—— ARRUMA LOGO ISSO! —— gritei para o Jonathan. —— Calma! Já tá indo! —— Jonathan respondeu em desespero.

—— Impressão minha ou ele tá vindo pra cá? —— Lucas comentou de dentro do carro, observando Billy Hargrove dar a última partida e acelerar.

—— Filho da puta... —— sussurrei, pegando a arma e indo para a frente do carro, dando mais alguns passos à frente.

—— Vem, Billy, vamos resolver logo essa merda! —— gritei, apontando a arma para ele e para o carro.

Billy acelerou, vindo direto na nossa direção, enquanto Jonathan e Nancy tentavam desesperadamente ligar o carro.

Não pensei duas vezes antes de começar a atirar no vidro do carro, na esperança de que ele parasse. Quando percebi que não adiantava nada, fechei os olhos em desespero.

Foi quando ouvi uma batida forte e senti um vento contra mim. Ao abrir os olhos, vi o carro que o Hopper tinha emprestado pro Steve para levar as crianças até o ponto de energia. Steve bateu no carro do Billy.

O carro de Billy estava em pedaços do outro lado do estacionamento. Steve e Robin saíram rapidamente do veículo destruído e correram até nós.

—— Você tá bem? —— Steve perguntou, segurando meus ombros.

—— Eu tô viva, então é isso que importa —— respondi, segurando os braços dele. Steve apenas sorriu, aliviado, enquanto eu respirava ofegante, esperando meu corpo se acalmar.

—— Entrem logo! —— Lucas gritou. Foi então que vimos aquela coisa saindo do shopping.

Caminhando pelas ruas, tentando atrair o monstro para longe do shopping, eu estava sentada na parte de trás do carro, onde parecia ser o porta-malas. Estávamos com o rádio na mão, esperando algum sinal.

—— Dustinzinho! —— uma voz delicada surgiu no rádio.

—— Então ela é real... —— murmurei.

—— Você tava duvidando da existência dela? —— Steve perguntou.

—— Sempre tive minhas dúvidas —— respondi.

Era estranho ouvir uma briga de casal pelo rádio, e naquele momento, eu nunca desejei tanto que o namoro do Dustin acabasse logo. Enquanto a garota insistia em cantar uma música, um monstro estava atrás da gente, pronto pra matar.

Turn around
Look at what you see
In her face
The mirror of your dreams...

Eu e Steve olhamos para o céu cinzento e para o monstro na estrada. Parecia o fim do mundo, como se tudo aquilo nunca fosse acabar.

Make believe I'm everywhere
Given in the light
Written on the pages
Is the answer to a never-ending story, ah...

Steve pegou na minha mão, e ficamos em silêncio. Se aquele fosse o fim do mundo, eu estava feliz de estar com ele.

Reach for the stars
Fly a fantasy
Dream a dream
And what you see will be...

—— Tá bem menos inchado agora —— comentei, observando o machucado no olho dele.

—— É, não se preocupa. Eu sempre volto mais bonito que antes —— Steve respondeu, se gabando.

Rhymes that keep their secrets
Will unfold behind the clouds
And there upon a rainbow...

—— Sam... —— Steve sussurrou.

—— O quê? —— perguntei, num tom mais baixo.

—— Eu... —— ele parecia nervoso, mas não por causa da situação. Era outra coisa. —— Você...

Is the answer to a never-ending story, ah
Story, oh...

—— Ele tá voltando! —— Will avisou, vendo o monstro voltar em direção ao shopping.

—— Será que ele se cansou? —— Lucas perguntou.

—— Acho que não —— Jonathan respondeu.

Voltamos correndo para o shopping, onde vimos aquela criatura gigante indo atrás da Eleven. Todos estávamos desesperados.

—— O que a gente vai fazer? —— perguntei.

—— Fogos de artifício —— Lucas respondeu.

Ele e Dustin logo apareceram com caixas e mais caixas de fogos. Decidimos usar tudo.

Estávamos por todos os lados, disparando os fogos contra a criatura, uma explosão atrás da outra. E parecia que nunca iam acabar.

—— Hein, Sam! Essa é pra você! —— Steve gritou, jogando um monte de fogos juntos, explodindo em várias cores.

—— Os fogos estão acabando! —— Jonathan avisou.

—— Eu sei! —— Lucas gritou de volta.

—— Manda ela fechar! Manda a Joyce fechar! —— gritei pelo rádio, falando com Dustin, implorando que fechassem logo o portal.

Entre as explosões, só sobrou um último emaranhado de fogos na minha mão, preso com outros sete menores. Olhei de longe e vi Billy na frente do monstro.

Ele parecia ter recobrado a consciência. Mas os fogos acabaram. Não havia mais nada a fazer.

Olhei para o Steve, que parecia ler minha mente. Ele balançava a cabeça, negando, como se não quisesse acreditar.

—— Desculpa —— sussurrei, sem esperar que ele ouvisse. E, com meu último fogo em mãos, corri para o outro lado do shopping.

—— Sam! Não! —— Steve gritou, tentando me alcançar.

Naquele momento, mantive os olhos em Billy, mas por um instante, vi Max no lugar dele. Quando percebi que estava perto o suficiente, pulei do segundo andar do shopping direto pra praça de alimentação, em cima do monstro.

Com o emaranhado de fogos, olhei uma última vez para Billy, que segurava os tentáculos do monstro tentando proteger Eleven.

Fechei os olhos e pulei em direção à boca da criatura. No instante em que ele atacava Billy, lembrei do meu irmão, da primeira vez que o levei ao parque, das músicas que dançamos juntos no meu quarto.

Eu não queria que a Max sentisse o que eu senti.

E então pulei, com os fogos na mão.

—— Billy! —— o grito da Max ecoou.

Meu último fogo explodiu. Fui jogada pra longe, caindo entre os vidros e os escombros do shopping.

—— Sam! —— a voz do Steve foi a última coisa que ouvi antes de tudo escurecer com as luzes da explosão.

O monstro se contorcia, gritando. Eu senti mãos me puxando pra longe.

—— Sam! Tá me ouvindo? —— Steve me segurava no chão, nos braços dele. Eu estava zonza. A queda foi feia.

Olhei ao longe e vi Max chorando, com Billy imóvel no chão. E chorei. Segurei firme no Steve e chorei.

—— Eu tentei... eu falhei... não consegui salvar todo mundo —— murmurava entre soluços.

—— Tá tudo bem. Você tentou, e isso é o que importa —— Steve passava a mão no meu cabelo. —— Ele se sacrificou. Você deu tudo de si.

Quando os bombeiros e o governo chegaram, estávamos do lado de fora, sentados em ambulâncias. Uma socorrista enfaixou meu braço, queimado e cortado pela queda. Steve permaneceu comigo o tempo todo.

—— Achei que você ia morrer —— Steve disse.

—— Desculpa —— respondi, segurando firme a mão dele.

Ele se aproximou, tirou meu cabelo do rosto. Se eu e o Steve fôssemos uma explosão, eu estava pronta pra me queimar com ele quantas vezes fosse preciso.

Puxei ele pra perto e o beijei. Precisávamos daquilo mais do que qualquer curativo. Steve me puxou pela cintura, e eu mantive um dos braços em volta do pescoço dele.

—— Quer dizer que você tá apaixonada pelo Harrington? —— ele comentou baixo, quando nossos lábios se separaram.

—— Sim, eu tô —— respondi, sorrindo leve.