XIV ➵ Príncipe do Inferno
Dancing with the Devil | Hyunlix
COM O PASSAR dos dias, sem aviso prévio, Lee Félix viu-se submerso num terrível poço depressivo, de onde nunca encontrava a saída para conseguir estar devidamente livre.
Passava o tempo todo enrolado em sua cama, seu corpo se sentindo pesado em seu estado de espírito. Ele estava chorando mais do que o normal e sentia que todos, exceto ele, estavam se divertindo muito por causa da "nova personalidade" de seu pai. Ele, conhecendo a verdade, não suportou a culpa.
Seungsu estava no inferno, sua alma sendo torturada repetidamente. Talvez aquele lugar não fosse como ele, na verdade, imaginou que não, mas poderia ser parecido, e isso o angustiava. Sabia que o homem merecia, até disse isso a ele, mas talvez... talvez ele só estivesse com muita raiva...?
Acima de tudo: como poderia expressar a Hyunjin que era ele quem estava sobrecarregado com a situação? Sabia que o arcanjo iria ouvi-lo, mas não fazia ideia de por onde começar.
Seu primo, seus colegas de classe, seu pai e... seu pai, de novo.
Por outro lado, o Diabo não compreendia a tristeza humana, por isso assimilou coisas que não existiam, por isso a decisão que tomou não foi totalmente sensata.
— Vou retirar-me por alguns dias. — disse, do final da cama do jovem, que imediatamente se virou, sentando-se rapidamente na cama enquanto retirava as mantas que o cobriam.
— O que? — balançou a cabeça lentamente, confuso. — Por que?
Hyunjin não queria mais isso com ele? Estava cansado de vê-lo naquele estado? Ficou entediado? Era a única coisa na mente do humano.
— Não estou vendo progresso em sua saúde, e minha presença torna isso pior. — caminhou para o lado da cama de seu menino favorito e sentou-se na beirada, continuando a olhar em seus olhos. — Serão apenas alguns dias.
— Jinnie...
— Félix. — o Diabo interrompeu com firmeza. — Não permitirei que passe mais dias na cama. Você já viu seu reflexo? — o garoto negou lentamente. — Sua beleza permanece intacta, mas você está destruído, amor.
O menor aproximou-se do arcanjo, ajoelhado na cama, sentando-se sobre os calcanhares e na mesma medida.
— Não estou assim por você. Não é a sua presença. Se fosse, eu diria a você... nós concordamos, lembra?
Houve um breve silêncio onde os dois ficaram se olhando, como se tentassem se decifrar, e naquele momento Hyunjin percebeu.
Por que Félix assumiu toda a culpa pelas situações? Por que achava que sujava as mãos? A única coisa que havia nelas era delicadeza e suavidade. O que estava tentando provocar em si mesmo ao se punir dessa maneira? O arcanjo não entendia.
Levantou uma das mãos incrustadas de anéis, pegando cuidadosamente o queixo do outro.
— O que devo fazer para que você pare de se machucar? — Félix apenas o encarou, sem saber exatamente o que dizer. — Não consigo pensar como nenhum ser inferior, Félix. Eu também não tenho a sua mentalidade. Sou um destruidor, e a única coisa que me passa pela cabeça é matar todo mundo para mantê-lo seguro.
— Isso não está certo. — Félix respondeu imediatamente, franzindo a testa. — Jinnie, isso é exatamente o que eu não quero que você faça. Eu quero... — suspirou profundamente antes de levar as duas mãos ao rosto, saturado com as lembranças repentinas que abundavam em sua mente — … Quero voltar no tempo.
— Félix...
O nomeado soluçou silenciosamente, muito abalado com a situação, sentindo como os braços quentes do Diabo o envolveram, deixando-o no colo e aconchegando-o contra o peito. O batimento cardíaco do arcanjo estava acelerado, mas ele parecia calmo enquanto roçava os lábios finos nos fios de seu garoto favorito.
— Ouça-me. — Hyunjin falou depois de alguns segundos, quando os soluços de Félix pararam lentamente. — Você gosta de ficar sozinho?
— Não, mas nem acompanhado. — respondeu o jovem, com a voz entrecortada para depois fungar. — Só com você, e... — e de repente, parecia ter notado algo. — … E isso não está certo. — confessou, surpreendendo a si mesmo. Sem hesitar, olhou para cima, encontrando os preciosos olhos do arcanjo. — Jinnie, você gosta de estar comigo?
O Diabo engoliu.
— Gosto. — respondeu, sem hesitar, embora fosse difícil para ele expressar seus sentimentos.
— Ultimamente, tenho sentido que não saberia o que fazer sem você, e quero implorar que fique. — admitiu o menor, olhando para as próprias pernas, constrangido. — É só que... eu-eu não tenho ideia. Não sei o que fazer.
O silêncio reinou no quarto, e ambos permaneceram próximos, sentindo o calor um do outro.
— Acho que minha presença, não só pelo desconforto, mas porque não entendo merda nenhuma sobre conselhos ou como dá-los, não está conseguindo nada. — confessou Hyunjin. — Você deve...
— ... Devo?
Seus olhos se encontraram novamente, e Félix não pôde deixar de sorrir timidamente com a ternura que Hyunjin não sabia o que aconselhar. O último levantou um dos cantos dos lábios ao ver o sorriso de seu menino preferido.
— Sorrir com mais frequência.
O humano sentiu calor em suas bochechas coradas, fungando mais uma vez antes de assentir lentamente.
— E também passar um tempo sozinho. — confessou, mesmo que soasse brusco.
Acreditar que Hyunjin poderia usá-lo como e quando quisesse não era um bom começo. Tinha que tirar esse pensamento da cabeça, começando por passar um tempo consigo mesmo.
Félix assentiu apenas uma vez, estufando seu peito com orgulho.
— Este é o meu garoto preferido.
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— Você parece melhor do que há alguns dias atrás. — comentou Jisung, segurando o picolé na mão esquerda, observando com nojo a baunilha manchar seus dedos enquanto derretia.
— Bem... eu estive pensando em um monte de coisas. — Félix disse lentamente, sorrindo de volta para Christopher, que estava sentado ao lado de seu melhor amigo, antes de olhar para a mesa e traçar formas inexistentes com o dedo indicador
Os três amigos estavam em uma sorveteria, no centro da cidade, passando o tempo depois de um longo dia de aula. Christopher, que saiu por último da universidade, que ficava em frente ao estabelecimento para os mais novos, chegou ao local como se estivesse faminto, e comeu duas tigelas de sorvete de chocolate até ficar radiante como sempre.
Há uma semana, quando Hyunjin e Félix tiveram aquela conversa profunda, o Lee se encarregou de tocar música em seu vinil, abafando "Dominique", que tocava no volume máximo no andar de cima, e arrumou todo o quarto. Até mudou os móveis de lugar para poder tomar um banho depois e se sentir revigorado. Decidiu pedir dinheiro à mãe para comprar um pequeno caderno onde pudesse anotar seus pensamentos ou desenhar silhuetas até aprender a desenhar como um especialista.
Também voltou para a biblioteca onde encontrou o livro de invocação — que, aliás, ainda estava lá — e passou horas dentro daquela sala, lendo livros clássicos sobre romance juvenil e terror.
Tentou mudar sua rotina completamente, ignorando o demônio que possuía o corpo de seu pai, continuando o progresso onde tentou, com todas as suas forças, estabilizar sua saúde mental.
Ele estava tentando.
— Jura? — Jisung brincou, dando-lhe um sorriso carinhoso. — Bem, você quer nos contar?
— Eu só... — Félix deu de ombros, endireitando-se em seu assento, encarando seus amigos. — … Eu segui seu conselho.
— Eu sabia! Eu sabia que você faria isso!
— Que conselho? — Christopher perguntou, sem entender o contexto da conversa.
— Problemas com papais, Chan. Você não entenderia. — comentou Jisung, acenando com a mão e recebendo um leve empurrão no ombro, que fez com que o sorvete caísse sobre as pernas. — NÃO! FILHO DA MÃE!
— SINTO MUITO! — Christopher se levantou, parecendo desesperado. — EU NÃO QUERIA TE EMPURRAR TANTO!
— VÁ LAVAR ONDE O SOL NÃO BATE, IDIOTA!
Esta foi a primeira vez em semanas que Félix foi capaz de rir alto, até que seu estômago doeu e as lágrimas rolaram por seu rosto. Era a primeira vez em muitos dias que ele chorava, e não era de tristeza.
Tudo estava indo bem e não sentia mais tanto medo.
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Ao fechar a porta da frente de sua casa, permaneceu na entrada, paralisado ao perceber como o demônio que possuía o corpo de seu pai bebia de uma garrafa de álcool.
Era como se tudo tivesse desmoronado.
Andou em sua direção, sem medo daquele ser, sabendo que Hyunjin ordenou que ele tivesse total respeito pelo humano, e arrancou a garrafa de sua mão.
— O que você pensa que está fazendo? — murmurou, murmurando enquanto recebia um olhar perturbador do demônio. — Você não pode fazer isso na frente da minha família. Eu imploro, por favor, não faça isso de novo.
O servo de Hyunjin fez um gesto constrangedor antes de se jogar no chão, agarrando-se a uma das pernas de Félix.
— Por favor, não conte ao meu rei. Eu imploro, Félix.
— N-não... uh... você poderia...? — disse de maneira um tanto desconcertada. Não sabia como confortar demônios. — Relaxe, deixe-me ir. Não direi nada.
— Ah, obrigado, obrigado, obrigado. — beijou o joelho do menor, que estremeceu antes de se afastar. — Obrigado Félix.
— De nada. — disse, antes de entrar na cozinha.
Sua mãe e irmã mais velha não pareciam estar em casa. Muito provavelmente eles se encontrariam na igreja. Suspirou profundamente enquanto despejava o que restava do conteúdo da garrafa na pia, precisando apoiar as mãos no balcão à sua frente com a mudança repentina de humor.
⸸⸸
03/03/55
— Papai? — o menino de seis anos perguntou duvidoso enquanto espiava pelo batente da porta da cozinha, esfregando o olho esquerdo para tentar parar de sentir tanto sono.
Não. Não lhe foi permitido subir as escadas que conduziam ao primeiro andar, a mãe sempre lhe dizia, e ele obedeceu, mas os sons tristes no silêncio da madrugada obrigaram-no a engatinhar até chegar à sala. Ele acordou entre pesadelos graças a um choro inconsolável.
Do pai dele.
As luzes de sua casa estavam apagadas, mas as luzes fortes dos postes de rua iluminavam perfeitamente a cozinha, entrando pela janela. Sobre a mesa havia três garrafas, e apenas uma delas estava meio cheia. As outras duas estavam vazias. Seu pai, que parecia estar exausto e desconfortável em uma das cadeiras, bêbado, cobriu o rosto com a aparição do filho mais novo.
— ... Pai? — mais uma vez, Félix chamou o adulto, que se assustou, fazendo com que o garoto fizesse o mesmo.
Tentar cobrir seu rosto foi inútil, porque a criança notou as lágrimas em seu rosto, mas Seungsu as enxugou rapidamente, dando-lhe um sorriso fraco enquanto se endireitava desajeitadamente em seu assento.
Os enormes olhos castanhos de Félix, mesmo no escuro, revelavam confusão e pânico. O peito de Seungsu apertou com o aviso, então estendeu a mão, sinalizando para o pequenino se aproximar e que não haveria nada para machucá-lo.
O menino, sem hesitar, correu em direção ao pai, que o pegou nos braços até colocá-lo no colo. O nariz do menino enrugou com o cheiro irreconhecível, mas muito mais forte. No entanto, não hesitou em pegar a mão maior que a sua, olhando-o nos olhos com notável preocupação.
— Pai... o que há de errado? Está...? — rapidamente negou, franzindo a testa e trazendo a mão de seu pai para mais perto de seu próprio peito. — Você... ruim? Mal?
Apesar do estado em que o adulto se encontrava, não pôde deixar de sorrir um pouco com a ternura que seu filho emanava. Era um garoto muito adorável e uma boa pessoa, mesmo em uma idade tão jovem. Ele o abraçou, tentando não chorar, mas, mais uma vez, as lágrimas escorriam por seu rosto.
Fungou antes de afastar um pouco o filho, que o observava curioso, ainda preocupado. Percebendo novas lágrimas nas bochechas de seu pai, não pôde deixar de tentar enxugá-las desajeitadamente.
— Por que mal?
— Lix, me escute. — Seungsu falou lentamente no álcool, rouco, mas sabia o que estava dizendo. Engoliu em seco para aliviar o nó na garganta, olhando para baixo por alguns segundos antes de olhar para Félix, que esperava pacientemente. — Quero que você saiba que eu te amo.
O menino ergueu as duas sobrancelhas em surpresa enquanto balançava as pernas no ar.
— Eu te... amo... eu te amo mais. — tentou se corrigir.
— E que me desculpe, às vezes, por ser tão ruim. — continuou o adulto, parecendo envergonhado. — Papai geralmente não percebe o estrago que faz, mas eu amo você, e Jiyeon também.
Félix assentiu, parecendo pensativo.
— Entendo. — respondeu ele, duvidoso, mentindo. Mais uma vez, ele olhou nos olhos de seu pai, inclinando um pouco a cabeça. — Triste? — o homem assentiu. — Por que triste?
— Porque eu sou... — mais uma vez, negou, permanecendo em silêncio por alguns segundos. Não, ele não contaria seus problemas ao filho de seis anos. — … Humano. — completou. — Às vezes, todos nós sentimos um pouco tristes.
Seu filho fez beicinho, mantendo a testa franzida enquanto olhava para outro lugar, para a cozinha, pensativo, antes de voltar o olhar para o rosto de seu pai, parecendo repentinamente muito animado.
— Você sabe o que eu faço para me sentir... feliz? — Seungsu não pôde deixar de sorrir, balançando a cabeça. — Eu dou abraços. — disse ele, passando os bracinhos pelo tronco do pai, e encostando a bochecha no peito do outro. — E beijos. — levantou o rosto e, com a ajuda do pai, deixou um beijo na bochecha molhada. — E depois, a mamãe sempre diz "eu te amo, Lix".
O adulto ergueu as duas sobrancelhas, divertido com a solução do filho, retomando melhor sua posição apesar da embriaguez.
— É verdade? E funciona?
— … Eu não sei, papai. Funciona?
Seungsu não pôde deixar de rir, fazendo cócegas no abdômen de seu filho, que riu alto. Ele sempre teve muito cócegas.
— Eu te amo, Lix. Nunca mude, ok?
— Nunca mudar. Certo. — repetiu o que o homem havia dito, balançando a cabeça com firmeza. — O que você faz quando se sente mal?
— Bem... em momentos como este? — recebeu um aceno do menino. — Bebo água para limpar a barriga, e se sentir tontura vou dormir, mas sempre de lado.
— Por que?
— Porque às vezes quando nós adultos bebemos isso. — apontou para as garrafas na mesa. — Sentimo-nos feios e queremos vomitar.
— ... Oh. Oh não. Pobre mamãe. — Félix expressou sua preocupação, rapidamente balançando a cabeça. — Cuidado, papai. Não fique doente.
— Não estou doente, não se preocupe. Você deveria ir dormir.
— Mas você está bem?
— Eu estou perfeito. — Seungsu mentiu, balançando a cabeça. — Vem, vamos chamar sua mãe para te colocar na cama. — não se sentia estável o suficiente para carregar o filho escada abaixo, quando mal conseguia ficar de pé.
— Não, não. Quero ficar com você. Eu vou ficar com você, ok?
O adulto nunca resistiu ao olhar do seu pequeno, então assentiu, aconchegando-o melhor para fazê-lo dormir, acariciando-lhe as costas com delicadeza.
— Ok, mas não minta, e durma, hm?
Félix bocejou.
— Não vou mentir e vou dormir. — novamente, repetiu, fechando os olhos lentamente, seus longos cílios fazendo cócegas em sua pele. — Mesmo que eu queira brincar.
— Brincar? A essa hora? — recebeu uma afirmação sonolenta de seu filho. — Com quem? Campeão, todos na casa, exceto nós, estão dormindo.
— ... Com o homem que usa anéis.
A testa do adulto franziu com essa resposta.
— ... Quem?
Mas quando olhou para baixo, esperando uma explicação, seu filho já estava dormindo, então ficou com aquela dúvida pelo resto da manhã.
⸸⸸
Engoliu em seco, suspirando antes de abrir a torneira e lavar o rosto. Não sabia se devia se sentir mal porque aquele homem nunca mais voltaria, ou pela paz que abundava em sua casa. Lembrar desses momentos o saturou, o fez querer dormir por anos e...
Seus pensamentos foram interrompidos por uma reconhecível dor de estômago. Fechou a torneira e, sem sequer pensar, saiu correndo da cozinha, passando pela sala, até chegar à porta que o levaria ao seu quarto. Bateu a mesma atrás de si, descendo as escadas antes de abrir a porta do porão, parando na porta quando viu Hyunjin, que estava no meio do quarto, olhando em seus olhos.
Félix nem hesitou: avançou, ignorando, momentaneamente, a expressão melancólica no rosto do arcanjo, antes de tomá-lo pelo rosto, ficando na ponta dos pés e encontrando seus lábios com os do outro. Sentiu os braços quentes e fortes do Diabo envolvendo sua cintura, unindo seus corpos enquanto não parava de acariciar seus lábios bem devagar.
Foi a primeira vez que Félix beijou Hyunjin. Não percebeu o quanto sentia falta dele durante aqueles dias, até que seus olhos se encontraram. Deixando fluir seus sentimentos, passando os braços em volta do pescoço do arcanjo, abrindo mais a boca enquanto este procurava sua língua com a dele. Carícias quentes, tão quentes, que causaram um formigamento na barriga do humano, que suspirou profundamente pelo nariz.
Depois disso, os dois se afastaram um pouco, olhando-se, mais uma vez, com os olhos fixos. As pupilas de Hyunjin estavam um tanto dilatadas, mas continuava bonito, ainda mais quando ergueu um dos cantos de seus lábios finos, dando-lhe um sorriso sedutor.
— Você parece melhor. — murmurou, trazendo uma de suas mãos cobertas de anéis de ouro em seus dedos até o queixo de Félix, pegando-o gentilmente, e movendo-o de um lado para o outro lentamente, como se estivesse inspecionando se tudo estava em ordem. — Radiante.
"É porque você está aqui"
Félix pensou, mas apenas sorriu timidamente, corando, antes de fechar os olhos quando Hyunjin se aproximou, beijando-lhe os lábios profundamente.
O beijo ficou molhado, um pouco ruidoso com o estalo suave de seus lábios. Félix recuou um pouco, seus olhos se arregalaram quando Hyunjin começou a desabotoar sua camisa branca, deslizando-a suavemente. Não estava usando seus típicos suspensórios pretos, estava frio, então estava usando calças compridas marfim e sapatos pretos.
Mais uma vez, o humano fechou os olhos assim que sentiu a língua quente do Diabo lamber a pele de seu pescoço, lenta e primorosamente. Suas mãos, que voltaram aos ombros do mais alto, agarraram-se à camisa preta assim que estremeceu, sentindo os lábios do arcanjo se curvarem sobre sua pele. Orgulhava-se de que, apesar da timidez, seu menino predileto fosse, aos poucos, mais expansivo. Ele poderia tocá-lo sem pedir, nem poderia esperar que ele lhe contasse.
As mãos de Hyunjin acariciavam a pele macia e pálida da cintura do outro, sem parar os beijos lentos que dava sob a orelha de seu garoto preferido, que se apegava ainda mais ao ser que amava.
Ele queria amá-lo. Na verdade, ele já o fez, e foi um sentimento inexplicável... ainda mais incompreensível de expressar do que as palavras que Hyunjin às vezes costumava sussurrar para acalmá-lo.
Muito provavelmente era a saudade de se abraçar, mas em poucos minutos, as roupas estavam no chão, e Félix estava sendo pressionado contra o colchão de sua cama, o corpo de Hyunjin em cima dele, beijando-o ardentemente, impiedosamente, causando suaves gemidos quase inaudíveis que escaparam de sua boca, contra os lábios do arcanjo.
Félix não o tocava, apenas mantinha os braços ao lado do corpo, que se contorcia sob o corpo quente que o pressionava contra o edredom. O arcanjo abandonou os lábios alheios e avermelhados do menor, começando a beijar seu queixo, descendo pelo pescoço, e clavículas, até chegar ao seu tronco. Chupou cuidadosamente o mamilo direito, notando como Félix arqueava as costas, levando as mãos aos bíceps de Hyunjin, precisando se segurar em algo... nele.
O Diabo continuou com o passeio de beijos, entretendo-se um pouco no ventre de seu menino predileto, sem tirar a cueca, mas descendo mais um pouco para deixar beijos suaves em cima da roupa, exalando ar quente quando ouviu a forte inalação de Félix, que fez com que o calor naquela sala se intensificasse.
Alcançou a parte interna das coxas e, mais uma vez, exalou calor contra a pele, sentindo o jovem se mexer um pouco, desejando ainda mais. Lambeu a pele macia, roçando os lábios contra ela antes de puxar cuidadosamente a cueca do Lee para baixo de suas coxas, deixando-o nu embaixo dele.
— Jinnie... — Félix mordeu o lábio inferior. Não queria dizer nada exatamente, ele apenas queria mais. Sempre iria querer mais de Hyunjin, mesmo que sua mente pensasse que o que quer que Hyunjin fizesse, ele se contentaria.
— O que você deseja? — o arcanjo subiu no corpo do humano, tocando seu nariz com o do outro quando seus rostos se encararam. — Diga-me o que você quer... — uma de suas mãos, coberta de anéis de ouro, que ardia mas instantaneamente se apagou, como cera de vela caindo na ponta de um dedo, envolveu o pescoço de Félix, apertando só um pouquinho, e fazendo carícias com os dedos nas marcas que deixou com seus próprios lábios — … E eu darei a você.
Ele estava envergonhado. Não podia fazer isso, porque sentia que era demais. Ele realmente merecia o que passou pela sua cabeça? Félix lambeu os lábios, exalando asperamente quando Hyunjin lambeu seu queixo lentamente, estocando seus quadris, causando uma fricção deliciosa entre seus membros.
— Diga... como se você tivesse o poder. — continuou o Diabo, com sua voz rouca, levantando o rosto novamente, para olhar fixamente nos preciosos olhos castanhos. — Finja... até perceber que realmente o tem.
Essas palavras provocaram uma imensa sensação de poder no peito do garoto de cabelos negros, que suspirou profundamente, e tentou não hesitar.
— Eu quero... tudo. — murmurou, notando que os olhos do Diabo ficaram da cor do sangue.
Seu peito inchou orgulhosamente, lentamente soltando o pescoço de Félix, que pegou a mão de Hyunjin antes de afastá-la completamente.
— Estou com uma imagem na cabeça há dias... — Hyunjin disse, endireitando-se, apenas apoiando-se na cama com os joelhos, que estavam nas laterais do corpo de seu menino favorito. Seu membro à vista antes de sua nudez, sendo segurado por uma de suas mãos. Félix apreciou as belas e incompreensíveis tatuagens que desciam pelos braços do Diabo, como cicatrizes, dignas de serem apreciadas como qualquer obra de arte. — Você quer tudo isso? — aproximou-se um pouco, roçando a glande no lábio inferior do menor, que baixou o olhar, fechando os olhos e, instintivamente, abrindo um pouco os lábios. — Eu quero foder sua boca.
— Sim...
Félix exalou calmamente, abrindo ainda mais a boca quando o arcanjo enfiou seu membro na mesma, com o arcanjo exalando trêmulo ao sentir a umidade da língua do humano nublar seus sentidos de prazer. Sabia que era inexperiente, então teve muito cuidado no balanço lento que começou.
Admirou como a testa de Félix franziu, e sua boca se adaptou à forma de seu comprimento. Sua pele estremeceu ao ouvir sons suaves, agudos e abafados vindos da garganta do jovem, que, de vez em quando, arqueava as costas e fechava as pernas, tentando, de alguma forma, estimular-se...
— Isso é... olhe nos meus olhos. — com aquele sussurro rouco, Félix obedientemente os abriu, piscando lentamente, e olhando para os olhos daquele ser, que o observava como se quisesse devorá-lo completamente.
Aos poucos, Hyunjin aprofundou suas estocadas lentas, analisando as expressões de seu garoto favorito, que, aos poucos, foi baixando a mão pelo tronco, tocando-se. Isso o fez sorrir de forma sedutora.
Félix respirou com a boca enquanto o Diabo puxava seu membro para longe, admirando os lábios avermelhados, incapaz de evitar de se inclinar para devorá-los. Ele os lambeu, mordeu delicadamente e os deixou ainda mais molhados. Sentia como as mãos delicadas do jovem o atraíam ainda mais para seu corpo, até que seus torsos nus se uniram novamente.
— Merda... — Hyunjin segurou sua cintura, aplicando uma leve pressão enquanto se acomodava entre as pernas de Félix. — … Você é tão gostoso.
— Eu sou? — o jovem engasgou, permitindo que o arcanjo o deixasse mais confortável, sufocando um gemido ao sentir o pênis de Hyunjin contra sua entrada. — Eu sou... bom para você?
— Você é.
Hyunjin acreditava que sexualmente ou não, Félix era o melhor. E acreditaria nisso para sempre.
Os dois se olharam nos olhos, e tudo porque Félix já havia se acostumado com o Diabo dizendo isso a ele. Dessa forma, não haveria dor alguma.
Sentiu uma onda de calor e prazer percorrer todo o seu corpo quando o membro de Hyunjin entrou dentro de si. Mais uma vez, arqueou as costas, curvando os dedinhos dos pés, invadido pela sensação deliciosa e inexplicável que corria por suas veias, percorrendo lentamente todo o seu corpo.
— U-uhm... — o jovem mordeu o lábio inferior com força, tentando não gemer alto. Sua família estava no andar de cima e eles precisavam tomar muito cuidado, embora Hyunjin não gostasse de ver seu menino preferido calado.
Se dependesse dele, o faria gemer tão alto que até Seungsu, que estava gritando como um covarde no inferno, iria ouvi-lo.
Os movimentos começaram devagar, delirantes, enquanto se beijavam apaixonadamente, e exploravam cada parte do corpo um do outro com as mãos. Félix passou a ponta dos dedos pelos braços fortes do Diabo, que passou a mão para cima e para baixo nas coxas macias e macias de seu menino. Suas bocas nunca se separaram, suas línguas continuaram a fornecer uma à outra carícias lentas e seus corações, misteriosamente sincronizados, batiam em conjunto.
Félix não parava de gemer entrecortado nos lábios de seu amante, levantando os pés, até bater os calcanhares na parte inferior das costas, com as pernas envolvendo o quadril do outro. Embora as investidas fossem lentas, aos poucos foram ficando mais aceleradas e fortes.
— M-mais... — pediu entre suspiros baixos, suspirando profundamente enquanto a glande de Hyunjin roçava mais e mais em dia próstata. Logo, se viu delirando de prazer. — Mhm.
O arcanjo aumentou a velocidade, obedecendo às ordens, como nunca fez com nenhum ser no universo, apertando um pouco mais as coxas do humano, e separando-as para poder entrar com mais facilidade. Aproximou os lábios da orelha de seu garoto predileto, e chupou, sentindo-o se contorcer enquanto, pelo canto do olho, percebia como ele levava uma das mãos à própria boca, tentando abafar seus sons.
— Você tem sido tão bom, Félix... meu Félix. — lambeu onde beijou, e empurrou mais fundo no mencionado anteriormente. — Meu menino favorito...
Minutos depois, quando Félix estava perto do orgasmo, abriu os olhos confusos, sem nem ter tempo de perguntar o que havia feito de errado, antes de ser agarrado pela cintura, e virado, até perceber que estava em cima do corpo do Diabo.
— J-jinnie?
— ... Isso mesmo. — o Diabo sussurrou quando o humano estava sentado em seu membro, descansando as mãos no peito daquele que o segurava. As mãos do arcanjo apertaram com mais força a cintura de Félix, que exalava o ar quente de seus lábios avermelhados. Hyunjin admirou suas maçãs do rosto coradas, corpo suado e cabelo desgrenhado. Um tesouro, isso sim. — Seja um bom menino e continue, hm?
Não mentiria. Ele hesitou, mas não porque não gostasse da ideia, mas porque tinha medo de fazer errado.
— Se não estiver confortável, faremos o que você quiser. — Hyunjin murmurou antes de beijá-lo, como se tivesse lido sua mente.
Respirou fundo, erguendo uma das mãos que segurava os ombros do arcanjo até seu cabelo, puxando seus fios úmidos e curtos para trás. Sem parar o movimento lento do beijo profundo, começou a mover seus quadris em círculos, sentindo as pontas dos longos dedos do Diabo pressionando em sua pele, e ouvindo-o quase rosnar contra sua boca.
Eles se afastaram um pouco, olhando um para o outro, mas Félix não pôde deixar de fechar os olhos enquanto, segurando-se nos ombros do outro, lentamente subia e descia seu traseiro, penetrando-se. Era a primeira vez que o fazia, e sentiu que, a princípio, foi um pouco desajeitado, mas as mãos cheias de anéis de ouro, que o seguravam pela cintura, guiavam-no pacientemente. O prazer foi avassalador, mas, para o inferno, era como se tivesse aumentado de uma forma inexplicável.
Seus corpos estavam quentes e cobertos por uma leve camada de suor. Félix aumentou seus movimentos, envolvendo os braços no pescoço do Diabo, que estava sentado, ajudando seu menino favorito a se impulsionar, enquanto apertava suas nádegas e devorava seus lábios.
— E-eu vou... — deixou os lábios entreabertos, fechando os olhos com força ao sentir Hyunjin beijar seu pescoço suavemente, ajudando-o a descer mais rápido em seu próprio membro.
Mais três vezes foi o suficiente para o orgasmo invadi-lo, fluindo por todo o seu corpo, enrolando os dedos dos pés e abafando seu gemido agudo contra o ombro do arcanjo, que, segundos depois, enquanto Félix se contorcia sobre si mesmo, gozou dentro do garoto.
Ambos estavam um tanto agitados, tentando se recuperar do orgasmo, sem parar de se acariciar. Hyunjin respirou fundo antes de envolver um braço em volta da cintura do humano, caindo de costas na cama, com Félix em cima dele, descansando em seu peito, sua bochecha quente em um dos ombros de Hyunjin.
Ficaram assim longos minutos, na escuridão do quarto, dando-se suaves carícias naquele abraço, e com os olhares fixos num ponto fixo. O Diabo mimava seu garoto favorito, acariciando seus fios negros com curiosidade inocente, mas mesmo naquela ação doce e protetora, Félix sentiu uma sensação estranha enquanto acariciava gentilmente a mandíbula tensa de Hyunjin.
— Eu quero matar... — hesitou... mas por que? Normalmente, ele era decidido com tudo à sua volta. Engoliu em seco, segurando o humano mais perto de seu corpo. — Eu quero matar qualquer ser menor que coloque a mão em você. — expressou, sua mente vagando com memórias prejudiciais, e lágrimas silenciosas escorrendo pelas bochechas macias de Félix, quando seu pai tentou machucá-lo.
Félix permaneceu em silêncio, afinal, o que ele deveria dizer?
Seu pai... Lee Seungsu. Um adulto com uma infância terrível, que sempre que tinha oportunidade fugia do pai, um espancador, sem poder correr para os braços da mãe, que não estava presente. Ele aprendeu coisas que não deveria, influências na educação e manteve um círculo de pessoas, que lhe disseram que estava tudo bem. Que era até algo normal, e que deveria tomar isso como um exemplo de homem de verdade.
Encheram-lhe a cabeça, tanto de maus tratos como de religião quando o irmão mais velho adoeceu, e esses pensamentos, que nunca lhe saíam da cabeça, incutiu nos dois filhos.
Apesar dos golpes, cicatrizes que Félix recebia quando não obedecia, acessos de loucura, autoridade em Jiyeon porque "você é mulher, e Deus te criou para obedecer ao seu superior", sempre cuidou deles. Quando Minah, no meio de uma bronca, disse a Félix que nunca lhe faltara nada, ela estava certa. Sempre perguntava se ele havia comido, se precisava de carona para as aulas e até permitia que ouvisse seus dois artistas favoritos na vitrola, quando Dominique não tocava repetidamente. No entanto, esta era a desculpa?
Por que os detalhes pesavam mais sobre ele do que os problemas reais? A realidade.
Ele se sentia uma pessoa má.
Não parou de desculpar todo comportamento errado de seu pai. Todas as vezes que insistiu, dizendo a sua irmã mais velha e a si mesmo que era educado e respeitoso bater neles se Seungsu não achasse que algo estava certo. E os hematomas no lindo rosto de Minah? O ciúme de seus próprios filhos quando bajulavam sua esposa ou passavam muito tempo com ela. Por que Félix teve que viver com eventos traumáticos? Como quando o pai tentou queimá-lo com o cigarro, puxou os cabelos para o primeiro andar, e tudo isso depois de bater na própria esposa.
O que teria acontecido se não tivesse contatado Hyunjin? Se Seungsu não tivesse tido um ataque cardíaco...
Em primeiro lugar na mente de Félix, porém: por que Seungsu arruinou sua única chance de fazer as pazes com o próprio filho? Ele o fez confiar em seu pedido de desculpas, que ele mudaria, e então cobriu sua boca, colocou um crucifixo em sua mente, e...
— O que está passando pela sua cabeça? — Hyunjin interrompeu seus pensamentos, e o garoto não pôde deixar de esconder o rosto em seu pescoço, como se estivesse tentando se proteger de sua própria mente.
Félix foi criado da mesma forma que seu pai, e não conseguiu matar um único mosquito. Nunca poderia causar dano intencional a alguém.
Os pensamentos eram tão imensos que sequer conseguia ordená-los direito, mas ainda não estava pronto para tomar uma decisão. Não podia. Mesmo que todos parecessem muito mais felizes — menos ele, que sabia de toda a mentira — que era algo, na verdade, muito injusto.
Era tudo uma farsa.
Não pôde deixar de soltar um soluço seco na pele quente do pescoço do outro.
— Eu não quero ser tirado de você. — murmurou, de repente tremendo de choque.
Hyunjin sentiu uma espécie de rosnado crescer em seu peito, mas o engoliu, tentando não deixar as coisas no quarto de Félix começarem a desmoronar em sua raiva. Apertou ainda mais seu menino favorito contra seu corpo e roçou os lábios com os fios desgrenhados dele.
— Ninguém vai tirar você de mim... — murmurou, tentando trazer calma, sorte que o quarto estava escuro, e seus olhos, que eram completamente negros, não eram visíveis. — Ninguém ousará.
⸸⸸
Naquele dia, algo muito estranho aconteceu.
Faltava apenas uma hora para poder deixar o instituto, e enquanto esperava a próxima aula com Jisung, dentro do refeitório do estabelecimento...
... Ele pensou em ir embora.
Não muito longe. Ele só... não queria ficar lá.
Ambos estavam cansados, tanto de admirar o céu coberto de nuvens, quanto de vestir o uniforme daquele lugar. Ninguém falava, apenas, de vez em quando, se olhavam de soslaio, como se não soubessem exatamente o que fazer.
— Estou mais entediado do que a personalidade de Chan. — disse Jisung, levando as mãos ao próprio rosto e suspirando alto.
Félix quis rir da piada do amigo, mas só conseguiu sorrir, parecendo exausto, um tanto ansioso enquanto olhava ao redor. Os poucos alunos que comiam em mesas distantes pareciam iguais, embora um pouco mais divertidos.
— O que você vai fazer no Natal? — Félix perguntou, apoiando um dos braços na mesa e o queixo na palma da mão.
Jisung tirou as mãos do rosto, olhando-o com uma expressão mal-humorada.
— Correr para a igreja e pedir ao padre Changmin que me dê o direito de constituir uma família com a filha dele. — disse ele, de maneira séria.
A testa do moreno franziu.
— Você se apaixona tão rápido assim?
— Você se apaixona tão devagar assim? — seu melhor amigo contra-atacou, inclinando-se um pouco sobre a mesa.
"Claro que não"
— Por que você está tentando começar uma briga? — Félix perguntou calmamente, piscando lentamente enquanto tentava não sorrir ao perceber como o jovem à sua frente, mais uma vez, suspirou alto.
— Porque estou entediado, e cheio de raiva. — um aluno que passava pelos dois amigos parou ao ouvir isso, sorrindo para o menino de olhos azuis, que parecia que ia cometer um homicídio. — E você? Do que você está rindo, idiota?
— Do seu rosto.
Foi instantâneo: Jisung se levantou de seu assento, assim como o outro garoto começou a correr como se sua vida dependesse disso, rindo alto enquanto era expulso do refeitório.
Félix, que os seguia com os olhos, discretamente olhou em volta e calmamente se levantou de sua cadeira e caminhou até estar fora do refeitório.
Durante o longo corredor, escorregadio e muito bem cuidado, acenou com a cabeça para um de seus professores e continuou como se não houvesse saído do instituto.
A brisa do inverno arrepiou sua pele, mesmo sobre seu uniforme quente, mas isso não o impediu. Em apenas alguns minutos, que permaneceu admirando o céu caótico, e os locais de sua cidade, que conhecia mais que a palma da mão, acabou sentado em um banco do Central Park, onde ele e Jisung, ex-presidente do Halloween, distribuiam aqueles folhetos "anti-culto".
O desconforto no estômago não demorou a aparecer, assim como o próprio Diabo, que estava sentado ao seu lado. Talvez fosse pelo cansaço, mas não pôde deixar de apoiar a cabeça em um dos ombros de Hyunjin, que mantinha os olhos fixos à frente, como se estivesse analisando o local.
Normalmente, de manhã, Seul parecia deserta, e ainda mais no inverno. A maior parte da população tinha filhos pequenos, para se proteger de uma possível gripe.
— Você é rebelde. — o arcanjo comentou, erguendo as duas sobrancelhas. Félix olhou para suas próprias mãos, balançando a cabeça lentamente enquanto sentia suas bochechas queimarem. — Sim, você é sexy.
— Jinnie...
— Tão sedutor.
O menor não pôde deixar de rir, levantando o rosto para o Diabo no final, que o encarou nos olhos, antes de inclinar o rosto, deixando um casto, mas suave beijo na boca do outro. Por puro instinto, Félix olhou em volta, paranóico, mesmo que não houvesse ninguém ali.
E por um momento, se sentiu livre.
— Posso te perguntar uma coisa? — Félix sussurrou.
— Vá em frente.
— Por que tocar em objetos abençoados não afeta você, mas me afeta? Quando meu pai rezou e colocou o crucifixo na minha testa... — abaixou o olhar, balançando a cabeça lentamente. — … Eu juro que senti como se meu corpo estivesse pegando fogo por dentro. — os braços de Hyunjin ficaram tensos com a memória de seu menino favorito tremendo de dor contra seu corpo. — Mas você foi forte o suficiente para afastá-lo de mim.
A testa do arcanjo franziu na última frase.
— Você não me deu tempo para despedaçá-lo, se é isso que quer dizer.
Agora era Félix quem estava confuso. Claro que não estava se referindo a tal coisa.
O Diabo lambeu os lábios antes de falar:
— As pessoas pensam que podem me matar com apenas um "pai nosso" enquanto borrifam água benta. Não há necessidade de mencionar que eles estão errados, certo? — o jovem negou. — Eles podem te machucar, porque você é humano, e não é da sua natureza ser mau, você nem veio do inferno. É como quando você não tirava aquele pedaço de merda do pescoço no começo de tudo, eu era visível, passava dias com você e você começava a morrer rápido. Você não estava acostumado com o mal puro, mas agora isso mudou.
— Agora eu sou mau?
— Sim, mas não é seu. Você continua puro. — Hyunjin terminou de explicar.
Félix suspirou, fechando os olhos e descansando a bochecha no peito do Diabo. Os dois ficaram assim, calados, curtindo um momento que, muito provavelmente, nunca mais teriam.
— Jinnie...
— Mh.
— ... Quanto tempo você pretende ficar assim, comigo? — a curiosidade o atormentava. O Diabo já estava com ele há algum tempo, como se fosse sua sombra.
Hyunjin olhou para baixo quando Félix se afastou um pouco, de repente sem saber o que dizer.
— Um longo tempo. — respondeu o arcanjo.
— Longo? Uhm. — Félix torceu o nariz, incapaz de deixar de sorrir um pouco. — Dez anos? Vinte?
— Mais.
— Cinquenta?
— Não. Mais.
O humano não pôde deixar de rir adoravelmente, ainda mais corado.
— Milhares? — brincou.
— ... Mais.
Félix estava tão apaixonado e tornou-se impossível consertar. Cobriu o rosto, envergonhado, sentindo o braço de Hyunjin envolver seus ombros minúsculos até que ele estivesse perto novamente, para que pudesse roubar um beijo suave e lento.
"Diga, diga, diga. Você vai se arrepender se não o fizer"
Se afastou dos lábios do Diabo, olhando para qualquer lugar menos em seus olhos.
— Nós deveríamos...? — não terminou de formular aquela pergunta, porque sua voz tremeu.
— O que?
Félix parecia estar tendo um colapso interno, gaguejando e mudando de posição enquanto a brisa do inverno bagunçava seu cabelo.
— B-bem... se vamos... uhm... ficar juntos por muito tempo, você e eu... quero dizer... — respirou fundo antes de engolir em seco — ... Nós deveríamos... eu não sei. — encolheu os ombros, olhando para seus sapatos. — Ser namorados. — terminou em um sussurro que mal foi ouvido.
O silêncio reinou por alguns longos segundos, o único audível era o vento soprando nas folhas das enormes árvores do parque e a passagem de veículos ao longe.
— ... Um casal?
— … S-sim. — o jovem afirmou duvidosamente. — Seria bonito. Seria como... seríamos um casal.
Hyunjin apenas piscou devagar, olhando para ele, admirando o belo rosto de seu menino preferido, que permanecia com uma expressão séria, ainda olhando para o chão, com os olhos movendo-se de um lado para o outro. Certamente estava pensando em suas óbvias inseguranças.
O arcanjo olhou para a frente, com o queixo erguido.
— Namorados. — repetiu ele, sem nenhum tipo de emoção nas palavras.
— Não é isso... — Félix respirou fundo antes de deixar escapar, frustrado consigo mesmo por não ser capaz de se expressar melhor, — ... Tudo bem se isso não faz você se sentir confortável, não é como se tivesse que... foi apenas um comentário. Na verdade, sou 100% a favor de continuar do jeito que nós... — mais uma vez, sua mente permaneceu em branco. — Como eu poderia explicar isso? Eu só sugeri, porque seria legal, mas tudo ainda é legal para mim, é qu-...
— Por que você não se casa comigo?
Olhou para cima imediatamente ao ouvir o que acreditava ter ouvido. Aquele zumbido no ouvido esquerdo, com o qual conviveu por longos meses, desapareceu, para que pudesse ouvir com clareza, mas e se Hyunjin quisesse dizer outra coisa? E se, na verdade, não foi isso que ele ouviu? Suas mãos tremiam e seu coração batia descontroladamente quando o arcanjo voltou seu olhar para o outro.
— ... O que?
Hyunjin abaixou o braço que estava nos ombros do garoto, ajustando-se melhor, ainda sentado, mas encarando o humano face a face. A expressão em seus lindos olhos azuis claros, onde um deles mostrava escuridão com um pedaço bordô, expressava mais do que Félix havia tentado antes, e o deixou sem fôlego.
— Lee Félix. Hoje, 13 de novembro de 1967... — lentamente, tirou um de seus anéis de ouro, especificamente, o do dedo mindinho. Parecia a coroa de um rei, pontiaguda, brilhante e perfeita para ele — ... Eu declaro você, na presença de qualquer humano, anjo ou demônio... o príncipe do inferno. — continuou claramente, estendendo a mão em direção ao menor, a pegando imediatamente.
Ambos se olharam enquanto o Diabo colocava o anel no dedo anelar fino de seu menino favorito. A princípio ficou um pouco largo nele, mas aos poucos pareceu se ajustar ao seu tamanho. Sentiu uma dor leve, quase imperceptível, como se tivesse cravado em sua pele, mas Félix a ignorou, ainda chocado demais para perceber qualquer coisa além dessa situação imprevista.
— Se o anel te serve é porque você aceita. — seus olhos castanhos viajaram até os do arcanjo, que mantinha um sorriso caloroso e sedutor, levantando um dos cantos de seus lábios finos. — Você será meu para sempre, e eu serei seu. Ninguém se atreverá a tocá-lo, a menosprezá-lo em minha presença, e aquele poder que uma vez fiz você fingir, mesmo que você já o carregasse com você... se intensificará. Assim será de agora em diante... até os séculos dos séculos.
Mais uma vez, houve um breve silêncio, onde Félix estava tentando... bem, ele não conseguia nem acreditar que tal coisa estava acontecendo. Foi pego pelas bochechas, sentindo o calor nas palmas do outro, relaxando um pouco com isso, e sentindo seus olhos lacrimejarem um pouco.
— S-sério?
Hyunjin assentiu, acariciando com os polegares a pele macia de seu, agora, marido.
— Genuinamente, príncipe... meu príncipe.
Félix não se preocupou em olhar em volta. A felicidade era muito intensa, o que o fez quase se jogar no corpo do outro, que o apertou contra si, e começou um beijo lento e profundo.
Ninguém os notaria, e até, talvez, não lhe dariam a importância que mereciam. Mas não se importavam com isso.
E ninguém, jamais, nesta e em outras vidas, os separaria.
Namorandos?
Não!
Casados!
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