Dancing with the Devil | Hyunlix

QUANTO TEMPO se passou?

Ele não tinha certeza, talvez não tanto quanto pensava. Ele ainda estava naquele lugar, abraçado ao corpo de seu menino preferido, acariciando sua preciosa face, admirando-o.

"Eu nunca te amei."

Essas foram suas últimas palavras.

Hyunjin tentou não ser influenciado por isso, porque se lembrava de sentir o que Félix sentia por ele antes que sua alma se perdesse, mas ainda assim, sabia que não poderia se livrar dessa memória nem mesmo se passasse milhões de anos.

Pior de tudo, ele não podia morrer. Não havia nada que o removesse da face da terra, estava condenado a isso.

Estava condenado a viver sabendo que assassinou o amor de sua eternidade.

Ele acariciou seus lábios com o polegar, que eram pálidos, da mesma cor de seu rosto lindo e incomparável. Nunca mais provaria aqueles lábios, nem ouviria sua voz. Nunca mais ouviria aquelas duas palavras que causavam uma confusão estranha, mas agradável em sua mente.

Isso era tão injusto. Porque ele tentou…

… Realmente tentou ser pelo menos um pouco bom.

Uma brisa forte e fria interrompeu seus pensamentos, seguida por um grito que ecoou pelo quarto escuro, forçando Hyunjin a largar o corpo de Félix quando este foi arremessado para o outro lado da sala, fazendo com que seu corpo inerte caísse no chão com força.

Ele rosnou furiosamente antes de se levantar do chão, observando aquela figura alta vestida de preto — com, desta vez, uma foice de ponta afiada em uma de suas mãos  — fazer seu caminho em direção ao corpo de seu marido.

Hyunjin fechou sua mão em punho, segurando a Morte no lugar. Seus olhos, mais uma vez, foram tingidos de preto, antes de mover a mão com força, e jogar brutalmente a figura sobrenatural à sua frente para algum canto daquele cômodo, tentando de alguma forma machucá-la, mesmo que não conseguisse.

— Não toque nisso, porra. — o Diabo rosnou, finalmente aproximando a Morte de si, até que estivessem frente à frente. — Vou despedaçá-la, e mesmo que não morra, nunca encontrará a paz...

A foice voou pela sala, aterrissando no meio da mesma, enquanto Hyunjin agarrava o pescoço da escória à sua frente, apertando com força, sentindo a satisfação de ossos se quebrando contra a palma da mão. Sorriu de lado, satisfeito, enlouquecido... quebrado, mudando de rosto assim que gritou, invadido pela fúria, e atirou a Morte a poucos metros de distância. Nada mais o faria se sentir satisfeito, a única coisa que sentia era um buraco fundo no peito. Nem mesmo destruir o universo o confortaria.

— Foi todo o seu plano, não foi? — disse, sorrindo amargamente ao notar a figura de preto erguer-se do chão. — Ele queria isso, Deus queria Félix, e você deu a ele. Você pegou a alma dele para que eu voltasse com seu corpo, mas deu errado. Agora ele está morto e não há como trazê-lo de volta. Parabéns. — a Morte, que já estava de pé, parecia ignorar o Diabo, caminhando, mais uma vez, lentamente em direção ao mais novo novamente. — Essa é uma grande lição: use pessoas como experimento. Eu estava certo. — assentiu lentamente, derrotado.

Foi tudo um jogo do de cima.

Ou então, era assim que pensava.

Ele olhou para cima quando sentiu a mão da Morte ir em direção ao peito de Félix, e foi quando ele estava prestes a afastá-la, sentindo a raiva, pouco a pouco, corroendo-o, que a figura à sua frente gritou: soando semelhante a uma banshee* antes de ser arremessada, tendo apenas o tempo de bater no chão, pois, inesperadamente, seu corpo virou cinzas, e sumiu no ar.

A testa de Hyunjin franziu, confusa como o inferno. Não foi ele quem fez isso. Olhou para a porta daquele lugar, procurando por algo que pudesse ter entrado, mas não havia nada.

De repente, o corpo de Lee Félix estremeceu, respirando fundo enquanto arregalava os olhos, logo, começando a tossir secamente. Os olhos de Hyunjin se arregalaram mais do que o normal, e todo o seu corpo tremeu como nunca antes.

— Félix?! — caminhou em direção ao jovem, caindo no chão, de joelhos, e tentando, com suas mãos desajeitadas cobertas de anéis de ouro, ajudá-lo a se sentar.

Félix piscou rapidamente, respirando com dificuldade, seu corpo fraco, exausto, antes de olhar para o Diabo, com seu olhar sendo retribuído por este, o coração de Hyunjin deu um pulo com o brilho que tanto sentia falta.

— … Jinnie? — sua voz tremeu. Se sentia péssimo, como se estivesse doente.

O Diabo não podia acreditar, seus sentimentos variavam de animado, ansioso, confuso e assustado. O que diabos aconteceu?

— Félix… — pegou o rosto do garoto, acariciando-o com adoração. Ele ainda estava frio e pálido, o que o preocupou o suficiente para pensar que ele poderia desmaiar. O Diabo o admirou e observou cada detalhe, a maneira como ele piscava, sua respiração, o tom de sua voz e a maneira como ele o olhava. — … É você… ? É realmente você?

A testa do menor franziu para aquela pergunta, confuso, mesmo assim, balançando a cabeça lentamente. Então Hyunjin não hesitou, imediatamente passou um braço em volta de seu tronco, apoiando a mão livre no alto da cabeça de seu menino favorito, puxando-o para seu corpo e posicionando seu rosto no pescoço do marido. Respirou fundo o aroma do garoto, e tentou não explodir de felicidade. Ele estava vivo, podia sentir seu coração.

Félix respondeu ao abraço imediatamente, enrolando-se cansado no pescoço do Diabo, respirando fundo e tentando manter a calma, fechou os olhos com força, sem saber que Hyunjin fazia o mesmo. Ambos estavam se sentindo, curtindo aquele momento, como se fosse o último.

— Jinnie… — Hyunjin se afastou um pouco, mantendo o rosto bem próximo do humano, e acariciou suas costas gentilmente. Estava com medo de fazer um movimento brusco que o fizesse desaparecer. — … O que aconteceu? — olhou ao seu redor antes de mais uma vez voltar o olhar para o marido. — Onde estamos?

— Você não se lembra de nada? — Félix balançou a cabeça, surpreendendo o rei do inferno. O garoto não se lembraria das coisas que fez enquanto estava sem alma? — Estamos no inferno. Qual é a última coisa que você lembra?

— Meu aniversário. — respondeu em dúvida. Ele tinha algumas coisas em mente, além de uma enxaqueca, uma das quais se intensificou com o passar dos segundos e ele tentou escondê-la. — Eu... eu me lembro quando você me possuiu, eu não posso... quer dizer, eu não... eu não me lembro...

— Não importa, está tudo bem. — pegou seu rosto gentilmente, tranquilizando-o. — Você vai se lembrar, eventualmente. — disse, acariciando uma de suas bochechas.

Félix o olhou com carinho pela maneira como o Diabo estava se comportando, embora estivesse preocupado com o quão assustado ele parecia. Ele inclinou a cabeça para o peito do Diabo, mas foi forçado a fechar os olhos, franzindo a testa de dor.

— O que está acontecendo? Você sente alguma coisa? — Félix assentiu lentamente, e uma dor aguda em seu braço o forçou a gemer alto, de dor, abaixando o rosto, mas com os olhos fechados. Sentia sua cabeça se partir ao meio. — Félix.

O mais novo gemeu mais alto, reclamando enquanto seu corpo ficava mole. Hyunjin o segurou contra ele imediatamente enquanto a sala começava a tremer ligeiramente. Seu olhar foi para a pele do pescoço do jovem, e seus olhos se arregalaram quando as veias ficaram visíveis, ficando pretas.

— Jinnie! — gritou, se contorcendo. Hyunjin o segurou melhor e levou a mão até a bochecha do menor para aliviar a dor, mas isso não estava funcionando. — D-dói... meu braço dói!

O olhar do Diabo foi imediatamente para o braço do jovem, e enquanto o segurava por trás, com a mão livre pegou seu braço e puxou a manga para cima, observando a marca. Parecia estar pegando fogo quando algo parecido com uma foice vermelha brilhante começou a se formar.

Hyunjin iria demorar para se recuperar e se acalmar mesmo quando a marca parou de se formar e o braço do menor ficou normal, mas quando ele olhou para o rosto do marido, notou sangue escorrendo de seu olho esquerdo, que estava fechado.

— Félix. — o segurou melhor. O jovem não sentia mais dor, mas estava agitado e soluçando baixinho. — Garoto, abra os olhos, por favor. — pediu. Precisava verificar, precisava...

Os olhos de Félix se arregalaram lentamente, como se estivessem feridos, e o arcanjo ficou em silêncio quando notou que um deles tinha um quarto de preto misturado ao lindo castanho.

Não pode ser.

O beicinho do menor tremeu, assim como todo o seu corpo. Não poderia tentar ficar calmo depois disso.

— O-o que está acontecendo comigo? — o Diabo foi forçado a reagir ao ver o marido assustado, e imediatamente o abraçou, embalando-o contra o peito e pegando o pulso com a mão livre para ver melhor a marca. Félix piscou para a marca, franzindo a testa lentamente. — O que é isso?

Hyunjin engoliu em seco, não ousando tocar naquela marca, que parecia recém-feita e pronta para fazer voar qualquer um que quisesse tocá-la. Olhou novamente para os olhos do menor, admirando aquele pequeno detalhe preto neles.

— Félix… — sentiu a cor voltar aos lábios do jovem, as veias negras desaparecerem. Tudo parecia começar a se resolver, junto com seus pensamentos. Ele virou o rosto e olhou para a foice ao longe, que ainda estava no lugar, e até emitia uma vibração muito mais poderosa do que antes. Essa era a última peça que faltava no enorme quebra-cabeça. — Você é a nova e última Morte.

⸸⸸

Depois daquele episódio horrível, e depois de Hyunjin ter dito em voz alta que Félix era a última Morte, este parecia completamente apavorado com isso. Não, não poderia ser possível. Não queria isso.

Hyunjin havia se encarregado de pegar o marido nos braços e sair daquele lugar, mas foi impedido pelo menor, que pediu que voltassem para buscar a foice que ainda estava caída no canto do local. Ao ver Félix pegá-la, pôde ver a satisfação no rosto do menor, e o medo. Ele apenas o aconchegou mais perto de seu peito, e o tirou daquele lugar para levá-lo escada acima, em direção ao seu escritório.

Ao chegar no mesmo, tudo parecia mais calmo e menos assustador. Era um lugar muito tranquilo, exatamente o que Félix precisava depois de passar por tanta dor e gritaria. Ele foi deixado em um sofá no canto, de frente para a lareira e centenas de livros em cada prateleira enorme que havia ali. O Diabo rapidamente se sentou ao seu lado enquanto Félix continuava segurando sua mão. Isso o estava deixando louco, sentia tanta falta do garoto, de poder abraçá-lo e beijá-lo apaixonadamente.

Eles permaneceram em silêncio por alguns segundos, onde Félix ainda estava olhando para a marca em seu braço, e o Diabo estava olhando para o rosto do jovem.

— Isso dói? — Félix balançou a cabeça com a pergunta de seu marido, engolindo em seco. — Félix, olhe para mim. — o nomeado obedeceu imediatamente, encarando o arcanjo. — Eu nunca vou sair do seu lado. Não vai acontecer de novo... a menos que seja o que você quer.

— Não quero que você vá. — respondeu rapidamente às palavras de Hyunjin, negando. — É que... não entendo. Não entendo nada, me sinto muito sobrecarregado.

— Vou te explicar. — o Diabo alisou os cabelos despenteados de seu garoto favorito antes de começar. — Félix, quando você foi possuído por mim no seu aniversário, arrumei tempo para você se curar por dentro, sua família já sabia muito sobre nós, por minha causa. Quando percebi que você já estava curado, entrei na sua cabeça para falar com você, lembra?

— Sim. Lembro disso. — o menor confirmou, balançando a cabeça lentamente antes de abaixar a manga da blusa para não ver mais a marca no braço e prestar muita atenção no marido. — Lembro que você me disse para esperar por você, e pensei que você estava voltando, e acordei aqui.

— Faz várias semanas desde então. Quase um mês. — o jovem levantou as duas sobrancelhas em surpresa. — Sua família não ouviu absolutamente nada de você desde alguns dias após seu aniversário.

— E-eu... eu não entendo.

Hyunjin suspirou. Não iria mentir para o marido, se Félix quisesse se afastar, Hyunjin ficaria bem, desde que Félix estivesse a salvo.

— Apesar de eu ter dito que o contrato não era mais válido, foi por falta de opção, mas, tecnicamente, o contrato continuou. Contratos não podem ser quebrados, quer você queira ou não. É algo que não está em minhas mãos. É por isso que quando decidi sair completamente, pois sabia que sua família iria verificar de várias maneiras de ver o que estava acontecendo, tive que rescindir o contrato. Então peguei sua alma.

Hyunjin continuou.

— Quando eu ou qualquer demônio levamos almas, elas automaticamente caem no inferno, porque houve um contrato. Voltei aqui depois de ter certeza que sua família o levou para o hospital, e quando procurei o encarregado de almas e contratos, Baphomet, ele me disse que já haviam se encarregado de devolver sua alma ao seu corpo. Então decidi não voltar, e enviei corvos para cuidar de você até que seus pais se afastassem, pelo menos um pouco. Dias depois, Baphomet foi encontrado morto e, quando voltei à terra para vê-lo, descobri que sua alma não havia retornado.

— Isso significa que estive sem alma todo esse tempo? É por isso que não me lembro de nada? Eu machuquei alguém?

Hyunjin negou.

— Não. — mentiu. Pelo menos até que tudo se encaixasse, esperaria um poupa para contar toda a verdade. — E sim, você estava sem alma o tempo todo. Você saiu de casa no carro de seu pai e chegou a Incheon. Tínhamos muitas teorias sobre quem havia levado sua alma, até que finalmente percebi que havia sido a Morte. Ela provavelmente a pegou do inferno e matou Baphomet. A morte queria ficar com sua alma, pois sem ela em seu corpo não teria como a marca em seu braço fazer efeito em você, e ela não deixaria de existir.

Tudo estava começando a fazer muito mais sentido, mesmo assim, era assustador. Fugir de casa? Dirigir? Nada que Hyunjin disse parecia ser algo que realmente faria. Não pôde deixar de sentir uma leve tontura, pela qual fechou os olhos e cobriu o rosto.

— Isso não pode estar acontecendo, eu não quero... eu não quero me tornar algo como a Morte. Não quero ser assim, Jinnie. — mais uma vez, sua voz começou a tremer. Ele descobriu o rosto e negou. — Não quero.

— Você não vai ser o que a Morte foi. Ela tinha feito um pacto comigo para ser assim, era como um castigo se transformar em alguém que só grita. — bufou, ainda ressentido com aquela criatura estúpida. Ela o fez passar pelo inferno... na verdade, até o inferno era mais calmo do que ela o fez passar. — Você será apenas... imortal.

Félix olhou para o Diabo imediatamente, piscando rapidamente, sem ter certeza do que tinha ouvido. Imortal? Seria imortal? Estava querendo isso desde que ele e Hyunjin ficaram noivos. Então engoliu em seco.

— Não vou envelhecer?

— Não.

— E isso significa... que não poderei mais ver minha família, certo? — seus olhos começaram a ficar vidrados, mas ele não ia chorar. Não queria chorar.

— Eu não acho que isso seja possível, Félix.

O jovem assentiu antes de olhar para baixo. Ele estava começando a aceitar as coisas, mesmo não gostando completamente e estando um tanto triste com tudo isso. Ela ergueu os olhos novamente e olhou para o marido.

— Você é minha família, Jinnie. — disse ele, com a voz embargada. Hyunjin o olhou antes de se aproximar ainda mais, segurando o rosto do mais jovem enquanto o último segurava os pulsos do arcanjo. Seus narizes roçaram um no outro. — Eu queria isso há muito tempo, e sabia que teria suas consequências.

— Mas você está triste.

Sem poder evitar, algumas lágrimas rolaram por sua face fria, e o Diabo rapidamente as enxugou.

— Estou com medo, não sei o que será... como será ser a última Morte.

— Você vai ficar bem, Félix. Eu prometo... eu te amo.

O rosto de Félix se desviou ligeiramente, não muito certo do que acabara de ouvir, a última frase se repetindo repetidamente em sua cabeça. Ele piscou, seus cílios brilhando ligeiramente com as lágrimas, e sorriu lenta e timidamente.

— Você disse… — sussurrou, boquiaberto.

Hyunjin não pôde deixar de sorrir lentamente.

— É a terceira vez que digo isso, garoto.

— Terceira vez?

— Eu disse isso antes de partir no seu aniversário, e disse de novo antes de devolver sua alma ao seu corpo. Esta é a terceira vez.

— Ah... desculpe, Jinnie. Eu gostaria de lembrar.

Não, você não quer isso.

Hyunjin balançou a cabeça lentamente, sério novamente.

— Não precisa, direi isso mais vezes. — e, sem mais delongas, aproximou-se e juntou seus lábios aos de seu menino.

Ambos suspiraram pelo nariz, aliviados por se manterem próximos e moverem seus lábios lentamente, inclinando suas cabeças para lados opostos. As mãos do Diabo desceram até a cintura do menor, que tirou as mãos do peito do arcanjo para envolver seu pescoço com os braços, agarrando-se.

Para Hyunjin, foi um alívio finalmente ser retribuído com sentimentos reais, finalmente ter o marido nos braços. Apenas algumas horas atrás ele pensou que nunca mais o veria, ou o beijaria ou o veria sorrir, e agora estavam abraçados enquanto se beijavam.

E seria por toda a eternidade.

Banshee - "Banshees" é o nome dado às criaturas do folclore irlandês (semelhantes a bruxas) cujos gritos horripilantes são o aviso de uma morte que está prestes a acontecer.

Estamos nos últimos capítulos.