ㅤㅤ𝟬𝟬𝟯.ㅤ› testing confidenceu;
🧟♀️
୧ ❛ CAPÍTULO 003 ❜
testando confiança
ㅤㅤ Brooklyn soltou o corpo de Rick em cima do colchão, após ajudar Morgan o carregar até um dos quartos de uma casa, que ficava em frente ao local que antes estavam na rua. Ela se afastou, voltando rapidamente para perto de Aurora, e percebeu o Jones começar a passar cordas nos pulsos e calcanhares do homem, o prendendo na madeira da cama.
ㅡ Para que isso, cara?! - ela não evitou em perguntar. ㅡ Já disse que é ferimento de uma bala!
ㅡ É, e ele está queimando de febre. - Morgan rebateu, calmamente. ㅡ Quero previnir, está bem? Para o bem de todos nós.
ㅡ Tanto faz. - a Dixon murmurou, revirando os olhos. Ela abraçou Aurora pelos ombros, de forma protetiva, notando que o filho de Morgan estava de olho nelas, enquanto segurava um taco de beisebol nas mãos.
ㅡ São o que uma da outra? - Morgan perguntou, chamando a atenção novamente da garota. ㅡ Mãe e filha?
ㅡ Acha que tenho quantos anos?! - Brooklyn pareceu um pouco ofendida. ㅡ Somos amigas! Companheiras nessa merda toda, sabe? - ela continuou, olhando de cenho franzido o homem.
ㅡ Claro, claro... - ele soltou um riso fraco. ㅡ Estão indo para onde? Atlanta, o centro de refugiados?!
ㅡ É. - Brooklyn abaixou os ombros, respondendo em um tom fraco de voz. ㅡ Eu perdi meus irmãos, acredito que estejam refugiados por lá.
ㅡ Eu realmente espero que os encontre, Dixon. - Morgan disse. ㅡ Bom, estão com fome?
ㅡ Sim! - Aurora disse espontânea, sem se conseguir segurar, antes mesmo de Brooklyn ter a chance de abrir a boca. Com a atenção sobre si, a garotinha encolheu os ombros e sentiu seu rosto ruborizar. ㅡ Desculpe... é que realmente estou com bastante fome. - ela murmurou.
ㅡ Faz horas desde que comemos pela última vez. - Brooklyn completou, sorrindo para lhe dizer que estava tudo bem. ㅡ Ela é prioridade, então se puder arrumar algo para Aurora comer... eu agradeceria. - a Dixon disse com o tom de voz baixo, e com um pouco do seu sotaque do interior aparecendo.
ㅡ E você? - Morgan levantou uma sombrancelha.
ㅡ Eu 'tô bem. Consigo aguentar. - ela respondeu simples.
O homem ficou em silêncio, por um segundo, apenas absorvendo aquelas palavras e observando a Dixon, como se estivesse com mil perguntas sobre ela em sua cabeça, e tentando analisar se havia algo a mais naquela sua resposta anterior.
Guardando todas as dúvidas para si, Morgan apenas se levantou da cama e foi em direção da porta, onde trocou um olhar com seu filho.
ㅡ Irei esquentar alguns enlatados para nós. - ele começou. ㅡ Podem ficar aqui, ou então me acompanhar. Duane irá ficar de guarda.
ㅡ Vou ficar aqui e cuidar do curativo dele... Parece estar na hora de trocá-lo. - Brooklyn apontou Rick na cama, logo notando a dúvida no cenho franzido dos Jones. ㅡ Sei fazer isso, sou auxiliar de enfermagem. - explicou simplesmente.
ㅡ Está bem. - Morgan suspirou. ㅡ Me grite se necessário. - ele sussurrou para Duane, antes de por fim deixar o quarto.
Brooklyn o observou saindo e desaparecendo no corredor, até entrar na cozinha. Ela suspirou, olhando para Aurora, e sinalizou para a mesma se sentar na poltrona do quarto - o que a garota obedeceu, concordando em um aceno; Luna a acompanhou, deitando em seus pés -. Em seguida a Dixon seguiu para a cômoda ao lado da cama, selecionando os itens que haviam por ali e necessários para seu trabalho.
ㅡ Então... - Duane, quebrando o silêncio com uma limpeza de garganta, começou a dizer. ㅡ Onde é que você se machucou?
Olhando rapidamente de relance, Brooklyn percebeu que ele conversava com Aurora, ainda parado em seu lugar na porta. A garotinha ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse ponderando a pergunta e analisando o garoto - o que, com um sorriso de canto, a Dixon observou com certo orgulho -, antes de por fim responder.
ㅡ Estávamos em um playgraound aqui perto. Um dos brinquedos cedeu e eu caí. - Aurora respondeu, com um resumo da história. ㅡ Fomos até o hospital para Brookie fazer esse curativo em mim. - a garotinha contou sorridente, erguendo o gesso em seu braço.
ㅡ Foram até o hospital?! - Duane parecia surpreso. ㅡ Mas... vimos os corpos no pátio. O lugar deveria estar infestado!
ㅡ Mas não está. - Brooklyn entrou na conversa, enquanto começava a troca do curativo. Estava sentada de costas para os mais novos, mas podia notar a atenção de ambos em si. ㅡ Os corredores estão vazios e revirados. Há sim cabeças podres por lá... mas estão presos na cafeteria.
ㅡ Uau... - o Jones murmurou. ㅡ Você esteve o tempo todo sozinha antes de encontrar ela? - ele agora perguntou para a Dixon.
ㅡ É... sozinha nessa merda toda, apenas contando com a sorte para achar meus irmãos. - Brooklyn respondeu se levantando ao terminar. ㅡ Acredite, não foi fácil. Mas! Eu não desisto tão fácil assim. - dando um sorriso meio atrapalhado para o garoto, a Dixon começou a organizar as coisas outra vez.
ㅡ Acha que ele levou um tiro como? - Aurora perguntou, olhando Rick em sua frente. Brooklyn olhou para ela e depois o homem.
ㅡ Talvez seja um ladrão. - Duane disse. ㅡ Baleado em um emboscada... ou durante uma fuga.
ㅡ O que?! - Brooklyn deu uma risada verdadeira. ㅡ Não... ele não era um ladrão. - ela afirmou.
ㅡ Como pode ter tanta certeza? - o Jones perguntou.
ㅡ Eu não sei. - Brooklyn deu de ombros. ㅡ Uma intuição me diz que Rick é algum oficial. Policial, principalmente! - ela disse, apontando.
ㅡ Ela costuma estar sempre certa? - Duane perguntou para Aurora. ㅡ Não gostaria de perder essa tão fácil assim!
ㅡ Brookie costuma estar certa na maioria das vezes. Se eu fosse você, já desistiria desde então. - Aurora respondeu, sorrindo com falsa inocência para o garoto, que lhe olhava indignado.
Brooklyn deu as costas para eles novamente, enquanto deixava um sorriso escapar de seus lábios. Talvez Aurora estivesse começando a pegar algumas de suas manias, e a Dixon não conseguia decidir se estava orgulhosa ou com medo daquilo.
꩜꩜꩜꩜
O silêncio havia tomado conta do quarto.
Brooklyn guardava as coisas na cômoda, vez ou outra olhando para Aurora, ainda sentada na poltrona, balançando seus pés e tendo Luna dormindo tranquilamente ao seu lado. Duane estava escorado no portal da porta, brincando com taco em suas mãos. A Dixon deixou de observá-los, quando notou uma certa movimentação na cama.
Ela olhou para Rick, vendo o mesmo abrindo os olhos lentamente e tentando se soltar das cordas, ao mesmo tempo que olhava para os lados, totalmente confuso e se perguntando com o olhar onde estava. Brooklyn correu para o lado de Aurora, ao mesmo tempo que Duane gritou por seu pai.
Morgan chegou no quarto em poucos segundos, e foi direto em direção da cama, também ganhando o olhar confuso de Rick, que ainda parecia ser uma pessoa viva e normal. Ele suava, mas não parecia mais apresentar sintomas de se tornar um infectado.
ㅡ Qual seu nome? - Morgan perguntou.
ㅡ Rick... Rick Grimes. - o homem respondeu com a voz rouca.
ㅡ Okay, Rick. Consegue me dizer o real motivo do seu ferimento?
ㅡ Tiro. - Rick respondeu simplesmente.
ㅡ Só isso? - Morgan perguntou.
ㅡ Um tiro não é o bastante? - o Grimes perguntou com frieza.
ㅡ Ele realmente está bem, cara. - Brooklyn disse, com um sorriso oculto nos lábios.
Morgan a olhou rapidamente, antes de se vriar novamente e tentar se aproximar de Rick, para assim tocar sua testa. Mas, o Grimes havia se esquivado do toque.
ㅡ Me deixe medir sua temperatura! - pediu ele. Tocando na testa de Rick, o homem teve a certeza que tudo estava normal. ㅡ Sem febre. - disse, olhando na direção de Brooklyn.
ㅡ Acho que agora poderia soltar ele, o que acha?! - a garota disse, cruzando seus braços.
ㅡ Certo. - Morgan tirou um canivete do bolso. ㅡ Rick... meu nome é Morgan, e aquele é meu filho Duane. Estou te soltando... mas, vê como isso é afiado? - ameaçou, mostrando a lâmina bem próxima do rosto do homem, que recoou. ㅡ Um passo em falso e não vou ter problemas em usá-la!
Morgan disse, por fim cortando as cortas dos pés e mãos de Rick. Ele saiu do quarto junto a Duane, depois de mandar um olhar para Brooklyn e avisar para iriem quando estiverem prontos. A Dixon suspirou, meio irritada da forma que Rick havia sido tratado pelo Jones, e tornou a se aproximar da cama.
ㅡ Ele só está sendo cauteloso. - ela disse. ㅡ É estranho ainda encontrar alguma pessoa realmente viva depois de tanto tempo. - completou. ㅡ Sou Brooklyn Dixon! - e estendeu a mão para Rick.
ㅡ Sou...
ㅡ É, eu sei. Rick. - a Dixon disse em um riso anasalado, depois de apertarem as mãos. ㅡ Essa é Aurora... - apresentou a menina, voltando a abraçar os ombros da mesma; Aurora acenava levemente para o homem, com um sorriso meigo. ㅡ E essa aí é a nossa Luna. - a mais segurou o riso, ao ver a cachorra lambendo a mão do Grimes, buscando carinho após notar que o mesmo não era uma ameaça.
ㅡ Vocês que me encontraram no hospital. Porque simplesmente me seguiu? - Rick perguntou com curiosidade, ao mesmo tempo que dava atenção ao animal.
ㅡ Teria morrido se não tivesse te seguido. - a garota mais velha disse. ㅡ Fiz o que achei que seria o certo. - completou.
ㅡ Obrigado. - Rick murmurou.
ㅡ Só espero não me arrepender de ter te ajudado, cara. - Brooklyn falou. ㅡ Bom, venha na hora que realmente estiver se sentindo melhor. Estaremos na sala de jantar. - completou, saindo do quarto junto a Aurora e Luna.
As duas caminharam pelo corredor em direção aos Jones, que já estavam se sentando na mesa. Aurora e Brooklyn se sentaram do lado oposto de Duane, enquanto Morgan buscava a penela com seu jantar; ele logo se juntou a eles, começando a servir um pouco em cada um dos pratos.
Logo o pequeno grupo notou a pequena movimentação de Rick pelo corredor, estando enrolado em cobertor e com seus pés no chão - já que ainda vestia as vestes de hospital -. Ele observou a casa, enquanto caminhava até a sala da mesma. Parecia reconhecer o lugar.
ㅡ Essa é a casa dos Drake's. - Rick disse.
ㅡ Não sei quem são. - Morgan disse, servindo feijão ao seu filho. ㅡ Estava vazia quando chegamos. Sinto muito. - ele lamentou.
ㅡ Não faça isso. - Brooklyn alertou, quando viu o Grimes perto da janela, prestes a mover o pano que cobria a mesma. ㅡ Tem muitos deles lá fora, vão ver a luz! - completou.
ㅡ Não deveria ter disparado aquela arma hoje de manhã. - Morgan suspirou. Brooklyn concordou em pensamento. ㅡ O som os atraí, e agora estão por todas as ruas.
ㅡ Atirou naquele homem. - Rick falou, se sentando a mesa. ㅡ Porque fez isso?
Morgan franziu o cenho, quase rindo com aquela pergunta. Ao perceber que o homem não brincava, o Jones olhou para Brooklyn, que havia erguido o olhar para a conversa dos dois.
ㅡ Ele estava em coma. Não faz idéia do que está acontecendo. - avisou ela.
ㅡ Certo. - Morgan soltou um riso fraco. ㅡ Rick, "aquele homem" não era uma pessoa viva. Era um errante.
ㅡ Errante? - o Grimes perguntou confuso.
ㅡ É. - Morgan confirmou. ㅡ Errante, zumbi, morto-vivo, caminhante, doentes, infectados...
ㅡ É assim que os chamam? - Brooklyn riu. ㅡ Eu os chamo de cabeças podres, não sabia os nomes.
ㅡ O nome não é o importante. - Morgan voltou ao ponto inicial. ㅡ Esses são os mortos que o governo não matou. Os que ficam vagando por aí, cedentos por um pedaço da sua carne, prontos para te devorar.
ㅡ E estão lá fora agora? - Rick perguntou.
ㅡ Estão. - Brooklyn confirmou. ㅡ São mais agitados a noite. Não gostam de barulho, e são atraídos por eles. - ela explicou.
ㅡ Um conselho... - Morgan chamou a atenção do homem outra vez. ㅡ Não seja mordido ou arranhado. Você vai ficar com febre, morrer, e em segundos voltar com um deles.
ㅡ É a primeira vez que escuta isso. - a Dixon soltou um riso anasalado, diante do espanto de Rick. ㅡ Acredite em mim, na terceira vez você se acostuma.
ㅡ E vocês parecem saber bem o que está acontecendo aí, não? - Rick perguntou, ainda tentando processar a frase de Morgan.
ㅡ Já vimos acontecer. - Duane disse, logo sendo consolado pelo pai. Rick olhou para Brooklyn.
ㅡ A mãe de Aurora, mas... ela se sacrificou antes que pudesse voltar. - explicou simples, abraçando a garotinha ao seu lado.
ㅡ E você? Desde quando está por aí? - ele ainda perguntou.
ㅡ Desde o começo. - a garota respondeu. ㅡ Eu estou atrás dos meus irmãos, e estou passando pelo inferno para achar eles. Foram os únicos que sobraram para mim. - disse determinada.
Depois daquela conversa, o silêncio pairou novamente sob a mesa. O grupo comeu sua refeição em total silêncio, sem mais nenhum assunto presente. Brooklyn abriu uma lata de ração para Luna, antes de comer sua própria comida, se aliviando por perceber o qual necessitado seu estômago estava de uma comida verdadeira.
Eles foram para a sala, espalhados pelos colchões no chão. Aurora estava deitada no colo de Brooklyn, já dormindo, e Luna também estava dormindo ao lado delas. Estavam todos em silêncio, sendo capazes de ouvirem apenas alguns grunhidos distantes, antes de Morgan chamar a atenção de Rick outra vez.
ㅡ Carl. - Brooklyn levantou o olhar na direção dos dois. ㅡ É seu filho? Ouvimos você dizer o nome dele antes de desmaiar.
ㅡ É. - Rick sorriu fraco. ㅡ É da sua idade, um pouco mais velho que Duane. - disse olhando para Brooklyn.
ㅡ Ele está com a mãe dele? - Morgan perguntou.
ㅡ Eu espero que esteja. - Rick respondeu, por um instante parecendo aflito.
ㅡ Pai... - Duane, que quase já estava dormindo, chamou. ㅡ Já perguntou para ele? - Brooklyn e Morgan riram.
ㅡ O quê? - Rick perguntou a eles.
ㅡ Fizemos uma aposta. - Morgan começou. ㅡ Por causa do seu tiro... achamos que é algum tipo de ladrão de bancos.
ㅡ Eu sou sim. Tão perigoso quanto o Robbie Hoddy! - Rick entrou na brincadeira. ㅡ Sou o xerife da cidade... ou era pelo menos. - ele respondeu.
Brooklyn, que estava apenas observando, olhou para o homem e pensou sobre aquilo. Era claro que Rick era da patente alta da cidade, ele tinha postura para isso. Suas suspeitas estavam certas. Ainda pensou que, se ele tinha um filho, o mesmo certamente seria do tipo que era mimado, conhecido na cidade, e treinava para assumir os cargos de líder do pai. O tipo clichê idiota de cidade grande. Ela riu com seus próprios pensamentos, balançando a cabeça para os afastar.
De repente, um alto alarme começou a tocar na rua, assustando todos eles. Duane começou a apagar as luzes, Brooklyn abraçou Aurora - que acordou assustada -, vendo Luna arrepiar seus pêlos e começar a rosnar, e os mais velhos foram até a janela. A Dixon se levantou, depois de deixar a mais nova com cuidado no colchão com a pastora-alemã, e foi olhar o espaço que Rick havia feito nos panos, parada ao lado do homem.
ㅡ Ela está aqui... - Duane disse assutado, antes de correr para chorar em seu colchão. Morgan foi até ele, logo consolando seu filho.
Brooklyn e Rick permaneceram ali, olhando um errante de uma mulher caminhando pela rua, até virar em direção da casa. Ela subiu lentamente as escadas, e a dupla observou que a maçaneta começou a se mexer. A Dixon se afastou, enquanto o homem foi até a porta e observou através do olho mágico. Em seguida ele ofegou, pulando para trás.
ㅡ Ela... - Morgan começou, quando ambos haviam voltado a se sentar - ainda observando a maçaneta rodar -. ㅡ Ela morreu no quarto dela, na nossa cama. Eu não pude fazer nada. A febre... a pele dela ficou quente como forno. Eu devia... vocês sabem. Mas, não tive coragem. Ela é a mãe do meu filho! - ele chorou.
ㅡ Sinto muito. - Brooklyn murmurou, mas sem conseguir olhar para Morgan, abraçando Aurora e a fazendo, aos poucos, dormir outra vez.
꩜꩜꩜꩜
Brooklyn queria poder fazer Aurora esquecer aquele mundo. Os errantes, e todos que ela já precisou matar na frente da mais nova. A Dixon via como a garota simplesmente não tinha nenhuma reação diante essas cenas, seja medo, tristeza ou nojo. Nada. E aquilo era muito para uma criança de oito anos, principalmente para uma que lidava 'tão' bem com o fato de estar em um apocalipse.
Mas a Dixon sabia que não havia outra reação para Aurora, aquela era sua realidade agora. Elas precisavam encarar os infectados para sobreviver.
ㅡ Brookie...
A mais velha, que antes afiava suas facas distraída com aqueles pensamentos, voltou a atenção para Aurora. A garota estava sentada no braço do sofá, com seu revólver sem balas na mão, observando o punhal do mesmo.
ㅡ Quando vou poder atirar? - a Phelps perguntou genuinamente, pegando a outra desprevenida.
Brooklyn deixava Aurora andar com a arma descarregada pela a mesma ser sua, e pelo sentimento que tinha naquele revólver. Mas, nunca havia pensado que algum dia balas realmente seriam colocadas ali, e a Phelps aprenderia se defender sozinha. A Dixon não queria encarar aquilo, mas agora, com aquela pergunta, sabia que deveria começar a aceitar o fato.
Ou Aurora aprendia a lidar com os errantes, ou então morria.
E Brooklyn não queria nem pensar na possibilidade da segunda opção. Realmente havia criado um sentimento pela garotinha.
Ela soltou um longo suspiro, voltando a atenção do seu olhar para as facas em suas mãos, antes de por fim dar uma resposta para Aurora.
ㅡ Você tem que crescer mais um pouco, Aury. Eu vou te ensinar... apenas espere mais um pouco, está bem? - Brooklyn respondeu com a voz fraca.
ㅡ Tudo bem. - Aurora aceitou a resposta, bem compreensiva.
Brooklyn observou a forma que ela guardou a arma novamente em seu coldre, antes de voltar a balançar despreocupadamente os pés para baixo do sofá. A Dixon suspirou, guardando suas próprias armas e indo para frente da garota, se agachando ali mesmo.
ㅡ Aury... - ela suspirou, pensando em como começar. ㅡ Acho que precisamos conversar. Como você está tão tranquila com isso tudo?! - a garota lhe olhou confusa. ㅡ Eu cheguei do nada, sou praticamente uma estranha para você... e ainda tem a perda da sua mãe e os errantes. Preciso saber como se sente sobre isso! - Brooklyn parecia quase suplicar para Aurora, e suspirou fundo para se acalmar no final.
ㅡ Eu estou bem, Brookie, eu juro! - Aurora disse sincera. ㅡ Eu nunca tive medo de você, porque desde o primeiro momento percebi que era alguém com um bom coração. Aceitou ajudar a mamãe... e agora cuida de mim, quando poderia muito bem ter me deixado sozinha naquele dia. - ela continuou, com um tom bem confiante; o qual Brooklyn invejou por um instante. ㅡ Eu sinto falta da minha mãe, mas ela sempre me ensinou que quem amamos nunca nos deixa de verdade. Eles sempre estarão conosco, seja como for.
Brooklyn sorriu, sentindo os olhos arderem das lágrimas que segurava, enquanto observou Aurora tocar o colar que Marie havia lhe dado antes de partir. A Dixon achava aquelas palavras tão bonitas, e ditas com tanta confiança por uma criança, que se sentia uma tola por se preocupar demais. Mas, ela não podia evitar aquele maldito sentimento de ansiedade que lhe perseguia desde criança, e que foi motivo de muitos dos seus traumas na infância.
ㅡ E sobre os cabeças podres... - ela voltou a realidade, soltando um riso fraco, ao ouvir Aurora voltar a dizer. ㅡ Não sinto medo deles... não mais. Eu sou uma menina corajosa. - a Phelps estufou o peito. ㅡ Aprendi a ser assim com você!
ㅡ Tudo bem. - Brooklyn sorriu, balançando a cabeça para disfarçar e evitar que as lágrimas caíssem. ㅡ Mas, se algum momento sentir medo, não se preocupe. É normal sentir medo.
ㅡ As meninas corajosas sentem medo?
ㅡ Principalmente as meninas mais corajosas sentem medo, Aury. - Brooklyn suspirou, fechando levemente os olhos. ㅡ E se caso sentir, tudo bem se esconder atrás de mim. Eu vou te proteger, está bem?
ㅡ Eu vou proteger você também, Brookie. - Aurora respondeu. ㅡ É uma promessa de dedinho! - ela disse, estendendo o seu dedo mínimo para Brooklyn.
ㅡ Tudo bem... - Brooklyn deu risada fraca. ㅡ É promessa de dedinho, Aury! - completou, sendo surpreendida por Aurora pulando em seu pescoço para um abraço, logo após juntar seu dedo ao dela.
Surpresa, e ainda não sabendo reagir com as aquelas demonstrações espontâneas de carinho vindas de Aurora, Brooklyn correspondeu desajeitadamente. Ela passou os braços na cintura da Phelps e a apertou levemente, se afastando para deixar um beijo em sua testa, depois de lhe olhar com um pequeno sorriso no canto dos lábios.
Brooklyn se sentiu observada, e olhou para trás delas. Rick estava parado no portal que dividia a sala da cozinha, e observava em silêncio a cena das duas garotas. A Dixon soube que ele estava ali a muito tempo ouvindo, sem intenção, toda a conversa, e deu um sorriso de lábios fechados; era boa em ler o comportamento das pessoas, e gostava dessa sua parte caçadora.
ㅡ Vai buscar nossas mochilas e chamar Luna, está bem? - Aurora assentiu, pulando do sofá e correndo na sala.
ㅡ Oi, tio Rick! - ela disse ao passar pelo homem. Ele sorriu, vendo a pequena ruiva passando correndo por si.
ㅡ Não ouvi sua conversa de propósito. - Rick disse, ao se aproximar da Dixon, como se soubesse que ela pensava aquilo.
ㅡ Eu sei disso. - ela sorriu sincera.
ㅡ Então... ela parece estar lidar bem com o novo mundo. - Rick disse. ㅡ Melhor até mesmo que eu! - ele completou num tom leve, fazendo Brooklyn soltar um riso anasalado, aliviando um pouco o clima.
ㅡ Não acho isso justo... tipo, ela é só uma garota, não? - Brooklyn suspirou. ㅡ Uma criança! Deveria se preocupar em quando seria sua próxima viagem de férias com a família, não... não quando vai começar a usar uma arma! - ela começou a disparar novamente para Rick, sentindo seu peito apertar e a respiração ficar pesada.
ㅡ Mas, não se esqueça que você também é só uma garota, Dixon. - Rick disse.
ㅡ Não estou nem aí para mim! - Brooklyn trancou os dentes. ㅡ Eu já passei por muita merda... antes e depois dessa porcaria de fim de mundo!
ㅡ E isso também não é justo! - Rick continuou paciente. ㅡ Não deveria aguentar o peso no mundo em suas costas. Você é só uma garota, que deveria se preocupar com a escola, amigos, algumas festas... e não em ter tantas responsabilidades em um apocalipse. - ele disse. A Dixon escutou com atenção, enquanto massageava seu peito e tentava se acalmar. ㅡ Não está errada em se preocupar com Aurora, está errada em ignorar seu próprio sentimento sobre tudo isso! Qual foi a vez que você tirou para realmente se dar conta da nova realidade?!
Brooklyn parou com a pergunta de Rick. Ela desviou o olhar, se lembrando dos primeiros dias que a epidemia começou. Estava sozinha, vendo cada vez mais pessoas morrendo, caos acontecendo e sua cidade sendo destruída; só pensava em correr o mais longe dali, seguir as filas de carros e tentar encontrar seus irmãos. Não teve tempo para comer ou dormir.
Quando tudo 'se acalmou', e não havia mais gritos de socorro e apenas os infectados vagando pelas ruas, Brooklyn finalmente pôde perceber o que acontecia em sua volta. Ela havia se escondido numa casa na árvore, em um quintal de casa qualquer, enquanto abria um dos enlatados que havia em sua bolsa. Comeu sem perceber a comida fria, e ficou encarando por segundos a lata pela metade em suas mãos, enquanto ouvia um errante arranhando o tronco para tentar lhe alcançar
Naquele momento a Dixon começou a chorar. A adrenalina havia abaixado, e o choque do fim do mundo finalmente havia chegado. Estava sozinha, preocupada com seus irmãos e também seu melhor amigo; afinal, Zayn havia conseguido se salvar ou agora estava transformado em uma daquelas coisas? Brooklyn chorou por pensar que as piores coisas haviam acontecido com as pessoas que amava. E ela também se tocou que aquilo poderia acontecer consigo, ali, sozinha e longe da sua família.
Seu choro se intensificou, até que Brooklyn percebesse que estava em uma crise de pânico e ansiedade. Ela pegou sua mochila, e com a mão trêmula começou a vasculhar o fundo do bolso pequeno da mesma. Achou uma cartela de cigarros e seu isqueiro; pegou um dos três cigarros restantes, e o analisou por um tempo.
A tempos não usava aquilo como válvula de escape. Havia usado o primeiro quando tinha treze anos, mas Daryl havia pegado depois de um tempo e lhe dado uma bronca, além de ficar um pouco decepcionado. Desde então Brooklyn não havia colocado outro cigarro em sua boca, pois não queria deixar aquilo lhe consumir, e nem mesmo deixar seu irmão decepcionado outra vez.
Mas Daryl não estava ali.
E pensar naquilo outra vez foi o bastante para Brooklyn acender o cigarro e o colocar em sua boca, dando uma forte tragada, soltando a fumaça juntamente com suas lágrimas. Ela queria gritar, mas não podia. Usou seu choro de raiva e o cigarro para desabafar, enquanto observava o errante ainda se debatendo no pé da árvore abaixo da si.
Brooklyn olhou ele e para o cigarro com raiva, antes de atirar o objeto com força para fora da janela da casa na árvore, puxando seus cabelos em seguida. Seu choro foi abafado, enquanto toda sua dor saía pela sua garganta naquele momento.
Aquela havia sido a única vez que Brooklyn havia encarado o novo mundo, ela pensou. Olhou para Rick outra vez, agora com os olhos ainda mais molhados e com lágrimas teimosas caindo por ali. Ela as enxugou com raiva, desviando um pouco o olhar, antes de finalmente responder o Grimes.
ㅡ Eu sei lidar com essa merda. - Brooklyn falou, a voz um pouco rouca e com sotaque. ㅡ Mas, isso não significa que quero ou consigo fazer da melhor forma possível. - concluiu, encerrando o assunto, ao ver os outros entrando novamente por ali. Rick a observou em silêncio, com certa curiosidade em continuar aquela conversa, mas não fez.
ㅡ Estão todos prontos? - Morgan perguntou, descendo as escadas. Duane logo apareceu da cozinha, trazendo Aurora e Luna consigo. Todos assentiram. ㅡ Vamos então.
Morgan abriu com cuidado a porta da casa, e logo no gramado, encostado na cerca, havia um errante. Brooklyn segurou na mão de Aurora, e aparentava estar mais nervosa que a garota para aquilo. Rick era quem iria acabar com o infectado, e logo foi na frente para o acertar com um pedaço de madeira. A Dixon olhou para a mais nova, que olhava a cena sem nenhuma expressão. Nem medo, tristeza ou então nojo. Aurora apenas estava "tranquila", e a mais velha suspirou fundo.
ㅡ Preciso de um tempo. - Rick disse ao cair ajoelhado, ao lado do corpo morto.
Depois do homem se recuperar, eles foram em direção a casa que ele indicou ser sua, a qual estavam no dia anterior. Entraram, com os outros indo logo em direção da cozinha, enquanto a Dixon passeava pelo local. Brooklyn percebeu - agora com mais atenção -, que era um lugar muito bom e uma casa muito melhor que a sua um dia foi. Paredes limpas, móveis caros e um ambiente que parecia ser um lar de família de classe média.
Ela estava analisando os quartos, e entrou na porta ao lado da suíte principal. Estava com uma bagunça presente, contando a que já possuía por ali e também a que foi feita durante a saída. Parte do armário estava vazio, faltavam algumas revistas em uma grande coleção posta na estante e também um porta retrato ao lado da cama estava vazio.
Brooklyn deduziu que aquele seria o quarto do filho do Rick, e ela se condenou ao confessar que o garoto tinha bom gosto. Ela havia analisado os pôsteres de super-heróis e série de livros nas paredes, e agora estava com alguns títulos das revistas que restou por ali em suas mãos. A Dixon deu de ombros, colocando os quatro exemplares em sua mochila, pensando que devolveria caso se encontrassem (ou então simplesmente fingiria que nunca esteve ali).
ㅡ Minha mulher e filho estavam vivos na última vez que os vi. - Rick começou, quando ela chegou na cozinha outra vez. ㅡ E acredito que ainda estejam.
ㅡ Como pode ter tanta certeza? - Morgan perguntou.
ㅡ Olhei as gavetas dos quartos. Estavam sem boa parte das roupas. - o Grimes explicou. ㅡ Uma quantia boa para fazer uma viagem.
ㅡ Sabe que qualquer um pode ter entrado e pegado, certo? - Brooklyn disse. ㅡ Eu mesma já entrei em várias casas em busca de mantimentos para nós. - apontou seu próprio corpo, além de Aurora e Luna. ㅡ Quem garante que não fizeram isso na sua casa?
ㅡ Vê as paredes? - Rick apontou. ㅡ Sem nenhum quadro. Os álbuns da família sumiram também. - ele abriu um armário e também apontou. ㅡ Minha família está viva. - o homem disse, com certeza.
ㅡ Álbuns de fotos. - Morgan riu, se sentando na cadeira. Seus olhos estavam com lágrimas outra vez. ㅡ Enquanto estava preocupado em juntar mantimentos, minha mulher estava atrás das fotos pela casa. - ele suspirou sentido.
ㅡ Aposto que estão em Atlanta. - Duane disse, interrompendo o silêncio que ficou. ㅡ Seus irmãos devem estar lá também. - comentou para a Dixon.
ㅡ O que tem lá? - Rick perguntou.
ㅡ Um centro de refugiados. - Brooklyn respondeu. ㅡ A mãe de Aurora me disse sobre ele, e era nosso destino antes de encontrar com vocês.
ㅡ É enorme. Tem proteção militar, comida, abrigo e disseram ser seguro. - Morgan completou. ㅡ Disseram antes das transmissões pararem. - completou para Rick.
ㅡ E ainda tem o CCD. - Duane lembrou ao pai.
ㅡ Sim. Centro de Controle de Doenças. - ele corrigiu. ㅡ Disseram que estão em busca de um antídoto para resolver esse problema.
ㅡ E como chegamos até lá? - Brooklyn perguntou, e no mesmo instante Rick saiu para pegar algo no armário de sua cozinha.
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A delegacia em que Rick trabalhava não era tão longe de sua casa, e em minutos de carro eles chegaram ao lugar. Tudo estava silencioso, sem nenhum sinal de errantes, e o pátio estava, aparentemente, vazio. O Grimes pegou as suas chaves, prestes a abrir a porta, quando Brooklyn o impediu.
ㅡ Fazer isso é uma idiotice. - ela disse, deixando os homens sem entender. ㅡ Se houver algo do outro lado, ele vai te atacar sem lhe dar tempo de gritar. - a Dixon continuou, puxando a faca do coldre.
Ela virou o cabo, dando duas batidas fracas na porta. Ainda olhando para os outros - como se estivesse ensinando algo para eles -, a garota continuou prestando atenção no lado dentro. Silêncio. Alguns segundos e nada fez barulho, então a Dixon saiu de frente à porta, sinalizando que Rick poderia continuar.
ㅡ Como sabia disso?! - Duane perguntou, parecendo deslumbrado.
ㅡ Eu já sabia de algumas coisas. Meus irmãos são caçadores, e aprendi tudo com eles. - ela deu ombros. ㅡ E você aprende mais coisas, quando passa muito tempo vagando por aí.
ㅡ E você parece realmente estar a muito tempo aqui fora, e sabe se virar muito, Brooklyn. - Rick disse, destrancando a porta. ㅡ A gente poderia se ajudar. - completou, dando espaço para todos entrarem.
ㅡ Como assim, Grimes? - Brooklyn perguntou.
ㅡ Eu iriei para Atlanta atrás da minha família, e você já iria atrás dos seus irmãos. Poderia me acompanhar. - ele disse, quando a garota e Aurora passaram ao seu lado. ㅡ Pense nisso. - completou, apontando disfarçadamente para a mais nova.
Brooklyn não respondeu, mas ficou pensativa, enquanto eles seguiam o policial para dentro do local. Andaram por um longo corredor escuro, até o fundo da delegacia, onde Rick indicou ser os vestiários.
ㅡ A delegacia tem seu próprio sistema de energia e encanamento. - Rick disse, ligando o disjuntor da força. ㅡ E ele ainda funciona.
ㅡ Então vamos tomar banho? - Duane perguntou animado, e riu quando o policial assentiu. ㅡ Yeah!
ㅡ O vestiário feminino é nessa porta. Há toalhas nas prateleiras, assim como kit de higiene. - o Grimes falou para Brooklyn, indicando a porta do outro lado do corredor.
ㅡ Vamos, Brookie! - Aurora a puxou animada, não dando tempo da mais velha responder.
Brooklyn entrou no lugar junto com Aurora e Luna, logo trancando a porta. Colocou sua mochila no banco e foi até a cabine de chuveito, ligando o registro e sorrindo ao sentir a água quente batendo em sua mão. Ela realmente estava animada por sentir aquela sensação, depois de meses sem poder tomar um banho descente.
ㅡ Posso te ajudar? - ela perguntou a Aurora, antes de colocar a mão em seu corpo. A garotinha assentiu, então a Black a ajudou retirar seu vestido e embalar o gesso em seu braço.
Enquanto Aurora estava debaixo d'água, tomando sozinha seu banho - cantando animada uma música infantil -, Brooklyn retirou novas trocas de roupas para ela e para a mais nova das mochilas. As que elas vestiam - a da Dixon principalmente -, não poderiam ser usadas outra vez, e por sorte ainda tinham outras duas trocas reservas. A mais velha também pegou toalhas, sabonete e outros itens de higiene nas prateleiras indicadas por Rick, e entregou para a Phelps.
ㅡ Não vai tomar banho, Brookie? - Aurora perguntou, brincando com as bolhas de sabão.
Brooklyn fechou os olhos e sentiu Luna se chacoalhando e molhando todo o seu corpo. A Dixon também aproveitou para dar banho na cachorra, afinal, ela também precisava de um. Ela olhou feio para a pastora-alemã, que latiu e lhe deu uma lambida no rosto. E agora, sentada no chão e molhada dos pés a cabeça, ela riu por ouvir a risada de Aurora.
Foi algo tão espontâneo, inocente, e que por um segundo a fez esquecer do que em sua volta estavam vivendo. Sua gargalhada aumentou, e ela olhou para a mais nova - cheia de sabão, vermelha de tanto rir -, e notou que nunca havia dado tantas risadas, quanto as que já deu em tão pouco tempo de convivência com Aurora.
ㅡ Acho que Luna já me deu um banho, Aury. - Brooklyn respondeu sua pergunta, puxando uma toalha para enxugar a cachorra.
ㅡ Brookie... - Aurora chamou baixinho, parecendo hesitando ao feito. ㅡ Nós vamos com Rick?
ㅡ O que?!
ㅡ Eu ouvi o que ele te falou na entrada. - a ruiva continuou. ㅡ Nós vamos? - perguntou outra vez. Brooklyn suspirou.
ㅡ Eu não sei, Aurora. - ela respondeu. ㅡ Acha que podemos confiar?
ㅡ Você não confia nele? - a garotinha perguntou, agora parecendo suspresa.
ㅡ Aurora, nem todas as pessoas são pessoas boas. E nunca interagimos com pessoas vivas nesse tempo... - a Dixon continuou. ㅡ Rick parece ser um homem bom, mas se eu confiar e algo acontecer com a gente, com você! Eu nunca vou me perdoar...
ㅡ Eu confio nele.
ㅡ Confia?
ㅡ Confio. - Aurora confirmou. ㅡ Ele só quer achar a família dele, assim como você quer encontrar seus irmãos. - ela disse, deixando Brooklyn sem ter o que dizer.
ㅡ Eu prometo que vou pensar até sairmos, está bem? - Brooklyn disse, terminando de enxugar Luna. ㅡ Vamos, hora de sair. - disse, se levantando do chão.
Brooklyn se sentou no banco, agora enxugando Aurora. Ela a vestiu com uma blusa de manga e uma jardineira, ambas em tons de rosa e desenhos. Depois, com certa dificuldade e sem saber o que estava fazendo, passou a escova pelos cabelos ruivos da menina e os deixou solto para secar. Também a ajudou escovar os dentes, por fim a deixando limpa por completo.
ㅡ Sua vez agora. - Aurora disse, se sentando no banco, com Bonnie ao seu lado. Ambas estavam observando a Dixon, que agora estava com seus músculos rígidos.
ㅡ Não quer esperar lá fora?
ㅡ Não, Brookie. Quero ficar com você! - Aurora respondeu sorrindo, e balançando os pés.
ㅡ Está bem... - Brooklyn suspirou.
Ela já estava sem seu colete, coldre das facas e a pistola, que foram retirados para dar banho em Luna. A garota olhou para Aurora, e teve certeza que ela não iria sair dali - e a mais velha sabia que não iria ficar tranquila se saísse -, então começou a retirar seus coturnos, os deixando ao lado de suas coisas. Tirou as roupas e suspirou antes de se virar para ir até o chuveiro.
ㅡ Brookie...
ㅡ Aurora, sem perguntas. - a mais velha disse séria, em um tom que nunca havia usado com a garota.
Brooklyn se sentiu mal ao olhar levemente para trás e ver a garota de cabeça baixa, mas realmente não queria falar sobre aquilo. Tomou seu banho, fez higienes, escovou seus dentes, e o tempo todo ficou em silêncio. Seus músculos deveriam ter se relaxado com a água quente, mas ela ainda estava muito rígida por saber que agora alguém a mais sabia sobre suas cicatrizes.
A Dixon as tinha desde criança, quando as agressões começaram. Ainda lembrava das dores, gritos, e a briga de Daryl com seu pai. Não uma ou duas vezes, mas várias. Suas marcas eram suas lembranças de todo o mal que seu pai já havia feito consigo - e sabia que com seus irmãos também, pois muitas das vezes eles entravam no meio para lhe defender -, e ela odiava que alguém soubesse sobre elas.
Aurora era uma criança, não tinha culpa em perguntar. Mas, como Brooklyn explicaria o que sofria para alguém que sempre teve a imagem perfeita de uma família? Alguém que semrpe viveu com pais amorosos, e sempre acreditava que todos eram bons? Não iria conseguir.
Agora, Brooklyn já estava seca e com roupas íntimas, e também uma calça jeans nova. Seu coldre e armas já estavam no lugar, e sua nova camiseta estava em seu colo, quando ela se sentou no banco ao lado de Aurora para terminar de calçar os coturnos. Ela suspirou, se repreendendo por dentro para não ser fraca e começar a chorar naquele momento, e começou a mexer nos dedos de suas mãos.
ㅡ Me desculpe, está bem? - a Dixon murmurou. Sentiu o olhar da pequena sobre si, mas ela não a olhou. ㅡ São cicatrizes feias, eu sei. Eu não gosto de falar sobre elas. - suspirou. ㅡ Mas... você pode fazer a pergunta.
ㅡ O que você fez? - Aurora, depois de hesitar por um tempo, finalmente perguntou.
ㅡ Como te disse, nem todas as pessoas são boas. - Brooklyn começou, por fim olhando a menina. ㅡ Meu pai não era uma pessoa boa. Ele bebia muito, e fazia muitas coisas ruins comigo e com meus irmãos. Não tinha pena de nenhum de nós, mas muitas vezes Daryl e Merle me protegiam e por isso apanhavam mais. - ela explicou da forma mais simples que conseguiu para a garota. ㅡ Não queria que você e ninguém soubesse, porque não gosto de lembrar sobre isso.
ㅡ Está tudo bem, Brookie. - Aurora sorriu triste. ㅡ Eu não vou contar para ninguém, esse vai ser nosso segredo. - ela disse, tocando na mão da mais velha.
ㅡ Ah, Aury... - Brooklyn sorriu, sentindo uma lágrima escorrer e a limpando rapidamente. Ela deu um beijo na testa da mais nova. ㅡ Você é boa demais para esse mundo. - sussurrou, abraçando de lado o corpo da garota.
Brooklyn se levantou, pigarreando, e limpando novamente o rosto. Ela vestiu a sua blusa preta de manga comprida, fechando os botões, dobrando as mangas e ajeitando a gola muito rápido, e por fim colocando seu colete. Pegou a mochila no banco, também a colocando nas costas, e olhou para Aurora.
ㅡ Vamos? - sorriu para ela, que assentiu e desceu sorridente do banco. Luna a acompanhando.
As três deixaram o banheiro feminino ao mesmo tempo que a porta do masculino se abria. Rick e Morgan também estavam de banho tomado e roupas limpas, com o primeiro vestindo seu traje de xerife. Duane já os esperavam do lado de fora, no corredor.
ㅡ Você tem um chapéu?! - Aurora apontou admirada para as mãos de Rick. ㅡ Que legal!
ㅡ Que tal você segurar para mim? - o homem sorriu, o colocando na cabeça da garota, que obviamente ficou maior que seu tamanho. A garotinha levantou a aba, fazendo todos rirem.
ㅡ Acho que achamos uma xerife substituta para a cidade. - Brooklyn disse rindo.
ㅡ Achamos mesmo. - Rick concordou. ㅡ Agora, venham aqui. - ele disse, deixando mesmo o chapéu com Aurora, e seguiu pelo corredor.
No final do corredor havia uma sala especial, trancada com grades. Assim que Rick a abriu e eles entraram, Brooklyn arregalou os olhos e deu um sorriso animado, como se fosse uma criança descobrindo um parque de doces.
ㅡ Uau! - ela riu, pegando uma das armas na parede.
ㅡ Sabem usar? - Rick perguntou, entregando um riffle para Morgan, que logo assentiu.
ㅡ Se eu falar onde aprendi vou ser presa? - a Dixon debochou, pegando uma pistola e testando a precisão dela em suas mãos. Rick não disse nada, mas escondia um sorriso.
ㅡ Encham as bolsas com armas e munições. - o homem disse, entregando bolsas a eles. ㅡ Isso é tudo o que a delegacia tem, mas havia mais. Com certeza alguém já passou por aqui.
Brooklyn colocou mais pistolas, revólveres e riffles na mochila, além de encher com caixas de munições, silenciadores e também sinalizadores. Em sua própria mochila, colocou mais caixas de munição para seu própria pistola e duas extras para o revólver de Aurora.
ㅡ Você também tem uma Colt Python? - Rick perguntou ao lado dela. Ele estava com um revólver igual em mãos, enchendo seu tambor.
ㅡ Era do pai da Aurora. - Brooklyn respondeu, olhando para trás e vendo que Aurora brincava com Luna no corredor. ㅡ A mãe dela pediu para mim a ensinar atirar na hora certa... eu só não sei quando será essa hora. - completou, um pouco mais baixo.
ㅡ É uma boa arma. - Rick disse. ㅡ Você vai saber a hora certa, e ela vai se sair muito bem, Dixon. - completou, pegando a bolsa que ela lhe entregava.
꩜꩜꩜꩜
Após encher todas as bolsas, com armas e munições, o grupo saiu da delegacia pelas portas do fundo. Morgan pediu para Duane levar suas bolsas para seu próprio carro; Rick seguiu para umas das viaturas paradas no pátio, e Brooklyn ficou nas escadas com Aurora e Luna.
ㅡ Vamos com ele. Está tudo bem por você? - a mais velha sussurrou.
ㅡ Tudo, Brookie. - Aurora respondeu sorrindo, um pouco animada pela amiga.
Brooklyn suspirou, pegando na mão da garota e enrolando a coleira de Luna no braço. Elas terminaram de subir as escadas, até estarem no pátio de carros. Duane e Morgan não iriam com eles, e por isso já estavam se despedindo de Rick.
ㅡ Tem certeza que não vão? - Rick perguntou outra vez.
ㅡ Me dê alguns dias. - Morgan disse. ㅡ Até lá Duane já vai ter aprendido atirar e eu não vou estar tão enferrujado.
ㅡ Boa sorte, então. - Brooklyn disse, atraindo a atenção de Rick. ㅡ Vamos com você. Será o melhor para Aurora, ao invés de só ficar vagando por aí. - completou ela.
ㅡ Ótimo. - Rick assentiu para ela. Ele entrou no carro, pegando dois rádios no painel. ㅡ Tem uma bateria. - entregou o par ao Morgan. ㅡ Vou ligar o meu todo dia ao amanhecer. Se forem para lá, é assim que vamos nos encontrar.
ㅡ Você planeja tudo em, Rick? - Morgan riu, indo até Duane. ㅡ Podem não ser perigosos um de cada vez, mas um bando...
ㅡ Pode ser sua morte certa. - Brooklyn disse, o complendo. Morgan assentiu. ㅡ Tomem cuidado. - ela disse, abraçando Aurora pelos ombros.
ㅡ Vocês também, Brooklyn. - eles apertaram as mãos. ㅡ Até mais, pequena xerife. - o Jones brincou, batendo na ponta do chapéu de Rick, que ainda estava com Aurora.
ㅡ Até mais! - Duane acenou tímido para elas, sorrindo pequeno.
ㅡ Até, Duane. - Brooklyn deu um aceno com a cabeça, e Aurora balançou a mão para os dois.
ㅡ Você é um bom homem, Rick. - Morgan agora dizia ao Grimes. ㅡ Espero que encontrem suas famílias. - ele acenou, e a outra dupla agradeceu.
ㅡ A gente se vê, Duane. - Rick apertou a mão do garoto. ㅡ Cuide bem do seu velho.
ㅡ Sim senhor. - o garoto sorriu assentindo.
O grupo ouviu um grunhido atrás do local que estavam, e assim que viraram encontraram um errante no outro lado do pátio da delegacia. Ele vestia uma roupa como a de Rick, e ainda estava com a placa de seu nome pendurada na roupa. Brooklyn abriu o banco de trás da viatura, já mandando Aurora subir.
ㅡ Esse é o Leon. - Rick disse. ㅡ Era um irresponsável, mas não posso deixar ele assim.
ㅡ Sabe que mais deles vão ouvir os tiros, não é? - Morgan o alertou.
ㅡ Não estaremos mais aqui quando vierem. - o homem disse, se aproximando e tirando o revólver do coldre.
ㅡ Vamos! - Morgan puxou Duane para seu próprio carro.
ㅡ Vem, Aury! - Brooklyn colocou a menina rapidamente no banco de trás, prendendo seu cinto e fazendo o mesmo na coleira de Bonnie.
Ela fechou aquela porta e entrou no banco da frente com sua mochila, no momento em que Rick apontava a arma para o rosto daquele errante. O homem atirou, fazendo uma bala se ajolar no cérebro do - agora - morto, fazendo seu corpo escorregar lentamente pela grade, antes de finalmente cair no chão.
Brooklyn suspirou, desviando o olhar da cena e virando para frente, finalmente colocando seu próprio cinto. Rick logo correu e se sentou no banco do motorista, ligando a viatura e seguindo o carro de Morgan para fora do pátio. Eles se despediram ali, antes de cada um seguir um caminho diferente.
ㅡ Eu tenho que fazer algo antes de partimos, espero que vocês não se importem. - Rick disse, olhando de lado para Brooklyn. Ela deu de ombros, de certa forma concordando, e continuou o olhar para Aurora através do retrovisor.
Rick parou a viatura em uma praça da cidade, descendo e caminhando por um tempo por ali, antento ao chão. Brooklyn, que estava com o braço para fora da janela, seguia seus pasoss com atenção, se perguntando o que o homem iria fazer naquele lugar, quando podriam estar já saindo da cidade.
De repente, ele parou se agachando no chão, e a Dixon se endireitou no banco, surpresa, para ver o que ele faria. Havia um errante ali, com a metade de baixo do seu corpo faltando, se arrastando pela grama, e agora sem forças levantando o braço na direção de Rick. Foi alguns segundos antes dele atirar na cabeça do errante, o finalizando por fim, e se levantar para voltar para a viatura.
ㅡ Aury, talvez você tenha razão... - Brooklyn suspirou. ㅡ Talvez ele seja mesmo um bom homem. - ela disse, ainda observando o Grimes caminhando em sua direção.
¡notes!
MDS QUE CAPÍTULO
GRANDE!!!!! quem amou?
muitas informações por
aqui, mas a básica: Atlanta
vem aí!! 👀 e a brookie está
finalmente abaixando a
guarda para o Rick.
nesse capítulo tentei trazer
mais sentimentos da brookie,
principalmente com o começo
do az e sobre a aury. lembrem-se:
ela é só uma adolescente, que
oculta os sentimentos e às vezes
vai colocar para fora através de
'surtos'. tenham paciência!
bônus: brookie roubando
descaradamente as revistas
do carl KKKKKKKK juro, amo
(resvistas = HQ's, okay?)
Espero que tenham gostado.
Até o próximo capítulo! ❤
𝐟𝐢𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐚 𝐬𝐚𝐥𝐯𝐨 🧟♀️
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