XVI ➵ Quebrador de Corações
Dancing with the Devil | Hyunlix
NO DIA seguinte, Félix acordou com uma batida em sua porta e chamados de sua mãe, que o avisou sobre suas aulas. Franziu a testa enquanto se espreguiçava sob as cobertas, sentindo-se dolorido. Por que estava tão cansado? Totalmente exausto. Quando seus olhos se abriram, piscou rapidamente ao perceber que Hyunjin, que estava parado ao lado de sua cama, o encarava, levantando lentamente um canto de seus lábios finos e avermelhados.
— Jinnie… — pigarreou ao ouvir sua voz rouca, fechando os olhos novamente, e sorrindo um pouco ao sentir que a mão do Diabo pegou seu queixo, acariciando-o. Sentiu o ouro dos anéis frios queimando contra sua pele quente, mas ignorou quando sentiu a respiração de seu marido contra sua bochecha, o movimento da cama enquanto acomodava seu corpo junto a si, e as carícias em seus cabelos. — Você esteve aqui durante a noite?
De repente, lembrou-se do sonho. Foi lúcido, precioso e inesquecível. Pensou que, talvez, Hyunjin estivesse ali, imerso em seus pensamentos e emoções. Talvez tenha sido o próprio garoto quem causou tudo isso.
— Não. — respondeu o arcanjo, deixando um beijo suave, mas casto na bochecha de seu menino favorito. — Cheguei há alguns minutos.
“Oh”
Por que ele está achando isso estranho?
Sem pensar muito, esfregou os olhos com uma das mãos e se posicionou de lado, colocando muita vontade nisso, pois seu corpo doía. Ignorou o cansaço extremo, erguendo o rosto, ao mesmo tempo que seu olhar encontrava os lábios dos outros, pedindo um beijo sem ao menos emanar uma palavra. O Diabo notou, então não hesitou em se inclinar um pouco mais, pegando o lábio inferior do marido entre o seu, sem evitar chupar suavemente antes de iniciar um ritmo lento e muito delicado.
O corpo do humano relaxou, inclinando o rosto para longe daquele ser, enquanto trazia o braço esquerdo para o ombro de Hyunjin e envolvia seu pescoço. Os torsos roçaram um no outro, ainda mais quando o Diabo resolveu passar o braço pela cintura do menino preferido, ameaçando levantar a blusa do pijama assim que a ponta dos dedos tocaram a ponta do tecido.
Permaneceu assim por alguns segundos, sem interromper o beijo, que se intensificou com o passar do tempo, mas resolveu acariciar a roupa, levando a mão às costas do menor. Era muito cedo e Félix estava exausto, então não era hora de coisas muito intensas.
No entanto, o momento foi arruinado quando a palma da mão de Hyunjin sentiu algo sob a camisa do marido, que estremeceu de dor, sibilando ao abrir os olhos, surpreso quando parou de sentir a dor. O Diabo curou aqueles arranhões longos e inchados em suas costas, e o lindo azul em seus olhos foi substituído por um preto opaco.
— O que aconteceu? — o garoto exigiu saber.
No momento em que Hyunjin apareceu no quarto de Félix, o arcanjo não havia se incomodado com a presença demoníaca na casa, porque um demônio possuía o corpo de seu querido sogro, pensou que pensou que o que garoto estava sentindo era normal.
— O que? — a voz de Félix tremeu um pouco, assustada, nem mesmo tentando sentir suas costas, pois era impossível. Ao não obter resposta, suspirou, fechando os olhos, sentindo que não conseguiria lidar com outra coisa, então não evitou esconder o rosto no pescoço do marido. — Você está me assustando
— Você não tem nada a temer… — a voz do arcanjo era suave, puxando-o ainda mais para perto, seu queixo apoiado nos fios negros do humano. — Achei que algo tivesse acontecido com você, porque você parecia exausto, mas talvez fosse minha presença e o longo dia que você teve ontem. — pela primeira vez, mentiu para o seu garoto.
Não era isso, era outra coisa, e ele iria descobrir.
Porque ninguém tocaria em Félix novamente.
— Bom, sim...
Hyunjin se afastou com cuidado, ainda segurando o marido, e levantou-o com ele, até que ambos estivessem sentados na cama.
— Tenho alguns negócios inacabados, mas você me verá aqui esta noite.
— Está bem. Eu tenho que ir para a aula, então vou me arrumar. — recebeu um aceno de cabeça de outro, pelo qual franziu a testa. Não apenas Hyunjin ainda estava agindo de forma estranha, mas seus lindos olhos azuis ainda não haviam voltado ao normal. Ele estava com raiva? — … Jinnie.
— Mh?
— Você...? — não, não. Isso seria desrespeitoso. — Está tudo sob controle, certo?
— Não há nada para se preocupar. — ergueu o queixo, inclinando a cabeça um pouco enquanto arqueava uma de suas sobrancelhas. — Quando o controle se perde, eu sempre dou um jeito. — soava ameaçador, mas a sugestão de um sorriso em seus lábios o fazia parecer poderoso, confiante e, acima de tudo, superior a qualquer ser do universo. Desta vez ele não mentiu, nem se sentiu mal. — Vá, está ficando tarde para suas aulas.
Aulas com as quais ele sequer se importava, assim como, exceto Félix, todo o maldito universo. No entanto, ele precisava resolver este assunto.
Porque eles mexeram com seu menino favorito.
Félix deu um beijo tímido e suave nos lábios do Diabo antes de sair da cama, levantando-se pesadamente e se espreguiçando a caminho do banheiro. Hyunjin, por outro lado, esperou em seu lugar, demonstrando calma, paciência, até que a porta em sua frente fosse cuidadosamente fechada, e seus olhos voltassem à cor preta vazia e opaca.
Não demorou um segundo para se levantar e, num piscar de olhos, apareceu no quarto do último andar da casa. O lugar onde dormia a mãe de Félix, que, felizmente, não estava lá. Observou o demônio que possuía o corpo de Seungsu, vestindo seu fingimento, assobiando calmamente uma melodia irreconhecível, mas, assim que se olhou no espelho, percebendo a silhueta de seu rei a poucos metros de distância, não evitou ficar paralisado.
— Foi você quem machucou Félix. — murmurou, erguendo o queixo e as duas sobrancelhas, como se estivesse surpreso, mesmo que não estivesse.
Ele não perguntaria, porque não confiava em nenhum de seus súditos.
— O-o que? — o demônio recuou, apavorado, até que suas costas estavam contra a parede. — E-eu quase não falo com ele.
— Você é o único demônio da casa... — o arcanjo pôs as mãos dentro da calça, dando um passo à frente, e ignorando os suspiros do outro. — … Não há como eu evitar... — ele levantou, mais uma vez, seu olhar. — ... desconfiança em você.
— Não fui eu! Não, eu juro...
Sabia que o demônio não estava mentindo, porque o cheiro não era o mesmo. Hyunjin podia reconhecer qualquer demônio, até mesmo aparecer em qualquer lugar onde estivessem, mas isso era impedido quando era um demônio de encruzilhada; aquele que vagou sozinho pela terra por séculos, de um lugar para outro, até chegar ao ponto de ficar irreconhecível.
No entanto, ele poderia ter alguma informação? O arcanjo não imploraria a nenhum ser do universo por isso...
... Mas ele era realmente bom em alertar.
— Eu acredito em você. — murmurou em um tom sarcástico, mesmo que fosse verdade, antes de inclinar o rosto ligeiramente para a direita. — Mas, de qualquer forma, sua estadia na terra termina hoje. Você é chato e inútil. — com esse último comentário, o demônio não demonstrou felicidade, mas continuou assustado, acenando rapidamente com a cabeça para as ordens de seu rei. — Vá embora e traga o miserável de volta. Diga a ele que mando lembranças, que estou vigiando sua casa, então se eu ouvir, sentir ou tirar dele a ideia de um plano, ele voltará sem dúvida, e permanentemente. — falou fluentemente, recebendo apenas acenos rápidos dos outros. — E você... volte para a sua rotina de sempre, ou vou me certificar que sua eternidade seja podre.
— S-sim, meu rei. — se endireitou, virando as costas para a parede, pronto para ir.
— Mais uma coisa. — claro, a cereja do bolo. O silêncio reinou por alguns segundos enquanto ele se aproximava lentamente do demônio. Os olhos de Hyunjin, que permaneciam de uma cor preta opaca, eram tingidos de bordô, arregalados. — Espalhe minhas palavras… — sussurrou, fingindo contar um segredo. — Existe um príncipe.
— P-príncipe?
— Exato! — seu lacaio pulou no lugar quando o Diabo levantou a voz. — Vocês aprendem rápido. — comentou consigo mesmo, como se estivesse orgulhoso, para de repente voltar ao seu semblante neutro. — Se alguém tocar em um único fio de cabelo novamente, ou respirar o mesmo ar que seu príncipe, eu apenas estalarei meus dedos... e todos vocês queimarão pelo tempo que eu quiser. Capiche?
— Ca-Capiche... quer dizer… sim meu rei!
O demônio logo começou a derramar sangue de sua boca, escorrendo por seus lábios, ao mesmo tempo em que seus olhos ficaram brancos. Sua respiração engatou e o corpo caiu no chão.
Parecia morto, mas estava respirando, o que significava que o miserável ser inferior estava de volta à terra.
Hyunjin olhou para a porta do quarto e, sem sequer mover um dedo, o trinco se moveu. Não hesitou em voltar para o quarto de seu menino favorito, que estava sentado em sua cama, com sua adorável roupa de sempre, parecendo concentrado enquanto amarrava os sapatos.
O Diabo apreciou como seu marido olhou para cima, observando-o, com uma mecha de cabelo caindo na testa. Em toda a eternidade, desde o início de sua existência, ainda quando era um lampejo entre todos os arcanjos do céu, presenciou um olhar tão cheio de sentimentos como quando Félix fixou seus olhos nele.
Foi quando seu coração, que achava que não existia, resolveu bater mais forte que o normal.
— Radiante. — murmurou para si mesmo, recebendo um sorriso tímido e muito simpático de seu garoto favorito. Era uma pena saber que, com as informações que ele lhe daria, essa felicidade, fingindo ser um simples gesto, desapareceria. — Seu pai vai voltar.
Félix apagou seu sorriso, erguendo as sobrancelhas em surpresa, incapaz de evitar permanecer assim por alguns longos e silenciosos segundos.
— … Certo. — apenas murmurou, ajustando um de seus suspensórios, que ameaçava cair de seus ombros, antes de terminar de amarrar os sapatos, levantando-se lentamente.
Hyunjin não precisou notar a expressão pensativa no rosto do humano para saber que, em sua mente, estava tentando juntar pontas soltas.
Seus olhares se encontraram mais uma vez, antes que o arcanjo avançasse, aproximando-se de seu marido e envolvendo-o pela cintura. Félix não hesitou em ficar na ponta dos pés, levantando o rosto quando Hyunjin se inclinou, como se estivessem em sincronia, e respondendo ao beijo suave e lento que os lábios do Diabo lhe deram.
As pontas dos dedos do menor acariciavam os cabelos macios, lisos e curtos da nuca do marido, como se verificassem se Hyunjin era real, ao mesmo tempo em que se aproximava cada vez mais quando, aos poucos, o beijo se aprofundava. Não pôde deixar de soltar um suspiro quase inaudível ao sentir a mão do Diabo descer lentamente por suas costas, até acariciar uma de suas nádegas.
Quando pensou que poderia derreter nos braços do arcanjo, afastou-se lentamente, ainda mantendo o rosto próximo ao do outro, fazendo com que as pontas de seus narizes se tocassem.
— Eu volto de noite… — o arcanjo disse nos lábios de seu menino, que mal acenou com a cabeça. Nenhum dos dois conseguia se separar no momento. — ... E eu vou fazer você se sentir bem.
— Tudo bem...
Hyunjin deu-lhe alguns últimos beijos nos lábios antes de mover as mãos até a cintura do Lee e beijar sua bochecha, finalmente se afastando e dando alguns passos para trás.
— Se algo acontecer com seu pai, tire o anel. Eu vou sentir quando você fizer isso.
⸸⸸
Durante as aulas, tentava dar atenção aos professores, mas falhava, sentindo-se aborrecido por sentir que não sabia de tudo, e sentindo-se um completo idiota por ter medo de perguntar.
No entanto, Hyunjin evitou, mesmo quando seu corpo tremia de dor. Sabia que o arcanjo queria protegê-lo, mas mesmo que rezasse para que tudo desse certo naquele dia, preferia a realidade caótica à ignorância ideal.
Jisung juntou-se a ele para almoçar, como sempre, parecendo mais enérgico do que o normal. Aparentemente, pelo que comentou a toda velocidade diante de seu entusiasmo, seu pai lhe disse que passariam o Natal com sua avó... mesmo que faltassem dois meses para esse feriado.
— Isso é ótimo, Sungie. — Félix sorriu, apanhado na empolgação de seu melhor amigo. — Espero um dia conhecê-la.
— Claro! Vou apresentá-la a você, ela é ótima, cara, sério. — suspirou, olhando para o almoço, pensativo, mas com um sorriso nos lábios. Depois de alguns segundos, voltou seu olhar para o moreno. — E você? O que vai fazer no Natal?
Foi Félix quem suspirou em seguida, subitamente exausto.
— Suponho que eu fique com minha família... e meus tios.
— Oh… — ambos sabiam o que aquilo implicava, então Jisung torceu o nariz, fechando os olhos e fingindo rezar. — Meu mais sentido pêsame.
Félix apenas riu, tentando não desanimar, e retomando a conversa anterior com seu melhor amigo, sem hesitar em aproveitar o que restava da hora do almoço.
Sem pensar em nada.
Quando as aulas terminaram e os alunos se dirigiram para a saída do estabelecimento, Félix pensou no fato de que, assim que seu pé estivesse dentro de casa, deveria confrontar seu pai, qualquer que fosse sua reação. Deveria lidar com isso.
Não podendo explicar nenhum motivo a Jisung e precisando estar ao ar livre apesar do frio tremendo que fazia, assim que se despediu do amigo, começou a caminhar em direção àquele parque onde ambos distribuíram panfletos de Halloween. Não era muito longe e era muito bonito, exceto por ser solitário e triste.
Parecia com ele.
Chegando lá, escolheu um banco que ficava dentro do parque, perto dos pombos e de um monumento, que era um homem com os braços abertos, como se estivesse segurando alguma coisa, mas não tinha nada. Estranho. Suspirou e recostou-se, respirando profundamente pelo nariz e ouvindo o canto dos pássaros. Ele precisava de calma, precisava parar de pensar. Sentia-se como se estivesse ficando louco.
— Por que você está aqui, sozinho? — seus olhos se arregalaram rapidamente, agitando os cílios enquanto sorria ao ver Jisu em sua frente com um sorriso tímido. Ela era muito bonita e tinha duas tranças. Seu nariz estava vermelho de frio – como o dele – assim como suas bochechas. Parecia adorável. A adolescente não hesitou em se sentar ao lado dele. — Sem querer me intrometer, mas está muito frio aqui. Você vai pegar um resfriado.
— Eu sei, mas... — balançou a cabeça lentamente, olhando em volta e sem conseguir evitar um sorriso de lado. — ... Eu gosto muito do frio. Sinto que as pessoas não sabem tirar proveito disso, mas não quero julgar ninguém.
— Em parte, é verdade. — disse a garota, balançando a cabeça e encolhendo os ombros enquanto escondia as mãos entre as pernas. Ela parecia estar com frio. — Acho que o frio deve ser aproveitado, mas depende do frio que está. Eu não quero, você sabe, ser congelada como ele… — apontou o dedo indicador para o monumento do homem. Félix já havia começado a rir. — ... E as pessoas pensarem que sou um monumento em um parque. — terminou, também rindo.
Ela era divertida.
Não é de admirar que Jisung a amasse.
Oh, Jisung! Félix ficou de lado, pronto para falar.
— Como estão as coisas com Jisung, Jisu? — tentou iniciar o tópico. A adolescente piscou rapidamente, parecendo um tanto perdida com a mudança de assunto da conversa.
— Jisung?
— Ah, eu não sei. — o moreno deu de ombros. — Bem... Acho que formariam um belo casal.
As bochechas da adorável garota ficaram vermelhas.
— Oh, uau... hum. Eu não sei.
— Não gosta dele?
— Oh não. Sim, eu gosto. — a excitação fluiu do peito de Félix. — Ele é muito gentil, muito meigo e fofo, mas ‘pra falar a verdade... eu gosto de outra pessoa.
Félix ficou um tanto surpreso no início, mas não achou nada ultrajante. Apesar de o coração de seu melhor amigo poder se partir em mil pedaços, até acreditava que alguém pudesse gostar de duas ou mais pessoas ao mesmo tempo. Era algo que não podia ser evitado. Claro que não aconteceu com ele, porque Hyunjin era tão único, diferente, emocionante e doce que sempre o fazia querer mais e mais.
Jisu parecia estar com medo de ser julgada e também como se esperasse que Félix não pensasse que ela era apenas uma idiota. Félix nunca acreditaria isso de uma mulher.
Às vezes sentia que tinha nascido na época errada.
— Oh, sinto muito. Eu... bem, eu não sabia. Achei que você só gostasse de Jisung. — o olhar da garota cai no chão e ela mexe os pés. Ela parece envergonhada. — Não há nada de errado com isso, mas acho que você deveria esclarecer isso com meu amigo porque ele... bem, está muito animado.
Jisu ficou em silêncio por alguns segundos. Félix se perguntou se ele a havia incomodado e estava prestes a se desculpar, mas a garota rapidamente ergueu os olhos e o encarou. Ela parecia ainda mais corada.
— Você não... você não quer saber de quem eu gosto? — ela disse. Félix piscou lentamente, processando essas palavras.
— Uhm, claro. — não seja Christopher, não seja Christopher, não seja Christopher.
— Claro? — ela se aproxima de Félix, que não percebe devido à sua inocência. — Porque... bem, você não me perguntou.
Se fosse Christopher, tudo estaria arruinado. Obviamente, Jisung não diria nada contra isso, mas ficaria tão magoado com o relacionamento deles que nem conseguiria olhar para o mais velho por um bom tempo.
— Não queria soar intrometido. Você pode me dizer se quiser...
— Você.
— O-o quê?
— Eu gosto de você.
Félix não sabia explicar o constrangimento, timidez, desconforto e fobia que o atingiram naquele momento. Seu rosto provavelmente era uma mistura de cores, sua vontade de fugir até alcançar os braços de Hyunjin era infinita e o desconforto por sua óbvia homossexualidade era mais do que visível. Ele sentiu as mãos da garota em seu rosto; Ela parecia preocupada.
— Félix? Diga algo, por favor.
Ele piscou e se afastou um pouco, ainda corado e surpreso. Realmente pensou que ela diria "Christopher".
— E-eu... eu não sei o que dizer.
— B-Bem, você poderia começar com algo como..."Jisu, vou te dizer como me sinto." — disse, tentando ajudar. Mas piorou. Isso tornou tudo pior porque, inferno, Félix se sentia culpado.
— É-é só… — negou lentamente. Sentiu que tudo o que ele iria dizer seria feito com gagueira. Levou alguns segundos para respirar fundo. — Como eu poderia gostar de você? Você me conheceu ontem. Você conhece Jisung há mais de duas semanas.
Bem, isso não fazia muito sentido. Ele se apaixonou por Hyunjin no segundo em que o viu.
— Não sei. Uhm, bem, eu... eu vi você e gostei de você. Você sairia comigo?
Agora Félix iria morrer.
Oh, claro, ele já havia morrido.
— Jisu, eu… — baixou o olhar e balançou a cabeça lentamente. Não conseguia sequer olhá-la. Não podia acreditar que estava rejeitando alguém, que estava quebrando o coração de uma garota frágil e doce. Sempre foi ele quem teve seu coração partido. — Desculpe, mas eu gosto de outra pessoa. E eu nunca poderia fazer isso com Jisung.
Os olhos da menina estão cheios de lágrimas enquanto aperta os lábios por alguns segundos, à beira das lágrimas.
— Como você sabe que ele gosta de mim? Ele pode estar fingindo.
— Ele não faria isso, eu o conheço. — disse, e era verdade, mas ele compreendia parcialmente a garota por acreditar nisso. Jisung já esteve com várias garotas e sempre dizia que você tinha que gostar de ser solteiro. Mas era diferente convidar alguém para sair, beijá-la e nunca mais vê-la. — Ele é meu melhor amigo. — sussurrou.
Ele amava Jisung tanto, tanto. Ele era uma pessoa tão legal, e isso o magoou. Agora, mais do que tudo, preferia que a resposta fosse "Christopher". Ergueu os olhos ao ouvir alguns soluços baixinhos e sentiu uma dor no peito ao ver a menina chorar.
— Jisu, não chore. Eu sinto muito...
Ela parecia estar com raiva e triste. Félix nem teve tempo de se aproximar porque a adolescente se levantou e começou a se afastar, em direção à própria casa, Félix supôs. Fechou os olhos novamente e respirou fundo para acalmar as batidas de seu coração. Afinal, parecia que havia ido ao parque para arranjar mais um problema.
Porém, aquela forma de encarar as coisas o levou a pensar no que poderia fazer contra o pai. Tentou enfiar na cabeça que não precisava do pai, que não queria o amor dele. Que estava tudo bem apenas com Hyunjin. Se levantou de seu assento e começou a caminhar em direção a sua casa.
Obviamente não era verdade. Tudo o afetava e, mais cedo ou mais tarde, isso acabaria com ele.
⸸⸸
Podia sentir o rubor em suas bochechas mesmo quando estava prestes a abrir a porta da frente de sua casa. Entre os pensamentos de como seria ver seu pai, se lembrou da sensação incômoda de Jisu se confessando, pegando-o pelo rosto e perguntando se ele sairia com ela e isso é, oh Deus. Por outro lado, sentia-se um tanto perseguido. Hyunjin teria visto? Certamente não, não sentiu sua presença o dia todo. Logo, lembrando-se do que o arcanjo lhe disse, que se tivesse algum problema com o pai, deveria tirar o anel, pois o Diabo sentiria.
Tinha isso em mente quando abriu a porta, de cabeça baixa, e se virou para fechá-la. Quando se virou novamente, pôde sentir os braços de seu pai envolvendo-o em um abraço. Entre a surpresa e o susto, permaneceu imóvel, com os braços caídos ao longo do corpo e ouvindo junto ao ouvido a respiração ofegante do pai.
— Desculpe. Sinto muito, filho. — disse. Félix ficou parado, ainda com medo. — Nunca mais vou tocar em você, nunca vou machucar você, sua irmã ou sua mãe. Não posso evitar as coisas, mas aprendi minha lição. Realmente sinto muito.
Eles se separaram um pouco, e o homem tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. Félix o olhou diretamente nos olhos, e não sabia se era porque queria que fosse assim ou porque realmente era, mas Seungsu realmente parecia arrependido. Mesmo que fosse diferente. Quem era ele para condená-lo? Engoliu em seco antes de assentir. Suas mãos tremiam.
— Me desculpe, eu te causei um ataque cardíaco. — se desculpou. Precisava dizer isso, mesmo que soasse estranho.
— Eu mereci. — respondeu rapidamente o pai, negando lentamente. Ele não queria um pedido de desculpas do filho, não deveria. — Olha, eu sei... eu sei que tenho sido um miserável. Mas vou te provar que eu mudei, nesses três anos eu...
— Três? — interrompeu. Seungsu agora estava olhando para ele, assentindo com alguma confusão. — Pai, estamos no mesmo ano de quando você partiu.
O homem permaneceu imóvel, processando aquela informação tão bem quanto Félix, que agora se sentia ainda mais culpado. Ele colocou uma pessoa por três anos no inferno, e não qualquer um. Seu próprio pai.
— Oh! Bom. Acho que desconfiei, parece tudo igual. — disse, suspirando e olhando novamente para o filho, balançando a cabeça lentamente. — Tenho sentido sua falta...
Ele estava tremendo e precisava tomar um banho. Um banho refrescante e tranquilo.
— Eu... eu vou tomar um banho. — disse, se afastando um pouco.
— Oh sim. Sim, claro. Estarei aqui se precisar de mim. — respondeu o pai, e depois de alguns segundos se virou para ir para a cozinha.
Félix aproveitou e se virou também, caminhando rapidamente em direção às escadas, fechando a porta antes de começar a descer e alcançar a outra porta, entrando em seu quarto e trancando a porta.
Sua respiração estava um pouco difícil, mas estava tentando manter a calma enquanto se dirigia ao banheiro. Entrou no mesmo e começou a encher a banheira depois de colocar a tampa.
Havia permitido que qualquer um, como se fosse algum tipo de Deus, jogasse com a vida de uma pessoa. De seu sangue, sua família. Seu pai. Ele se desculpou e passou três anos no inferno por causa dele. Não importava que não fossem realmente três anos, no inferno realmente era, e doía. Doía. Quem era ele para decidir sobre a vida dos outros? Quem era ele para aceitar um pedido de desculpas de seu pai, quando era ele quem deveria se desculpar? Porque sim, Seungsu estava errado, mas tinha certeza de que algumas queimaduras em seu corpo não se comparavam a três anos no inferno.
Fechou a torneira quando a banheira estava cheia de água morna e apenas se livrou dos sapatos, entrando trêmulo e vestido com camiseta, calça, suspensório e meias na água. Enquanto seu corpo mergulhava, ele se enrolou em um canto da banheira e fechou os olhos, levando as mãos trêmulas ao peito. Estava tão nervoso, mas a água estava fazendo um bom trabalho e, aos poucos, seu corpo foi relaxando. Começou a respirar normalmente e molhou as mãos para passá-las pelo rosto, se refrescando. Ele estava tão desesperado para relaxar que entrou ali sem ao menos se despir? Droga, realmente devia estar no limite.
Um enjôo se instalou em seu estômago e seus olhos se arregalaram, mas não encontrou ninguém ali.
E o desconforto era diferente. Era como o desconforto que sentira com Hyunjin na primeira vez em que ele se apresentara: calafrios, medo profundo e um aperto no coração. Sua testa franziu.
— Jinnie?
Um silêncio ensurdecedor fez com que outro arrepio percorresse sua espinha enquanto uma leve pressão estava presente em seus ombros. Seu corpo ficou mole por não entender, e ele sentiu algo empurrando-o para baixo com força, mas lentamente. Agarrou-se com força às bordas da banheira, não conseguindo nem falar devido ao choque, mas foi como se aquela força sobrenatural percebesse que Félix se recusava a afundar, pois imediatamente a pressão em seus ombros aumentou e em um piscar de olhos, ele se foi. Se viu debaixo d'água, sua cabeça tocando o fundo da banheira, mas não com força suficiente para nocauteá-lo.
Bolhas saiam de seu nariz e gemidos abafados de sua boca, deixando escapar muito do ar que tentava conter. Suas mãos foram para os ombros, mas ele não sentiu nada segurando-o. Não havia nada. Ele tentou sair, sacudiu e chutou, mas não adiantou.
Quando estava prestes a desistir, um pensamento fugaz passou por sua mente e ele pegou o anel, puxando-o e deixando-o afundar na água. Segundos depois, a força desapareceu junto com o desconforto, apenas para outro desconforto reconhecível aparecer. Sentou-se na banheira e começou a tossir a água que havia engolido o mais forte que pôde, respirando fundo quando explodiu novamente em um ataque de nervos mudo.
— Félix? — o Diabo imediatamente se aproximou e o pegou pelo rosto, levantando-o e verificando se estava bem. — Félix, você está me ouvindo? Félix. — o chamou, notando como seu garoto favorito ainda parecia desesperado. Em uma exalação trêmula, um soluço lamentável e irregular escapou dele, e as lágrimas logo caíram de seus olhos. A entidade imediatamente envolveu seus braços ao redor dele, puxando-o para seu peito. — Eu te tenho. Estou aqui com você.
O menor agarrou-se ao marido com todas as suas forças, e este ergueu-o como pôde, não se importando em estragar o seu elegante guarda-roupa preto ao tomá-lo nos braços. Pegou uma toalha com uma das mãos e voltou para o quarto, estendendo a toalha na cama e depois deixando o corpo trêmulo e úmido de seu menino preferido, que continuava a chorar. Parou um pouco quando Hyunjin tirou sua roupa, começando a corar por ficar apenas de cueca. O arcanjo sentou-o novamente e pegou a toalha, puxando-o para mais perto e começando a enxugá-lo lenta e delicadamente, dando-lhe todo o cuidado que ele merecia, mas droga, era o Diabo.
Os dois ficaram em silêncio enquanto Hyunjin se agachava e enxugava os dedos dos pés de seu menino, que enxugava as lágrimas e começava a sentir frio. O Diabo começou a desabotoar a própria camisa, tirando-a e revelando aquele torso cheio de cicatrizes, tatuagens, símbolos e palavras irreconhecíveis diante dos olhos de Félix, que se sentiu protegido ao ser vestido com a peça. Hyunjin começou a abotoá-la e arregaçou as mangas para não ficar tão comprido.
— J-jinnie… — as mãos do Diabo foram para as coxas de seu garoto, e olhou para cima para vê-lo melhor da posição em que estava. — Algo me empurrou.
— Eu sei.
— Estou com tanto medo. — disse em voz baixa. — Eu senti que iria enlouquecer, era muita paranóia. Eu tinha muitas perguntas, mas mal conseguia respirar.
— Se acalme, eu já estou aqui. Já passou.
Félix começou a chorar novamente, sendo bastante alto.
— N-não vá embora de novo. — disse, deixando as lágrimas rolarem pelo rosto. Foi demais. Realmente demais.
Hyunjin o encarou por alguns segundos, e Félix queria saber o que o arcanjo estava pensando antes de receber um aceno de cabeça.
— Não irei. — disse antes de se levantar. — Deite-se, vou buscar o anel.
— Não, não. — começa a soluçar novamente, fechando os olhos com força e levando as mãos a uma das mãos da entidade. — Por favor. Jinnie...
— Está bem, está tudo bem, não vou sair. — Hyunjin se aproximou e passou os braços pela cintura do menino, fazendo-o se levantar. Suas pernas tremiam.
Tirou a toalha, colocando-a no chão, e abriu as cobertas, deitando Félix. O deixou lá e foi até o armário, procurando uma outra roupa íntima para o garoto. Tirou a que Félix estava usando e colocou a nova, puxando-a lentamente para cima de suas lindas pernas. Deixou-o mais confortável na cama e levantou a própria camiseta antes de encostar seus rostos e deixar beijos suaves e delicados no abdômen do menor. Hyunjin estava sendo muito doce, muito cuidadoso com ele uma vez que com o resto do mundo era cruel. Era o diabo.
O garoto tinha sorte?
Se acomodou de lado e puxou as cobertas sobre seus corpos. Félix rapidamente se aconchegou no peito da entidade e os dois entrelaçaram suas pernas. A temperatura do corpo do arcanjo era morna, e isso ajudava muito o menor a relaxar.
— Pode dormir, estou aqui, e não vou permitir que toquem no meu menino preferido.
— Não vai?
— Não, não vou. — levou a mão aos fios negros do jovem, acariciando-os.
Levou mais de meia hora para Félix pegar no sono, e Hyunjin...
Hyunjin estava planejando o apocalipse.
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