𖦹 XIII. FANTASMA DO PASSADO
13. CAPÍTULO TREZE
caminhos separados às vezes nos levam de volta ao mesmo lugar
❝ vamos, amor, não me machuque mais.
eu não sou a mesma que eu era antes.
eu tenho arrepios por todo meu corpo.
quando você está perto, fica difícil de respirar. ❞
𝗇𝖾𝗋𝗏𝗈𝗎𝗌 ━━ the neighbourhood
O som dos saltos de Scar ecoava pelo corredor estreito e mal iluminado, misturando-se aos barulhos abafados dos outros cômodos. Ela caminhava sem pressa, o copo de bebida em uma mão, o canudo equilibrado entre os lábios rosados.
A doçura do líquido deslizava pela garganta enquanto ela desviava os olhos de qualquer coisa que estivesse acontecendo ao redor. Havia algo quase hipnotizante em seus movimentos - o ritmo compassado, o balanço leve dos quadris, a postura. O corredor, com suas paredes de metal sujo e o cheiro penetrante de óleo e cintila, era familiar demais.
Ela fez uma breve pausa ao virar uma esquina, os olhos vagando por uma marca escura no chão, provavelmente resultado de algum acidente com cintila. A mancha parecia brilhar fracamente sob a luz fluorescente, mas Scar não se deu ao trabalho de investigar. Deu mais um gole na bebida e seguiu adiante.
Foi então que ela a viu. Sevika vinha caminhando em passos lentos e pesados, um leve arrastar de pés denunciando o cansaço. O armazenador de cintila em seu braço estava completamente destruído, estilhaços metálicos pendendo em ângulos perigosos.
O líquido roxo escorria em um rastro pegajoso, manchando o chão e os pés da mulher, que parecia alheia à sujeira. O rosto de Sevika estava um espetáculo à parte - cortes profundos, hematomas se formando, o sangue seco no rosto e um lábio partido. A visão era tão inesperada que o canudo caiu dos lábios de Scar, pousando no fundo do copo com um som surdo.
— Uau... – ela arqueou uma sobrancelha, inclinando levemente a cabeça para o lado enquanto avaliava o estado deplorável da outra — Sevika, você tá... destruída.
— Agora não, Scar. Preciso falar com Silco – respondeu Sevika, a voz grave carregada de irritação e algo mais difícil de identificar.
Scar deu um passo para o lado, bloqueando parcialmente o caminho da outra. Seu olhar curioso vagou rapidamente pelos machucados, as mãos agora repousando na cintura enquanto um sorriso pequeno, quase provocador, brincava nos lábios.
— Quem foi? – perguntou, genuinamente curiosa, a voz carregada de um misto de fascínio e surpresa — A pessoa tem que ser muito boa pra te deixar assim.
— Não te interessa, garota. Sai da frente – Sevika rosnou, os olhos semicerrados enquanto tentava ignorar a dor e a insistência de Scar.
Scar deu um pequeno passo para o lado, mas não antes de soltar uma risada curta e levantar as mãos em um gesto teatral de rendição.
— Hm, 'tá bom – ela deu um gole lento na bebida, os olhos brilhando de malícia enquanto observava Sevika passar mancando — Eu vou acabar descobrindo mesmo.
Sevika não respondeu, limitando-se a lançar um olhar frio por cima do ombro antes de seguir em frente, o som de seu passo arrastado e o gotejar da cintila ecoando no corredor. Scar ficou parada por um momento, balançando o copo em círculos preguiçosos enquanto o sorriso em seus lábios crescia.
— E quando eu descobrir, vai ser ainda mais divertido – murmurou para si mesma antes de girar nos calcanhares e continuar em seu caminho.
Scar continuou caminhando pelo corredor, a cena de Sevika mancando e coberta de cintila ocupava seus pensamentos, o tipo de situação que era, ao mesmo tempo, preocupante e intrigante demais para simplesmente ignorar. Ela virou outro corredor, entrando em uma parte mais escura, o som abafado se perdendo entre as paredes, até que seus olhos captaram a figura familiar de Jinx, sentada no chão com as pernas dobradas e um livro grosso apoiado nas coxas.
Jinx estava tão concentrada que não percebeu Scar se aproximando. Os dedos manchados viravam as páginas com agilidade, e seus olhos corriam pelo texto como se estivesse tentando decifrar algum enigma.
— O que está aprontando agora? – Scar perguntou, encostando-se à parede com um meio sorriso, o tom de sua voz carregado de curiosidade.
Jinx não desviou o olhar do livro.
— Vendo como toda a tecnologia de Piltover funciona... – murmurou, antes de franzir o cenho para o conteúdo da página — Mas estou na parte chata! Sério, quem escreve isso?
Scar soltou uma risada leve, balançando o copo preguiçosamente na mão.
— Chatas ou não, essas "porcarias" parecem te divertir mais do que deveria.
— Divertir? – Jinx revirou os olhos dramaticamente e fechou o livro por um momento, batendo-o contra a perna - Divertido vai ser quando eu usar.
— Claro – Scar respondeu com sarcasmo, mas os lábios carregavam um sorriso. Ela deslizou os olhos pela garota por um instante antes de tomar outro gole — De qualquer forma, deixa eu te contar uma. Acabei de cruzar com Sevika, e, nossa, ela entrou numa briga feia.
Jinx finalmente levantou os olhos, a curiosidade brilhando como um fogo azul.
— Sério? Levou uma surra?
Scar inclinou a cabeça, dramática.
— O braço dela tava completamente destruído, cintila para todos os lados, e o rosto... bom, vamos dizer que ela vai precisar de um tempinho para recuperar as energias.
Jinx apertou os lábios, pensativa, e apoiou o queixo nos joelhos.
— E quem fez isso?
— Não faço ideia.
Jinx estalou os dedos de forma exagerada e saltou para os pés com um movimento ágil, o livro caindo no chão com um baque surdo.
— Vou tentar descobrir o que aconteceu!
Scar arqueou uma sobrancelha, divertindo-se com o entusiasmo repentino.
— E como vai fazer isso? Explodir todo mundo até alguém confessar?
— Talvez! – Jinx respondeu com um sorriso malicioso, os olhos cintilando de excitação.
— Claro que vai... – Scar murmurou, mas Jinx já estava correndo pelo corredor antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.
Scar observou a figura da garota desaparecer na próxima curva, suspirando antes de se abaixar para recolher o livro abandonado no chão. O título técnico, rabiscado com desenhos e anotações de Jinx, parecia um reflexo perfeito da mente caótica da garota.
𒅌
Os corredores de Zaun estavam mais movimentados que o normal. Capangas de Silco iam e vinham com expressões tensas, murmurando entre si, mas nunca alto o suficiente para Scar ouvir. Ela observava tudo atentamente, encostada em uma das paredes. Seu olhar afiado seguia cada movimento, mas ninguém parecia disposto a oferecer respostas.
Era raro ver tanta agitação sem que Silco convocasse alguém para explicar o que estava acontecendo. A sensação de estar no escuro estava começando a irritá-la, e Scar não era do tipo que lidava bem com curiosidade não resolvida.
Passou por mais alguns corredores, captando pedaços de conversas que não faziam sentido. "Devíamos ter procurado mais...", "Ele não vai gostar disso...", "Silco vai explodir quando souber..." Tudo soava vago demais para ser útil.
Scar parou ao lado de dois capangas cochichando em voz baixa e pigarreou.
— Então... alguém vai me contar o que está acontecendo, ou eu vou ter que adivinhar?
Os dois trocaram olhares nervosos antes de se afastarem, um deles balbuciando algo sobre ter trabalho urgente a fazer. Scar revirou os olhos, frustrada, e passou uma mão pelos cabelos, tentando conter a impaciência crescente.
Conforme andava mais no covil de Silco, a curiosidade aumentava. As pessoas evitavam contato visual, desviando rapidamente ao vê-la se aproximar. Scar sabia que algo grande havia acontecido, mas, seja lá o que fosse, todos pareciam determinados a mantê-la no escuro.
Scar sentiu o toque inesperado em seu cotovelo e virou-se rapidamente. Os dedos finos de Jinx seguravam-na com firmeza, as unhas raspando levemente contra sua pele descoberta. Antes que Scar pudesse abrir a boca para reclamar ou perguntar algo, Jinx levou um dedo aos próprios lábios, pedindo silêncio. Com um gesto sutil de cabeça, indicou que Scar deveria segui-la.
Sem dizer uma palavra, Jinx começou a caminhar pelo corredor, os passos leves como de um felino, e Scar, intrigada, foi atrás. O silêncio entre elas era denso, quase conspiratório, mas Jinx não parecia inclinada a quebrá-lo.
As luzes piscavam fracamente, lançando sombras inquietas enquanto elas avançavam por caminhos menos movimentados. Conforme se aproximavam da porta do escritório de Silco, Scar franziu as sobrancelhas. Algo no jeito de Jinx - na pressa, no brilho travesso de seus olhos - deixava claro ela estava prestes a descobrir o que acontecia.
Quando chegaram à porta, Jinx estendeu a mão e a abriu lentamente. A visão que as recebeu fez Scar arquear as sobrancelhas. Sevika estava amarrada na cadeira giratória de Silco, os pulsos presos firmemente com cordas, desacordada. A cadeira estava levemente inclinada, balançando de um lado para o outro com o peso do corpo dela.
Jinx entrou primeiro, os olhos brilhando de excitação enquanto ela soltava uma risadinha baixa.
— Bem-vinda ao show! – anunciou com um gesto teatral, olhando para Scar como se esperasse aplausos.
Scar cruzou os braços, encarando Sevika por um longo momento antes de finalmente falar.
— Tá... Agora pode explicar?
— Não preciso. Ela vai. Bom, daqui a pouco – Jinx respondeu, um sorriso travesso se formando nos lábios enquanto corria para se sentar em cima da mesa de Silco, as pernas balançando no ar e os olhos fixos em Sevika.
Scar piscou lentamente, seu olhar alternando entre a expressão irritada de Sevika e a postura descontraída de Jinx. Algo estava definitivamente fora do normal.
— Certo – Scar suspirou, encostando-se na mesa, quase sentada como Jinx.
Levou alguns minutos para que Sevika começasse a dar sinais de que estava voltando a si. Um gemido baixo escapou de seus lábios, e sua cabeça pendeu para o lado, como se a dor a estivesse puxando de volta à consciência. Scar permaneceu em silêncio, observando a cena com os braços apoiados na mesa, mas seus olhos estreitaram ligeiramente, cheios de expectativa.
Jinx, por outro lado, parecia incapaz de conter sua animação. Ela lançou um olhar brilhante para Scar, um sorriso largo e travesso surgindo em seu rosto, como se estivesse prestes a apresentar um espetáculo.
— Isso vai ser bom – murmurou, antes de se inclinar para a cadeira.
Com um movimento rápido, Jinx girou a cadeira em um único impulso, fazendo o som metálico ecoar pelo escritório. Antes que Sevika pudesse se orientar, Jinx levantou a mão e deu um tapa firme em seu rosto, o impacto ressoando no espaço fechado.
Sevika arfou e piscou os olhos rapidamente, claramente confusa e ainda atordoada pela situação. Seu olhar foi de Jinx para Scar, e então para as cordas que a prendiam, antes de voltar para Jinx com uma expressão de pura fúria.
— Acho que você e eu começamos com o braço esquerdo – Jinx cantarolou, inclinando a cabeça com um sorriso quase inocente. Ela tirou a faca cravada na prótese do braço, girando-a com leveza entre os dedos antes de aproximá-la do braço da mulher — Deveríamos tentar o direito.
Sevika se afastou um centímetro, seu rosto rígido, mas os olhos brilharam com algo que estava além da dor ou do medo. Era desafio. E algo mais - uma satisfação amarga, talvez. O olhar dela se alternou entre Jinx e Scar, e então ela deixou escapar, em um tom direto e frio:
— Não precisa. Foi a sua irmã.
O sorriso aberto de Jinx permaneceu por uma fração de segundo, mas depois mudou. A faca parou no ar, seus dedos travaram como se tivessem perdido toda a força, e seus olhos se perderam em algum ponto distante. A expressão que antes era cheia de entusiasmo e provocação agora se partia, como vidro trincando sob pressão. Confusão. Dor. E algo mais profundo.
Scar observava tudo em silêncio, seu olhar atento a faca, mas quando as palavras saíram da boca de Sevika, o ar parecia sufocante, cada segundo arrastado como uma eternidade. Então, ela pousou os olhos na mulher amarrada diante delas.
Vi.
O nome ecoou na mente de Scar como um trovão distante, acompanhando a sensação de algo pesado e frio se alojando no peito. Poderia ser verdade? Vi estava de volta? Isso era impossível, certo? Mas ouvir aquela confirmação vinda de Sevika, ainda que carregada de veneno, fez algo se revirar dentro dela.
Raiva, surpresa... expectativa? Um sentimento traiçoeiro que ela tentou enterrar no dia em que viu as ruínas do armazém e tudo o que veio depois. Ela encarava Sevika como se pudesse arrancar mais respostas apenas com o olhar, mas sua mente estava presa em outra coisa. Vi. Em Zaun.
Scar queria acreditar que era mentira, que Sevika estava apenas jogando com Jinx, brincando com os sentimentos de ambas, tentando desestabilizá-las. Mas a possibilidade de que fosse verdade era suficiente para causar um redemoinho em seus pensamentos. Vi. A pessoa que ela não sabia se queria socar ou...
Por um instante, Scar quase perdeu o controle. Quase perguntou. Quase gritou. Mas se conteve, mantendo os punhos cerrados, mas a respiração falhando, descompassada. Seus olhos voltaram para a faca ainda suspensa na mão de Jinx, agora imóvel como uma estátua, e então para o rosto perdido da garota.
Se fosse verdade, nada mais seria o mesmo. Não para ela, nem para Jinx, nem para Zaun. A simples ideia fez seu coração acelerar, e, ao mesmo tempo, encheu sua mente de perguntas que ela não sabia se queria respostas.
— Ela voltou, e está te procurando – Sevika sorriu, como se estivesse saboreando o momento — Mas não é o que parece. Ela está com uma Defensora.
— Alguém encontrou uma nova namoradinha... – Sevika disse, diretamente para Scar, o veneno quase escorrendo entre os lábios.
Scar sentiu seu estômago se apertar com a menção daquela palavra. Defensora. Vi. O passado dela e de Vi se entrelaçava de maneiras que Scar preferia manter enterradas, mas ouvir aquilo, saber que Vi estava de volta e agora ao lado de uma das pessoas que costumavam repudiar, despertou algo sujo e furioso dentro dela.
Namoradinha.
As palavras de Sevika ressoaram em sua mente como um martelo batendo. Namoradinha. O conceito, a imagem de Vi com outra, alguém que não era ela, cortou com precisão afiada. Ela sentiu o ódio crescer dentro de si, como se estivesse sendo consumida por uma chama quente e destrutiva.
Vi havia sido dela, ou ao menos foi o que ela fez parecer por um tempo.
A frustração, a raiva, e até mesmo a dor haviam sido apagadas por uma ideia - uma ideia de posse, de alguma coisa não resolvida entre elas, como se existisse um espaço ainda vazio.
Seus dedos se apertaram involuntariamente, os punhos cerrados com força suficiente para fazer suas unhas penetrar na pele. A dor ajudava a centrar seus pensamentos. Namoradinha.
— Maldita – murmurou, os dentes cerrados enquanto sua visão se turvava.
Vi, a imagem de sua ex-namorada, agora com uma Defensora, e sentiu uma pontada amarga no peito. A dor não era mais novidade, mas agora vinha com um gosto agridoce do ódio, mais forte, mais cruel.
Scar respirou fundo, tentando se acalmar, mas a raiva se entranhava cada vez mais fundo em seu coração. Desgraçada.
— Sua mentirosa! – Jinx acusou, o tom de sua voz cortante e cheio de rancor. Ela fincou a lâmina da faca perto do rosto de Sevika, tão perto que o brilho do metal refletia em seus olhos.
Sevika não se moveu, seu sorriso desdenhoso ainda presente, embora seus olhos brilhassem com algo ameaçador. Ela não parecia intimidada, pelo contrário, parecia satisfeita de provocar Jinx ainda mais.
— Eu não preciso – Sevika respondeu com uma calma fria, sua voz carregada de desprezo. Ela olhou para Jinx com um olhar desafiante — Com a volta dela, é só questão de tempo até você explodir, e o Silco perceber que você foi tão boa pra nossa causa quanto foi pra sua família. Jinx.
Aquelas palavras cortaram como lâminas afiadas.
"Sua família" – a referência à destruição e ao sofrimento de Jinx era clara, e cada sílaba parecia um veneno dirigido diretamente ao coração da garota.
E, no fundo, Scar percebeu o que Sevika estava fazendo, mesmo que estivesse mergulhada em uma lava fervente de raiva. Ela estava tentando desestabilizar Jinx, usando a dor do passado, a fragilidade da confiança da garota, e talvez até jogando com a possibilidade de um futuro incerto com Vi. Mas as palavras de Sevika eram venenosas não só para Jinx, mas também para Scar.
A menção de Silco, de como ele poderia ver as coisas, a certeza de que ela - e talvez Jinx - não seriam mais úteis à causa de Zaun como um dia foram, fazia o coração de Scar disparar.
Scar observou Jinx de canto de olho, os músculos tensos, o rosto uma máscara de fúria, enquanto Sevika ainda se divertia com o momento.
A ideia de ser descartada, de não ser mais necessária para Silco, ainda que fosse uma ameaça, uma possibilidade distorcida, parecia algo que Scar e Jinx sabiam que não poderiam permitir. Não podiam se dar ao luxo de serem fracas. Não agora.
Não quando tudo estava prestes a mudar de forma irreversível.
Scar observava a cena com os olhos cerrados, a raiva fervendo dentro de si. Ela tentava manter o controle, mas as palavras de Sevika e a imagem de Vi com outra pessoa ainda martelavam em sua mente. Caminhou de um lado para o outro, tentando se livrar da agitação interna, mas a frustração só crescia. Cada passo parecia ecoar com um peso crescente, como se ela estivesse carregando algo que não sabia como soltar.
A raiva a consumia, fazendo com que sua mente fosse um campo de batalha. Vi. Silco. Jinx. Tudo se misturava em uma teia que Scar mal conseguia entender. Ela parou por um momento, respirando fundo, tentando se concentrar, mas o desejo de destruir tudo ao seu redor ainda estava ali, esperando por uma faísca para explodir.
— Precisamos fazer alguma coisa.
Ela parou de andar e olhou para a cena à sua frente, o que aconteceu com Jinx e Sevika, mas a mente dela estava longe, focada em algo muito maior. Não poderia deixar que a raiva a dominasse. Não agora. Havia algo a ser feito.
— Scar? – A voz de Jinx cortou o silêncio, chamando sua atenção. A garota parecia atenta, observando-a com um olhar que refletia a inquietação de ambos. Mas Scar estava distante, perdida no turbilhão de pensamentos, tentando achar uma maneira de agir sem deixar que as emoções a derrubassem.
— O sinalizador. Você ainda tem? – Scar perguntou, seus olhos fixos em Jinx, que confirmou com a cabeça.
𒅌
Elas estavam no topo de um prédio destruído, o vento cortante batendo contra seus rostos enquanto observavam a paisagem devastada de Zaun.
O térreo abaixo delas estava completamente desgastado, com rachaduras profundas e escombros espalhados por todos os lados. Jinx, com o sinalizador em mãos, o erguia para o alto, deixando que a fumaça azulada se esvaísse pelo ar, subindo até se perder.
Scar, por outro lado, estava quieta, sentada na borda de uma viga quebrada, distraída ao mexer nas próprias unhas. O movimento repetitivo era uma tentativa de acalmar os pensamentos que insistiam em correr em sua mente. A situação em que se encontravam, as tensões com Sevika, as palavras sobre Vi... tudo parecia uma pressão constante. Scar tentou se concentrar no presente, no que precisavam fazer, mas as lembranças e as emoções estavam enredadas, difíceis de ignorar.
O sinalizador foi perdendo sua intensidade, até que se apagou por completo. Jinx, frustrada e com raiva, atirou o objeto metálico para longe, soltando um grito.
Scar revirou os olhos, escondida entre a névoa densa do frio da noite, enquanto abaixava a cabeça, escondendo-a entre os joelhos.
— Powder?
A respiração de Scar parou. Ela poderia imaginar que era pela altitude, mas não, era por causa daquela voz. A voz que ela não ouvia há tantos anos, a voz que esteve com ela todos os dias, sua voz preferida por tanto tempo, e que, nos últimos anos, só se fazia presente nos pesadelos das noites em que tudo entre elas foi destruído.
Lentamente, quase sem forças, Scar levantou os olhos, vendo Vi correr para Jinx e segurá-la com força nos braços, vendo, mesmo à distância, as duas chorando.
Scar não conseguia ouvir mais nada. O mundo ao seu redor parecia ter se distorcido em um silêncio profundo, como se seus ouvidos tivessem sido preenchidos por algo denso, uma pressão que abafava todos os sons. Tudo desapareceu, como se o tempo tivesse se congelado.
Seu peito encolhia lentamente, um peso crescente esmagando seu coração, e a respiração se tornava cada vez mais difícil, como se o ar estivesse sendo retirado de seus pulmões, tornando cada suspiro um esforço agoniante. Ela queria gritar, queria correr, mas suas forças estavam se esvaindo, suas pernas imóveis, suas mãos frias e trêmulas. O vazio era imenso, e, no entanto, ela sentia algo muito maior: a presença de Vi, como se o espaço entre elas tivesse diminuído de forma quase física, comprimindo tudo o que restava.
Como se sentisse sua presença, Vi soltou Jinx cuidadosamente, virando-se para a parte mais escondida onde Scar estava, seus olhos – aqueles olhos intensos que Scar conhecia tão bem – a encarando, arregalados, varrendo-a de cima a baixo. As pupilas dilatavam levemente, mesmo na escuridão, como se ela pudesse senti-la, como se o vínculo entre elas nunca tivesse sido quebrado, mesmo que o tempo e o sofrimento não tivessem criado uma barreira invisível entre as duas.
Vi correu outra vez, agora em sua direção, e antes que Scar conseguisse reagir, os braços fortes e aquecidos de Violet envoltos na jaqueta vermelha. A proximidade de Vi fez o mundo ao redor de Scar parecer desmoronar, e ela sentiu um turbilhão de emoções invadir seu peito – raiva, saudade, dor, todos fixados como pregos alojados em seu coração. Seu corpo estava tenso, congelado, como se ela estivesse em dúvida entre se jogar nos braços de Vi ou fugir para sempre.
— Estrelinha... – a voz de Vi era suave, mas havia um desespero em seu tom, algo que Scar nunca tinha ouvido antes.
Ela queria falar, queria gritar, mas a pressão no peito a impedia de encontrar palavras. Seus olhos se fixaram no nada, tentando processar.
O rosto de Scar se abaixou, encostando a testa no ombro tenso de Vi, aspirando o cheiro dela de forma inconsciente, mesmo que, no fundo, quisesse empurrá-la para bem longe de seu corpo.
Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha enquanto ela passava os braços ao redor da cintura de Vi.
O abraço que ela achou que nunca mais sentiria.
QUE EMOÇÃO. EU ME SINTO FORA DE MIM!
o reencontro veio, juntinhas novamente!!!
ah, não, calma...
beijos e até o próximo capítulo! 🤍💋
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro