𖦹 V. ATOS IMPENSADOS, ERROS ESPERADOS
05. CAPÍTULO CINCO
sequência de bagunças que não podem ser varridas para debaixo do tapete
▋ZAUN, SUBFERIA - ONZE DIAS ANTES.
— Você o quê?!
Áster pensou ter ouvido errado. No entanto, quando sua namorada a encarou com um olhar neutro, esperando qualquer reação – fosse uma bronca ou uma enxurrada de perguntas –, ela soube que não era imaginação. Aquilo era real.
— Eu roubei – repetiu, a voz surpreendentemente tranquila, como se já tivesse aceitado a própria culpa há muito tempo.
— Quando? Como? Com quem? E por quê?
— Calma, Estrelinha. Uma pergunta de cada vez – ela suspirou, organizando os pensamentos antes de responder — Alguns dias atrás. Com Mylo e Claggor. E o porquê... você já sabe.
Áster sentia a mente girar, tentando organizar os pensamentos em meio ao caos que as palavras provocaram. O silêncio ao redor parecia ensurdecedor, e o ar no ambiente parecia mais denso do que o normal. Não era como se fosse uma surpresa completa, mas ouvir aquilo em voz alta tornava tudo mais real, mais palpável.
Sua namorada, por outro lado, permanecia impassível, como se já estivesse acostumada com o peso da própria decisão. Havia uma tranquilidade quase inquietante em sua postura, como se não houvesse mais nada a ser dito além do necessário. Tudo na expressão dela deixava claro que não esperava compreensão, apenas que Áster ouvisse e lidasse com a verdade à sua maneira.
— Por que não me contou? – Áster perguntou, a voz baixa, mas carregada de algo entre mágoa e incredulidade. Seus passos eram lentos, quase silenciosos, enquanto ela se aproximava de Vi.
— Porque eu sabia que você reagiria exatamente assim.
— Assim como, Vi? – Áster estreitou os olhos, a tensão crescendo entre elas como um fio prestes a se romper.
— Paranóica – Vi respondeu, cruzando os braços com uma expressão que oscilava entre defesa e cansaço — Você ia querer saber cada detalhe, tentar entender o que já não dá pra consertar. E, sinceramente, isso ia complicar ainda mais as coisas.
Áster parou, a poucos passos de distância, tentando decifrar o que Vi realmente queria dizer. O peso das palavras dela pendia no ar, e por mais que odiasse admitir, havia um fundo de verdade. Ainda assim, aquilo não tornava mais fácil aceitar que tinha sido mantida no escuro.
A loira ponderou, os pensamentos em conflito evidente, enquanto sua expressão permanecia indecifrável para Vi. Era impossível dizer o que se passava por sua mente naquele momento, mas Vi quase podia ouvir as engrenagens girando, forçando Áster a organizar a enxurrada de informações que havia acabado de receber.
O silêncio entre elas era quase palpável, carregado de algo pesado demais para ser ignorado. Áster mantinha o olhar fixo, como se buscasse respostas em um ponto qualquer do ambiente. A tensão no ar crescia a cada segundo, enquanto Vi observava, incerta se a explosão viria ou se o silêncio persistiria, arrastando o momento para um limbo inquietante.
— Então... o colar? – Áster perguntou, a voz baixa, quase trêmula, enquanto a ansiedade corroía cada pedaço de sua calma.
Vi a encarou por um momento que pareceu durar uma eternidade, seus olhos carregando algo difícil de decifrar. Era como se ela estivesse dividida entre a incredulidade diante da pergunta e a certeza de que não havia motivo para negar. A verdade estava lá, nua e crua, sem espaço para rodeios.
— Não. Não foi desse jeito – respondeu, o tom direto, quase desinteressado. — Eu peguei de um idiota na rua. Ele estava se gabando de ter roubado de uma mulher na ponte.
Áster estreitou os olhos, absorvendo a resposta com uma mistura de alívio e desconforto. Por um lado, a justificativa fazia sentido, mas, por outro, a tranquilidade de Vi diante do assunto a deixava um pouco inquieta.
— Você não se sentiu estranha? – insistiu, a pergunta escapando quase sem que percebesse.
Vi deu de ombros, a postura relaxada contrastando com a tensão no ar.
— Por que deveria? Ele era um merda. Provavelmente faria algo estúpido e inútil com o dinheiro ou o colar. Eu, pelo menos, usei para algo que realmente importava.
O peso das palavras pairou entre elas. Áster queria dizer algo, questionar mais, mas não tinha certeza se queria ouvir as respostas. Vi, por outro lado, parecia inabalável, como se já tivesse se convencido de que suas ações estavam mais do que justificadas.
— Você está brigando comigo? – Vi perguntou, os olhos baixos e a expressão carregada de algo que Áster reconheceu como uma pontada de mágoa. Era raro ver Vi assim, tão vulnerável, mas ali estava ela, claramente evitando um confronto direto. Mesmo que os motivos fossem claros e a situação praticamente pedisse uma discussão, Vi parecia fazer de tudo para não seguir por esse caminho.
Áster hesitou, as palavras presas na garganta. Ela sabia que Vi não era do tipo que recuava facilmente, o que tornava aquela postura ainda mais desarmante.
O silêncio entre elas se arrastou, quase sufocante, até Áster finalmente desviar o olhar. Ela respirou fundo, tentando conter a mistura de frustração e preocupação que borbulhava em seu peito. Não queria brigar, mas também não conseguia simplesmente ignorar o que havia acontecido. Era como se uma barreira invisível tivesse se erguido entre elas, e nenhuma das duas sabia ao certo como derrubá-la.
Vi suspirou, quebrando o silêncio. Mesmo sem olhar diretamente para Áster, sua postura denunciava o peso que carregava. Ela sabia que precisava dizer mais, mas as palavras não vinham. Afinal, como explicar algo que ela mesma mal conseguia justificar para si?
— Não, Vi. Eu não estou brigando – Áster respondeu, a voz mais calma do que esperava, mas ainda carregada de tensão — Eu só quero entender como as coisas chegaram nesse ponto.
Vi ergueu os olhos lentamente, estudando o rosto da namorada. Era difícil saber o que Áster esperava ouvir, e a própria Vi parecia incapaz de dar uma resposta que fosse satisfatória.
— Sei lá. Aconteceu.
A resposta simples não era suficiente para Áster, e o silêncio que se seguiu parecia mais pesado do que antes. Ela cruzou os braços, buscando alguma forma de organizar as perguntas que ainda fervilhavam em sua mente, mas a frustração só aumentava. Vi, por outro lado, parecia cada vez mais fechada, como se tentasse se proteger de algo que nem Áster entendia direito.
— Foi só isso? – Áster pensou em perguntar, mas não conseguiu. Parte dela temia a resposta, temia descobrir que a situação era mais complicada do que Vi estava disposta a admitir. Por mais que quisesse respostas, também sabia que, às vezes, entender significava abrir feridas que talvez nunca cicatrizassem.
— Mylo quer fazer de novo.
Áster permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Vi como se procurasse entender a verdadeira extensão daquilo. Cada palavra parecia pesar mais do que a anterior, e o que Vi disse agora fez um nó apertar em seu estômago.
Mylo... Era tudo o que ela precisava para saber que as coisas estavam se complicando ainda mais. Ela sentiu o impulso de questionar, de exigir explicações, mas algo a deteve. O desejo de manter a paz, de não perder o equilíbrio entre elas, a fez hesitar. Ela não gostava de brigar com Vi; sempre queria ser o apoio, a parceira que estava disposta a seguir qualquer caminho com ela. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de Áster sabia que havia algo mais ali, algo que não podia simplesmente ignorar.
Em um impulso repentino, Áster não pensou mais em nada além de uma ideia que surgira de repente, brilhando em sua mente como uma lâmpada amarela acesa, tão intensa e clara que parecia impossível ignorá-la. Era uma solução absurda, uma tentativa desesperada de resolver tudo, mas naquele momento, parecia a única saída.
O diabinho roxo de seus pensamentos sussurrava em sua mente, provocando-a, sugerindo que talvez fosse a melhor maneira de lidar com tudo. Ela sabia que estava pensando de forma irracional, mas o desejo de resolver as coisas de uma vez por todas a impulsionava.
O medo de perder Vi, de deixar que tudo se perdesse em meio ao caos, a fazia se agarrar a qualquer possibilidade, por mais insana que fosse.
— Eu quero ir.
As palavras escaparam de seus lábios antes que pudesse realmente ponderar sobre o que estavam significando. Áster sentiu o peso delas à medida que o silêncio tomou conta do ambiente.
Vi a observou, uma mistura de confusão e uma ponta de preocupação. Não era como se Áster fosse impulsiva por natureza; normalmente, ela era cautelosa, pesava as consequências antes de tomar qualquer decisão. Mas agora... agora parecia que ela queria se perder na ideia, como se fosse a única maneira de lidar com tudo aquilo.
— Onde você quer ir? – Vi perguntou, a calma em sua voz tentando disfarçar a preocupação crescente.
— Com vocês. Quando é a próxima?
— Você não vai.
Áster não deixou a hesitação tomar conta, mantendo o olhar fixo. Não era como se ela tivesse alguma dúvida de que algo assim poderia acontecer, mas a recusa de Vi soou como uma porta fechando diante dela.
— Por que não? – retrucou, a voz mais firme agora. - Você me excluiu disso tudo, e agora eu quero fazer parte, junto.
Vi pareceu incomodada, o olhar distante enquanto processava as palavras de Áster. Ela demorou alguns segundos, como se procurasse uma justificativa que fosse suficiente para convencer a namorada.
— Eu pensei em levar a Powder – Vi começou, mas a maneira como pronunciou o nome da mais nova parecia carregar um peso de decisão — Imaginei que ela estivesse pronta pra fazer parte de mais coisas do grupo. Mas não você.
Áster sentiu uma pontada de indignação. A comparação com Powder parecia injusta, e ela não conseguia entender o motivo de ser excluída, especialmente depois de tudo o que tinham passado juntas.
— E por que não eu? - ela enfatizou a última palavra, um desafio claro no tom – A Powder é só uma criança.
Vi a olhou, o semblante ainda sério, mas com um toque de exaustão. Ela sabia o que as palavras dela poderiam provocar, mas não tinha escolha.
— Porque eu não quero você lá se as coisas derem errado. – Vi falou baixo, o olhar dela finalmente encontrando o de Áster, como se fosse um aviso — Eu não posso te colocar nesse risco, não assim. Não quando as coisas podem... sair do controle de um jeito que você não está pronta pra lidar.
Áster sentiu um arrepio ao ouvir isso. Era uma verdade que ela já sabia, mas ouvir de Vi parecia dar um peso inesperado àquelas palavras.
Vi suspirou, o som carregado de uma exaustão silenciosa. Seu corpo caiu para trás, o peso das palavras e da situação se fazendo sentir de forma abrupta. Era como se, em um movimento involuntário, ela cedesse à batalha interna que não estava preparada para enfrentar. Então, sem mais preâmbulos, ela soltou a frase com um tom quase resignado:
— Tudo bem.
▋PILTOVER - CINCO DIAS ANTES.
Se arrependimento matasse, Áster já estaria morta há exatos quarenta e cinco minutos.
Enquanto se movia cautelosamente pelos tetos da imponente Cidade do Progresso, ela sentia o peso de suas próprias palavras martelando sua mente, esmagando seu crânio com a intensidade de um furacão. Roubar de Piltover havia sido uma péssima ideia, uma decisão tão arriscada que beirava a tentativa de suicídio. Áster sabia disso. Mesmo com toda a cautela do mundo, a sensação de que as chances de dar errado eram de noventa e nove por cento parecia ser a única coisa certa naquele momento.
Quando chegaram no topo de um prédio, o sol aquecendo as peles sob as camadas de roupa, Áster sabia que não havia mais volta. O horizonte de Piltover se estendia diante deles, com suas imponentes torres e ruas movimentadas, e a sensação de que algo irreversível estava prestes a acontecer a engolia por completo.
— Vi, tem certeza disso? E se formos pegos? — Claggor perguntou, avançando à frente de Áster, os olhos analisando a cidade lá embaixo com uma mistura de ansiedade e excitação. Sua voz carregava uma preocupação genuína, mas ele sabia que, uma vez que estavam ali, não havia mais espaço para hesitação.
Áster observou Vi, que parecia tão tranquila quanto sempre. As palavras de Claggor pareciam não atingi-la, como se ela já tivesse aceitado o risco e estivesse pronta para seguir adiante, custasse o que custasse. Ela havia sido a primeira a dar aquele passo, e agora, estava prestes a levar todos com ela.
— Não vamos ser pegos. Vamos entrar e sair antes que alguém perceba — Vi avançou, seu corpo se aproximando do parapeito do prédio — Muito bem, galera. É só me seguir. Só não olhem pra baixo.
Vi avançou com precisão, movendo-se agilmente pela superfície do telhado, seus passos firmes e calculados. Ela era como uma sombra, deslizando entre os obstáculos com a confiança de quem já havia feito aquilo dezenas de vezes, Mylo a acompanhou. Claggor, um pouco mais desajeitado, mas igualmente determinado, a seguia de perto, seu olhar atento a cada movimento, enquanto Powder, a mais leve do grupo, descia com facilidade, como se fosse parte do próprio vento. A cena era quase silenciosa, exceto pelo som suave de seus pés tocando o metal e o leve zumbido do vento que cortava o espaço entre eles e a cidade abaixo.
Powder estava parada, os olhos arregalados de medo enquanto olhava para o chão.
— Ei, Powder! O que eu te falei? — Vi gritou, a voz mais compreensiva do que repreensiva.
— Que eu 'tô pronta! — respondeu a garotinha, a determinação evidente em sua voz.
Powder respirou fundo e, com um esforço, seguiu os outros, quase perdendo o equilíbrio no caminho, mas sendo rapidamente amparada por Vi. De forma cautelosa, como sempre, Áster a seguiu, seus pés deslizando suavemente pela proteção de uma sacada. Com as mãos firmemente posicionadas para evitar qualquer queda, ela avançou, cada passo calculado, com a tensão e a adrenalina crescendo à medida que a distância entre ela e o chão aumentava.
Áster, mais cautelosa, os seguiu, os dedos apertando a proteção da sacada enquanto observava, até que, ao parar perto deles, Vi lhe lançou um sorriso.
— E se o Vander descobrir que estamos aqui em cima? — Claggor questionou, a desconfiança e insegurança em sua voz.
Vi deu uma olhada ao redor, tranquila.
— Olha em volta. Você realmente acha que alguém do Lado Alto passa fome? Além disso, esse é exatamente o tipo de trabalho que o Vander faria quando tinha a nossa idade – Vi rebateu, confiando plenamente no plano — Eu vou. Vocês estão comigo ou não?
— O Vander vai matar a gente... — Claggor murmurou, a preocupação evidente em sua voz.
— Só se a gente ferrar com tudo. Então não ferra tudo. — Vi respondeu, sem perder a compostura.
Com um movimento rápido, ela desceu para a sacada de baixo, a confiança em cada passo. Mylo a seguiu de perto, preparado para ajudá-la a destrancar a porta. Alguns segundos depois, a paciência de Vi se esgotou. Sem mais nem menos, ela deu um chute na porta, o som ressoando pelo prédio enquanto ela ignorava a tentativa de abrir com cuidado.
Áster soube que os riscos eram ainda piores quando entraram no lugar. As paredes, revestidas de materiais finos, refletiam uma riqueza excessiva, e os objetos espalhados pelo ambiente eram claramente valiosos, com um brilho imponente que só poderia vir de peças raras e caras. Cada detalhe parecia ter sido escolhido para impressionar, criando um ambiente que parecia mais uma fortaleza de luxo do que um simples refúgio.
Ela tentou se manter calma, mas não conseguia evitar o aperto no peito. A pressão de estar em um lugar tão distante de sua realidade, onde cada erro poderia ser fatal, pesava sobre ela. Vi, por outro lado, parecia mais à vontade, seus olhos observando cada canto com uma precisão implacável, como se já tivesse sido parte daquele mundo. Áster tentou se concentrar, não podia falhar agora.
— Você não precisa fazer isso – Vi disse, colocando uma das mãos na cintura de Áster com um gesto de surpresa. Seus olhos estavam fixos nela, como se tentasse entender o que passava pela cabeça da amiga.
Áster desviou o olhar, um leve sorriso forçado surgindo em seu rosto. Ela sabia que Vi estava apenas tentando protegê-la, mas não podia recuar agora. O que estavam prestes a fazer era arriscado, sim, mas também era necessário.
— Eu sei, mas já estou aqui – respondeu Áster, sua voz firme. – Não podemos desistir agora, Vi.
Vi a observou por um momento, os olhos suavizando, mas sem perder o tom de cautela.
— Então vamos ser rápidas.
Áster se afastou de Vi, caminhando com cautela pela casa. Seus olhos percorriam as estantes repletas de livros encadernados em couro, suas lombadas douradas refletindo a luz suave que entrava pelas janelas. Cada título parecia mais valioso que o anterior, como se aquele lugar fosse um santuário de conhecimento acumulado por gerações.
Ela esticou os dedos, tocando levemente as capas, sentindo a textura fina dos volumes, mas logo seu olhar se desviou para os objetos espalhados pelas mesas — esculturas de cristal, relógios de prata e copos de vidro colorido que cintilavam com uma beleza quase hipnótica.
Mesmo sem estar totalmente certa do que estava fazendo, algo dentro dela lhe dizia que não podia deixar passar aquela oportunidade.
Áster pegou uma pequena caixa de madeira com detalhes em prata, guardando-a rapidamente na mochila. Ela olhou para o ambiente ao seu redor, o peso da decisão recaindo sobre seus ombros, mas sua mente estava focada. Pegou mais alguns itens, joias delicadas e um par de velas finas, jogando-os na mochila com a mesma urgência silenciosa. Cada movimento seu era calculado, embora, lá no fundo, ela soubesse que não havia volta agora.
Os minutos pareciam se arrastar, e Áster logo percebeu que estava se distanciando demais do grupo, pois já quase não conseguia ouvir as conversas paralelas. Sentiu o peso da mochila em seus ombros e, ao segurar a alça com mais firmeza, parou no meio do caminho. Foi então que a viu: Vi apareceu diante dela, com uma expressão impaciente e preocupada, arrastando Powder pela mão, que parecia mais ansiosa a cada passo.
— Vem! Temos que ir. — Vi disse, a urgência em sua voz clara, olhando para Áster e, em seguida, para Powder, que estava tentando acompanhar, mas claramente nervosa.
— Vamos ficar bem. Vão para o telhado. — Vi disse, com uma determinação firme, empurrando Powder à frente enquanto olhava para Áster, tentando transmitir confiança.
Antes mesmo de chegarem perto do local indicado, um estrondo abalou o ambiente. Uma explosão dentro da casa fez as paredes tremerem e a porta mais próxima se abrir com força, lançando poeira e cacos de vidro pelo ar. O som foi ensurdecedor, e Áster quase perdeu o equilíbrio. Instintivamente, ela se abaixou, protegendo os olhos com os braços. O calor da explosão ainda parecia reverberar no ar, e a fumaça começava a se espalhar rapidamente.
Vi puxou Powder com mais força, seus olhos agora fixos no caminho para o telhado, sem hesitar. A casa estava começando a desmoronar ao redor deles. Não havia mais tempo para pensar.
Sem ter tempo para reagir, eles começaram a correr o mais rápido que conseguiam. Os passos apressados ecoavam pelo corredor, e os gritos dos guardas, ainda mais distantes, deixavam claro que estavam em seu encalço. Áster sentiu o coração disparar, o medo se misturando com a adrenalina. Ao olhar para trás, viu algumas sombras se aproximando rapidamente, seus uniformes brilhando através da névoa de poeira que ainda se espalhavam pela casa.
Vi liderava o grupo, com Powder logo atrás dela, enquanto Áster tentava acompanhar, embora sentisse o peso da mochila e o cansaço começando a pesar em suas pernas.
Elas se enfiaram por um corredor estreito, dobraram uma esquina e passaram por uma janela quebrada que dava para um beco. Sem pensar, pularam para fora e caíram com força no chão, mas logo se levantaram e correram em direção à rua, onde a bagunça ainda bloqueava a visão. Eles estavam quase lá, mas os gritos dos guardas ficaram mais nítidos, mais perto.
Eles correram com todas as forças, a ponte começando a se fechar diante de seus olhos, as lâminas metálicas se erguendo rapidamente. Vi foi a primeira a perceber, e com um grito de alerta, deu um impulso final, saltando para o outro lado da ponte, com Áster e Powder logo atrás dela. O som das lâminas se chocando ecoou, mas a sorte estava ao lado delas.
O impacto foi forte, mas elas conseguiram se levantar, sem perder o ritmo, e correram em direção a um beco estreito ao final da ponte. Sem hesitar, encontraram uma entrada disfarçada para o esgoto, uma tampa de metal que se abriu com um rangido.
Quando caíram no esgoto, o choque foi imediato — o cheiro invadiu suas narinas e elas caíram em uma pilha de coisas gosmentas e nojentas, que grudavam em suas roupas e cabelos. Mas não havia tempo para parar. Todos eles se ergueram rapidamente, tomando o caminho mais fundo para escapar da perseguição.
— Achei que a última vez seria a última vez que fazíamos isso — Mylo disse com um tom irônico, suas roupas sujas e os cabelos úmidos de sujeira e suor.
— Essa vai ser a última vez — Vi afirmou com firmeza, ajudando Powder a se sentar no chão antes de se virar para encarar Áster. Seu olhar estava carregado de preocupação, mas também de uma determinação silenciosa.
— O que foi aquilo? O que aconteceu lá? — Claggor perguntou, seu olhar perdido, como se ainda tentasse entender o que havia acontecido.
Todos se voltaram para Powder, que imediatamente se defendeu, a voz alta e agitada, o que deu início a uma discussão entre ela e Mylo. Vi, com um suspiro, interveio antes que a situação escalasse.
Ela os guiou para fora, os passos ressoando na água suja do esgoto até que finalmente saíram daquele lugar. Áster estava quieta, o cabelo preso em um rabo de cavalo bagunçado, as pontas sujas e o rosto suando frio. Havia sido uma aventura e tanto, que ela não esperava repetir tão cedo, se é que algum dia faria isso novamente.
Eles seguiram pelas ruas, com as mochilas pesadas sobre os ombros, atravessando um beco apertado. As luzes fracas das lâmpadas oscilavam, lançando sombras longas nas paredes sujas. Foi então que passaram por alguns homens encostados na parede e ouviram a conversa.
— Eu soube de uma treta do outro lado do rio... — um deles comentou, um sorriso malicioso no rosto. O tom de sua voz estava carregado de informação, mas ninguém sabia se aquilo era um aviso ou apenas conversa fiada.
— Ah, é mesmo? – Vi respondeu, a voz carregada de sarcasmo, enquanto prosseguia caminhando.
Mas era tarde demais; eles já estavam encurralados.
E, definitivamente, muito encrencados.
e veio aí o começo da bagunça...
agora é oficial, daqui pra frente, só pra trás, pro fundo, pro núcleo da terra e etc.
DESCULPEM O HORÁRIO, DE VERDADE. o dia foi corrido e me atrapalhei toda com o capítulo.
um beijo e até o próximo💙
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