03 ➵ Rua do Perigo
Rua das Flores | Hyunlix
EXISTEM INÚMERAS formas de se viver e conseguir o que deseja, mas em alguns momentos as pessoas tomam decisões precipitadas, e, por mais surpreendente que seja, algumas delas se encaixam perfeitamente.
— Isso é ridículo. Está tentando arranjar uma forma de me tripudiar? — enfurecido, bradou para o sujeito que agora vangloriava-se por ter tirado uma expressão tão irritada do ômega.
— Não, não estou pensando em nada disso, apenas uma troca inofensiva que não lhe custará absolutamente nada. — diferente do que falava, Hwang estava com um sorriso enorme banhado em zombaria, aquilo irritou mais.
— Não! Acha que sou um de seus homens para servi-lo? Poupe-me. — era levado puramente pelo ego, Félix podia fazer com facilidade o que era pedido, mas não gostava da forma que aquele capitão ordenava, como se o mundo pertencesse a ele.
— Então eu mesmo mato esse animal. — rugiu para todos ali, a voz potente estava alta e assustadora ao ponto de fazer Lee tremer e sentir-se pequeno, principalmente quando o lúpus levou as mãos para a espada presa em suas vestes.
— Espera! — assustado e com a voz receosa, ele dirigiu-se para o alfa erguendo o rosto. — Eu o farei hoje, mas não se acostume, pois jamais o obedecerei novamente.
Apenas aquilo foi o suficiente para Hwang abrir seu sorriso de canto, gostava de ômegas difíceis, e estava diante de seu maior desafio. Porém era um pirata, o capitão e gostava de desafios dos mais excitantes e surpreendentes.
— Como quiser, bonequinha. — Lee prendeu um rosnar por ver o sorriso confiante daquele lúpus, estava cantando vitória sem ao menos ganhar.
— Estúpido, cretino. — sussurrou virando, Park o olhou sorridente, para o garoto aquilo foi uma bobagem, o pirata mau não tinha pedido nada de extraordinário. — Vamos, Park, temos coisas a fazer.
Foi na frente com sua postura elegante, arrogante e impassível, porém a única coisa que o capitão do Esmeralda olhava era a cintura moldada no vestido.
Negou com a cabeça olhando Jay, que parecia sem saber o que fazer.
— Pode ir, ele fica com a cabra. — Christopher atrás do lúpus olhou as nuvens quase gargalhando por ver o amigo dobrado diante de um ômega, o qual ele mesmo disse jamais obedecer.
— Sim, capitão.
— O capitão peruca negra está perdido.— o alfa olhou para o amigo negando com a cabeça.
— Acha que ele vai fazer mesmo? Sempre dizem que ômegas nobres só servem para dar filhos. — balançou os ombros relembrando as conversas de alfas e betas ricos que rebaixavam seus ômegas.
— Não sei. Mas acho melhor terminarmos, tem o mastro dianteiro também e logo a noite chega.
Descendo as escadas imundas, Félix batia os pés com força no chão querendo destruir tudo, jamais imaginou entrar em uma cozinha novamente, ainda mais para fazer um trabalho braçal sendo que fazia anos que não pegava em uma panela, embora ainda lembrasse da maioria.
— Você de novo? — a voz do beta, que ficava atrás dos balcões da cozinha, era divertida, o deboche pingava como veneno. — Ouvi que o capitão quebrou o oficial, já estava demorando, mas se foi por você eu achei bem pequeno o motivo.
— Quanta simpatia vinda de você. — deixou a cabra no colo de Park, o garoto segurou fazendo uma careta, morria de medo dos bichos.
— E você, pequeno? Está gostando do navio? — por incrível que fosse, o beta não usou um tom falso de simpatia com o castanho, isso fez o de fios claros revirar os olhos.
— Bem, apenas um pouco receoso, vocês tem uma péssima fama. — Jade no colo do castanho se moveu como se quisesse ver a cozinha do navio.
— Não se preocupe, o capitão não machuca ômegas, ele gosta até demais deles. — o olhar mortal de Félix deixou o mesmo confuso, não se importava com a vida dele, mas imaginar o alfa tentando levar seu servo para o mau caminho o deixava irado, Park é inocente demais.
— Então ninguém vai nos machucar? — Lee decidiu ignorar aquele comentário, era bobagem sua e aquele beta era uma cobra.
— Onde encontro os materiais e essas coisas? Não quero que isso dure mais que o necessário, muito menos fique bom para aquele lá. — disse Félix atravessando o balcão após abri-lo, o beta arregalou os olhos vendo a ousadia daquele ômega delicado e com uma arrogância grande demais para um ser tão pequeno.
— Sabe cozinhar? Você realmente é uma surpresa, tem alguns espalhados por aí, não suje minha cozinha ou eu pego você. — por um momento aquele beta desconhecido pareceu assustador.
— Claro que sei e não vou, aliás, dono da cozinha, qual seu nome? — abriu um dos armários no chão.
— Jisung, e você, ômega arrogante? — Lee havia encontrado um barril repleto de legumes frescos.
Park já não escutava mais a conversa deles, estava finalmente se dando bem com Jade e Lee notou isso, mas segurou sua língua para que não insultasse aquele beta também chamado Jisung.
— Lee Félix e o meu servo se chama Park Jisung. — deu as costas novamente, porém dessa vez foi para começar a preparar a refeição mais simples que sabia, não gastaria suas forças servindo um pirata abusado como aquele.
— Nomes iguais, que coincidência.
Após ficar boa parte da tarde cortando os legumes, esquentando e finalmente por nos pratos, Lee ordenou que Park ficasse na cozinha bem perto de Jisung enquanto levaria o prato até o capitão Hwang, faria aquilo para esfregar na cara do mesmo que tinha sido ele a fazer, além de que sabia se defender e estava com água fervida nas mãos, poderia usar como arma. Além de que Park não sabia se cuidar e temia muito por ele, Félix era irritante, mas não demonstrava perigo, pelo contrário, tinha uma empatia pelo castanho.
— Promete ficar aqui? Eu vou tentar voltar rápido, está bem? — passou com delicadeza as mãos pequenas nos fios enrolados do servo ômega, que balançou a cabeça segurando a cabra que comia uma folha com gula.
— Tem certeza que é seu servo? Não achei que nobres tinham tanto zelo por eles. — ignorou o beta e deu dois tapinhas em forma de carinho nos ombros do Park.
— Cuide dele, porque eu também sei ser assustador. — expôs um belo sorriso de canto encobrindo sua seriedade.
— Ah! Eu gosto mais dele do que de você, claro que vou cuidar.
Para seu próprio bem, Félix resolveu ignorar aquela frase para não discutir com o beta, afinal, queria voltar logo para buscar Park e comerem, já estava vendo a luz do sol ficar mais forte pelas frestas do navio indicando que logo o crepúsculo chegaria.
Pegou o prato cheio e foi andando até a porta da cozinha, subiu as escadas e andou pelo convés vendo vários alfas e betas andarem preocupados e fazendo suas funções, mas o capitão não estava por ali. Passou pelo mastro que foi consertado por eles, passou novamente e chegou no último mastro perto da cabine do capitão, mordeu o lábio e puxou o ar antes de bater à porta.
O ômega ficou parado segurando a sopa que tinha feito, seu vestido estava levemente molhado pela água que vazou enquanto trabalhava e as bordas sujas por ter arrastado em partes cheias de poeira na cozinha. Não demorou muito para a porta abrir e um alfa lúpus aparecer exalando grandeza e intimidação.
Hwang estava sem o colete preto, a blusa branca estava grudada no peito mostrando algumas cicatrizes e o quão forte era, a calça preta e justa estava com uma pequena mancha que Félix não tinha abaixado a cabeça para não ver, poderia cair nos encantos daquele homem, mas no pau seria um absurdo para si. Além de tudo, os fios estavam perfeitos e com um sorriso confiante nos lábios grossos, ele sabia que teria o ômega ali.
— Entre, princesa, deixe na mesa. — Félix voltou a ter sua expressão séria fazendo questão de deixar aparente o quão irritado estava com aquela situação, foi em passos pesados, que não foram tão fortes por não ter o costume e ser geneticamente um ômega estupidamente frágil e fraco.
Em silêncio para afirmar seu desagrado com aquilo, deixou a sopa na mesa dele, porém encarou a quantidade de mapas ali, não tinha um lugar para que pudesse colocar aquele prato, sem se importar com detalhes, empurrou alguns para o canto e deixou um pequeno espaço para deixar o prato, assim que terminou sorriu por finalmente se livrar daquilo e evitar ao máximo aquele lúpus que o olhava como se soubesse o quão vadia era por querer ser destroçado pelo volume grande que viu entre as pernas dele.
Antes que pudesse se virar, a mão grande e dura agarrou sua cintura com tanta força que queimou o lugar, quase deixando um gemido vergonhoso escapar, mas novamente uma nova ação inesperada o fez calar-se. Uma faca pequena estava envolta do seu pescoço, a mão direita do alfa estava segurando poucos centímetros antes de o machucar.
— Quero que diga a verdade, já estou cheio de problemas e não quero mais um. — Lee, com medo, balançou freneticamente a cabeça. — Não se assuste princesa, quero que me diga se tem algum navio oficial nos seguindo, eles sabem que está aqui? — uma negação foi a resposta do ômega ao balançar a cabeça negando. — Ótimo. Quando voltar eu quero que continue assim, se você não quiser morrer.
— Morrer? Me mataria? Ouvi dizer que não machuca ômegas, estou enganado, capitão? — o alfa o soltou rápido, tão veloz que o ômega se apoiou na mesa sentindo o peito arder com aquilo.
— Tem razão. Jamais machucaria um ômega, mas tenho imediatos que podem o fazer, tenho até um ômega pistoleiro aqui. — Lee ficou curioso, mas aquele momento era para se salvar, não saber sobre a vida dos outros.
— Eu jamais direi nada, não perderia meu tempo. — novamente cobriu o rosto com a melhor máscara que tinha, Hwang jogou a cabeça para trás com o jeito irreverente daquele baixinho, foi até a cadeira enorme e se sentou com as pernas abertas mostrando o quão glorioso e merecedor do título de capitão alfa.
— Princesa, você é frágil e é fácil te forçar a contar tudo, talvez eu tenha que silenciá-lo, não? — Félix ergueu os ombros e empinou o nariz como se falasse com seu mais medíocre servo, foi em direção ao alfa parando diante dele.
— Garanto que guardo muito bem segredos, além de que sou ótimo me livrando de forma pacífica, nunca fui bom em brigas corporais. — como se fizesse um discurso sobre posses e poder, o ômega deu seu melhor olhar de desprezo.
— Tem razão. — aquilo foi como uma facada em uma estátua, quebrou o ômega em segundos o deixando sem ter o que falar. — É isso que te faz fraquejar, princesa? Te deixar ter razão? Claro, uma vadia desesperada por poder, ouvi que se casou novo com o duque, você tem quantos anos mesmo? — Lee se sentiu acuado, tinha coisa ali.
— Quinze. — falou firme e o capitão quase acreditou se sua fonte não fosse tão boa e eficiente.
— Seu marido morreu com tão pouco tempo de casados? Você também não me parece tão jovem assim, embora seja lindo. — Félix rosnou, não gostava de ser descoberto, aquilo era como se estivesse sendo ameaçado de vida, pois caso descobrissem seu atentado ao marido poderia ser condenado à pobreza e não iria voltar às migalhas.
Puxou o vestido e saiu da cabine em passos longos, o alfa tentou segurar o ômega, mas sendo pequeno, ele usou isso para se desviar com mais facilidade.
Céus.
Estava perdido.
O que faria? Pensava agitado andando nervoso até a cozinha ver seu servo e possivelmente o contar o ocorrido para que planejassem alguma história mirabolante contra aquilo, jamais assumiria sua culpa.
Isso se Park estivesse lá.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro