Pedido: S_slytherin_

O barulho da lataria se partindo, dos vidros se espatifando em mil pedaços e voando para todos os lados, o cheiro da fumaça que saia dos airbags e o chorinho agudo que durou apenas alguns segundos de James antes de o cinto dele arrebentar e ele voar para o banco da frente. Tudo estava preso em minha mente e me pego voltando para aquele momento, revendo se algo poderia ser evitado. Culpo-me por ter me virado por um momento para trás brincando de cócegas nos pés do meu filho antes de nosso veiculo bater de frente com outro.

Se eu visse, será que poderia ter sido evitado?

Talvez nosso James estivesse aqui com nós agora

Meu marido Tom diz que não, em seu desespero no local contava tudo corretamente para os policias e a todos que o perguntava, sem nenhuma brecha ou duvida. Disse que um carro a fim de ultrapassar um caminhão foi para nossa pista pegando todos de surpresa, ou era para bater no carro ou no caminhão se jogasse o carro para o lado oposto.

E eu sei que ele se culpa por isso. Acha-se responsável pela morte de James. Mas não era, não era mesmo.

Estávamos indo passear em uma fazenda para aproveitar o feriado que teria durante a semana.

O ar gelado do hospital fazia minha pele se arrepiar inteira e eu me encolher ao maximo. Sinto Tom colocar uma jaqueta em meus ombros, sei que era a dele em que vestia. Não conseguia sorrir ou olhar para outro canto a não ser o chão branco lustroso daquele local, eu estava extasiada, perdida, sem vida e vazia.

Foi pedido para que ficássemos ali aguardando enquanto o medico examinava o corpinho de James para poder saber exatamente a causa da morte, e também para eu e Tom fazermos os curativos de alguns arranhões.

Era apenas protocolo.

Eu não tinha forças para discutir sobre isso ou fazer barraco com alguém, muito menos com o casal que havia batido em nós. Eles não perderam ninguém nisso, eles saíram sem ferimentos apenas em choque. Não ouvi um pedido de desculpas ou "meus pêsames" vindo deles alem de explicações do que aconteceu. Eles viram o corpo da criança sendo retirado do carro e apenas viraram as costas e saíram junto a policia para depoimentos.

Se eu pudesse excluir esse dia da minha vida, eu faria sem nenhuma hesitação.

Pago as compras e saio, Tom me esperava no carro. No aniversario dele, na data em que ele se foi e até a data que ele nominou como dia de nossa família, onde era o dia só nosso, poderíamos fazer qualquer coisa e ele sempre se divertia. Nessas datas íamos até o cemitério, eu e meu marido. Nessa vez havia comprado uns carrinhos, era seu brinquedo favorito.

Dessa vez não precisaríamos limpar todo o tumulo, já havia sido limpo uns dias atrás.

Caminhamos entre as lapides até encontrar a que foi destinada a nossa família, ali ficava uma avó minha e bisavô e agora meu filho. Sempre me desculpo com ele por ter sobrevivido que se eu pudesse trocaria de lugar com ele sem pestanejar. Inspiro o ar gélido e volto à realidade, a que eu finjo um animo para passar mais uns minutos ali, deixo os carrinhos sobre a lapide e digo:

_ Olha o que eu trouxe, mas não os destrua – Rio baixo junto a Tom que estava ao pé da lapide sentado observando.

James adorava destruir e montar de novo seus carrinhos era seu passatempo preferido. Sempre dávamos bronca, mas nunca adiantava, chegamos a pensar que ele seguiria a carreia de montador ou mecânico de carros.

_ Sentimos sua falta – Tom diz passando a mão no tumulo.

Sorrio fraca.

Eu sei que essa dor e saudade, daqui em diante elas serão para toda a vida.

Sento-me ao lado da lapide e pego um dos carrinhos ali brincando como eu costumava fazer junto com ele.

Parte de mim e de meu marido estão congeladas com a partida precoce de nosso filho, outra parte ainda não consegue aceitar que ele se foi. Mas de choro em choro nós iremos juntar os cacos.

James foi o melhor filho que poderíamos ter. 

Hellouu.
Gente, adorei o fato de ter pedido sobre ele, o universo ouviu meu clamor.
Espero que tenham gostado.
Não esqueça de curtir ;)