
4.04- MURDER
Os dois policiais foram rápidos em tirar Natalie de dentro da casa assim que ela reconheceu o corpo.
Eles sabiam, mais do que qualquer outra pessoa, que aquela garota era forte. Mas nem mesmo a pessoa mais corajosa conseguia passar mais de três minutos perto de um corpo como aquele.
Quem havia feito aquilo, havia feito por maldade. E a Goodwin sabia disso.
E era a única a saber que não havia sido Eddie quem havia feito aquilo. Não tinha como ter sido ele. Aquilo era crueldade pura e, apesar de parecer aterrorizante, o Munson não passava de um garoto.
Natalie sabia que era trabalho do mundo invertido. Talvez de outro experimento.
O corpo de Chrissy estava exatamente como ela havia deixado os dos russos quando perdeu o controle de seus poderes pelo seu ódio momentâneo: pernas e braços quebrados, mandíbula deslocada e olhos puxados para dentro.
E aquilo a fez querer chorar. Porque ela viu quanta maldade ela poderia fazer.
Powell entrou na frente dela abrindo passagem para os fundos da casa quando vários jornalistas tentaram a interrogar.
Natalie praticamente correu para a parte de trás da casa, onde os jornalistas não tinham acesso. Haviam alguns policiais ali, junto ao tio de Eddie.
— Espere aqui, já vamos mandar um deles te levar até sua casa. – Powell falou
— Até meu trabalho… – murmurou Natalie
O homem a encarou.
— Tem certeza?
Ela assentiu.
— Preciso trabalhar.
— Certo… – Powell se virou para os dois que conversavam com o Senhor Munson – Preciso de reforço lá na frente, os jornalistas estão loucos para invadir.
Wayne Munson abaixou o olhar assim que ambos os policiais saíram de perto dele, Natalie não precisou usar seus poderes para saber o que se passava na cabeça dele.
O homem poderia não ter a melhor relação do mundo com seu próprio sobrinho, mas ele conhecia Eddie. Ele sabia que aquele garoto jamais faria algo assim.
Da mesma forma que sabia que nunca acreditariam nele. Especialmente após ele fugir, deixando a garota morta sozinha ali.
Natalie se aproximou, sentando-se ao lado do homem. Ele não abriu a boca. A morena respirou fundo, olhando em volta.
— Eu sei que não foi ele. – Natalie comentou, sem saber como o confortar – Conheço o Eddie, ele pode parecer um maníaco às vezes, mas ele não é um monstro.
O mais velho levantou o olhar, encarando o rosto da Goodwin.
— Acredita mesmo nisso?
— O senhor não?
— Eu sei que não foi o meu sobrinho. Mas não esperava que alguém pensasse da mesma maneira. Todos com quem eu falei até agora acusaram ele.
Natalie encarou os próprios dedos. Se Reginald ou Jim estivessem ali, iriam acreditar nela. Dariam um jeito de ajudar eles.
Mas como os policiais de agora acreditariam nela? Alguém com poderes fazendo aquilo? Internariam ela em um manicômio se falasse aquilo.
— Vamos dar um jeito de limpar a ficha dele. Ele não pode pagar por algo que não fez. – Natalie disse. – Só precisamos achar uma forma de…
— Descobrir o culpado? – o homem a interrompeu. – Eu sei quem foi. Mas nunca irão acreditar em mim.
Natalie arregalou um pouco os olhos, encarando o homem. Ele sabia quem tinha feito aquilo? Como ele sabia?
Ou melhor: quem havia feito aquilo?
A Goodwin tinha certeza que foi alguém com poderes como os dela. Não havia forma de não ser alguém com poderes. Algum experimento.
Mas como ele poderia saber?
— Quem? – a pergunta saiu dos lábios da Goodwin quase como um sussurro.
Ele olhou para os lados antes de se voltar para ela.
— Há muitos anos, pelo menos uns 20 anos antes do seu nascimento, houve um homem aqui em Hawkins… Um homem terrível, cruel e maldoso. Ele matou sua esposa e seus dois filhos, quebrando seus braços, pernas e arrancando seus olhos – Contou o Munson. – Depois disso ele arrancou seus próprios olhos. Se cegou. Ele foi internado no hospício, dado como louco falando que havia sido um demônio que fez aquilo com toda sua família. Mas não foi. Foi ele daquela vez e foi ele de novo. Eu não sei como, não sei porquê, mas eu sei que foi ele.
Natalie sabia sobre uma história de assassinato em Hawkins, mas não sabia muito sobre aquilo. O próprio Reginald era apenas uma criança quando aquilo aconteceu então, com certeza, não estava trabalhando no caso quando aconteceu.
E apesar de saber da história por cima, nunca a aprofundou. Não tinha o porquê de aprofundar. Nem ao menos sabia quem era a pessoa!
Mas se o Senhor Munson estivesse certo e o homem tivesse cometido tudo aquilo, ela deveria ir atrás. Ela sabia disso. Porque ele deveria ter algo a ver com o mundo invertido.
Então, ela perguntou:
— Qual o nome dele?
— Creel. Victor Creel.
Assim que escutou o sobrenome, o corpo inteiro de Natalie se arrepiou de forma inconsciente. Um frio na espinha subindo automaticamente.
Ela segurou o ar em seu pulmão por um segundo. Podia não saber quem era o homem, mas o tom de voz usado e o medo no olhar do Senhor Munson a fez perceber que deveria temer o Creel.
Que deveria ir atrás dele.
Ela segurou a mão do homem.
— Eu vou provar que Eddie não fez isso, vou provar que foi o Creel.
— Como?
— Ainda não sei – admitiu ela. – Mas eu vou fazer. Eu prometo.
Antes que a conversa pudesse prosseguir, um dos polícias apareceu:
— Vamos, senhorita Goodwin? – perguntou. – Vou te deixar no trabalho.
(...)
Harry e Mike chegaram na Califórnia após algumas horas de voo. Poderiam falar que foram horas cansativas e teriam sido se não estivessem tão ansiosos para rever os Byers.
O garoto de cabelos descoloridos não parou de falar durante toda a viagem:
— Acha que eles estão diferentes? – perguntou Harry enquanto eles andavam pelo aeroporto.
Mike o encarou por um segundo, passando o olhar pelo menino.
— Não tanto quanto você – garantiu o Wheeler.
— Tô falando sério, cara! – Harry rebateu, rindo. – Ok, a El ainda manda cartas e liga para você, mas o Will já largou de mão a tempos.
— É, ele não tá mandando para ninguém mesmo – Mike disse. – Talvez ele esteja tentando economizar.
O Goodwin suspirou.
— Nat disse coisa parecida.
Mike o olhou, mantendo o sorriso no rosto enquanto caminhavam levando a mala que haviam acabado de pegar.
— Eu vi a briga de vocês – comentou ele, com cautela.
— Hum?
— Ontem. Eu vi vocês discutindo e sei que foi por isso que dormiu na minha casa.
— Não dormi na sua casa só por isso, sua mãe faz uma janta ótima, ok? – defendeu Harry.
Mike negou com a cabeça.
— Ela tá tentando ajudar você, sabe disso né?
— Sua mãe?
— A Nat.
Harry parou de andar por um instante, abaixando o olhar. Mike também parou, ainda olhando pra ele.
— Eu sei, pedi desculpas para ela hoje de manhã – disse Harry. – Mas… Sei lá… É estranho. Ela sempre foi tão… Responsável com a gente, mesmo com tudo. Só que é diferente, sabe? Ela não é minha mãe, Mike. Ela é minha irmã. E depois… Depois daquele maldito 4 de julho… É como se ela achasse que deve cumprir o papel da nossa mãe e eu entendo ela, mas não é a mesma coisa. Mesmo com ela tentando fingir que é. Ela sabe disso, eu sei disso, a Amber sabe disso! E é sufocante ter que agir naturalmente sabendo que não é mais a minha mãe que… Que vai nas reuniões da escola. Que me dá broncas, mesmo que sejam necessárias. Que oferece carona. Que dá conselhos. Que… – ele gaguejou. – Que me dá um choque de realidade. É sufocante ver ela ter que fazer o papel da nossa mãe porque se culpa por isso.
Mike deu alguns passos na direção do amigo e estendeu uma mão para colocar no ombro do mesmo, hesitando em seguida.
Então, o Wheeler o puxou para uma abraço.
— Eu sinto muito – ele disse. – Muito mesmo. Não consigo imaginar o que você tá sentindo, mas… – ele se afastou. – Sabe que a tia Ayla não ia querer isso né? Nem o tio Reggie.
— Eu sei…
— E a Nat só tá assim porque se sente culpada pelo que aconteceu com eles.
— É, eu sei. Todos sofremos muito com tudo isso, mas eu não quero ser o motivo pela Natalie parar a vida dela! Não quero ser o peso que ela carrega para cima e para baixo. Mike, ela desistiu de tentar uma carreira na área musical. Ela desistiu das inscrições da faculdade e está procurando outro emprego para trabalhar em mais um lugar – Harry murmurou. – Eu só queria… Só queria que as coisas voltassem a ser como antes – ele admitiu, levantando o olhar e vendo Will e Elevem ao longe. – Vamos mudar de assunto, eles estão ali.
— Harry…
Mas o Goodwin já estava praticamente correndo em direção aos dois Byers, deixando a mala deslizar enquanto dava um abraço apertado em Eleven.
Os dois murmuraram um cumprimento enquanto Mike chegava mais atrás com um pequeno buquê de flores.
O Goodwin se afastou, indo em direção a Will. Ele hesitou por um momento antes de abraçar ele, então só estendeu a mão:
— Bom te ver.
O Byers pareceu um pouco decepcionado, mas continuou com o sorriso quando apertou.
— Eu tava com saudades – Will admitiu, olhando para Mike. – De vocês dois.
— Valeu, eu também tava morrendo de saudades – Mike disse.
Harry analisou Eleven que parecia uma mini cópia da Joyce.
— O que aconteceu com o seu cabelo? – Ele perguntou.
— O que aconteceu com o seu? – perguntou Eleven, se aproximando e mexendo nos fios do amigo. – Envelheceu?
— Descolori – Harry disse. – Foi um cara do Hellfire Club que fez, Carlos.
— Hellfire Club? Estão em um clube de D&D agora? – Will perguntou.
— Sim, você ia adorar – respondeu Harry.
E o clima voltou a ficar estranho novamente. Jonathan, que estava próximo a eles com outro cara que Harry não conhecia, limpou a garganta:
— Eai garotos, como vocês estão?
— Bem e vocês? – perguntou Harry.
— Bem.
— Minha irmã queria vir – comentou Mike. – Mas tinha trabalho da escola.
— Entendo… – Jonathan murmurou.
Mike assentiu, desconfortável.
— O que é isso na sua mão? – perguntou para Will.
Will e Harry olharam para o papel nas mãos do Byers que deu de ombros.
— Nada demais, só uma pintura que eu tô fazendo.
— Deve estar show! – Harry murmurou
O garoto de cabelos longos ao lado de Jonathan o encarava fixamente.
— Seu cabelo tá maneiro, cara – ele disse.
Harry o olhou, erguendo a sobrancelha.
— Hum… Valeu?
— Ah, esse é o Argyle – Jonathan apresentou. – Esses são Harry e Mike.
Harry estendeu a mão.
— Prazer em…
O mais velho o puxou para um abraço, quase instantaneamente o cheiro de maconha subiu pelas narinas de Harry, que franziu o cenho.
— Caramba, você é cheiroso! – Argyle disse, se afastando. – Deve passar litros de perfume, igual um artista de televisão. Ouvi falar das irmãs de vocês. Ouvi falar muito das irmãs.
— Isso é estranho – Harry disse.
— É! – Mike concordou.
Eleven olhava para todos eles.
— Podemos ir? Tenho o dia todo planejado – ela disse.
Então, todos começaram a seguir ela enquanto ela explicava tudo o que iriam fazer naquele dia.
(...)
Apesar de todas as emoções da noite anterior, Steve Harrington estava trabalhando. Mesmo com sua mente em outro lugar. Ou melhor, outra pessoa.
Natalie não saia da cabeça dele. Parecia até uma maldição, mesmo em outro assunto, não parava de pensar nela. Não parava de pensar no cheiro dela. Na voz dela…
Ele estava sentindo falta dela, mesmo tendo se visto naquele mesmo dia.
— ‘Cê tá legal? – perguntou Amberly.
Antes que pudesse responder, Steve ouviu a voz de sua outra amiga:
— Pensei no filme de amanhã! – anunciou Robin, andando até Steve e Amber que conversavam do outro lado do corredor. – Doutor Jivago.
O Harrington se desencostou da parede que estava apoiado com uma careta, enquanto Amberly sorria em direção a Buckley.
— Eu não vejo filmes com duas fitas – anunciou o Steve.
— Em geral, você não vê filmes – corrigiu Amber, se aproximando dos amigos. – Eu topo, Robin. Parece legal.
Robin assentiu.
— É ótimo! E tenho certeza que a Nat vai concordar – comentou Robin. – Então, Rei Steve, estamos em maioria e a democracia vence. Além do mais, o filme é sobre amores perdidos! E a Julie Christie tá… – ela travou por um segundo, olhou para Amber e engoliu em seco. – Tá ótima… Nesse filme.
Amber percebeu a hesitação de Robin, baixando o olhar e dando de ombros. Não sabia porquê a garota estava tão… Estranha com ela de maneira tão repentina.
Steve revirou os olhos, se virando para as prateleiras para elas não perceberem o ato voltando a trabalhar.
— Ela tá ótima em todos os filmes – disse a Goodwin. – Cadê a Nat? Ela tá demorando muito.
— Deve estar na delegacia, dois policiais foram na casa dela hoje cedo – comentou Steve, arrumando alguns DVDs.
O silêncio se fez presente por alguns segundos. Os segundos mais silenciosos que Steve já passou na companhia das duas garotas, ele se virou confuso quando percebeu elas se entre olhando.
— O que foi? – perguntou ele.
Amber abriu um sorriso um tanto malicioso.
— Como você sabe onde minha irmã foi? – Amber perguntou.
Steve evitou arregalar os olhos.
— Eu? Bom, ela… – seus olhos ficaram na televisão. – Espera, aumentem o volume.
Elas duas se viraram. A rua onde Max estava morando apareceu na tela com a legenda relatando um homicídio no lugar.
Robin aumentou o volume correndo, os três pararam assistindo o jornal que relatava:
— Estamos aqui no grupo de trailers de Forest Hills, a leste do condado de Roane. Não temos muitos detalhes ainda, mas podemos confirmar que o corpo de uma aluna do Colégio Hawkins foi encontrado hoje. A polícia não divulgou o nome da vítima, mas sabemos que a polícia já está atrás da família da vítima. Assim que tivermos mais notícias voltaremos.
O coração de Amberly parou por um segundo.
— Puta merda! – Steve exclamou.
— Foram atrás da Nat? – perguntou a mais nova. – Será que foi o Harry?
— Falou “aluna” – Robin tentou a acalmar.
— Pode ter sido a Max, né? A gente tá sempre junto, pelo menos estávamos – Amber disparou. – Somos praticamente família, né?
Steve levou as duas mãos aos quadris dele.
— Mas quem teria feito isso com ela? Não faz sentido! Ou faz e eu não tô pensando direito? – perguntou o homem.
— Nada nessa cidade faz sentido! – Amber rebateu.
— Olha, não adianta vocês dois surtarem agora – Robin disse. – A Nat vai saber explicar e eu tenho certeza que se fosse alguma coisa desse tipo, ela já teria dado um jeito de falar com a gente com todo aquele lance de poderes e tudo mais. Não deve ter acontecido nada com as crianças de vocês. Relaxem.
— Relaxar? Eu não posso relaxar – argumentou Amber. – Já perdi muitas pessoas, eu não tô preparada para perder um daqueles pestinhas também.
Robin segurou o ar em seus pulmões, sabendo o quanto aquele tópico pegava em Amber. Pela primeira vez em muito tempo, ela simplesmente não soube o que falar.
Steve se aproximou da amiga, colocando a mão em seu ombro de maneira reconfortante.
— Vamos mudar de canal, vai que algum outro tem outras notícias – o Harrington disse.
E foi o que eles fizeram, mudando de canal rapidamente várias e várias vezes. Todos tinham as mesmas informações, nada sobre a vítima em si.
Amber já estava quase surtando quando o barulho da porta foi ouvido e Dustin e Maxine entraram.
— Ah, graças a Deus! – Amberly disse, correndo até Max e abraçando a ruiva.
A Mayfield fez uma careta.
— Oi?
— Cadê a Nat? – Dustin perguntou.
— Viram isso? – perguntou Steve, apontando para a tv.
— Ela não tá aqui? Merda! Quantos telefones vocês têm aqui? – O Henderson ignorou a pergunta.
— Uma pessoa foi assassinada – Steve disse, indignado.
— Quantas linhas de telefone tem aqui? – Dustin perguntou, impaciente.
Amber fez uma careta.
— Três, por que?
Dustin olhou para Max.
— Acho que três servem – a Mayfield disse.
Após uma pequena confusão, Dustin passou para o outro lado do balcão com protestos dos três que estavam trabalhando no local.
Steve chegou até o lado do Henderson.
— Aqui vai ser o nosso centro de comando – Dustin falou.
— Sai daí, cara – Amber pediu. – A gente tá trabalhando.
— Eu preciso, ok? Já que a Nat não tá aqui, vamos dar nosso jeito – Dustin disse.
— Jeito para o que? – Steve perguntou.
— Para encontrar os amigos do Eddie.
— Ah, Eddie! Seu novo melhor amigo do jogo de nerd? O que antes o Harrington tinha inteiramente! – disse Steve, enciumado.
Amber segurou o riso.
— Sim, mas eu nunca disse isso! – se defendeu o Henderson.
— Você disse com os olhos – Amberly falou.
— O que?! Eu não…
— Foco! Temos que fazer isso logo – Maxine falou.
— Não! Vocês podem brincar aqui na segunda ou na terça, mas hoje é sábado. O dia que mais temos clientes, não dá pra deixar vocês fazerem... Isso. – Robin falou.
— Não dá para esperar – Dustin falou.
Como um estalo, Steve se lembrou dos policiais perguntando do Munson para Natalie mais cedo naquele dia.
— Tem a ver com o assassinato? – perguntou o Harrington
— Sim! – os adolescentes responderam ao mesmo tempo.
— Tá! Podem usar… – disse em tom de reclamação, revirando os olhos. – Posso estrangular eles ou vocês querem fazer isso?
— Eu apoio fazermos juntos – Amber comentou.
Dustin respirou fundo.
— Pode contar para eles enquanto eu tento ligar para todos eles? – pediu o cacheado.
E, então, Maxine começou a contar. Ela falou sobre Chrissy entrando na casa do garoto e nunca saindo, diferente dele que saiu desesperadamente da casa.
— Pera aí, volta um pouco – pediu Amber. – Chrissy? A loira, líder de torcida que ficava saltitando por aí com o namorado capitão do time de basquete?
— Sim. E eu o vi saindo correndo de lá, dirigindo feito maluco. Não é muito incomum isso, mas tinha algo diferente – Max contou. – Ele parecia apavorado. Com medo de verdade.
— Que loucura – Robin murmurou.
Steve negou com a cabeça.
— O que faz vocês pensarem que não foi o Munson que fez isso? – perguntou Steve.
— Porque não foi ele – a voz de Natalie foi ouvida. Assim que Steve se virou, viu a garota entrando na loja. – O Eddie pode ser esquisitão, revoltado e até vender drogas. Mas ele não é um assassino.
Steve prendeu o ar em seus pulmões inconscientemente assim que a viu, soltando-o devagar enquanto seus olhos a miravam.
O estômago dele se revirou, ela sorriu pra ele sem mostrar os dentes. Mesmo parecendo acabada.
— Se você está dizendo, eu acredito que não foi o Munson – Steve falou.
Ela se aproximou dele.
— Obrigada – agradeceu a Goodwin mais velha.
Dustin franziu o cenho percebendo a troca de olhares entre os dois.
— Da para os dois se concentrarem? – O Henderson perguntou
Eles voltaram a olhar para as crianças instantaneamente, fazendo Amber franzir o cenho e se aproximar dos dois.
— As luzes da minha casa piscaram… Quando tudo aconteceu – Max explicou.
— Bom dia para você também, Natalie – Amber disse
Natalie ergueu uma mão para Amberly ficar em silêncio, encarando Maxine que tentava explicar.
— Eu sei que não é algo incomum as luzes daquele lugar piscando, mas… Alguma coisa que não foi o Munson matou a Chrissy – explicou a ruiva.
Amber arregalou um pouco os olhos, sentindo pavor quase imediatamente.
— Vocês acham que está relacionado ao mundo invertido? – perguntou ela.
— Eu tenho certeza – Natalie suspirou como resposta. Todos olharam pra ela. – Me pediram para reconhecer o corpo e… O que eu vi… – ela mordeu o lábio inferior. – Foi exatamente como deixei os soldados soviéticos ano passado. Pernas, braços… Olhos… Seja quem for, aquilo foi maldade pura.
Steve a olhou, claramente preocupado.
— Ou não, certo? Se está falando que fez algo parecido…
— Quando eu estava cheia de ódio – Natalie disparou. – E de qualquer forma, nenhum daqueles russos era uma adolescente de 16 anos.
O clima no local ficou terrivelmente tenso. Amberly queria chorar, mesmo se segurando, era visível. Todos pensavam que o mundo invertido finalmente havia sido deixado para trás. Que finalmente haviam ganhado.
E de repente… Tudo mudou.
— É, precisamos ir atrás do Munson para saber a versão dele – concordou Robin.
Natalie suspirou, ainda sentindo que Steve a olhava. Ela não se virou para encará-lo novamente, sua mente estava uma confusão, tinha certeza que não aguentaria continuar firme se visse qualquer sinal de pena nos olhos dele.
Ela suspirou novamente, estalando com a boca.
— Vocês tem alguma coisa dele? – perguntou a mais velha. – Consigo achar ele facilmente.
Dustin fez uma careta, pensativo.
— Ele quem me deu esse boné – comentou, tirando o objeto da cabeça. – Isso serve?
— Acho que sim – Natalie disse, pegando o boné em suas mãos facilmente. Ela olhou para Robin. – O Keith tá na sala?
A Buckley negou com a cabeça.
— Não, ele não veio hoje – ela falou.
Amberly tirou a bandana colorida que tinha em seu cabelo, estendendo para sua irmã.
— Aqui, isso deve ajudar – Amber disse.
Natalie agarrou o tecido, seu coração batendo fortemente. Não queria lidar com o mundo invertido novamente, não queria ter que lutar com qualquer coisa novamente. Mesmo se fosse outro experimento chamado Victor Creel.
Ela simplesmente não aguentava mais tudo aquilo. Não aguentava mais a sensação de que iriam perder tudo.
O medo a consumia. Se mataram Chrissy, poderiam ter matado qualquer um ali. Deveria ter mandado Amberly ir com Harry para a Califórnia, lá ao menos estariam seguros… Certo?
Ela andou em direção a sala do Keith.
— Nat – Steve a chamou. Ela se virou devagar, vendo que ele se aproximava com um walkman em mãos. – Aqui, deixa em uma linha vazia.
— Obrigada – ela sussurrou.
Ele sabia que ela estava desesperada com tudo aquilo. Apesar dela não falar nada, ele conseguia sentir.
— Quer que fique lá dentro com você? – sussurrou o Harrington.
A Goodwin mais velha negou com a cabeça.
— Acho melhor eu fazer isso sozinha – Natalie respondeu.
Ele assentiu.
— O que você achar melhor. Só saiba… Que não está sozinha nessa, beleza?
Ela deu um sorriso mínimo.
— Eu sei – ela sussurrou, olhando para os outros quatro que conversavam entre si antes de se virar novamente: – Se acontecer alguma coisa…
— Nat…
— Vamos enfrentar essa merda inteira de novo, Steve. Se acontecer alguma coisa… Cuida dos meus irmãos, por favor.
— Natalie…
— Por favor. É a única coisa que eu te peço, Steve.
E ela estava sendo sincera. Era óbvio que ela estava consumida pelo medo. Que ela sabia que alguma coisa iria acontecer, mesmo que inconscientemente.
Ela estava apavorada.
E ele também.
Natalie estava determinada em pôr um fim em toda aquela situação de uma vez por todas, nem que para isso precisasse de sacrificar.
— Eu prometo que vou cuidar deles. Mas você vai cuidar junto. Vai dar tudo certo de novo.
— Não sei se temos tanta sorte assim – ela disse, passando pela porta e a trancando.
Steve também não tinha tanta certeza se sairiam “bem” pela quarta vez, mas precisava se prender nisso. Precisava acreditar que tudo daria certo.
Precisava dar certo.
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