O vento gelado batia contra o rosto de Zero enquanto a garota corria para o mais longe possível daquele laboratório. Muita coisa havia acontecido de repente, ela esperava que não conseguissem descobrir que ela estava viva, esperava que Eleven ficasse calada sobre sua fuga.

Também esperava que El ficasse bem.

Mesmo que o papai falasse que só queria o bem de todas as crianças, suas ações demonstravam o contrário, agora com todas elas mortas seria difícil saber se Zero estava viva ou não. Era o que ela esperava pelo menos.

Seu corpo se arrepiava por inteiro enquanto seus passos ficavam cada vez mais rápidos, seu rosto provavelmente estava pálido pelo frio que tanto sentia já que sua cabeça estava sem cabelo algum e sua camisola estava completamente molhada. Suja de sangue.

Ao chegar ao fim da floresta viu luzes acesas pela cidade de Hawkins, Zero correu para a mesma, parando em frente a uma pequena loja de roupas que estava fechada.

Olhando para os lados, o desespero abateu seu corpo, poderia ser pega e levada de volta ao laboratório, Zero sabia o que seu papai fazia com os fujões, não era nada bom.

Erguendo a mão em direção a porta que protegia o local, Zero fechou seus olhos com força imaginando a porta se abrindo. Sangue começou a descer pela narina esquerda da garota e o barulho da porta se abrindo foi ouvido pela mesma.

A menina limpou o nariz sujo de sangue e entrou no local, a luz piscava mas estava quase apagada, encarou uma câmera ao longe, que logo estourou quando a adolescente virou a cabeça um pouco para o lado.

Zero tirou sua camisola a jogando em um balde de lixo e pegou as primeiras peças de roupa que apareceram a sua frente.

Ela se vestira tão rapidamente quanto se despira no local e logo saiu correndo de dentro da loja.

Claro, sabia que roupas diferentes não enganariam ninguém do laboratório, afinal não eram todas as crianças que cortavam o cabelo e ficavam quase carecas, principalmente em Hawkins, mas era o melhor que poderia fazer naquele momento.

Enquanto corria olhando para trás com medo de ser pega por qualquer pessoa, Zero esbarrou em uma mulher de cabelos longos e castanhos e um homem com cabelos castanhos claros, que se viraram rapidamente.

Junto do casal havia uma garota de aparentemente doze anos com lindos cabelos castanhos como os de, aquela que aparentava ser, sua mãe e um menino com cerca de oito anos, a idade aproximada da de Eleven, assim como a outra garota tinha característica marcantes da mãe mas seu diferencial era o nariz, igual ao do pai.

Pelo o que se lembrava, Zero tinha cerca de catorze anos, ela não se lembrava muito bem, cresceu dentro do laboratório, foi uma das primeiras experiências de lá. Ela só queria se livrar de tudo aquilo.

— Hey... Está tudo bem, querida? – a mais velha perguntou ao ver o desespero que o olhar da criança exalava. – Precisa de ajuda?

Zero olhou para os lados desesperadamente, não queria conversar com ninguém, só queria correr.

E foi o que a garota tentou fazer, mas o homem a segurou antes.

— Você está perdida? – Ele perguntou – qual o seu nome?

— Crianças fiquem perto de mim – A mulher pediu e se agachou para ficar com o tamanho aproximado de Zero, a mais nova tentou se afastar ama foi impedida – Fica calma, não vamos fazer nada... Você está precisando de ajuda? Seja sincera... – A menina assentiu devagar, ainda temerosa – certo... Se perdeu de sua família? – Zero não respondeu – Precisa confiar em mim, olha só, eu sou a Ayla, esse aqui é o Harry e minha filha mais velha, Amber. Esse aqui do meu lado é o meu marido, Reggie. Somos seus amigos agora, ok? Qual o seu nome?

Ayla olhou para o próprio pulso, os três números "000" tatuados ali.

Ela ergueu o braço apontando para o mesmo.

— Seu nome é zero? – Reggie perguntou, olhando de escanteio para sua esposa. Zero assentiu. – Você não tem outro nome?

— Meu nome é o meu número... – Zero respondeu pela primeira vez em voz alta

Os olhos de Ayla estavam com algumas lágrimas quando ela se aproximou um pouco de seu marido.

— Amor, ela provavelmente foi sequestrada – A mulher falou, o homem olhou para ela – os números em seus braços...

— Tráfico de menores... – Reggie murmurou, a menina estava assustada, quase gritou quando o homem pegou algo do bolso. – sou policial, braço direito do delegado Hopper. Preciso que confie em nós, Zero... Vamos te ajudar a achar sua casa.

— Não quero voltar... – Zero falou – não tenho casa...

— Vamos resolver isso, vamos te ajudar a achar uma casa nova. – Reggie falou confiante – Está com fome?

(...)

Alguns dias haviam se passado desde aquela noite, Brenner achara que Zero havia sido morta junto aos outros experimentos porém tivesse sido levada pelo portal junto com o número 1.

Hopper e Reggie haviam feito o possível para tirar informações da adolescente, porém não havia dado certo, era como se algo bloqueasse ela a falar para eles. Ela não queria contar tudo a eles, achariam-na um monstro.

O resultado que obtiveram era único: levar a garota a um orfanato. Porém tudo aquilo havia mexido com a família Goodwin, a família que encontrara Zero no beco.

Ayla e Reggie conversaram e decidiram adotar a garota que agora teria uma boa vida e dois irmãos para brincar e finalmente teria uma vida normal.

Mas não poderiam a chamar de Zero, nem mesmo era um nome adequado para uma criança. Não era um nome de verdade, era um código.

Após uma conversa, todos decidiram, Zero não seria mais chamada assim, seu nome agora era Natalie, Natalie Goodwin. Agora ela era uma cidadã de verdade, pertencia a algum lugar, tinha um nome real.

Natalie e Zero já não eram mais a mesma pessoa, Natalie Goodwin decidiu esconder sobre tudo, sobre o laboratório, sobre os seus poderes... Ela praticamente apagou tudo aquilo de sua mente.

Natalie só não imaginava que aquilo tudo era só a ponta do iceberg e que tudo iria voltar novamente, não fazia a menor idéia de que em alguns anos tudo pioraria drasticamente.