𖦹 VI. PROMESSAS QUE IMPORTAM
06. CAPÍTULO SEIS
não existe força no mundo capaz de abalar a estrutura que construímos juntas
❝ porque você é a razão pela qual eu acredito no destino. você é meu paraíso. ❞
𝗂𝗇𝖿𝗂𝗇𝗂𝗍𝗒 —— jaymes young
O que começou como uma situação tensa, com potencial para uma grande catástrofe, tomou um rumo inesperado. A princípio, os homens apenas confrontavam o grupo, questionando por que jovens apareceriam naquela área tão inquietos, transpirando nervosismo, e carregando uma mochila cheia de objetos suspeitos. Logo, as perguntas evoluíram para exigências; queriam que dividissem o que haviam encontrado.
Violet lançou um olhar para a namorada, que estava mais atrás com Mylo e Claggor, próxima de Powder. Em seguida, fixou os olhos na irmã, transmitindo silenciosamente o que esperava dela: que Áster cuidasse da garotinha.
O primeiro golpe partiu de Vi, que agiu antes que a tensão explodisse. Com um movimento rápido e decidido, ela ergueu a mochila e desferiu um golpe pesado contra a cabeça do homem loiro. O impacto ecoou no beco, e Áster recuou instintivamente, surpreendida pelo barulho repentino.
Em questão de segundos, o caos tomou conta do ambiente. Socos e chutes eram trocados em todas as direções, enquanto gritos e sons abafados de corpos colidindo preenchiam o ar. A cena virou um turbilhão de movimentos, sem tempo para hesitação.
A luta se intensificou rapidamente, tornando-se um caos impossível de conter. Mylo tentou derrubar um dos homens, mas foi empurrado contra a parede com força. Claggor avançou em sua defesa, desferindo um soco que fez o agressor cambalear para trás.
Vi enfrentava o loiro com golpes rápidos e precisos, seus punhos se movendo como uma extensão da própria fúria. Contudo, ela não percebeu o segundo homem se aproximando por trás, pronto para atacá-la. Áster, tomada pela adrenalina que pulsava em suas veias, agiu sem pensar. Seus olhos captaram um pedaço de madeira jogado no chão, e ela o agarrou com firmeza. Em um movimento instintivo, desferiu um golpe certeiro contra as costas do agressor, o som seco da madeira rachando ecoando pelo beco. O homem soltou um grito gutural de dor, cambaleando para frente antes de cair de joelhos.
Ele encarou Áster com os olhos injetados de fúria. Mesmo cambaleando, forçou-se a ficar de pé, os pés escorregando na camada de poeira que cobria o chão. Com um movimento desajeitado, reuniu o restante de suas forças e avançou, agarrando o braço dela com firmeza, os dedos apertando a carne de seu braço desnudo. Áster reagiu instintivamente, arranhando o rosto dele com as unhas, deixando marcas profundas que o fizeram grunhir de dor e soltá-la.
A loira ouviu passos apressados ecoando na direção oposta e virou-se a tempo de ver Powder correr de forma desajeitada, os braços pequenos apertando com força a mochila pesada contra o peito. Seus movimentos eram irregulares, quase desesperados. Um dos homens a notou e, sem hesitar, começou a persegui-la com passos largos, determinado a arrancar dela o que quer que estivesse protegendo.
Áster disparou atrás de Powder, o coração batendo como um tambor em seu peito. Ela gritou pela irmã mais nova, mas a voz foi abafada pelos sons de passos e respirações ofegantes. Ao alcançar o fim do beco, ela parou bruscamente, os olhos se arregalando ao ver o homem parado à beira da baía, um sorriso cruel desenhando-se em seu rosto.
No chão, aos pés dele, estava uma das granadas improvisadas de pregos que Powder deixara cair na fuga. Ele soltou uma risada baixa e zombeteira enquanto caminhava deliberadamente na direção da criança.
— Powder! — gritou Áster, mas já era tarde demais. Em um gesto inesperado e desesperado, Powder lançou a mochila na água. O objeto caiu com um som abafado, criando pequenas ondulações enquanto começava a afundar nas águas turvas da baía.
A menina de cabelos azuis correu em direção à amiga, enquanto o homem resmungava baixinho, observando os pertences afundarem lentamente. As duas, então, começaram a correr de volta para o grupo, apressadas, sem olhar para trás.
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Mylo encarou Powder com uma expressão intensa, os olhos tão arregalados que pareciam capazes de ser vistos a quilômetros de distância.
— O que você fez?!
— Desculpa! Eu tentei assustá-lo com o Ratoso, mas... não deu certo.
— Quem imaginaria isso? — a voz de Mylo estava carregada de sarcasmo, e ele se afastou, erguendo o braço em um gesto de frustração.
— A gente nunca deveria ter ido lá... — Claggor murmurou, encostado na parede, a voz cheia de arrependimento.
Powder abraçou Áster, com a expressão caída e o olhar carregado de culpa, sentindo o peso de tudo o que acontecera sem querer.
— Não importa. A coisa já era — Vi disse, se aproximando da irmã. Ela segurou o rosto de Powder entre as mãos e, com um sorriso suave, completou — 'Tá tudo bem, Powder. O importante é que você está bem.
Ao passar por Áster, Vi deixou uma das mãos suavemente na bochecha macia da namorada, fazendo um carinho rápido antes de sussurrar um "valeu".
— Ela 'tá bem? E a gente? — Mylo resmungou, entrando no saguão da casa e apontando para Powder com os braços largos. — Meu rosto tá todo esmagado e ela, como sempre, fica de boa?
Vi concordou com um aceno, enquanto todos entravam no elevador aberto e ele puxava a alavanca. A pesada placa de aço começou a descer lentamente, o som metálico ressoando pelas paredes.
— Toda vez. Sempre que ela faz alguma coisa, tudo dá errado — continuou Mylo, sua voz ecoando enquanto o elevador descia, o rangido da plataforma fazendo-se ouvir. — Ela sempre dá azar para o trabalho.
Powder lançou um olhar furioso em direção ao mais velho, que parecia não se importar nem um pouco com a irritação dela. Ele apenas olhou de volta, com um sorriso desdenhoso, como se nada realmente pudesse afetá-lo. Ela queria retrucar, mas a frustração que sentia a impediu de falar. Estava cansada de ser vista apenas como um problema.
Percebendo a quietude de Áster, Mylo parou e a encarou com uma sobrancelha levantada, esperando uma reação.
— E você, Ás? Estava com ela e não fez nada pra evitar que gastássemos o trabalho do dia inteiro?
Áster permaneceu em silêncio, sentindo o peso da pergunta. Aquelas palavras de Mylo cortaram como uma lâmina, trazendo à tona uma sensação que ela tentava esconder: a constante pressão de estar sempre à sombra dos outros, de nunca ser boa o suficiente. Sabia que sua presença na situação não havia feito diferença, mas isso não significava que não tentasse.
Ela queria gritar, explicar que nem sempre as coisas saem como planejado, que não era culpa dela que as coisas tivessem dado errado. Mas, ao olhar para Mylo, viu a frieza no olhar dele, como se esperasse um desempenho perfeito, sem considerar que nem sempre é assim. O silêncio a sufocava, e, por mais que quisesse reagir, sentiu-se impotente, com o peso da frustração apertando seu peito.
— Qual é o seu problema, Mylo? Nem tudo tem que ser do jeito que você quer! — Áster explodiu, a voz saindo mais alta do que pretendia, o tom carregado de frustração. — Eu tentei ajudar, mas já não dava mais tempo. A Powder poderia se machucar!
Os olhos de Mylo se estreitaram, surpreso com a explosão dela, mas ele não recuou. Sentiu um peso crescente no peito, mas o orgulho e a raiva a impediam de admitir que talvez tivesse sido precipitada.
— Você sempre fica de fora, Ás — Mylo retrucou, a voz firme, como se quisesse desmascarar a fraqueza dela — Quando a coisa aperta, você some. Sempre tem uma desculpa.
Áster sentiu as palavras como um soco, mas não deixou que isso a derrubasse. A sensação de estar sendo atacada, de ser vista como incapaz, a tomou por um instante, mas ela não ia ceder agora. Em vez disso, respondeu com um olhar fixo, desafiador.
— Não é questão de desculpas, Mylo, é questão de saber até onde posso ir antes que tudo se perca. Não sou você, não tenho a mesma coragem para agir sem pensar nas consequências. Entendeu?
— Já chega, Mylo! — Vi interrompeu, a voz cortante, o olhar cansado, mas firme como gelo, fixo nele — Deixa elas em paz.
Eles caminharam em silêncio pelas ruas de Zaun, onde a agitação nunca cessava. O som constante das máquinas e o burburinho das pessoas preenchiam o ar, como sempre naquele horário. As luzes das lâmpadas piscavam de forma irregular, projetando sombras dançantes nas fachadas desgastadas dos prédios. A cidade parecia pulsar em um ritmo frenético, onde ninguém permanecia por muito tempo em um só lugar.
Áster mantinha os olhos fixos no caminho à frente, a mente presa às palavras trocadas mais cedo. Ao seu lado, Vi caminhava com o semblante fechado, a concentração estampada no rosto, enquanto Mylo seguia um passo atrás, distraído, se divertindo com qualquer coisa que cruzasse seu caminho, como se nada ali tivesse importância.
Passaram pelas grandes portas de madeira do A Última Gota, o sino na parte superior tintilando com o movimento. Violet passou com a cabeça baixa, tentando evitar o olhar de Vander, mas Áster sentia o peso da atenção dele, mesmo sem olhá-lo diretamente. A presença de Vander parecia sempre pesar, sua postura rígida e os olhos atentos analisando tudo ao redor.
Áster tentou seguir em frente sem demonstrar, mas a sensação de estar sendo observada a incomodava. Vi não parecia afetada, mas Áster sabia que ela também carregava algo ali. Mylo, no entanto, estava distraído, como sempre. Para Áster, Zaun parecia estar sempre cobrando, e o A Última Gota era um lembrete disso.
— O Vander não precisa saber disso — Vi disse, jogando-se no sofá, o corpo relaxado, mas o rosto ainda carregado de preocupação.
— Relaxa, a Powder se livrou das provas — Mylo respondeu, colocando os pés sobre a mesa e se esticando, enquanto continuava a reclamar sobre a mesma coisa.
— Eu tentei ajudar! — Powder interveio, gesticulando freneticamente com as mãos. — Você não entende, Mylo! Você é mais velho, é maior. Não é justo!
— Então fica com a gente e leva um ou dois socos! — Mylo retrucou, sem paciência.
— Você gostaria de levar um ou dois socos por esse motivo, Mylo? — Áster se meteu na conversa, defendendo Powder, com os braços cruzados e incredulidade estampada no rosto.
A porta se abriu de repente, interrompendo a troca acalorada, e a presença de Vander se fez notável, seu olhar fixo e pesado em todos na sala. O silêncio caiu imediatamente. Ele não precisava falar para que todos soubessem que o que quer que tivesse acontecido, agora ele estava ali para cobrar explicações.
— Vocês estão bem? — Vander perguntou, sua voz incisiva, enquanto subia lentamente as escadas, os passos ecoando na sala.
— Nunca estive melhor — Mylo respondeu, o tom forçado tentando mascarar a raiva de momentos antes. Ele dava o melhor sorriso possível, mas algo na expressão dele traía a mentira.
— Ótimo... — Vander continuou, sem se deixar enganar. — Acho que não podem me explicar os boatos sobre uma explosão e uma perseguição a pé no Ladoalto? Cinco crianças fugiram do local... No que estavam pensando?
Vander parou por um momento, observando-a com um olhar pesado, como se estivesse medindo cada palavra. Ele não estava bravo, mas sua decepção era óbvia. Ele sabia que, em Zaun, situações como aquelas eram comuns, mas isso não significava que ele estivesse disposto a tolerar imprudência, principalmente de quem ele considerava responsabilidade.
— Que estamos prontos para lidar com trabalho de verdade – Vi se defendeu, a postura tensa.
— Trabalho de verdade?
— Tivemos uma dica, planejamos, ninguém viu – a voz de Violet saiu afiada, traindo o nervosismo que tentava esconder. A situação toda a deixava tensa, e as palavras pareciam escapar mais rápidas do que ela gostaria.
— Vocês explodiram um prédio!
Antes que ela pudesse prosseguir, Vander a interrompeu, sua voz firme e controlada:
— Não parou para pensar no que poderia acontecer com você?
O silêncio caiu sobre a sala, pesado e denso. Ninguém ousou falar. Áster engoliu em seco, sentindo o peso das palavras dele a esmagar. Mylo, que normalmente responderia com uma piada, ficou em silêncio, os olhos evitando o contato. Vi também parecia mais pensativa, o olhar distante.
Vander não precisava dizer mais nada. O que ele tinha dito era claro: a imprudência tinha suas consequências, e ele não estava disposto a ignorá-las, especialmente quando se tratava de vidas em risco. A tensão no ar aumentava à medida que todos refletiam sobre o que realmente tinha acontecido. Mas o silêncio não duraria por muito tempo; eles sabiam que tinham que responder, ou o peso da culpa seria ainda maior.
— Onde foi que pegaram essa dica? — Vander perguntou, a testa franzida, esperando uma resposta clara — Quem falou?
— Soubemos na loja do Benzo... — Powder se adiantou, as pernas dobradas e o queixo próximo dos joelhos — O Chefinho.
Vi se levantou de repente, virando-se de frente para Vander. A diferença de altura não teve efeito algum nela; seus olhos eram firmes, desafiadores, e a postura, inabalável.
— Eu sou a responsável por levar eles para lá. Se quiser ficar bravo, fique comigo — Vi falou com uma confiança fria, o desafio claro em sua voz — Mas é você que sempre fala que merecemos um lugar nesse mundo!
— Eu também já falei milhares de vezes que o Ladoalto está além dos nossos limites! Temos que ficar fora dos negócios de Piltover!
— Por quê? Eles têm muito, enquanto nós sobrevivemos de moedinhas — Vi respondeu, a voz agora mais ácida, sua frustração transbordando — Quando foi que você ficou tão de boa em viver na sombra de alguém?
Os olhos de todos se voltaram para Vi, surpresos e até um pouco atordoados. Nunca haviam visto ela tão aberta, tão desafiante, especialmente diante de Vander. Era raro, quase impensável, que ela perdesse a compostura dessa forma com ele. Vander, normalmente tão calmo e imponente, ficou em silêncio, seus olhos fixos em Vi, um brilho perigoso refletindo sua surpresa.
Mylo, Powder e Claggor trocavam olhares rápidos, sem saber o que dizer, a tensão na sala crescendo como uma tempestade prestes a desabar. Áster, por sua vez, sentia uma mistura de preocupação e surpresa por Violet. O que ela havia dito era ousado, mas ao mesmo tempo, sincero. Ela estava cansada de viver à margem, de aceitar as regras impostas. E agora, mais do que nunca, parecia que ela não tinha mais paciência para esperar algo ser feito.
— Todos para fora.
Não foi preciso ouvir duas vezes. Todos se levantaram rapidamente, seus passos apressados em direção à escada, enquanto Vi permanecia para trás, sentenciada a enfrentar uma daquelas conversas sérias com Vander.
Antes que a porta se fechasse, Áster lançou um último olhar para a namorada. Vi desviou o olhar rapidamente, esfregando as mãos no rosto como se tentasse apagar a frustração que ela sentia. Áster a viu, mas não disse nada. Sabia que aquele momento era dela, e que, por mais que quisesse ir até ela, o silêncio era tudo o que podia oferecer naquele momento.
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Quando Vander saiu porta afora com um saco cheio de coisas e lançou apenas um olhar neutro para Áster, que esperava sentada do lado de fora, ela soube que, pelo menos por ora, tudo parecia resolvido. Soltando um suspiro, Áster se levantou, batendo as mãos nas roupas para tirar o pó acumulado. Entrou no ambiente com passos cautelosos, seus olhos logo pousando em Vi, que estava afundada na poltrona, a mão em punho apoiada contra a testa, o semblante carregado.
— Está muito encrencada? — Áster perguntou, tentando aliviar a tensão com um tom leve, mas a preocupação era evidente na sua voz.
Vi ergueu os olhos lentamente, oferecendo um sorriso fraco e cansado.
— Ele não gritou, se é isso que você quer saber. Acho que é pior assim. — Sua voz saiu abafada, carregada de um peso que Áster conhecia bem.
Áster se aproximou, sentando-se no braço da poltrona ao lado dela. Ficaram em silêncio por alguns segundos, antes de Áster passar a mão suavemente pelos cabelos de Vi.
— Você fez o que achou certo, Vi. Mesmo que ele não concorde agora, ele sabe disso.
Vi fechou os olhos por um momento, como se tentasse absorver as palavras, mas o nó na garganta não desaparecia.
— Eu só... eu só queria que as coisas fossem diferentes, Estrelinha. Que a gente não tivesse que viver nessa porcaria de limite o tempo todo.
— Eu sei — Áster respondeu baixinho, apoiando a testa contra a dela — Mas você não precisa carregar isso sozinha.
Com um suspiro pesado, Vi segurou a mão da namorada, e Áster notou as faixas ensanguentadas que cobriam os nós dos dedos, as manchas secas de sangue acumuladas. Sem dizer nada, ela se levantou, foi até a mesa de canto e pegou a garrafa de bebida que Vander sempre deixava por ali. Voltou e se sentou no chão, de frente para Vi, colocando a garrafa perto da perna.
— O que está fazendo? — Vi perguntou, a sobrancelha arqueada, tentando disfarçar o cansaço na voz.
— Cuidando de você, não é óbvio? — Áster deu de ombros, sem esperar por mais perguntas enquanto começava a desenfaixar as mãos machucadas.
Trabalhando com cuidado, Áster molhou um pedaço de pano limpo com a bebida, segurando uma das mãos de Vi firme, mas gentilmente. Ela começou a limpar os cortes, deslizando o pano sobre os ferimentos com delicadeza, enquanto Vi permanecia em silêncio. Áster podia sentir os pequenos tremores que percorriam os dedos dela, sinais da dor que Vi tentava esconder. Ela só soltou o ar de leve quando o pano pressionou um corte mais fundo, mas manteve a expressão firme, como se se recusasse a admitir a dor.
— Não precisa bancar a durona pra mim, você sabe disso, né? — Áster comentou baixinho, sem desviar o olhar das mãos feridas.
Vi sorriu de canto, um sorriso cansado.
— Não tô bancando... Só não quero que você se preocupe mais do que já se preocupa.
— Tarde demais pra isso, durona — Áster respondeu com um tom brincalhão, embora os olhos ainda estivessem cheios de cuidado enquanto fazia o possível para limpar e proteger as feridas sem causar mais sofrimento.
Vi parou para observá-la. Áster estava tão linda, tão concentrada. O cabelo loiro jogado para trás, a expressão calma e relaxada, enquanto se dedicava a limpar os ferimentos com cuidado quase meticuloso. Mas quando seu olhar desceu, algo fez o peito de Vi apertar. As marcas arroxeadas de dedos no braço de Áster se destacavam contra a pele clara e pálida, como um lembrete cruel da confusão mais cedo.
Ela retirou a mão do toque dela lentamente, cuidadosa para não assustá-la. Sem dizer nada, esticou o braço para segurar o dela, os dedos calejados massageando levemente as marcas roxas.
— É por isso que eu não queria que você fosse. Odeio te ver machucada — Vi murmurou, a voz baixa, cheia de culpa.
Áster suspirou, o olhar se suavizando enquanto colocava a mão livre sobre a de Vi.
— Eu fui porque quis, Vi — Sua voz era firme, mas carregava um toque de doçura — Não gosto quando ficamos separadas por tempo demais, e era isso que estava acontecendo antes.
Vi desviou os olhos por um momento, como se estivesse tentando esconder a mistura de emoções que transbordava nela. Sabia que Áster tinha razão, mas ainda era difícil lidar com o fato de que sua decisão de protegê-los acabava trazendo risco para quem ela mais queria proteger.
— Eu só... — começou Vi, mas as palavras travaram na garganta — Eu só não quero que você se machuque por minha causa.
— Não vou — Áster respondeu, apertando de leve a mão dela — Nada disso é culpa sua. Não tinha como saber.
Vi a observou em silêncio por alguns instantes, os dedos ainda traçando as marcas no braço de Áster, agora com mais delicadeza. Cada detalhe dela parecia gravado em sua mente: os olhos determinados, o jeito como a boca se curvava em um sorriso suave mesmo nos momentos difíceis, a paciência que sempre demonstrava, mesmo quando Vi estava no limite. Era como se Áster fosse o equilíbrio perfeito para o caos que ela carregava.
— Você sabe que eu não mereço você, né? — Vi murmurou, a voz um pouco rouca, mas cheia de sinceridade.
Áster arqueou uma sobrancelha, um pequeno sorriso brincando nos lábios enquanto passava os dedos pelos cabelos curtos da namorada.
— Esse papo de novo? Quando vai entender que a sorte é minha por ter você?
Vi soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.
— Você sempre diz isso, mas... eu sei o quanto eu complico as coisas. E mesmo assim, você fica. Você me entende, me apoia. Estrelinha, eu não sei o que fiz pra merecer alguém como você.
Áster segurou o rosto de Vi com as duas mãos, os polegares traçando suavemente as linhas da mandíbula dela.
— Talvez você não perceba, Vi, mas você faz por mim muito mais do que imagina. Você me dá força, me inspira a ser mais corajosa.
Vi sorriu, um sorriso raro, que parecia iluminar o cansaço em seus olhos. Ela inclinou a testa contra a de Áster, sentindo o calor reconfortante da presença dela.
— Eu não sei o que faria sem você, Estrelinha...
— Não conseguiria cuidar dos próprios machucados, com certeza — Áster brincou, o tom leve trazendo um pequeno sorriso aos lábios de Vi. Então, com um sussurro suave, acrescentou, os olhos fixos nos dela — Sempre vou estar aqui com você, não importa o que aconteça.
O silêncio que se seguiu não era pesado ou desconfortável. Era um momento em que ambas podiam sentir a intensidade do que compartilhavam, sem a necessidade de dizer mais nada. As mãos de Vi ainda estavam sobre as de Áster, segurando-as como se fossem sua âncora, sua certeza em meio a todo o caos.
Vi soltou um suspiro profundo, os olhos perdidos por um momento enquanto segurava a mão de Áster entre as suas. O silêncio se estendeu antes que ela finalmente falasse, a voz baixa, quase como se tivesse medo de dar vida à ideia.
— Você acha que algum dia... a gente vai conseguir sair daqui? Largar tudo isso? — perguntou, o olhar sério e um pouco distante, mas com uma ponta de esperança escondida ali — Encontrar um lugar longe de Zaun, onde a gente possa viver nossa vida sem ter que olhar por cima do ombro o tempo todo?
Áster inclinou a cabeça, observando o rosto da namorada com cuidado antes de responder.
— Eu acho que sim, Vi. Mas, pra falar a verdade, acho que a gente precisa decidir que já tem o suficiente pra começar. Porque se esperarmos o momento perfeito... talvez ele nunca chegue.
Vi riu baixinho, o som carregado de algo entre tristeza e carinho — Você sempre faz as coisas parecerem tão simples.
— Não é que seja simples, é que eu acredito na gente — Áster apertou a mão dela, um sorriso leve surgindo em seus lábios — E não importa onde estejamos, contanto que estejamos juntas.
Vi puxou Áster suavemente para mais perto, a cabeça descansando contra o ombro dela. Ficaram assim por alguns segundos, o peso do momento suavizado pela presença reconfortante uma da outra.
— Tá bom, mas se a gente for pra outro lugar, você vai ter que aprender a cozinhar.
Áster soltou uma risada alta, empurrando a cabeça de Vi levemente.
— Ah, é? E você acha que seria muito melhor? Você já estragou até uma fruta, Vi.
Vi ergueu as mãos em falsa rendição, os olhos brilhando com humor.
— Ok, ok, justo. Talvez a gente precise de um plano de sobrevivência. Tipo, encontrar um lugar que tenha um mercado bem abastecido, com tudo que nunca tivemos direito.
— Ou aprender a cozinhar juntas. Vai ser divertido! — Áster riu, empurrando levemente o ombro de Vi, que retribuiu com um sorriso despreocupado.
O riso delas preencheu o espaço, tornando o ambiente mais leve, quase confortável, apesar de tudo que acontecera. Lentamente, Vi segurou o rosto de Áster entre as mãos, os dedos afastando os fios dourados que insistiam em cair para frente dos olhos escuros e brilhantes da namorada. Os sorrisos trocados eram apenas mais um reflexo do que elas compartilhavam ali, uma mistura de sonhos, medos e promessas não ditas.
Sem pressa, Vi se inclinou, os lábios encontrando os de Áster em um beijo carinhoso, cheio de afeto. Durou apenas alguns instantes, mas foi o suficiente para aquecer o peito de ambas antes que ela depositasse mais um selinho, dessa vez mais demorado, como se não quisesse se afastar tão cedo.
— Quero que sejamos eu e você contra o mundo, Estrelinha. — Vi murmurou, a voz baixa, mas carregada de convicção. — Sem nada ou ninguém para estragar nossas vidas.
— Sempre tão dramática, Vi.
Vi arqueou uma sobrancelha, um sorriso travesso surgindo em seus lábios.
— Dramática? Eu prefiro chamar de apaixonada.
— Claro, apaixonada — Áster respondeu, a provocação evidente no tom — Mas eu gosto da ideia de nós duas contra o mundo. Afinal, não tem ninguém melhor pra estar do meu lado.
— Isso é porque você sabe que eu sou irresistível — Vi brincou, inclinando-se para cutucar a cintura de Áster, fazendo-a se contorcer e soltar uma risada alta.
— Para, Vi! — Áster protestou entre risos, tentando afastar as mãos dela — Você não joga limpo!
— Eu nunca jogo limpo. Achei que já tinha percebido isso — Vi respondeu, rindo junto, mas logo suavizando o toque, segurando a mão de Áster entre as suas — Mas, sério, Ás... você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
Áster olhou para ela, o sorriso se transformando em algo mais suave, mais sincero.
— E você é a minha. Sempre foi.
Elas permaneceram assim, as mãos entrelaçadas, como se o mundo lá fora pudesse esperar qualquer coisa, como se soubesse que havia algo mais importante acontecendo ali, um amor sincero e puro, que encontrava força em qualquer obstáculo.
dois capítulos em um dia, ufa
espero que ninguém ache que os capítulos cheios de fofura e amorzinho das astervi sejam tortura, tá? sou uma boa pessoa e não mereço essa fama😞
mais dois capítulos pro ato um acabar, e não acho que estou preparada...
é isso, até o próximo capítulo💙💋
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