08 ➵ Rua de Raridades
Rua das Flores | Hyunlix
A NOITE foi péssima.
Félix não dormiu, sua mente estava lhe odiando, no nível de fazê-lo pensar apenas naquele homem, naquele alfa. Céus, que homem. Lee não sabia se orava por um santo ou pelo diabo porque aquele alfa o enfraquecia como o mal e lhe levava a sensações inovadoras que poderia jurar que aquilo era santo, pois era bom, e se Deus fez o mal mais forte, também fez o ômega para cair na luxúria.
Mas que diabos!
Se era aquilo, por que o capitão o rejeitava? Sabia que era irresistível, belíssimo e com uma ótima conversa, diferente daquele bruto e bronco que insistia em provocá-lo, para que quando correspondesse o declinar. Sem embargo, iria resolver aquilo, jamais deixaria um mentecapto rejeitar a duquesa de Heresia.
Queria tocar, sentir e infelizmente era apenas aquilo que desejava naquele navio.
Assim que o sol nasceu, declarando para si o quão patético era por entregar sua noite de sono por causa daquele lúpus, o ômega levantou-se passando as mãos nos fios curtos que mal chegavam em seus ombros, trocou de vestido com dificuldade, pois não queria acordar Park para lhe ajudar, o tecido vermelho delineava perfeitamente seu corpo moldado, puxou o espartilho, porém não o suficiente como seu servo fazia.
Saiu da despensa em passos pesados, mesmo que não fizesse som algum, parou diante da porta do alfa iluminada pela luz do sol, fechou o punho e bateu à porta.
Nada.
Nem mesmo uma permissão.
Bateu novamente e com mais força, a porta oscilou, porém nada do alfa, e depois daquele confronto na noite anterior cogitou que ele estivesse dormindo.
Não. Ele também lhe tirou o sono, nada mais justo.
Empurrou a porta com força, entrou irritado e fechou a madeira com a mesma ira que a abriu, virou-se para a cama do alfa, iluminado pela luz do sol entrando pelas janelas pequenas e frestas da madeira. Quando o viu, o alfa desencadeou outra emoção daquela duquesa, algo que se Lee não estivesse tão surpreso, o deixaria extremamente bravo.
O capitão estava deitado com a barriga para cima, estava reto como um cadáver, o canto de sua blusa branca estava manchada de sangue, estava seco, mas totalmente sujo e pálido. Céus! O capitão estava bem quando o viu naquela madrugada, por que estava tão vulnerável agora?
— Hyunjin! — berrou se aproximando do alfa, o segurou pelos ombros sacudindo abalado, parou vendo o alfa começar a abrir os olhos, estavam azuis como na noite, não era o castanho de antes.
— Ômega. — a voz grave era como um trovão, Lee se encolheu e paralisou, céus, estava falando com a forma lupina de um alfa.
Esperou, embora estivesse mais impactado do que era compreensível, Félix voltou a se mover conformado de que ele não falaria mais nada, estava cansado e pelo jeito era um orgulhoso para lhe pedir ajuda. Se fosse qualquer outra pessoa, Félix o deixaria perder sangue até secar, mas era seu Capitão Peruca Negra, não poderia deixá-lo morrer.
Tomando permissão de si mesmo, puxou a faca na perna do alfa, o objeto estava preso fortemente e o lúpus sentiu quando as mãos pequenas tiraram dali, o olhou sério querendo saber as intenções, mas acalmou-se quando apenas sua blusa foi rasgada pela lâmina cortante. A duquesa sabia que teria de ser rápida, aquele homem só estava vivo ainda por ser um lúpus.
Lee olhou o machucado na costela do alfa, era superficial e só precisaria de algumas ervas e enfaixar, mas pelo jeito ele fez força o bastante para escorrer quantidade o suficiente para o deixar naquele estado. Seus olhos foram em direção ao lúpus, ele ainda o olhava, calado e com seriedade, as sobrancelhas grossas estavam franzidas e o ômega odiou aquilo, mas ainda sim não conseguia deixá-lo morrer.
— Estou apenas o ajudando porque preciso que me leve às Ilhas Maldivas, você pode retribuir fazendo esse barco nadar mais rápido. — falou sério, não estava mentindo, mas também não havia total verdade em suas palavras. Aquilo realmente era confuso.
Levantou-se procurando algum lugar que poderia pegar tecidos e molhar, o pequeno lavabo da cabine do capitão estava longe da cama, próximo ao guarda-roupas enorme, tomou a liberdade e abrir e tirar um tecido branco, mesmo que parecesse fino demais, era o único macio o suficiente para aquele machucado. Pegou uma bacia cheia de água e voltou, sentou-se do lado do capitão que agora estava novamente dormindo, molhou o tecido e torceu.
Céus. Desde que se casou jamais imaginou estar sentado no chão de um navio torcendo os panos para ajudar um alfa, muito menos um pirata, mas era algo dentro de si que lhe obrigava, como se seu lobo quisesse ajudar. Não. Não podia ser aquilo. Sempre o manteve calado e em seu lugar, não podia fraquejar agora, ajudaria apenas aquela vez e fugiria daquele homem, o dinheiro acabou com todos seus problemas, não queria tê-los novamente.
As mãos delicadas deslizaram sobre a barriga nua do alfa, estava cheia de cicatrizes e engoliu a seco passando o pano ali, encarou brevemente o alfa para ver se ele sentia dor, confirmou aquilo vendo como ele mordia os lábios grossos com força, céus. Mas que alfa tolo e orgulhoso!
Após limpar a maior parte de sangue na barriga do alfa, levantou-se sem dizer nada, saiu do quarto rapidamente, agradeceu por ser cedo, o sol ainda estava tímido para mostrar sua glória, possivelmente não teria ninguém por ali. Desceu as escadas para a cozinha, olhou o lugar encontrando nenhuma alma, pegou ervas medicinais que usava, conhecia bastante, principalmente por necessidade, o que seria de sua vida se não usasse aquelas ervas.
Voltou segurando algumas, agradeceu por nenhum marujo estar ali, andou rápido pelo convés sem olhar para trás e segurando com força as folhas, chegou na cabine vendo o alfa com o rosto virado, talvez estivesse dormindo, a pele dele estava queimando quando limpou o machucado, com certeza estava com febre e precisaria de uma sopa mais tarde, e isso ele não faria. Já tinha esgotado sua cota de gratidão.
Sentou novamente no chão sujando o vestido e amassando a planta nas mãos pequenas com água para dissolver, assim que ficou homogênea e com uma textura pastosa, colocou no machucado do alfa, que rosnou baixo apertando os dedos no lençol da cama, Lee se compadeceu da dor do alfa acariciando a pele ao redor, terminou de cobrir o corte superficial e fechou com a outra parte do tecido que tinha pego, com dificuldade passou pela cintura dele, apertou fazendo o lúpus morder novamente os lábios.
— Agora durma, vai melhorar e sobrou um pouco. Faz este navio chegar mais rápido. — falou como uma ordem e em pé, o capitão não o olhava, mas fez questão de ir até o fim demonstrando que não o suportava e apenas fazia por interesse.
Segurou o vestido e saiu da cabine daquele alfa, fechou a porta e encostou as costas na madeira suspirando, céus. O que tinha acontecido consigo?
Talvez fosse os efeitos de não ter dormido de noite, iria tirar um momento para descansar, decidiu para si mesmo que o que tinha acontecido naquela noite e esta manhã foi um deslize de um ômega com abstinência, não tinha seus amantes naquele navio e aquele alfa ruivo que tinha visto parecia ocupado.
Apenas isso. Voltaria a dormir e recomeçaria seu dia.
Talvez o mar fosse mais rijo, e Félix, como uma areia, estava sofrendo os impactos da água sobre a pobre terra.
🏴☠️🏴☠️
Estranho.
Aquele ômega era completamente louco, instável e curioso.
Pelos mares, ele tinha dito o quanto desgostava de si, agora parecia calmo e até mesmo cuidou de si, como se fosse alguém diligente, porém aquele era a duquesa de Heresia, o mesmo que olhava com arrogância como se ninguém ali fosse páreo para sua existência.
Não deveria se importar, sim, aquilo não deveria lhe afligir, seu machucado estava melhor, principalmente por ter dormido novamente, agora pela força o qual a luz do sol invadia as janelas, obviamente já era tarde, talvez o meio da tarde, teria que levantar-se e fazer trabalhos que não envolvesse tanta força física, embora lúpus tenham regeneração mais acelerada que qualquer outro, ainda precisava se manter em repouso por algumas horas, talvez no dia seguinte suas forças estejam retomadas.
Fale com o ômega. Como um trovão, seu lobo ordenou rosnando, era como se quisesse rasgar a blusa e pulasse, Hyunjin estranhou aquilo. Não. Não tinha motivos para lhe dirigir a palavra a duquesa, era o mínimo que aquela princesa fez para si, que o ajudava a levá-lo até às Ilhas.
Agora. Novamente decretou o lúpus, Hwang rosnou e levantou-se da cama, não pensou em nada para argumentar com seu lobo, sua melhor resposta seria o silêncio e ignorar aquela estúpida ordem.
Trocou de blusa deixando aqueles trapos sujos de sangue e cortados no cesto para jogar em algum canto, trocou de calças e apertou o cinto gemendo rouco pelo machucado, olhou aquilo e sua mente o relembrou de algo que o fez ficar ainda mais instigado sobre aquele ômega. Pois, quem fazia curas, ainda mais com ervas, eram considerados bruxos.
Negou com a cabeça, segurou o chapéu de pirata e colocou sobre os fios negros, saiu da cabine terminando de fechar os botões da blusa branca, soltou o tecido para trancar a porta e respirou fundo, conversaria com os imediatos para esquecer aquilo, embora seu lobo lutasse por controle como um selvagem, céus, o que queria tanto com aquele ômega?
— Chamem Christopher, quero saber quanto pegamos no furto de ontem.
Na metade daquela tarde, Félix ainda só conseguia pensar em como foi fraco.
Não deveria ter jamais ajudado aquele desqualificado que talvez nem soubesse para onde estavam indo, talvez até mesmo estivesse à deriva do oceano, e que se apenas ele quisesse, chegariam em alguma parte de terra. Foi estupidez sair de sua terra com um pirata, poderia ter corrompido algum homem da marinha e chegar em segurança, voltar rapidamente com aquela maldita flor e apossar-se de toda riqueza que lhe pertencia.
Encostado na grade do navio, seus olhos pararam novamente no oceano, todos os dias tirava momentos para olhar aquela imensidão azul, nada em Heresia lhe dava o sentimento de casa tão forte quanto o mar, e depois de anos estava novamente em contato com ele, sentia-se como uma criança novamente, pura ao ponto de acreditar em dias melhores.
— É lindo. — a voz doce de Park arrancou um sorriso doce de Lee, que não tirou os olhos daquelas águas azuis puras, não se via mais um ponto de terra, isso lhe mostrava o quão longe estava.
— Esplêndido. — concordou encarando o ômega castanho segurando um pedaço de pão grande, Park era uma criança.
— Mas estamos longe de casa. — casa. Aquilo fez Félix rir, amargurado e raivoso.
— Aquela jamais foi minha casa. — gargalhou sem humor, deslizou os dedos nas madeixas loiras e ficou sério.
— A outra foi, a nossa. — não. Sua casa sempre foi onde Park e sua mãe estavam, fora isso eram apenas construções vazias e frias que lhe davam títulos dos quais se vangloriava.
— Eu nunca tive uma casa. — começou baixo encarando a madeira sob os pés. — Tive um lar e ele está do meu lado.
Os dois ômegas se olharam, o mais alto entre os dois já estava prestes a chorar, sempre foi sensível e choroso, não que Lee fosse um corpo frio e sem emoções, mas não se permitia sentir, pois jamais teve circunstâncias para tal ato. Mas sabia se conformar e adaptar-se como ninguém.
— Obrigado. — o de fios dourados revirou os olhos desistindo de ser sentimental, já tinha batido sua cota daquele dia, pegou um pedaço do pão que o outro estava comendo, em seguida correu enfiando tudo que podia na boca, ergueu o vestido e gargalhou escutando os passos do outro ômega perto de si. — Senhora, não corra!
— Tente me pegar. — gritou ofegante rindo, embora estivesse usando um vestido, sempre correu mais rápido que Park e aproveitava-se daquilo.
O servo se cansou vendo a duquesa correr daquela proa até a outra pulando alto nas escadas para passar perto da proa de navegação, colocou as mãos nos joelhos respirando pesado não encontrando mais sua senhora ali, então decidiu ir caminhando lentamente para recuperar o fôlego. Odiava desde quando era pequeno e Lee fazia aquilo, céus, era injusto com suas pernas que não eram tão bem articuladas.
A duquesa corria ainda, estava no canto da outra proa, gargalhando, convencido. Sempre ganhava nos jogos, era difícil não ganhar por suas habilidades, principalmente quando era seduzir alfas, isso o próprio capitão se via perdendo o jogo, que ironicamente ainda nem tinha começado.
Hwang estava com Christopher e Changbin terminando de decidir a rota, onde chegariam na ilha das Bruxas Perdidas para o confronto contra o navio das Almas, o sol começava a enfraquecer, como se sua grandeza fosse reduzida e subjugado pela vastidão que a lua exibia. Decidiram que seria em poucos dias, o mar ainda parecia em paz com os piratas, o que tornou aquela conversa em uma tratantada entre Christopher e Changbin, uma patifaria vulgar de um casal estranho.
Então para Hwang foi apenas questão de segundos para distrair-se com a luz amarela forte tentando lutar contra a escuridão da lua, o rosto daquele ômega refletia tamanha beleza que duvidou de que existia algum ômega mais lindo que aquele. Mordeu os lábios e com firmeza andou como um monarca até o ômega, que agora encarava o céu fascinado com aquela beleza esperando por seu servo, ao menos importou-se com os sons de botas no chão e a presença forte que o lúpus exalava.
— Princesa, está perdida? — assim que chegou ao lado do ômega virou-se ficando diante dele, que ainda não lhe dava atenção.
— Não, capitão peruca negra, mas acho que deveria estar repousando. — ainda de lado diante do alfa, o ômega levantou o olhar para ele, ainda um pouco ofegante.
Era uma pintura. Uma obra de arte. Os lábios vermelhos entreabertos e uma fina camada de suor fazendo a pele brilhar, céus, aquele vestido sufocando aquele corpo pequeno que poderia facilmente quebrar sob seu toque. Queria aquele ômega implorando por si.
— Talvez, mas não posso negligenciar meu trabalho, aliás, não acha perigoso sair assim, desprotegido? — na cabeça de Félix sua resposta era dizer que o único perigo ali era seu lobo estar se sujeitando tanto ao do alfa, mas sua boca lhe disse outra coisa.
— Seria perigoso para o alfa que tentasse algo. — sorriu confiante e virou-se para o alfa, estavam tão perto naquele momento que poderia bravejar com seu lobo e consigo mesmo, deveria se manter longe.
— Mesmo?
Não entendeu, nem ao menos tentou, pois sentir era a melhor opção, principalmente quando seu espartilho esfregava tão suave contra o peitoral de alfas grandes que poderiam lhe destruir.
O peito forte do lúpus estava quase nu pela blusa branca fina estar aberta no botão superior, o peito do ômega estava contra a barriga do alfa, o laço do espartilho estava arrastando no cinto de sua calça, seu lobo rosnou dentro de si implorando para tomar aquele ômega e procriar quantos filhotes ele quisesse, mas Hyunjin limitou-se.
Os braços grandes rodearam a cintura de Lee com força o espremendo contra si, pela quantidade de tecido em seu corpo não sentiu o volume entre as pernas do alfa que lhe desejava, apenas conseguiu encarar os olhos dele, a raiva e um misto de sentimentos fortes o deixava louco, Hwang estava em uma luta interna, mas parou quando os olhos redondos do ômega o encarou confuso e com raiva, gostou de provocar ele e seria melhor fingir que nada daquela tensão realmente existiu.
Porém não conteve uma última olhada no decote do espartilho do ômega e sua pele macia, afrouxou o aperto engolindo a seco soltando a duquesa, mas franziu as sobrancelhas abrindo um sorriso arrogante ao encarar as mãos pequenas em seu peito, Lee estava apertando sentindo o quão forte aquele lúpus era, queria ser destruído por aquele homem.
— Vejo que saberia se defender perfeitamente. — ironizou falando rouco, sua mão ainda estava na cintura de Félix, o ômega ficou se sentindo tripudiado, porém jamais demonstraria aquilo ao alfa.
— Porque sei que o capitão não teria coragem alguma de fazer isso. — provocou voltando a se aproximar do alfa esfregando seu corpo contra o do lúpus, ficou na ponta dos pés aproximando os lábios do ouvido, jamais seria rejeitado por um alfa e faria aquele capitão engolir suas palavras. — Aliás, capitão peruca negra, não consegue seduzir um ômega ao ponto dele querer deitar-se com o senhor?
Sussurrou insinuante, Hwang apertou um lábio contra o outro, estava duro demais, estava a ponto de explodir e queria fazer aquilo tudo com a duquesa, entretanto só faria aquilo com ela ajoelhando e pedindo para que a fizesse sua, afastou-se do ômega e soltando a cintura do Lee, sorriu novamente como um vencedor.
— Por que não vem à minha cabine para descobrir? Aliás, que excelentes mãos para cuidar de feridas, aposto que está fugindo por ser considerada uma bruxa, princesa. — balançou a cabeça sussurrando aquilo rouco, estava querendo assustar aquele ômega e talvez tenha conseguido pela expressão surpresa dele.
Virou-se, andando arrogante, exalando sua presença de lúpus, deixando o ômega necessitado para trás, Hyunjin estava com um sorriso enorme como se tivesse ganhado o jogo.
Uma pena que ambos estivessem jogando e Lee não estivesse com medo, mas estigado.
Finalmente aquele alfa entrou no seu jogo, pensou o ômega saindo rindo arrogante atrás de seu servo.
Iria fazer aquele lúpus desmanchar em suas mãos, iria se satisfazer e talvez conseguir algo de valor daquele lúpus, afinal ele é um capitão e poderia lhe dar tudo o que quisesse.
No meio do caminho Félix parou, "que excelente mãos para cuidar de feridas" aquele mentecapto estava lhe agradecendo? Céus.
— Patético. — sorriu confiante, gostava de pisar em corações e aquele seria o mais divertido de partir.
Isso se fosse possível.
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