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XXXII ➵ Epílogo II/II

Dancing with the Devil | Hyunlix

PARA UM trabalho como o de Félix, tudo deveria ser esperado. Foi bastante difícil se acostumar com os corpos decompostos, com as situações conturbadas que enfrentou para levar almas, mas, aos poucos, conseguiu normalizar. Já não causava grande impacto, apenas tristeza, mas procurava fingir, para criar um ambiente melhor no processo de morrer. E assim como havia empregos que custavam, ele também percebeu que eles lhe davam novas e inesperadas oportunidades.

⸸⸸

Maio de 1998

Naquela casa empoeirada, com o corpo de uma mulher no chão, coberto de sangue com facadas até o abdômen, a Morte encarou o outro humano implacável, sentado calmamente ao redor de uma mesa, olhando de soslaio para o cadáver enquanto se perguntava como se livrar dela. Félix já havia se encarregado de libertar a alma da pobre jovem, mas havia algo específico que não o fazia sentir nenhum tipo de paz, e muito menos aquela paz que sentia depois de fazer seu trabalho com perfeição.

Quando o Parca pegou a alma da mulher, visualizou sua silhueta, mas ela parecia despreparada para abordar a próxima cena: seu olhar mudou em pânico, em direção ao assassino, depois tristemente em direção a um canto da sala e, finalmente, uma expressão nervosa para a Morte, como se implorasse. Félix sorriu para ela, dando-lhe um aceno lento, mesmo que ela não entendesse, e a alma da humana se sobressaiu.

Sem hesitar, caminhou lentamente em direção ao canto do local, como se temesse ver algo pior do que já presenciou. Havia aprendido há muito tempo como se tornar invisível para certas pessoas, então não foi um problema afastar o humano da cadeira.

Seus olhos castanhos com uma pequena mancha escura se arregalaram ao ver dentro do berço, que estava em péssimo estado, dois bebês de cinco meses, sem roupa, mesmo com a baixa temperatura do quarto, e tranquilos. Félix ainda era capaz de sentir a temperatura do corpo e não pararia de senti-la por mais alguns anos. Se ele não se apressasse, essas criaturas poderiam ficar gravemente doentes. Foi por causa deles que a mulher olhou para ele daquele jeito? Esperava que Félix salvasse aqueles bebês de uma vida curta e ruim? Esperava... que os matasse e os livrasse de um sofrimento futuro?

Bem, ele poderia. A morte já não era algo anormal e trágico em sua maneira de pensar, então não seria nada de novo. Se posicionou melhor em frente ao berço, ergueu a mão direita e a dirigiu para os dois bebês, abrindo os lábios para falar em uma língua indecifrável.

No entanto, parou.

Um dos bebês, o que parecia um pouco mais alto, olhou para ele com curiosidade. Seus olhos eram verdes, e o pouco cabelo que tinha era loiro. Ele apenas olhou para o ser e inclinou a cabeça. Inconscientemente, Félix fez o mesmo, franzindo ligeiramente a testa, com a mão no ar, interrompendo seu propósito quando começou a tremer.

O bebê começou a emitir sons com a boca, fazendo pequenas bolhas com a saliva e fechando os olhos. Logo, Félix entendeu; sua presença trouxe paz a ambos.

Se inclinou sobre o berço quando percebeu que o outro bebê mal se movia, então o tocou um pouco, tentando se certificar de que estava tudo bem. Ele sentiu a temperatura do corpo frio nele, e seu peito queimou. Aquele bebê precisava de comida, cobertores e muito amor de sua mãe, que deixou seu corpo há poucos minutos.

Ambos precisavam dela.

Muitas ideias começaram a surgir em sua mente que ele poderia usar, mas ele tinha certeza de que não poderia matá-los.

E ele não entendia por quê.

Jinnie... venha, por favor. Eu não posso decidir isso sozinho.

Afastou-se rapidamente do berço, dando alguns passos para trás enquanto mantinha a cabeça ocupada, sem saber o que escolher. Ao longe, um dos bebês começou a soluçar baixinho, e o assassino logo bateu com o punho na mesa à sua frente, irritado.

— Cale a boca, porra! Ou vou te deixar como sua mãe!

O choro do bebê aumentou com a resposta brusca, e Félix observou o humano desligar o telefone e se levantar da cadeira. Surgiu inesperadamente a presença do Diabo, que num piscar de olhos se viu diante do cadáver da mulher, bloqueando o caminho do homem.

Bastou Hyunjin analisar a situação para erguer a mão, dobrar os dedos, como se estivesse formando uma garra, e começar a trabalhar. Ele o empurrou para o lado e os ossos do homem começaram a se quebrar, um por um. Os gritos estiveram presentes até seu pescoço doer, portanto, seu corpo não demorou muito para permanecer imóvel no chão, sem vida.

O Diabo voltou-se para o marido, fitando-o e com os olhos banhados de sangue.

— O que você não consegue decidir? Levar ou não a alma dessa escória? Eu diria para derrubá-lo, no inferno ainda há muito espaço livre.

O menor apenas o olhou por um momento antes de conduzi-lo até o berço, com seu olhar sendo conduzido até o local. Hyunjin franziu a testa e olhou na mesma direção por alguns segundos.

Tanto o Diabo quanto a Morte se aproximaram de onde vinha o barulho, observando os bebês atentamente, lado a lado. Eles pararam de chorar instantaneamente, e ambos ficaram surpresos por não terem se incomodado com a vibração maligna inconsciente que Hyunjin carregava.

— Talvez só sintam sua presença quando souberem do suposto ser maligno que é o Diabo. — respondeu o menor a uma pergunta que nenhum deles havia feito em voz alta, falando quase em um sussurro.

Hyunjin observou as crianças por um momento antes de olhar para Félix. Ambos trocaram olhares longos e fixos, tentando transmitir tudo o que sentiram naquele momento.

— Esta é a decisão que você não pode tomar sem mim?

Félix suspirou, apoiando a mão no berço e olhando para baixo, inclinando a cabeça levemente para o lado.

— A mãe deles foi assassinada e antes de subir ela me viu... senti como se ela estivesse me pedindo um favor, isso nunca aconteceu antes, Jinnie. — comentou, olhando nos olhos do Diabo novamente e balançando a cabeça lentamente antes de voltar para os bebês. — Pensei em ascende-los, mas...

— … Claro que não. — balançou a cabeça lentamente, tentando entender. Nunca havia passado por uma situação como essa, mas tentou simpatizar com o marido, mesmo que fosse muito difícil. Deu um passo mais perto de seu garoto e baixou o olhar, procurando seus olhos. — Diga-me o que você quer.

— Eu… estava pensando em criá-los. — sua voz tremia, ele estava visivelmente nervoso. Mordeu o lábio inferior, ainda olhando para os bebês. — Criá-los com você. Sermos… pais.

Não houve resposta por alguns longos segundos, eles apenas se encararam, como se isso fosse tudo. Félix gostaria de estar na mente do Diabo naquele momento, mas infelizmente não era possível. Então olhou para baixo, constrangido com tal proposta.

Ser pai era uma grande responsabilidade, e ele sabia disso mais do que ninguém. Não apenas porque seus empregos os mantinham bastante ocupados, mas eles nunca envelheceriam, ao contrário dos bebês. Eles teriam que passar pela mesma loucura de quando Hyunjin quis tornar seu garoto favorito imortal? Seriam capazes de suportar a mortalidade?

Mais importante; seriam bons pais? Félix estava apenas começando a — realmente — amadurecer, e Hyunjin mal havia aceitado o poder de amar, afinal, ele era o rei do inferno. Sim, parecia uma desculpa já que o tempo havia passado, mas comparado a mil anos…

Félix não percebeu o olhar de Hyunjin no berço. Ele estava olhando para o bebê menor, que se movia entre ganidos e seus olhos se abriram. A cor destes eram castanhos, brilhantes e com cílios longos. Isso o lembrou instantaneamente da imagem do marido, quando ele era apenas um garoto e o perseguia em sua antiga casa.

— Tudo bem. — disse, fazendo com que a Morte olhasse para cima rapidamente, corando levemente. Hyunjin trouxe seu olhar para o rosto de seu marido, examinando sua expressão atônita com sua resposta. — Vamos ser os pais deles.

— Você realmente…? Você realmente quer isso? — não evitou se aproximar, apoiando as mãos no peito do Diabo, agarrando-se a ele. As mãos incrustadas de anéis de Hyunjin foram para as costas do mais baixo, segurando-o melhor e acenando com a cabeça. — Por favor, eu realmente preciso saber que você quer isso e não está fazendo só porque eu quero.

— Estou fazendo isso por você, mas também quero isso. — um sorriso lento e de lado brincou em seus lábios. — Talvez seja divertido. Mas, teremos que conversar bem antes de qualquer coisa.

— Eu sei, nós iremos. Mas agora sugiro levá-los para casa, precisam de atenção, não quero que fiquem doentes. — se inclinou no berço e cuidadosamente pegou o bebê menor em seus braços, segurando-o pelo corpo e pela cabeça. O embalou em seu peito enquanto ele gemia levemente. Félix o olhou docemente. — Sh, sh. Relaxe, eu peguei você.

Ele o embalou suavemente de um lado para o outro, encantado com as belas feições do jovem. Olhou para cima por alguns segundos e encontrou o olhar do Diabo em si. Não conseguiu decifrar aquele olhar, então sorriu timidamente para ele.

— Você quer carregá-lo? Seria muito útil, acho que não consigo lidar com os dois.

— Não sei fazer isso.

Esta seria a primeira vez que Félix ensinaria algo ao marido. Satisfeito com aquele pensamento passando por sua cabeça, ele se aproximou, até ficar quase colado ao Diabo.

— Está bem. Olhe, coloque seus braços como eu. — Hyunjin levou apenas alguns segundos antes de suspirar e o fazer. Cuidadosamente, Félix colocou o menino em seus braços. — Segure-o contra o peito, irá acalmar ele. Seu corpo está frio e você é bem quente.

— Se ele está com frio... devemos comprar roupas para ele. Um cobertor. — comentou o arcanjo com certa insegurança na voz, encarando a criança, analisando-a.

Félix apenas pegou o outro bebê, que parecia mais acordado. O pequeno menino examinou a Morte como se ela fosse algo de outro mundo enquanto o segurava gentilmente em seus braços. O moreno não se conteve e deu-lhe um beijinho em sua testa antes de olhar para o Diabo, que ainda estava boquiaberto com o bebê nos braços.

— Vamos.

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Quando chegaram em casa, Félix se encarregou de procurar cobertores no armário de seu quarto com Hyunjin. Ambos se encarregaram de conseguir esse tipo de coisa assim que se mudaram para aquela bela casa nos arredores de Munique. Era uma cidade muito bonita, porém bem fria. Sempre nevava e as pessoas não se socializavam tanto. Tudo o que Félix e Hyunjin estavam procurando.

Félix sabia que só por ser a Morte não iria deixar de lado seus interesses, como ouvir música, escrever em seus cadernos, assistir desenhos animados, etc. Também não parava de beber nem de comer, embora não fosse realmente necessário e o sabor já não fosse o mesmo. Hyunjin não demorou muito para deixar a casa perfeita, ele queria que seu garoto sentisse que aquela era sua casa, mas não percebeu que ele também estava sentindo isso.

Ou talvez fosse porque os dois estavam lá, e um lar para eles era onde quer que estivessem juntos.

Hyunjin estava com as duas crianças nos braços quando Félix voltou com dois cobertores de lã, sentando-se no sofá da sala, ao lado do marido, ajudando-o a embrulhar os pequenos.

— Então, agora sim… — segurou um deles nos braços, apoiando-se levemente no marido enquanto ambos olhavam para os bebês, que pareciam mais à vontade. O menor ergueu os olhos, apoiando a bochecha no ombro do Diabo. — Eu preciso de algumas coisas.

— Eu busco para você.

— Mamadeiras, fraldas, lenços umedecidos, pó de talco, leite em pó, roupas… — parou quando viu a carranca do Diabo levemente franzida enquanto o encarava. Corando, ele negou. — Você pode ficar com os bebês e eu vou.

Hyunjin negou.

— Não, eu vou. Não pode ser tão difícil.

Ele entregou a criança delicadamente e se inclinou para beijar o marido suave e rapidamente nos lábios, levantando-se e desaparecendo em um piscar de olhos. Félix aproveitou para verificar a temperatura corporal dos dois bebês, e admirar suas feições, suspirando profundamente.

Esperava ter feito a escolha certa.

⸸⸸

2003

Se levantou novamente, descendo o degrau baixo que levava ao trono e inspecionando a mesa do marido, notando os contratos empilhados e apenas dois espalhados sobre a mesa junto com uma longa pena preta e um pequeno frasco de tinta ao lado. O escritório do Diabo era definitivamente algo muito elegante e precioso. Félix costumava ir ali depois de caminhar de um lugar para outro, e tudo porque era difícil para ele se separar do marido. De vez em quando durante o dia, precisava falar sobre coisas cotidianas que aconteciam.

E sentiu que naquele momento precisava dele mais do que nunca, mas por que o estava evitando? Sentia um nó na garganta, pontadas profundas no peito e, de vez em quando, os olhos se enchiam de lágrimas que não deixava escapar. Ela não chorava há muito tempo, o que era bom e ruim, afinal, ele era hipersensível e acabava guardando tudo. Achava que poderia tornar-se mais independente, que poderia levar as coisas com mais leveza.

Mas não era isso que estava acontecendo.

Félix sabia que não deveria mudar por ninguém, mas muitas vezes sentiu que seu choro era a fraqueza de seu marido. Também sentia que isso o fazia protegê-lo constantemente, o que não incomodava a Morte, mas preferia aprender sozinho e se tornar independente mais rápido, não queria atrapalhar Hyunjin.

Seus pensamentos foram interrompidos por um chamado que o fez erguer lentamente os cantos dos lábios.

Seus bebês precisavam dele.

Sem mais delongas, estendeu a mão na direção da foice, que imediatamente viajou para ser segurada por seu dono que, segundos depois, desapareceu do inferno.

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O que é isso?

— É o papai.

O Parca moveu a folha que estava segurando em suas mãos em diferentes direções, franzindo ligeiramente a testa e analisando o desenho com os olhos antes de olhar para o sobrinho.

— Qual pai?

— Papai Hyunjin, cara! Você não viu os dois olhos vermelhos? — Jisung moveu a folha um pouco mais perto para tentar ver a cor, e definitivamente estava lá. No entanto, não era uma forma específica.

— Minhyuk, você é um grande artista. — assentiu, fingindo estar impressionado e vendo a emoção no brilho dos olhos verdes do sobrinho. — Com certeza seu pai vai gostar.

— Eu sei! — exclamou, animado e pegando o desenho novamente. Ele o levou ao peito e ficou olhando para o nada por alguns segundos antes de olhar em volta. Sentiu a paz que seu pai emanava naquele lugar. — Papai! — se dirigiu alegremente ao mais velho, que deixou sua foice em um canto e se ajoelhou para receber o abraço do filho.

— Olá meu amor! Eu senti muito a sua falta! — a Morte exclamou, massageando as costas do menino e beijando seus cabelos antes de cheirá-lo. Adorava o cheiro de seus bebês, eles o acalmavam e era o que ele mais precisava naquele momento. — O que é isso que você traz aí?

Minhyuk recuou um pouco, lambendo os lábios e entregando o papel ao pai.

— Você acha que papai Hyunjin vai gostar? O tio me disse que sou um grande artista.

— Claro que você é. Uau, Min. Está muito bonito. — internamente estava pensando que deveria avisar o marido antes de vê-lo. Não é que não gostasse, Hyunjin adorava os desenhos do filho e por isso eles tinham a geladeira cheia deles. No entanto, ele poderia ser um pouco insensível, sem entender exatamente o que estava vendo. — Papai vai adorar. — comentou, devolvendo o desenho a ele e caminhando até Jisung, sentando-se ao lado dele e suspirando.

— Teve um dia cansativo? — a bochecha de Félix descansou no ombro do Parca, que riu dessa e deu um tapinha na cabeça da Morte. — Você parece exausto.

— Isso não é verdade. Não mudei desde os dezenove anos. — comentou, endireitando-se para ver seu melhor amigo, que também o observava. — O que é bom, porque consegui mudar meu visual.

— Sinto falta do jeito antigo do seu cabelo. — olhou para o cabelo anteriormente um pouco maior. Agora ele estava bem mais curto. Mas ainda era bonito, e parecia realmente adorável. — E sim, você parece cansado. Eu te conheço e sei quando você parece cansado. Não venha me acusar de mentiroso, Lee Félix.

O nomeado sorriu ligeiramente, realmente tentando evitar seu dia de merda. Ele negou, querendo que os pensamentos feios fossem embora com aquele movimento.

— Onde está Hyoseok?

— Dormindo. — Félix suspirou, franzindo ligeiramente o nariz. — Ele parecia meio desanimado. Sabe porque?

— Ele não consegue encontrar seu coelho. — seu melhor amigo acenou com a cabeça, deixando escapar um "Oooh" entre as palavras, como se entendesse absolutamente a situação depois do que Félix havia mencionado.

Seu filho, de apenas cinco anos, passava a maior parte do tempo em silêncio, com seu coelhinho de pelúcia nos braços chamado "Honey". Ele passava mais tempo com ele do que com seu irmão, que ficou com um ciúme notável desse fato. O problema era que Minhyuk era muito diferente do irmãozinho: ele pintava o tempo todo e assistia desenhos animados, falando sem parar. Hyoseok, por outro lado, mal dizia uma palavra. Ele só gostava de brincar de dar chá para Honey e dormir muito.

— Bom, acho que vai passar. Quem de nós não perdeu uma pelúcia ou um brinquedo de criança?

— Mas ele realmente ama muito seu coelho. Ele é seu melhor amigo, e eu não quero que ele passe por isso. Quero que ele decida parar de brincar com ele. — reclamou a Morte ao ver seu melhor amigo se levantar do sofá. Sua testa franziu ligeiramente. — Onde você está indo? Não vá...

— Eu tenho que voltar ao trabalho, você não é o único ser sobrenatural atraente com coisas para fazer. — brincou, escovando o cabelo para o lado. Jisung, ao contrário de Félix, não mudou nem um pouco. Ele estreitou os olhos enquanto levava uma das mãos ao pescoço. — Olhe Félix. Estive pensando...

O silêncio reinou por alguns segundos na sala. A Morte se levantou quando percebeu que algo sério estava por vir devido ao desconforto de seu melhor amigo.

— Sungie, o que está acontecendo?

— É só... eu estava me perguntando se eu poderia ir ver meu pai e Chan. — novamente o silêncio se fez presente, a única coisa que se ouvia era o giz de cera do filho mais velho riscando o papel, e a respiração dos três. — Eu estaria escondido, sei perfeitamente que existem regras.

— Sungie…

— Félix, não há nada de errado com o que estou dizendo. — sua testa franziu ligeiramente, balançando a cabeça um pouco. — Eu só vou vê-los, não deixá-los me ver.

— Esse não é o problema, mas isso já aconteceu comigo antes. A vontade de cumprimentá-los, abraçá-los... vai te fazer perder o controle. Inevitavelmente, você vai deixá-los te ver ou tentar interagir e não sabe como eles vão reagir.

— Eu definitivamente quero vê-los.

— Sungie, todo mundo na nossa cidade pensa que você está morto. — Félix levantou-se, falando com mais calma ao notar o aborrecimento do Parca. Ele entendia, com certeza entendia, mas havia regras com as quais lidar se você fosse imortal. — Seu pai viu seu cadáver em pedaços, não vai acreditar que seu filho ainda está vivo, e da mesma forma. Pode dar errado, ainda mais sendo maior de idade.

— Você não pode simplesmente presumir as coisas, Lixie.

— Não estou presumindo, estou supondo. Eu entendo perfeitamente o que você está passando.

— Você realmente não entende. Você tem alguém com quem passar a eternidade, eu não, preciso que entenda isso.

Félix tentou manter o nó na garganta. O que ele quis dizer com isso?

— Sim. Eu tenho Hyunjin e você. Você sempre será incluído. Você não tem a mim?

— Não é a mesma coisa, e você sabe disso. Quero ver meu pai, preciso dele. Me entenda, quero que saiba que estou bem, que não tive um final horrível. Você não entende isso. Bem, ainda não.

A boca de Morte se abriu um pouco quando entendeu a última frase, e o Parca empalideceu quando percebeu a estupidez que  havia dito.

"Ainda não"... claro, porque Félix um dia perderia seus bebês. Eles cresceriam, envelheceriam e morreriam. E ele teria que coletar seus corpos e derrubar suas almas. Dizer adeus a eles para sempre.

Uma sensação de ardência se fez presente em seu peito enquanto observava o rosto de dor de seu melhor amigo.

— Félix, eu... porra, me perdoe.

A Morte observava com o canto do olho enquanto seu precioso filho os observava, lápis vermelho na mão e cabelo loiro platinado ligeiramente curto e desgrenhado.

— Min, vá para o seu quarto e não faça barulho, seu irmãozinho está dormindo.

— Certo… — menino levantou-se rapidamente, começando a juntar as folhas de forma apressada e desajeitada, colando-as ao peito antes de pegar a caixa de giz de cera e caminhar apressadamente em direção ao corredor que levava ao seu quarto. Seus pequenos passos podiam ser ouvidos, e então uma porta abrindo e fechando.

— Félix, eu não quis dizer...

— Vá vê-los. — a morte o interrompeu, tendo tido um tempinho para se acalmar enquanto observava o filho levando as coisas para o quarto. Ele não deveria ficar com raiva, ele deveria entender. — Mas lembre-se que eu avisei. Espero que tudo esteja bem.

— Você quer que eu vá ver sua família?

— Não. — respondeu rapidamente, com firmeza quando encontrou seus olhos. — Esta é minha família agora, e é a única que você pode visitar quando quiser.

— Eu faço parte desta família. — acrescentou Jisung.

— Que bom que você sabe disso, Sungie. — Félix sorriu fracamente, levantando um canto de sua boca. Acenou com a cabeça em uma direção. — Vá, depois me conte como foi.

— Eu realmente sinto muito, eu não quis dizer aquela coisa estúpida. — se desculpou rapidamente, negando. — Minhyuk e Hyoseok? Você? Vocês são parte de mim. Eu daria minha vida novamente para mantê-los comigo para sempre.

— E eu sei, por isso não se preocupe. Não estou bravo. — deu alguns passos para trás, contornando o sofá e caminhando bem devagar em direção à cozinha. — Não há com o que se preocupar, Sungie. Volte mais tarde e me conte como foi tudo.

Seu melhor amigo apenas olhou para ele, balançando a cabeça em dúvida antes de desaparecer em um piscar de olhos. Félix finalmente chegou à cozinha e pousou as mãos em uma das bancadas. Ele sentiu suas pernas tremerem e a marca em seu braço queimar. Ele nunca havia salvado nada tão grande, nunca havia suportado tanta dor, que claramente o estava superando aos poucos.

Ele fechou os olhos com força. Como faria para repetir essa situação com seus filhos? Como levaria a alma de seus dois bebês quando chegasse a hora? Ele discutiu isso com Hyunjin assim que os trouxeram para casa e concordaram que não deixariam que isso os afetasse. Félix não estava afetado...

… Até agora.

Sem querer começou a emanar mais energia do que o normal, e foi inevitável não fazer com que a luz daquela sala se intensificasse até que o bulbo da lâmpada explodisse em mil pedaços.

Ele engoliu em frustração enquanto passava as mãos pelo cabelo, puxando-o para trás. Ele ainda não estava totalmente no controle de seus poderes, e era humilhante desde que os anos se passaram. No começo, quando Hyunjin o beijava do jeito que ele gostava, ou os dois ficavam malucos na cama, a energia no corpo de Félix deixava tudo ao seu redor fora de controle, e o marido tinha que acalmar as coisas de novo. Hyunjin achava engraçado, mas para a Morte isso era irritante, e ele queria mudar isso rápido, ainda mais porque agora eles tinham dois filhos pequenos em casa, que poderiam se machucar.

Rapidamente pegou uma vassoura e uma pá, começando a recolher os cristais do chão, deixando-os na lata de lixo. Ele tinha que se acalmar, tinha que distrair a cabeça.

Ele não poderia simplesmente explodir... poderia?

⸸⸸

Papai? — seu filho desenhava uma enorme flor em um pedaço de papel amassado, calmamente no chão, seus gizes de cera espalhados no tapete em frente ao sofá, de pijama. Ele havia tirado uma soneca e já era tarde.

Félix segurava nos braços o outro filhinho, meio adormecido e meio acordado, com o rosto escondido no peito do pai e os cabelos escuros, já um pouco mais compridos, completamente desgrenhados. A morte estava acariciando suas costas, confortando-o. Seu filho parecia triste, e certamente era por causa de Honey. Sabia que isso aconteceria, mas ver isso partiu seu coração.

— Sim, meu amor?

Minhyuk largou os gizes de cera, endireitando-se sobre os joelhos para dar uma olhada melhor em seu pai.

— Sempre quis fazer uma pergunta.

— Pode fazer, querido.

— Por que você e papai têm uma cama se vocês não dormem?

A mão de Félix parou de acariciar as costas do filho, retomando-a quando este reclamou, à beira das lágrimas. O calor se instalou em suas maçãs do rosto, e o constrangimento fez com que ele desviasse o olhar.

— É só... e-eu… — gargalhou nervosamente, engolindo a saliva. O que deveria dizer? — Gostamos de fingir que estamos dormindo.

Minhyuk encarou seu pai por alguns segundos, apenas piscando lentamente enquanto suas sobrancelhas franziam um pouco, inclinando a cabeça.

— Por que?

A boca de Félix estava fechada, pensando exatamente no que dizer. Minhyuk era um garoto muito esperto, ele definitivamente não acreditaria nele. Estava prestes a entrar em pânico, mas seu marido o salvou, aparecendo no meio da sala.

— Pai! — Minhyuk se levantou e correu para o Diabo, que se curvou apenas para pegá-lo. — Senti sua falta! — seu filho exclamou antes de beijá-lo na bochecha e abraçá-lo com mais força.

— Sério? — Hyunjin sorriu, apenas levantando um canto de seus lábios enquanto inevitavelmente cheirava o cabelo de Minhyuk. Ambos fizeram isso com seus filhos. De uma forma ou de outra, isso os acalmou. — Eu também senti falta de vocês.

— Pai, por que você finge dormir com o pai Félix? — novamente o silêncio se fez presente na sala, junto com o notável desconforto da Morte, que baixou o olhar quando o Diabo o olhou.

Ele olhou para o filho novamente, mostrando confusão com sua carranca.

— Quem te disse isso?

— Eu estava perguntando ao papai por que vocês têm uma cama no quarto se vocês não dormem... — seu filho explicou quando Hyunjin o colocou no chão novamente, um rosado lento e astuto se formando em seus lábios. — Ele me disse que vocês gostavam de fingir que dormiam.

— Então foi isso que ele te disse, hm? — mais uma vez, seu olhar estava na Morte, que tinha as bochechas visivelmente coradas e acariciava o cabelo de seu filho mais novo, que ele carregava nos braços. Ele olhou de volta para o menino com curiosos olhos verdes, balançando a cabeça. — Bem, é verdade.

— Por que?

— Mh, ultimamente você não para de perguntar o "por que" de tudo. — o arcanjo reclamou, caminhando até Félix e dando um beijo em sua testa antes de pegar seu filho mais novo de seus braços. — Você ficou muito curioso, Minhyuk.

O menino deu de ombros ligeiramente enquanto franzia a testa, voltando para seus desenhos.

— O professor Dener pediu lição de casa para desenhar a nossa casa.

— Aquele seu professor é um fofoqueiro. — o Diabo bufou após cheirar o cabelo de Hyoseok, que estava agarrado com força ao pescoço de seu pai e continuava tentando dormir. — Vou ter que ir falar com ele.

Os olhos de Minhyuk se arregalaram antes de olhar para Félix e começar a balançar a cabeça. Morte riu sem desejo, balançando a cabeça rapidamente.

— Papai está brincando, Min. Por que você não continua desenhando depois? Vou fazer algo para você e seu irmão comerem.

— Sim, está bem. — disse, começando a arrumar seus papéis e giz de cera. — Oh! Papai Jinnie, tenho uma su... surpr... surpresa para você. Ainda não está pronto, então prepare-se, ok?

— Vou esperar ansiosamente. — comentou o Diabo, vendo o filho mais velho correr para o sofá enquanto o marido se levantava.

— Papai, você pode ligar a televisão para mim, por favor?

— Claro, meu amor.

Ele estava prestes a ir para a televisão, mas o corpo do Diabo se aproximou, segurando seu garoto em um braço e usando a mão livre para segurar seu queixo.

— Primeiro isso. — disse antes de tomar aqueles lábios macios em um beijo lento e breve. Os olhos de Morte se fecharam e um leve suspiro saiu de seu nariz. Era isso que estava procurando, essa calma específica.

Os dois se afastaram e se olharam em silêncio por um breve momento antes de continuar com suas tarefas; Félix ligou a televisão enquanto Hyunjin deixava Hyoseok no sofá, que já havia acordado e abraçou o braço de seu irmão mais velho, substituindo seu coelho de pelúcia pelo menino.

A música introdutória de Tom e Jerry começou, fazendo com que Félix se virasse rapidamente para assistir à televisão, parando no meio do caminho. Se imaginou aos dezoito anos, comendo o chá e a torrada que sua mãe costumava fazer. Era seu momento mais feliz, pois se sentia completamente mimado pela mãe, e a casa estava sozinha exceto pela irmã no próprio quarto. Foi uma das únicas vezes que seu pai não estava por perto para causar o caos ou mudar a personalidade de Minah.

— Félix?

Mais uma vez, suas pernas e mãos começaram a tremer. Ela apertou os lábios, fazendo o possível para conter as lágrimas. A televisão começou a interferir e a voltagem da luz subiu e desceu notavelmente. As crianças olharam em volta confusas quando Hyunjin se aproximou de seu marido, pegando seus braços.

— O que está acontecendo? — sua voz era baixa e seus olhos ficaram cor de vinho, suas pupilas dilatadas. — Quem machucou você? Diga-me o nome, vou dar um jeito.

Félix rapidamente balançou a cabeça, olhando nervosamente na direção do sofá. Seus dois filhos observaram Hyunjin entre confusos e assustados. A Morte respirou fundo e lentamente, notando que as luzes voltaram ao normal e a distorção na televisão cessou. Minhyuk e Hyoseok voltaram seu olhar para a mesma, e o mais velho dos dois suspirou de alívio quando seu braço foi agarrado por seu irmão mais novo.

O Diabo viu as crianças por alguns segundos antes de olhar de volta para o marido, sua mandíbula tensa pegando seu pulso e o conduzindo para a cozinha, fechando a porta da mesma.

Isso fez com que toda a força de vontade que a Morte acumulou desmoronasse em menos de um segundo. Um soluço forte e doloroso deixou seus lábios quando o arcanjo envolveu seus braços ao redor dele, permitindo que ele chorasse em seu peito. Ele o abraçou com a força necessária, cheirou os cabelos e passou os dedos cheios de anéis de ouro pelas suas costas, acariciando. O choro continuou, sendo silenciado diante da boca do mais baixo contra o peito do mais alto. Hyunjin posicionou o queixo na cabeça de seu garoto favorito, apenas segurando-o quando o outro sentiu suas pernas tremerem.

Os minutos passaram. Conforme Félix sentia o poder irradiar na dor em seu peito e as luzes se apagavam, ele respirava fundo, se acalmando. No entanto, não iria parar, fazia tempo que não se sentia mal assim.

Hyunjin o empurrou um pouco, pegando seu rosto entre as mãos e levantando-o um pouco. Passou o polegar sobre seus olhos, enxugando as lágrimas, e os dois se encararam antes de Félix olhar para baixo, as lágrimas ainda escorrendo por suas bochechas.

O silêncio continuou por alguns segundos antes de Félix engolir em seco.

— Tive meu primeiro trabalho pessoal hoje. — apenas disse, com sua voz quebrada. Hyunjin entendeu em apenas um segundo, e foi imediatamente que ele o puxou para o peito. Imaginava quem poderia ser.

Os trabalhos pessoais eram os piores. O Diabo havia mencionado isso a seu marido assim que este começou a ser a décima e última Morte; no começo, Félix tinha pequenos trabalhos, como coletar apenas uma alma, ou duas. Então ele teve que se afastar e este papel ficou responsável para os Parcas, a Morte foi designada para quando ocorreram catástrofes com maior número de almas buscando ascender, devido a maior quantidade de poder.

No entanto, Félix pode sentir quando alguém com uma forte conexão com ele está prestes a morrer.

E foi exatamente isso que aconteceu.

⸸⸸

Horas atrás

Em apenas um piscar de olhos, estava dentro daquele quarto, no qual não entrava há muito tempo. A última lembrança que teve neste foi dele lutando contra seu pai, que queria desesperadamente queimá-lo com um cigarro, supostamente tentando lhe ensinar uma lição. Agora tudo estava escuro, exceto pela luz que entrava pela janela atrás da cama, na qual Minah estava deitada, envelhecida e fraca.

Os olhos da Morte estavam arregalados, cheios de lágrimas enquanto examinava tudo sobre sua mãe: as rugas, os cabelos brancos, as mãos delicadas e bonitas no peito, pressionando levemente. Suas sobrancelhas estavam ligeiramente franzidas, como se estivesse com dor, e seus olhos estavam fechados. Ele deu um passo, mas recuou novamente. Aquilo...? Era a sua mãe? De repente, não sabia se tinha sido a melhor das ideias proibir as Parcas de aceitar aquele trabalho. Foi seu primeiro trabalho pessoal e definitivamente não poderia ser pior.

Ele encarava a morte das pessoas como algo completamente normal, pois sabia que ficariam bem, sabia que estava tudo bem por onde estavam indo, e nem se lembrariam da dor que passaram antes, mas… não imaginava que isso iria acontecer com algum parente tão cedo assim.

Ele suspirou profundamente e trêmulo, começando a andar lentamente para o lado da cama. A testa de Minah parou de franzir, a dor em seu peito diminuindo com a paz trazida pela presença de seu filho, que lentamente se sentou em um pequeno espaço na cama, ao lado de sua mãe. Ele a observou, engolindo todos os sentimentos ruins. Tinha que reprimi-lo, tinha que fazê-la se sentir bem. Ele suspirou profundamente, e o barulho de sua respiração fez com que os belos olhos castanhos da mulher se abrissem lentamente.

Seus olhares se encontraram, um suspiro quase inaudível saiu dos lábios da mulher enquanto seus olhos começavam a se encher de lágrimas, brilhando. Uma de suas mãos se ergueu, trêmula, para alcançar a bochecha de Morte, embalando-a. Félix inclinou a cabeça ligeiramente, fechando os olhos ao toque e incapaz de impedir que uma lágrima escorresse por sua bochecha.

— Oh, meu bebê… — falou fracamente, incapaz de evitar um soluço, dando-lhe um sorriso. Os olhos de Félix se arregalaram, sorrindo docemente para ela em meio às lágrimas, tocando a mão de sua mãe e dando um pequeno beijo em sua palma. — Estou sonhando?

Isso quebrou o coração da Morte. Soluçou entre uma risadinha, balançando a cabeça lentamente antes de enxugar as bochechas com a mão livre, cheirar o narizinho e olhar com todo o amor do mundo para a mulher na cama.

— N-não… sou eu. Sou real.

Minah suspirou, balançando a cabeça, mas ainda sorrindo enquanto apertava a mão dele gentilmente.

— Sei que não é. Se fosse, você pareceria mais velho.

— Muita coisa aconteceu, mamãe, mas... sou realmente eu. Eu realmente estou aqui. — ela assentiu rapidamente, mordendo o lábio inferior enquanto continuava a inspecionar os detalhes do rosto de seu filho.

Seu lábio inferior tremeu, e Félix não pôde deixar de esconder o rosto nas costas da mão de sua mãe, fechando os olhos e soluçando.

— Sei que você nunca será capaz de me perdoar, mas eu sinto muito. — tremeu com a tensão em seu corpo.

— Ah, meu amor… — puxou o filho debilmente, e ele se posicionou um pouco sobre a mãe, com cuidado para não esmagá-la, retribuindo o abraço que a mulher lhe dava.

Eles ficaram assim por alguns segundos, chorando silenciosamente. Honestamente, nenhum deles podia acreditar que isso estava acontecendo. Minah estava começando a acreditar, porque se lembrava daquela última conversa que teve com seu filho, na qual ele lhe contou tudo o que havia acontecido, e incluiu muitas coisas sobrenaturais. Agora, sabia que era verdade, mas não queria questionar, só queria aproveitar o pouco tempo que lhe restava.

Os dois se afastaram, e Félix enxugou as lágrimas do rosto da mulher, que não parava de sorrir, respirando com dificuldade.

— Ouça-me... estive procurando por você por anos. — Félix não ajudou, mas franziu a testa levemente para os pontos fortes em seu peito. — A princípio não acreditei, mas depois percebi que os anos se passaram... e não te culpei. Querido, eu nunca te culparia. Depois de tudo que fizemos você passar...

A Morte negou rapidamente.

— Não, você não me fez passar por nada. A única coisa que tenho de você são boas lembranças. — sussurrou ele, muito seguro. Sua mãe tornara sua vida suportável, apesar de tudo. Sabia que era muito manipulada por Seungsu, e que tinha medo dele. — Mamãe, e o papai? Jiyeon?

— Sua irmã se mudou para Incheon, ela tem sua própria família. Seu pai... bem, logo depois que você desapareceu, ele fez o mesmo. Não sei exatamente para onde foi.

Félix sentia como se, a cada palavra, o ar o abandonasse. Sua mãe tinha estado sozinha todo esse tempo? Não tinha parado de procurá-lo? Tinha sido tão egoísta a ponto de reconstruir sua vida presumindo coisas que não sabia se eram verdade enquanto Minah ficava em casa, sozinha e se perguntando onde estaria seu filho? Bem, provavelmente.

Sentiu a respiração de sua mãe falhar por um segundo, antes de se virar um pouco rápido, levando a mão ao peito. Félix rapidamente a olhou de cima a baixo. Notou a área do peito rasgado, soube, imediatamente graças aos seus poderes, que sua mãe tinha algo errado com o coração.

Ele fungou, parando de chorar.

— Você quer que eu te cure? Eu posso curar você.

Minah balançou a cabeça lentamente.

— Não... estou cansada, amor. Eu só quero dormir.

— Mãe, não vim aqui para colocar você para dormir. — acariciou o cabelo dela, jogando-o para trás. — Há quanto tempo você está assim? P-por que não ligou para ninguém?

— Isso não importa. — a mulher sussurrou em um tom doce, balançando a cabeça lentamente.  Olhou para o filho por alguns segundos. — Eu só quero descansar, acabou para mim.

O jovem engoliu em seco.

— ... Isso é o que você quer? — a mulher assentiu lentamente, fazendo com que os olhos de Morte se fechassem. Respirou fundo, reunindo forças. — T-tem certeza?

— Sim. Finalmente encontrei você, posso descansar agora. — disse, olhando nos olhos do filho quando os abriu. — Eu te amo Félix. Te amo demais.

— Eu te amo mais. — sua voz falhou e, tomando toda a coragem do mundo para se despedir, se inclinou sobre a mãe, segurando sua mão com firmeza antes de dar um beijo lento e casto em sua testa.

O corpo permaneceu imóvel, já sem vida. Félix olhou para ela por alguns segundos antes de se virar. Um Parca estava de pé sobre a alma de sua mãe. Minah olhou para ele, dando-lhe o sorriso mais bonito que a Morte já tinha visto antes de desaparecer.

O leve sorriso na boca de Félix desapareceu lentamente, suas sobrancelhas franzidas. De repente, percebeu: havia acabado com a dor de Minah, dor que era mais sua causa do que qualquer outra coisa. Ele a deixou sozinha, quando ela nunca o fez e sempre tentou dar a ele tudo o que era possível. Ele rapidamente trouxe seu olhar para o corpo sem alma e a pegou pelos ombros.

— Não, não. — a sacudiu levemente. — Acorde. Acorde, acorde. Mamãe? — suas mãos começaram a tremer, e ele rapidamente se levantou, dando alguns passos para trás, ainda com as mãos na mesma situação.

Sua respiração engatou quando as lágrimas caíram. Sim, ela se foi e estava tudo bem, mas eles ao menos tiveram tempo de conversar um pouco mais. Ele simplesmente não suportava tudo aquilo. A raiva o atingiu e ele soltou um grito alto que estilhaçou vidros e moveu móveis.

Começou a se mover, olhando fixamente para a frente, estendendo a mão para o lado, sentindo a foice alcançá-la. Continuou andando pela casa, com um semblante sério e passos firmes e fortes. Alcançou a escada, descendo-a decididamente. Sequer permitiu que as lembranças daquela noite de pesadelo viessem à sua mente, porque ele tinha trabalho a fazer.

Já na sala, foi até o telefone que estava sobre uma mesa, no canto do local. Felizmente, havia um caderno ao lado com números de telefone, e não foi difícil encontrar o de sua irmã. Pegou o aparelho, aproximou-o do rosto e discou o número que leu no bloco. O som da espera estava presente antes que uma voz doce e familiar surgisse:

— Olá?

— Senhorita Lee, desculpe incomodá-la. — engoliu em seco, pressionando com força o tubo do telefone. — Sou vizinho da sua mãe.

— … Aconteceu alguma coisa? — sua voz tremeu.

— Sinto muito, eu encontrei... o corpo dela. A vizinhança ficou preocupada, resolvemos chamar a polícia. Foi recente.

Uma respiração pesada foi ouvida do outro lado, uma voz irreconhecível fazendo perguntas ao adulto.

— N-não pode ser... quem é você?

— Sinto muito. — desligou, ignorando as perguntas.

Um profundo suspiro deixou seus lábios antes de chamar uma ambulância. Sentou-se no sofá, invisível para os outros quando foram procurar sua mãe, e finalmente saiu. Não queria ver seu pai, ou descobrir se seu pai apareceria magicamente. Não queria nada.

Só queria ir para algum lugar tranquilo, onde não precisasse ver ninguém... e ele sabia onde era.

⸸⸸

Atualmente

Você e eu sabemos que ela está bem agora. Toda a dor se foi, tudo...

— Não é por isso. — a Morte negou, tentando conter os soluços enquanto apertava as mãos na camisa do Diabo. — Toda a dor dela foi apagada, mas a culpa que sinto dentro de mim... permanecerá para sempre. Ela tem estado tão sozinha, e tem procurado por mim por anos... ela provavelmente pensou que eu estava morto. Ela teve que aguentar toda esta dor, entende…? Você consegue imaginar algo assim com nossos filhos?

— Não, não consigo imaginar. — a mandíbula do Diabo se apertou com a imagem em sua mente. Nunca permitiria que algo assim acontecesse com seus filhos ou com seu marido.

— Q-quando falamos sobre ter Minhyuk e Hyoseok, concordamos em ficar calmos quando chegasse a hora deles. Faríamos suas almas ascenderem, e sempre iríamos vê-los, mas...

Hyunjin engoliu em seco, envolvendo melhor a cintura de seu garoto favorito. Agora ele entendeu completamente.

— Mas você não achou que seria tão difícil quando isso acontecesse. — diante do tremor no corpo de Félix, ele o puxou para mais perto, seus peitos se tocando. — Félix, eu faria qualquer coisa por você. Sabe disso, certo?

— S-sim.

Ergueu o queixo dele novamente para deixar um beijo suave e lento em seus lábios, buscando curá-lo, mostrar que ele não estava sozinho. Se ele pudesse fazer isso apenas com seus poderes, não hesitaria. Ele se afastou e seus narizes se tocaram.

— E se você quer que eu encontre uma maneira de tornar nossos filhos imortais, eu vou. Mas não vou fazer isso se for arriscado para eles, e não vou fazer se eles não quiserem. Vamos deixá-los crescer e pedir-lhes. Também não os quero longe. — acariciou sua cintura antes de beijá-lo lentamente. — Às vezes esqueço que nem sempre será assim. Eu esqueço... nunca tive nada assim.

— Você está feliz com isso? Sempre me preocupei... que pudesse não ser exatamente o que você esperava.

— Eu não esperava isso, você está tecnicamente certo. Mas… eu comecei a gostar de verdade. — pretendia insinuar algo que Félix realmente queria ouvir, mas ele não estava mentindo.

Hyunjin era afetuoso, mas não tanto verbalmente. Não conseguia expressar o que sentia, e Félix entendia isso completamente. Não foi necessário explicar muito, apenas o observou por alguns segundos antes de levantar o rosto e deixar um pequeno beijo nos lábios do Diabo.

— Obrigado por sempre me apoiar. Eu te amo…

— Também te amo.

Fechou os olhos quando novamente seus lábios foram tomados pelos do arcanjo, que os acariciou lenta e ansiosamente, iniciando um beijo profundo. Seus braços envolveram firmemente seu marido, segurando-o perto enquanto inclinavam suas cabeças em direções opostas. Félix se sentia completo e totalmente mimado e, embora seu dia não fosse melhorar, poderia estar estável.

Eles recuaram quando ouviram a voz de seu filho mais velho chamar animadamente. A porta se abriu quando ambos entraram, Minhyuk apontando para seu irmão mais novo, que estava segurando seu coelhinho de pelúcia no ar e com um sorriso malicioso nos lábios.

— Encontramos Honey! Adivinha onde estava, pai? Estava debaixo do sofá! — Minhyuk exclamou, puxando gentilmente seu cabelo loiro em excitação.

— Uau! Vocês são tão espertos. — Félix se inclinou e pegou Hyoseok em seus braços, incapaz de deixar de rir ao ver seu bebê tão feliz. Ele beijou sua bochecha ruidosamente. — Eu te amo Hyoseok.

— E eu? — o garotinho de olhos verdes perguntou isso com certo temor, que logo se desvaneceu ao ser levado nos braços pelo outro pai.

— Nós te amamos também, amor. Então... qual foi a minha surpresa? — disse Hyunjin.

— Ah, verdade! Sua surpesa! — acenou com as perninhas, sinalizando Hyunjin para colocá-lo no chão e, quando o homem finalmente o fez, voltou correndo para a sala. — Vamos, papai Jinnie!

— O que você estava dizendo? Você e Honey podem me ajudar a preparar os lanches? — Hyoseok assentiu lentamente, ainda segurando seu bichinho de pelúcia contra o peito. Félix o sentou no balcão e começou a preparar tudo.

Hyunjin dirigiu-se para a sala, onde o filho procurava entre os seus desenhos um em particular. O menino olhou para o papel por alguns segundos antes de pressioná-lo contra o peito e se virar para o pai, aproximando-se. O estendeu para ele e o Diabo não hesitou em pegá-lo, virando-o para olhá-lo e mantendo-o assim por alguns segundos.

— O que é isso? — perguntou, confuso.

Minhyuk abriu os lábios, parecendo ligeiramente indignado antes de suspirar.

— Pai! — exclamou, um tanto irritado. Todos eles lhe fizeram a mesma pergunta! — Eu desenhei você! Você é igual ao tio! Ele perguntou a mesma coisa.

— Oooh. — continuou olhando para o desenho. Era uma espécie de bolha preta, com pontos vermelhos no meio e rabiscos. — Eu pareço incrível neste desenho.

— Pai, não minta para mim. — um beicinho estava presente em seu lábio inferior enquanto o Diabo olhava para ele e franzia a testa. Ainda não sabia como lidar com o choro de seus bebês, isso o deixava nervoso. — Você não gostou.

— Minhyuk… eu gostei sim. — aproximou-se da criança e tomou-a nos braços, sentindo como a mesma escondia o rosto no ombro direito. — Eu apenas não entendi na hora, mas agora entendo porque você me explicou. Você é um artista surpreendedor. — levou a criança até a geladeira e pegou um imã que estava livre, pendurando o novo desenho na porta do móvel. — Agora sim.

Minhyuk desviou o rosto do ombro de seu pai, olhando para a geladeira antes de voltar seu olhar para o Diabo. Seus olhos estavam vidrados e o leve beicinho ainda estava presente em seu lábio inferior.

— Você realmente gostou, pai?

Hyunjin jogou seu cabelo para trás em forma de brincadeira, tentando bagunçá-los.

— Claro. Eu gosto da sua arte, pirralho. É muito incomum e faz sentido quando você o explica. Vou pegar mais coisas para você hoje, para que você possa pintar com diferentes elementos.

Ele-elementos?

— Isso mesmo. Vou mostrá-los a você assim que os tiver. — dirigiu sua atenção para Félix saindo da cozinha, segurando uma bandeja média na qual havia duas xícaras pequenas de chocolate quente e biscoitos recheados com baunilha. — Agora pare de pensar em besteiras e vá fazer um lanche. — ergueu o rosto e Minhyuk beijou sua bochecha antes de descer dos braços de seu pai e correr para o sofá, muito mais feliz.

A Morte estava posicionando a bandeja na mesinha de centro que ficava em frente ao sofá, e as duas crianças assistiam Tom e Jerry. Hyunjin se aproximou de Félix ao notar seu olhar em algum lugar da sala, perdido em pensamentos, e o abraçou por trás, apoiando-o indiretamente enquanto observavam seus filhos.

O dia havia passado, os menores haviam jantado e ido para a cama. Félix e Hyunjin fizeram o mesmo depois de apagar as luzes. Ambos na cama, seminus e enrolados. A Morte havia conversado com Jisung antes de dormirem, e estava tudo absolutamente bem entre eles. Era disso que ele sempre precisava: paz, sossego e companhia.

O rei do inferno manteve sua promessa ao rei da morte.

Hyunjin o fazia se sentir completo e amado. O Diabo cumprira sua parte no trato, e o melhor era que... apesar de alguns contratempos, ambos sabiam que seria assim por uma longa eternidade.



The End

É o final...
Bem, vamos começar do princípio.
Adaptar essa estória em específico foi simplesmente uma das melhores experiências que eu já tive, vocês não imaginam o quanto está doendo por um ponto final nessa obra, e o quanto eu vou sentir saudades dos personagens. Eu posso dizer com muita segurança que essa se tornou uma das minhas fics preferidas, ela fez com que eu criasse uma afeição muito grande com todos os personagens, foi incrível acompanhar o desenvolvimento do Félix e a relação dele tanto com o Hyunjin, quanto com os amigos e a família. Eu chorei enquanto adaptava certos momentos, porém também fiquei muito feliz em outros. Porém admito que o meu momento favorito foi a despedida do Félix com a mãe, você pode ver o amor ali, e quanto ambos os personagens foram bem construindo, com sentimentos reais.

Agora eu gostaria de agradecer muitíssimo a todos as pessoas que acompanharam essa obra, ver as teorias e as reações de vocês a cada capítulo foi algo mágico. Eu agradeço pela paciência, votos, comentários, mas em especial pelo carinho que eu vi que vocês tiveram com a fic e comigo, eu vou levar isso no coração por muito tempo, então obrigada, ter vocês como leitores simplesmente é a melhor coisa do mundo, e eu digo novamente, vocês são as estrelas da minha infinita galáxia, espero que sempre saibam disso. Por favor digam quem é seu personagem preferido, e o meu é o chanie.

E como prometido, todos os diabinhos que desejavam serão marcados aqui.

ApenasEuSendoStay; fruitlilas; ilallyxz; DIEHNY_97BC; thwodore; Little_Jiniret; AliceDias074; Lilihszz; hyunniiez; Hazel-nyx; Luv_Jih; Seungmingf; luylilima; rafss_888; comorato_; xamuelfugoshi; Lucc_Hyunnie; adoroumafofoca; Maryeonay; jinibboka; MMarques7; beeshanji; Lirio2012_Lol; Lalisaxxyz; Rafaella_Hyuga; -Morangodofelix; khyunmin_bz; Yasmin_Rufo; manstay.

Até a próxima!

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