fios, os decotes no vestido e então deitou-se com ela em troca de dar jóias, era aquela forma que faziam, então enquanto tivesse as mais brilhantes pedras teria o ômega.
Mas então como uma jogada de mestre, o falecido duque, como um desgraçado, além de casar-se com ela, agora tinha feito ela ir atrás de uma flor, e quando volta está diferente, louca.
SeungWoo esperou por três anos, agora ela simplesmente não queria mais? O que tinha achado de tão surpreendente?
Na sala do trono, o rei enlouqueceu, derrubou as espadas no chão gritando, rosnou alto fazendo as veias do pescoço engrossarem.
— O que?! O que aquela vagabunda acha?! — falou na voz de alfa socando o trono, os guardas do lado de fora ouviam os barulhos de algo caindo e os rosnados de uma fera.
Era tudo tão alto que Young-chul ouviu, saiu de perto de uma ômega jovem, talvez tivesse menos de doze anos, mas precisava ver o rei para o manipular, segurou as vestes longas e foi andando pelos corredores, ainda era alto o som de rosnados e armas sendo jogadas, talvez até o trono tenha sido destruído.
Fraco.
Quando chegou na porta ordenou que os oficiais abrissem, não demorou para já estar dentro do enorme salão, estava uma bagunça com armas espalhadas e um lúpus rosnando com os fios bagunçados, o coroa estava no chão em cima de uma espada com detalhes verdes.
— Majestade! O que é isso? — aproximando-se de SeungWoo, Chul soltou as vestes andando com mais calma.
— Aquele ômega! Ele simplesmente não quer casar-se comigo, eu posso dar mais jóias e terras do que aquele maldito duque! — berrou jogando-se no trono, Young-chul viu ali a brecha que precisava.
— Vossa Majestade não sentiu o cheiro? — começou lento, o rei então olhou confuso.
— Estou fedendo? — embora o cheiro de alfa dele fosse desagradável, não era exatamente o ponto.
— Estúpido. — sussurrou quase mudo, ergueu os ombros em superioridade e continou. — Majestade, aquele ômega está com o cheiro de alfa, possivelmente grávido.
O rei arregalou os olhos, era um burro como um animal, mas sabia que se ele não sentia o cheiro era porque o pai do bebê deveria ser um lúpus também, e o duque que tinha morrido era um alfa comum que temia seus olhares raivosos.
Desgraçada.
— Aquela vadia! — rosnou socando o braço do trono, Chul sorriu ainda mais aproximando com um olhar piedoso sobre o soberano.
— Ele também é semelhante com uma cigana que conheci. — SeungWoo olhava cuidadosamente para o juiz, acreditava fielmente no poder e luz daquele alfa. — Esse ômega de cabelos loiros me enfeitiçou e acho que está fazendo o mesmo com Vossa Majestade, além de bruxa o cheiro que exala dela é o mesmo de piratas.
— Está dizendo que Félix é uma bruxa e cúmplice de pirataria? — sem remorso, o juiz concordou com a cabeça.
— O senhor está saindo da sua glória por causa dela, acha ainda que não é uma feiticeira? — como uma serpente, ele sussurrou aquilo a consciência do rei, que fraco, encheu os pulmões de ar e gritou:
— Chame Sejun.
🏴☠️🏴☠️
Quando chega o seu fim, é melhor estar pronto.
Pronto para caso de fuga ou ataque, isso que Félix pensava com Subin e Byungchan ali, ambos ômegas casados forçadamente e infelizes com suas uniões, porém vivos e não tinham uma vida no frente, o que fazia eles ficarem desesperados com a ideia de casar aquela duquesa ao rei.
— Não tem como fugir daqui. — Byungchan, que já vivia há anos no Palácio, falou.
— Por que? — os outros dois falaram juntos e temerosos, talvez não desse tempo de mais nada.
— Tem guardas por todo lugar, só tem janelas nas partes mais altas, o povo é fofoqueiro e medroso, não tem como correr com esses vestidos também. — Subin abaixou a cabeça temendo, nenhum dos três poderiam ir, e Subin não deixaria a única pessoa que o ajudou permanecer naquele lugar horroroso.
— Então tiramos os vestidos. — Félix não deu tempo para eles pensarem, puxou o laço do espartilho e o deixou cair ficando apenas com as peças íntimas.
— O que? Sabe que ômegas nobres só podem usar vestidos. — Byungchan era o mais velho entre eles e sempre viveu desde pequeno os costumes.
— Eu amo usar os vestidos, mas neste momento um par de calças é mais prático. — falou rápido pegando do armário alguma coisa que servisse, mas tudo ali parecia simples demais.
Porém tinha calças e blusas, puxou uma que parecia de couro e tirou o cinto da perna que tinha a adaga que Hyunjin tinha lhe dado, parou ali olhando o espelho ali, seu reflexo estava triste como jamais viu, lembrou do seu alfa dizendo que ali estava a pedra da coroa da rainha que agora estava na estátua, fechou os olhos e colocou a palma pequena na barriga pequena, suspirou lembrando que deveria ser forte e lutar pelo seu bebê.
Vestiu a calça e colocou o cinto na cintura, que quando pôs a camisa branca escondeu a pequena faca, viu um espartilho preto e colocou como de costume, podendo assim abrir os primeiros botões da blusa para ser seu novo decote, virou encarando os outros ômegas.
— Como estou? — sorriu de canto confiante, uma roupa aumentava o ego da duquesa, poderia estar na pior situação, se achasse a roupa certa seria a melhor.
— Ótima, mas e se nos matarem? — Subin estava sendo amparado pelos braços da dama real, os três estavam com medo, mas Lee via como o capitão ficava, mesmo com tudo péssimo ele parecia ter tudo sob controle.
— Primeiro eles precisam saber, segundo nos pegar, e terceiro, não seria o único motivo para dar fim a minha vida. — falou sério e tocou a maçaneta da porta de madeira, virou para os ômegas que se levantaram para trocar de roupa, porém não demorou para que a porta fosse aberta com força machucando a mão da duquesa que se afastou logo.
Não demorou para que o quarto ficasse cheio de oficiais, parado na porta com um sorriso enorme estava Sejun com um olhar superior e com o nariz erguido de forma ameaçadora para os três ômegas ali, não demorou para que dois alfas ficassem de cada lado deles segurando os braços delas, Subin e Byungchan estavam totalmente vestidos, Lee virou a cabeça encarando eles também serem segurados.
Droga! Era tudo sua culpa.
— Levem eles para a praça.
A praça?
Félix arregalou os olhos e começou a debater-se nos braços dos alfas que agora o erguiam do chão acompanhado do comandante do exército, mais a frente tinha um corredor, Lee poderia fugir e planejar um ataque surpresa para ajudar os outros ômegas, precisava de tempo.
Usou as mãos livres para puxar a arma do coldre do soldado e não hesitou em atirar na perna dos dois e correr quando foi jogado no chão.
Correu tendo meia dúzia de homens atrás de si, viu quando soltaram os outros dois, afinal o único que apresentava perigo era o que tinha atirado em dois homens e com uma habilidade que deixou eles surpresos, não era nada muito elaborado, mas ele sabia algo e isso deixou ainda mais desconfianças.
Estava correndo pelas escadas com alfas atrás de si, viu uma porta pequena ali e não perdeu tempo entrando, saindo em um jardim enorme e aparentemente sem saída, mas então uma pedrinha o atingiu, virou-se encontrando um ômega de cabelos castanhos.
— Ei! Eu te conheço, não é a duquesa que estava no navio pirata? — a voz era zombeteira, aliás, como ele sabia daquilo?
— Quem é você? — falou ofegante da corrida que teve, começou a andar ao redor procurando uma saída, o muro era enorme e tinha flores demais ali, a única forma de sair era pela porta que entrou, mas temia que os guardas já estivessem perto e não teria para onde correr.
— Gosto de ver os barcos na praia. — mesmo que fosse verdade, Lee não tinha tempo de ouvir aquilo, estava olhando para as flores buscando algum buraco nas rochas. — Não tem saída, só na cozinha, mas fica do outro lado do castelo. — Félix bufou frustrado e virou-se para aquele ômega que já estava saindo pela mesma porta que tinha entrado. — Qual seu nome pelo menos?
— Félix. — respondeu se sentando completamente derrotado, talvez fosse melhor esperar para que fugisse no silêncio. — E o seu?
— Seungmin, boa sorte, eu vi as forcas sendo montadas.
O frio atingiu a espinha de Lee, que abraçou ainda mais o corpo, mais especificamente a barriga que temia não crescer, estava se sentindo sozinho e agora não tinha mais o que fazer, aquele ômega tinha saído e se ele tinha dito que não tinha saída e que as forcas estavam prontas era claramente seu fim da linha.
"Nós dois juntos, sempre." Lembrou da voz doce de seu irmão, sentiria saudade de quando ele falava consigo e comia os doces que lhe eram oferecidos.
"Princesa." Seu alfa, céus, seus olhos lacrimejavam lembrando dele e do ninho de amor que eles tinham na cabine do capitão, não veria mais os sorrisos estupidamente debochados.
Era uma das pessoas que mais amou durante sua vida toda, agora tinha mais uma que nunca viu o rostinho ou a voz, mas já a amava profundamente.
— Perdoa a sua mamãe. — sussurrou acariciando por cima do espartilho, sentiu um calor vindo dali.
— Você pode salvar esse bebê. — a voz asquerosa deixou o ômega em alerta, levantou-se pronto para um possível confronto. — Calma, não vim aqui para brigar. — mentiroso, pensou Lee. — Quero propor algo para ajudá-la.
— Vindo de você não é nada bom. — em pé, olhou o homem de cabelos brancos, tentou se afastar dele, seria melhor fugir novamente pela porta do que ficar ali com ele.
— É sim, posso livrá-la da forca e da fogueira. — Lee olhou curioso para aquele alfa, ainda com as mãos na barriga em proteção para o bebê. — Se você se casar comigo eu assumo o bebê. O que me diz?
Félix abriu os lábios com nojo, aquele juiz era podre e ainda se dizia justo? Fechou a boca e moveu a língua sugando toda a saliva que tinha na cavidade, inflou os pulmões e lançou a bola de cuspe em direção ao rosto do alfa líder da igreja, que em resposta rosnou alto fazendo as orelhas do ômega arderem.
— Promíscua! — gritou e agarrando o braço fino começou a puxá-la, Félix gritou se debatendo nos braços daquele homem, estava doendo.
Mas não falaria aquilo, tinha seu orgulho e morreria com ele.
Tudo foi como se passasse sua vida diante de seus olhos, os guardas o levando com mais força que antes, a quantidade de curiosos ali que gritavam animados em ver execução na praça diante de todos, o povo estava eufórico gritando para que matassem apedrejados. Tinham ali não só a duquesa que se debatia desesperada, como também a rainha que chorava de cabeça baixa e a dama real que estava de mãos dadas para o ômega pequeno ali.
— Estamos aqui para presenciar a execução desses ômegas. — Lee parou quando ouviu a voz do rei, não daria o gosto de vitória a eles, ergueu os olhos e viu o tal Seungmin no alto de uma torre que abria as portas de ferro da praça, usado para proteger das ondas que vinham forte. — Última chance para você, irá se casar comigo?
Novamente o rei tentou fazer com que Félix mudasse de ideia, aproximou-se do ômega bem mais baixo que si, o sorriso dele estava confiante por Félix estar com as bochechas vermelhas e o canto dos olhos transbordando em lágrimas.
Não, a vida era cruel ao ponto de um homem, com poder, matar um mais fraco apenas por desejo? Era isso que alfas eram no fim das contas? Ou melhor, Deus, o destino, a lua e o sol permitiam aquilo? Sempre achou que a vida era dinheiro e quando descobriu um mar além daquilo era o seu fim? Assim? Grávido?
Eles não tinham pena de nada.
— Não posso me casar com alguém como você. — falou confiante, os outros dois ômegas o olharam curiosos.
— Alguém como eu? — o povo gritou em adoração ao rei.
— Poderia na verdade. — aquela frase atraiu a atenção do rei acreditando que finalmente tinha convencido. — Tem dinheiro e jóias. — as palavras estavam agradando cada vez mais SeungWoo. — Mas não o amo, já tem um alfa no meu coração e morrerei sabendo que vivi meus melhores dias com ele.
SeungWoo rosnou com uma expressão intimidadora, a plateia medíocre gritou novamente ansiosos pela morte daquele ômega que insultava o rei de Heresia.
— Leia os crimes dessa puta logo. — gritou para o Juiz que se aproximou raivoso também, aquela feiticeira estava louca.
— Lee Félix, duquesa a qual o marido faleceu, acusada de pirataria e bruxaria. — falou calmamente para as pessoas que gritaram já preparando os tomates para jogar no corpo sem vida antes de ser queimado. — A confirmação de ser bruxa será se ela morrer após sua sentença. — Félix pensou, se ele fosse uma bruxa a confirmação não seria ele voltar a vida? O povo realmente era uma marionete. — Sua sentença é morte por enforcamento e a fogueira.
Um beta aproximou-se de um punhado de lenha e começou a juntar, em seguida pegou com uma tocha com fogo, os olhos dos ômegas refletiram as chamas e fecharam por segundos respirando profundamente. O subordinado jogou aquela madeira junto com as outras, a fogueira subiu como as chamas do inferno e o rei sorriu, afinal se Félix não queria ser sua, não seria de mais ninguém.
— Uma pena queimar o corpo, poderia usar bastante. — sussurrando para o Juiz ao seu lado, Sejun deu uma olhada para os três ômegas ali, os dois foram por cúmplices da duquesa, o alfa não estava abalado pela sua esposa estar ali, na verdade já estava encarando uma ômega na plateia, bem jovem até.
— Tem razão, mas infelizmente Deus quer queimar todas as bruxas para não corromper seus servos. — falou calmamente como se aquilo fosse a verdade e não sua vontade para cometer atrocidade com ômegas.
— Podem colocar as cordas. — uma lágrima silenciosa escorreu pela bochecha da duquesa.
Estava se sentindo culpada de levar consigo dois ômegas inocentes, virou na intenção de se desculpar, mas nenhum dos dois pareciam tristes, na verdade estavam resplandecendo. Byungchan foi criado para ser um boneco e aquela foi sua primeira vez fazendo algo que realmente queria, além de que não viveu um amor, pois era doente de amar outro ômega e se soubessem teria mais uma morte. Subin nunca foi amado, e no dia de suas núpcias foi tomado a força, a única coisa que o fazia feliz era seu amante que agora morreria ao seu lado.
— Perdão. — pediu para eles, que estavam de mãos dadas querendo compartilhar até mesmo no último segundo o amor.
O amor verdadeiro, aquele que não causa dor e nem morte.
— Tudo bem, foi o dia mais agitado da minha vida. — confidenciou sentindo o marido comandante colocar a corda em seu pescoço.
— Espero na próxima reencarnação ser mais livre. — comentou a rainha agora, tendo o comandante colocado a corda em seu pescoço.
— Será uma honra morrer ao lado de vocês. — sussurrou com a corda em seu pescoço posta especialmente pelo rei que ainda teve a ousadia de beijar a força a bochecha do ômega, que se afastou o máximo que pôde.
— Que Deus faça pagarem pelos seus pecados. — foi a última coisa que Lee Félix ouviu de Young-chul.
Diziam que quando chegasse a sua morte passava tudo o que viveu diante de seus olhos, e realmente Félix lembrou de tudo, desde o primeiro dia que pisou no navio e chamou o capitão de Peruca Negra, o dia que cuidou do machucado dele, o espelho, a noite maravilhosa e agora o bebê que infelizmente não saberia o quanto seu pai o amará, porque Hyunjin transmitia amor ao Lee que o fazia acreditar que seria o melhor pai do mundo.
Voaria de encontro a lua que os acompanhou até ali.
Se aquele realmente fosse seu fim, ele estava bem.
Tinha vivido. Amado. E agora morreria.
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