XII ➵ Confissões da Meia Noite
Dancing with the Devil | Hyunlix
CERCA DE trinta anos atrás, as pessoas assustavam seus filhos com o famoso Song Jintao. De acordo com todos os habitantes da cidade, o homem costumava ser um bruxo que vivia nos arredores de Seul.
Ele começou a ser um servo fiel do rei próprio Diabo assim que algumas crianças malvadas saíram de sua casa, jogando pedras pesadas na direção de sua janela.
Houve momentos em que se machucou, tentando sair pela porta da frente e implorando às crianças que o deixassem ter pelo menos uma noite de paz. Além disso, estava de luto pela morte de sua amada, e aquele lugar era o único que o lembrava da vida maravilhosa que tinha ao seu lado.
Determinado e cego pela dor da morte de sua amada, Jintao não hesitou em invocar demônios superiores, vendendo sua alma ao seu líder para protegê-lo daquelas crianças.
Claro, no momento em que esses seres sobrenaturais apareceram, ele percebeu que não estava lidando com meros seguidores de Satanás.
Era uma magia muito mais antiga, e esperava que o grimório permanecesse escondido em sua casa.
No último dia em que as crianças do povoado resolveram atirar pedras em suas janelas, não só foram incomodadas por todas aquelas entidades de forma dolorosa e humilhante, como também decidiram puni-las matando-as de forma lenta.
Quebraram os dedos de cada um, fizeram-os sentir cristais afiados na espetando seus pés, e o famoso músico do inferno, Giusepe Tartini, apareceu no meio daquele lugar, sem nenhum convite.
Acomodou o violino no braço, queixo erguido, preparando-se com um suspiro profundo, mas rouco, antes de tocar a corda mais aguda e irritante do violino. Aquele som desencadeou explosão após explosão, e os corpos das crianças — agora sem cabeça — caíram na grama em uma grande poça de sangue.
Song Jintao compareceu a um pequeno julgamento, onde decidiram, para o bem da cidade, executá-lo. Foi enforcado na sala de sua casa, e suas últimas palavras foram: "Eis que morrendo injustamente, como todo mundo morre. Não culpo aquelas crianças. Percebo agora, em minha frente, os monstros que foram refletidos".
A infância de Félix foi baseada em piadas sobre aquele cara, e mesmo nas poucas vezes que chegou à periferia da cidade com sua família, ele chorou, clamando para voltar são e salvo para casa. Não conseguia sequer pensar em sua morte, ou alguém cercado por demônios.
Irônico, porque era apaixonado pelo próprio Diabo e, naquela época, a morte de outra pessoa, para ele, era algo com o qual teria que lidar graças aos seus pecados.
A casa de Song Jintao era enorme, mas velha, como relíquias. Félix tinha quase certeza de que as teias de aranha nos cantos daquela sala eram reais, mas as decorações de Halloween ajudavam a escondê-las, e a multidão de pessoas parecia muito distraída, dançando ao som do rock.
"Jailhouse Rock" de Elvis Presley estava tocando em todo lugar, graças à jukebox de vinil. Havia um mini-bar do outro lado da sala e estava cheio de gente. A luz da sala estava apagada, mas as velas do enorme candelabro pendurado no teto estavam fracamente acesas.
Enquanto Félix, Jisung e Christopher entravam, o Lee notou de longe pessoas sentadas no chão da pequena cozinha, formando um círculo, e deixando uma tábua com detalhes estranhos no meio. Se fosse há muito tempo, morreria de medo, mas não era mais assim.
Bem, não completamente.
Christopher assistiu com um leve sorriso enquanto Jisung puxava o lençol de cima de si, olhando indignado para as roupas aterrorizantes das pessoas ao seu redor. Como não percebeu que ele e seu melhor amigo pareciam ridículos?! Olhou imediatamente para o menor, que ainda estava coberto com o lençol, e parecia balançar a cabeça ao som da música.
— Oh merda. — Jisung xingou sobre a música. — Você pode repetir o que eu disse sobre nossas fantasias? Quando estávamos no posto de gasolina.
Félix encarou o rosto do outro por alguns segundos, parecendo perdido com a forma neutra como Jisung falava com ele.
— Você disse "nós parecemos tão assustadores, Félix". — imitou a voz do menino, até mesmo sua excitação.
— E? Você esperava que eu lhe dissesse o que fazer? Por que você não bateu na minha cara?
Christopher riu, balançando a cabeça e colocando as mãos nos ombros dos rapazes, fazendo-os andar.
— Vamos beber alguma coisa e nos acalmar um pouco. — disse ele, encaminhando-os para o mini-bar que, embora estivesse cheio, os bartenders serviam rapidamente.
Félix puxou o lençol de cima de si, amarrando-o no pescoço, parecendo como se tivesse se vestido como um super-herói perturbador. Jisung a jogou no chão assim que entraram na sala, seu cabelo estando um tanto despenteado, seus olhos azuis brilhando na tinta preta ao redor deles.
— Jisung. — Christopher gritou para o menino, acenando em direção ao bar, deixando o jovem saber que estava prestes a ser servido.
— Uma cerveja. — pediu.
— Certo. — o mais velho dos três virou-se para o barman. — Duas cervejas geladas e um… — mais uma vez, olhou na direção de seus amigos. — Félix? O que você quer beber?
— Ah, hum... Água!
As sobrancelhas de Jisung se ergueram, analisando o moreno.
— Água?
— Não tem água aqui? Ou suco. Suco seria bom.
— SUCO?! — o barman ouviu o que Félix pediu, rindo enquanto balançava a cabeça. — Vou fazer uma boa bebida para você.
Christopher, que entendia Lee, sorriu gentilmente para ele. Se não quisesse, não precisaria beber aquela bebida.
Félix se aproximou um pouco mais de seu melhor amigo.
— Sungie, eu não quero beber nada. Eles não vendem suco de maçã aqui? Que coisa horrível.
— Você está em uma festa, idiota. Como você acha que eles vão vender suco de maçã? — recebeu um golpe no braço pelo amigo. — Oh!
— Não sabia que só vendiam álcool, não me trate assim.
Jisung o acertou de volta.
— Não me bata!
— Nem você. — novamente, bateu no braço do Han.
— Com licença? Ouvi dizer que alguém queria suco. Eu tenho.
Félix virou-se imediatamente ao ouvir a voz reconhecível, vindo do homem alto parado ao lado de Jisung. Ele piscou, atordoado enquanto Hyunjin interagia com seu melhor amigo. Deveria tentar esconder sua surpresa ao vê-lo ali, porque o Diabo havia lhe contado, mas ele não achava que seria assim.
Jisung, que estreitou os olhos, encarando o arcanjo, pegou a garrafa de suco de maçã, olhando-a por alguns segundos antes de abri-la e enfiar o nariz onde antes estava a tampa.
— Isso tá com cheiro de suco de maçã. — analisou, e bebeu um pouco, saboreando antes de passar a garrafa para Lee. — Olha, Félix, esse homem trouxe suco para você e é de maçã. — emocionado, Jisung deu um tapinha no ombro de Hyunjin. — Obrigado meu amigo.
Piscando lentamente, Félix agradeceu com a cabeça, sentindo suas bochechas corarem.
— Obrigado.
Claro que fingiria não conhecê-lo.
Hyunjin ergueu um canto dos lábios.
— Não há de que.
Mas era muito difícil esconder estar apaixonado.
Christopher se aproximou com duas latas de cerveja, entregando uma a Jisung, que sorriu para Hyunjin, olhando-o de cima a baixo. Félix ignorou aquele olhar, tentando não sentir ciúmes enquanto bebia o suco da garrafa. O gosto era ótimo, mas não estava totalmente surpreso, porque Hyunjin era o Diabo e podia conseguir o que quisesse.
— O que você está vestindo? Oh, espere. — Christopher ergueu a mão, movendo-se em direção a Hyunjin. — Tenho na ponta da língua.
— Um satânico! — Han exclamou.
— Não. — respondeu o arcanjo. — Eu sou o diabo.
Félix olhou em volta desconfortavelmente. Por que ele estava desconfortável?
— O Diabo tem chifres e uma cauda, gênio. — disse Jisung, franzindo a testa.
Félix se virou em sua direção imediatamente, seu coração batendo forte. Ficando com medo que essa resposta fosse desrespeitosa com o Diabo, que se sentia superior aos mundanos, o que era... bastante narcisista, mas com uma lógica incrível.
Olhou para seu melhor amigo com um olhar tão irritado que Jisung calou a boca, bebendo de sua lata de cerveja e decidindo que não diria mais uma palavra. Félix era muito doce, mas seus "olhos de coruja", como ele às vezes os chamava, mostrando aborrecimento, o assustavam.
— Pessoal. — Christopher gritou para eles. — Vou sair uns minutos para falar com uns amigos de lá. — apontou para um grupo de jovens que estava no meio da pista de dança. — Se alguém quiser sair, me procure no meio da pista, e nós três iremos.
Jisung e Félix concordaram, observando o mais velho se afastar. Assim que chegou onde estava o grupo de jovens, os mesmos começaram a festejar como boas-vindas.
— Isso não acontece conosco. — Jisung murmurou enquanto Félix bebia de seu copo, concordando com a cabeça. — Isso é porque você bebe suco.
Mais uma vez, o menino foi agredido pelo melhor amigo. Hyunjin, que ainda estava ali, ao lado de seu garoto preferido, não pôde deixar de erguer um dos cantos da boca.
Félix olhou para o Diabo, oferecendo-lhe um pouco de seu suco, apenas para ser negado. Sabia que Hyunjin não precisava comer ou se hidratar, mas não queria ser rude.
— Você parece… — as palavras do arcanjo foram interrompidas pelos braços de Jisung ao redor de seu menino.
— OLHE! É CHOI JISU! ELA ESTÁ DANÇANDO SOZINHA! — Félix olhou para o chão, notando a bela jovem de cabelos castanhos movendo-se ao ritmo da música, dedicando pequenos sorrisos às pessoas ao seu redor. — Eu tenho... eu tenho que ir dançar com ela até que ela seja minha namorada.
— Sungie, ela é filha do padre Changmin.
O jovem amarrou mais o lençol no pescoço, ajeitou o cabelo, e respirou fundo antes de se virar para o Lee.
— Lembre-se do que eu disse até aqui: seja um menino mau. Seduza, beba, quebre uma cadeira, sei lá, mas faça alguma coisa que fique na memória rebelde. — ergueu o dedo indicador. — E não, não estou incitando você a matar alguém ou fazer sexo.
O rosto de Félix estava da cor de um tomate.
— Embora, se você fizer sexo, tudo bem. Mas se cuida! Não me deixe saber que você não se cuida! — o repreendeu, levantando a voz um pouco mais antes de voltar para a pista. — Tudo bem, eu posso fazer isso.
— Sorte. — Hyunjin murmurou sarcasticamente.
— Obrigado, Mefistófeles. — Jisung agradeceu, mas não se moveu de seu lugar.
A música mudou e todos gritaram com "Let's Twist Again" de Chubby Checker.
— É a sua chance, Jisung! — Félix encorajou.
Parecia estar enlouquecendo de um momento para o outro, caminhando com atitude até chegar ao lado da jovem. Tocou seu ombro e, sem encontrar seus olhos, estendeu a mão. Jisu, ainda sorrindo, pegou e começou a dançar de uma forma muito engraçada. Jisung sorriu também, sem hesitar em segui-la.
— Ele conseguiu. — disse Hyunjin, seu olhar sobre os jovens dançando.
Félix assentiu rapidamente, virando-se para olhar o Diabo.
— Você não sente o desconforto de estar aqui?
— Não. Só você me vendeu sua alma, entre toda essa gente. A vibração aqui é boa demais para alguém perceber algo fora do comum. — explicou o mais alto, de repente, pegando a mão de seu menino favorito. — Me siga
O humano simplesmente o seguiu, olhando em volta, percebendo um tanto tarde que as pessoas ao seu redor olhavam para suas mãos unidas com desgosto. Houve alguns murmúrios ininteligíveis para Félix, mas o deixaram nervoso.
Ambos caminharam por um corredor longo e escuro, desviando de casais que se beijavam contra a parede ou fumavam entre as conversas. Finalmente, Hyunjin abriu a última porta dos fundos, deixando Félix passar antes de fechar a porta atrás de si.
O quarto parecia velho, com uma cama perfeitamente arrumada e uma mesa de cabeceira bagunçada. As paredes brancas tinham mofo, as palavras estavam escritas com tinta e havia coisas no chão que deixavam claro que havia moradores de rua.
A atmosfera era terrível, especificamente, o cheiro de umidade, mas era o único lugar onde a música não era tão alta e eles podiam conversar sem qualquer perturbação.
Caminhou até a mesinha de cabeceira, afastando alguns papéis para deixar seu copo com um pouco de suco de maçã, observando o local em detalhes, como se estivesse o analisando. Estava escuro e muito frio. Ele se virou para olhar para Hyunjin, que estava à sua frente, pronto para abraçar o corpo de seu garoto favorito. Se encararam por alguns segundos, até que Félix teve que desviar o olhar, envergonhado e muito corado.
— O que se passa na cabeça do meu garoto favorito? — perguntou em tom de brincadeira, antes de deixar um beijo suave nos lábios do menor, que permaneceu de olhos fechados.
— Oh, nada. — bem, sim, havia algo.
Estava nervoso. Nunca tinha ido a uma festa, foi a primeira vez que comemorou o Halloween e, claro, mentiu para a família para ir a um lugar onde toda a cidade considerava errado estar.
— Mh… — Hyunjin acariciou a parte inferior das costas do garoto com seus dedos com anéis de ouro. — Você é ousado
Félix olhou para ele com notável surpresa.
— Eu sou?
— Você mente, foge para uma festa, guarda o segredo de ter mexido com o Diabo… — o arcanjo sibilou, fazendo o mundano rir, envergonhado. — Você é um menino muito mau e rebelde.
O humano negou lentamente, baixando o olhar e permanecendo em silêncio por alguns segundos.
— Você iria me dizer algo.
— Mh?
— Quando estávamos com Jisung. — Félix tentou lembrá-lo, ainda sem olhá-lo nos olhos. — Você disse "você parece..." — deu risada, sentindo-se ridículo ao lembrar disso.
— Me lembro.
— Posso saber o que era?
Hyunjin engoliu em seco, mantendo a expressão neutra em seu rosto.
— Eu iria dizer que você estava lindo.
Félix não conseguia continuar lidando com isso.
Hyunjin era o Diabo, e um doce total, que fazia seu coração acelerar e seu estômago revirar com sua bajulação formal. Então não; ele não compraria a história que o arcanjo lhe contou desde o início, nem pensaria nela, repetidamente, até sentir que enlouqueceria.
Iria perguntar a ele.
Olhou para cima, encontrando os olhos preciosos de Hyunjin, que não tirava os olhos de seu garoto favorito.
— Diga-me a verdade. — sussurrou, agarrando-se melhor ao pescoço do mais alto.
— O que você deseja saber?
Félix fechou os olhos com força, sentindo os lábios opostos roçarem os dele.
— D-diga-me que você não me quer morto. — continuou falando baixo. Essas palavras eram difíceis de dizer, porque haveria uma resposta, e não sabia se era a que esperava, ou a que queria. — Que você me quer bem aqui, com você... — suas pernas começaram a tremer, sentindo o coração se partir em mil pedaços com o silêncio. — Se não, tudo bem. Só... não guarde para você. Não seja… — sua voz falhou um pouco, então decidiu que era melhor ficar quieto.
Os braços do Diabo pararam de apoiar sua cintura, mas fugazmente, levou as mãos às bochechas de seu menino favorito, embalando seu rosto. Félix podia sentir o calor da pele de Hyunjin e o frescor dos anéis de ouro nos dedos de Hyunjin.
— Não seja...? — Félix apenas negou. — Eu sou. Eu sou o diabo.
— Mas você não é só isso para mim. — respondeu o humano rapidamente, sem desviar o olhar do arcanjo, que parecia surpreso com aquelas palavras. — Você pode ser o Diabo para os outros, mas é Hyunjin comigo, e eu... eu conheço o Jinnie. E-eu sei quando ele mente, quando diz a verdade e quando gosta ou não de alguma coisa.
— Félix. — a maneira como segurava o garoto de cabelos negros tornou-se um pouco mais possessiva, enquanto seus lindos olhos azuis ficaram cor de vinho.
Ele gostou do que ouviu.
— Eu só quero saber a verdade. — engoliu o nó que começou a se formar em sua garganta.
O Diabo permaneceu em silêncio, tentando descobrir como reagir a tal situação, suspirando profundamente ao perceber como o olhar de Félix baixou. Certamente estava envergonhado, desapontado... irritado, talvez?
Triste... sem ao menos ter recebido uma resposta.
Se inclinou um pouco, unindo sua testa com a do menor, fazendo com que seus narizes se tocassem brevemente. Seus olhos estavam fechados, e a única coisa que se ouvia naquela sala antiquada era sua respiração.
— Eu não quero que nada de ruim aconteça com você.
Félix soltou um soluço silencioso no meio da respiração, aliviado, mas sua mente saturada de pensar o tempo todo em amar alguém que não podia.
— Eu... — foi difícil para o Diabo emanar aquelas palavras. — ... Eu o quero aqui, comigo. Não lá.
— … E…? — as mãos de Félix se fecharam em punhos, agarradas à camisa preta de Hyunjin.
— De onde eu venho. — respondeu. — E onde você deveria estar, não é um lugar para você. Você é tão sensível, e... eu não vou permitir.
— Jinnie...
— Eu não vou permitir isso. — continuou ele. — Então, Félix... pare de me fazer dizer coisas que eu não consigo.
Félix abriu os olhos, piscando lentamente, confuso e sem saber como reagir às últimas palavras que ouviu. Deveria ficar surpreso ao saber que o Diabo sentiu que Félix conseguiu... fazê-lo sentir alguma coisa? O jovem tinha algum tipo de "poder" sobre ele? O que ele disse confirmou suas dúvidas?
Nem todas, talvez, mas havia uma coisa que ele sabia exatamente.
Hyunjin não queria usá-lo.
Ele só o queria ao seu lado.
E embora outro pensamento também passasse por sua cabeça, que o fazia querer pular de emoção, proibiu-se de aceitar que alguém fosse capaz de sentir tamanha magnitude por ele.
Sem hesitar, Félix depositou um tímido, suave e prolongado beijo nos lábios do Diabo, afastando-se segundos depois envergonhado, com o rosto em chamas.
— Obrigado… — deu a ele um sorriso tímido, mas adorável.
E isso foi a ruína de Hyunjin, que iniciou outro beijo: um mais profundo, mais lento e muito mais longo que o anterior.
Talvez não fosse bom com as palavras, nunca foi, mas queria expressar ao seu garoto favorito o que o fazia sentir, mesmo nas sombras daquele quarto amaldiçoado.
⸸⸸
Félix saiu do quarto, sendo seguido por Hyunjin, que andava um pouco mais devagar, escondendo sua presença. Jisung, que estava suado e com marcas de batom nas bochechas, apareceu na frente de seu melhor amigo, animado em encontrá-lo.
— Onde estava? Eu te procurei em todos os lugares!
— Eu fui para o b-… — não conseguiu continuar a frase, porque Jisung puxou seu pulso em direção à pista.
— Vamos dançar!
— O que?! — Félix de repente entrou em pânico. — Não não não não não.
— Escuta a canção! — o loiro ignorou completamente os apelos do amigo assim que "Great Balls Of Fire" de Jerry Lee começou a tocar. — You shake my nerves and you rattle my brain! — cantou alto, girando Félix, que não pôde deixar de começar a rir. — Too much love drives a man insane. — Jisung apontou um dedo para ele, ainda segurando sua mão. — You broke my will, but what a thrill... goodness gracious, great balls of fire! — sem hesitar, começou a pular, agora segurando as duas mãos de seu melhor amigo para que pudesse movê-lo como quisesse, já que este pesava o mesmo que uma pena.
Mesmo sendo jogado como uma marionete, não pôde deixar de rir durante a dança, devido à atitude bem-humorada de Jisung. Na verdade, ele o amava muito.
No meio da música, enquanto o solo de guitarra e piano começava, Christopher emergiu da multidão, levantando as duas mãos e comemorando ao ver os dois jovens. Não demorou muito para ele começar a pular ao lado deles, imitando os ridículos passos de dança que Jisung tentava criar.
Era a primeira vez em anos que ele se divertia tanto.
A terceira música veio. Os três jovens prometeram que seria a última, que aproveitariam. Inesperadamente para todos os presentes, a batida mudou, "Sway" de Dean Martin começou a tocar. Jisung, que adaptava uma atitude diferente para cada música, fechou os olhos e esfregou o peito antes de se virar para Christopher.
— Me ame nesta canção. — brincou ele, tentando não rir e fingindo recuperar o fôlego.
Christopher, que sempre fazia isso para simular uma personalidade egocêntrica, ergueu o braço, exibindo os bíceps bem trabalhados.
— Esses braços vão te envolver a noite toda. — disse, fazendo os três rirem novamente.
Entre uma doce risada, Félix olhou em volta procurando por Hyunjin, surpreso ao encontrá-lo encostado no mini bar, olhando para ele. Deu a ele um sorriso sedutor e acenou com a cabeça, olhando-o de cima a baixo. O menor deu um pequeno sorriso antes de se virar para os amigos, constrangido, mas comemorando ao ver Christopher e Jisung se abraçando, dançando ao som da música.
Alegrou-se em saber que o mínimo que se lembraria daquela noite seria o nervosismo por mentir, ou o ataque que sentiu quando as pessoas ao seu redor olharam com nojo para sua mão, sendo tomada pela de Hyunjin.
Só se lembraria da alegria, ao perceber que seus dois melhores amigos não tinham vergonha de serem acusados de algo que a sociedade dizia ser errado, e do alívio pela pouca conversa que teve com o Diabo.
Enquanto os três se dirigiam para a saída, Félix podia sentir passos em seus calcanhares, e se acalmou com isso. Se sentia livre, como se nada importasse. Assim que chegaram onde o veículo de Christopher estava estacionado, o Lee sentou no banco de trás, e Jisung decidiu ser o único a dirigir, já que o mais velho dos três havia bebido demais.
Suspiraram em uníssono, rindo disso. O melhor amigo de Félix se virou para vê-lo com um sorriso, fazendo-o rir.
— Você está com marcas de beijo. — comentou ele.
— Aquele cara estava apaixonado por você.
Aquele comentário repentino o intrigou.
— Huh? Quem?
— O Diabo sem rabo, nem chifres. Parecia que queria te levar para o inferno, e fazer de você seu príncipe.
Félix piscou lentamente, encontrando os olhos de seu melhor amigo. Por alguma razão, essa ideia não o incomodava, e ele precisava fazer mais perguntas sobre por que achava que Hyunjin parecia apaixonado, mas não o faria.
Porque, para outros, ele era 100% hétero, e continuaria assim.
— Ou você está muito apaixonado... ou muito bêbado. — foi a única coisa que lhe ocorreu dizer.
— VAMOS TODOS PARA O INFERNO! — Christopher praticamente gritou, arrastando as palavras e tentando se acomodar no assento. — QUE INCRÍVEEEEL!
— Chan, acalme-se, idiota. — Jisung observou-o, notando como o mencionado empalideceu.
— … Acho que vou vomitar. — murmurou o mais velho, alguns segundos depois.
— Merda.
Antes que alguém ache estranho, sim, o Jisung é hétero nessa obra, e não tem nenhuma possibilidade de rolar um relacionado com outro cara. Vamos lembrar que estamos nos anos 60, e que mesmo que houvesse chance de isso ocorrer, não seria mostrado, por favor lembrem-se que o preconceito predominava nessa época.
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