
048 ;𝘥𝘰 𝘪 𝘭𝘰𝘰𝘬 𝘭𝘪𝘬𝘦 𝘩𝘪𝘮?
Sentimentos sempre foram confusos, pois mudam a cada segundo, podendo ou não ser algo positivo. Alguns são mais conhecidos e desejados, outros sempre são indesejados por subestimarem o poder deles. Juniper entendia que a raiva não era algo bom para ela, porque, quando seu corpo queimava com ela, coisas ruins aconteciam. Mas, quando o seu ego era ferido, resultando em você se culpando por semanas por algo que inesperadamente era falso, fazia Juniper querer liberar a raiva que corria em suas veias.
A adolescente sentia suas mãos tremerem antes de fecharem em punhos dolorosamente cerrados, enquanto seu rosto tinha pequenos sinais de autocontrole. Seu nariz, vez ou outra, franzia ao respirar fundo, assim como a sua boca, que permaneceu entreaberta desde que a sentença saiu entre os lábios da Nichols. Seus ouvidos não escutaram outra coisa além de zumbidos quando Samantha avançou na direção de Tory, porém Juniper não estava preocupada com o que a loira sabia ou não; sua mente ansiava em acabar com o rosto de Terry Silver com as próprias mãos.
─ Sabia que Silver tinha trapaceado e não fez nada? - A Larusso exclamou nervosa, empurrando Tory com as duas mãos, dando um passo para trás e voltando a ficar do lado da amiga.
─ Você não sabe o que eu passei. - A Nichols retrucou, cansada de discutir.
Aquilo foi a gota d'água para a Davis, e no segundo seguinte a única coisa que escutou foi o seu punho entrando em contato com o braço da loira. Ela mal percebeu que havia se movido, seus olhos estavam inundados de lágrimas que julgava serem de ódio. A presença de Samantha ao seu lado era um simples fantasma, pois não a impediu de tentar acertar a garota outra vez com um chute giratório, acertando em cheio o seu abdômen.
─ E você acha que eu não sei? Eu conheço aquele lugar melhor do que você, e nunca teria me submetido a isso! - Ela gritou com toda a força dos seus pulmões quando pegou Tory pelos ombros e a empurrou para trás, mas logo a Nichols desviou do chute de Samantha ─ o qual acertou a lixeira ─ e correu para o lado oposto delas.
─ Minha família está sofrendo por sua causa! - A Larusso cuspiu as palavras, mas quando tentou avançar na direção da outra, Miguel entrou na sua frente.
Assim como o Diaz, Robby apareceu entre as três, mas carinhosamente suas mãos seguraram os ombros da namorada, ao mesmo tempo em que seus olhos demonstravam a sua preocupação ao analisarem a loira. Serena e Ethan também estavam com os dois, mas a garota foi para o lado da amiga, olhando para Robby sem entender o que estava acontecendo, enquanto Ethan entrou na frente de Tory quando este entendeu o que aconteceu.
─ Não! Sam, já chega! - Miguel exclamou com o braço entre as duas rivais.
─ Ela estava trabalhando com o Kreese esse tempo todo. - A Larusso soltou para se defender.
Não era apenas isso. Robby sabia que aquela era apenas a "ponta do iceberg", uma simples aliança inusitada não faria a sua namorada não conseguir olhá-lo nos olhos, embora ele acreditasse que ela mal enxergava as pessoas à sua volta.
─ O que aconteceu? - O Keene perguntou curioso, olhando diretamente para a Davis.
Ela piscou. Uma ou duas vezes, mas foi o suficiente para a visão dela clarear e encontrar a imensidão verde nos olhos do Keene tentando decifrar as suas emoções.
─ O torneio foi roubado. - Sua voz saiu quebrada, e a cada palavra que soltava, seus punhos fechavam cada vez mais.
─ O quê? - A Campbell arregalou os olhos, passando o olhar entre todos que estavam ali, mas fixando sua atenção no próprio irmão.
Ele não estava surpreso, na verdade a sua única preocupação era se certificar com seu olhar de canto se Tory estava bem.
─ Por que só falou agora? Hein? - Samantha não dava chances para Tory tentar se defender. - Você é covarde!
─ Vá se ferrar, Larusso. Eu não sou a única guardando os segredos do Silver. - A Nichols apontou para Juniper com o semblante chateado.
Ela não tinha certeza se as palavras de Kreese eram verdade, mas quando a Davis olhou na sua direção com os olhos arregalados e a boca entreaberta em completo desespero, ela teve a confirmação necessária. Tory não conteve o riso anasalado que soltou, nem um pouco surpresa em saber que a loira guardou o segredo de Silver.
─ Espera. Do que ela está falando, Nie? - Como em seus piores pesadelos, a Davis teve o olhar incrédulo de Robby direcionado a si mesma outra vez.
─ Eu sabia que isso não ia dar certo. - Tory disse para Ethan, saindo de perto deles em passos apressados, sendo seguida por alguns centímetros pelo próprio.
─ Tory! - Ele a chamou com os olhos cheios de preocupação, não recebendo uma resposta enquanto a garota desaparecia da vista dele.
─ Juniper? Do que ela estava falando? - O Keene repetiu a pergunta, dessa vez mais sério.
A cabeça dela tombou para o lado quando seu rosto se contorceu para conter as lágrimas. Ela mordeu os lábios quando sentiu a culpa pesar em seus ombros com os olhares de seus amigos presos em si, ao mesmo tempo em que os seus pés começaram a dar passos para trás. Samantha não esperou a garota falar, e saiu do meio da multidão pelo lado contrário da Nichols, e ─ ainda em choque ─ Serena foi atrás dela, pensando que quando voltasse tudo estivesse resolvido.
─ Me desculpa. Eu... - A Davis tentou explicar-se, mas as palavras "eu fiquei com medo" simplesmente não conseguiam sair da sua boca.
Quando Robby tentou tocá-la, seu corpo virou e ─ ignorando os pedidos do Keene ─ ela fugiu sem olhar para trás, parando de correr quando alcançou a própria moto, sumindo da vista deles. O garoto tentou correr atrás dela, mas Miguel segurou o seu corpo para que ele não se decepcionasse com a verdade.
─ Melhor não, Robby. Deixa ela pensar um pouco antes de conversar com ela. - Aconselhou o Diaz, fazendo o menor olhá-lo incrédulo.
─ Ela não tá bem! Não vou deixar ela ficar sozinha agora. - Ele afirmou, empurrando o braço de Miguel com o olhar inquieto.
─ Deixa ela, cara. - Ethan se intrometeu, e imediatamente Robby parou de andar, ficando de costas para o moreno. - Ela prefere ficar sozinha, como sempre.
Robby fechou as mãos em punhos, tentando ao máximo se controlar quando virou o corpo para olhar o Campbell.
─ Engraçado você falar isso como se você realmente conhecesse ela. - Ele acusou de forma ácida, apontando o dedo na direção dele.
─ E eu conheço! Depois de meses morando com ela, eu entendi que ela sempre vai preferir a si mesma do que os outros. A Juniper é desse jeito. - Ethan estava magoado, soltando as palavras da boca para fora em busca de esquecer o problema que surgiu com a visita da Nichols.
─ Cuidado com o que você fala, "cara". - Deixou o apelido soar mais irônico do que o necessário, dando passos para frente ao mesmo tempo que Miguel se preparava para entrar no meio. - A Juniper não ter preferido você não define ela como pessoa. E se você conhecesse ela de verdade ia saber que as pessoas que ela ama sempre vão estar em primeiro lugar. E é isso que eu vou fazer agora. - Ao terminar, deu um passo para trás encarando o "meio-irmão".
─ Já pensou por que ela não te contou a verdade? Todo esse tempo, e nenhuma tentativa de te contar o que aconteceu? As contas não estão batendo. - Ethan insistiu, seu peito queimava com a vontade de deixar todo o seu rancor pelo Keene explodir.
─ Cuidado com o que anda insinuando, Ethan. - Miguel disse, seu rosto estava contorcido em confusão, mas não deixaria alguém falar sobre Juniper daquele jeito, principalmente ao ver o maxilar trincado de Robby ao ouvi-lo terminar a dúvida.
─ Ela não confia em vocês, ou em ninguém! Essa é a verdade. - Cuspiu as palavras com raiva, apontando para o Keene ao mesmo tempo.
─ Você tá bravo porque ela te deu um pé na bunda? Ou você só é babaca? - Robby indagou de forma sarcástica, dando alguns passos na direção do outro. - Não me surpreende que ela tenha lhe dispensado na primeira oportunidade. - Riu ácido.
O Campbell inclinou a cabeça ofendido, suas mãos formaram punhos enquanto seus olhos fechavam quando ele suspirou de forma pesada. Ele não pensou duas vezes antes de partir para cima do Keene ─ o qual não esperou para aceitar o desafio ─, mas a sua tentativa de acertá-lo no rosto foi por água abaixo quando Miguel entrou no meio, segurando os dois com os braços.
─ Parem! Agora! - O Diaz gritou irritado, dando um empurrão nada gentil nos dois, fazendo o Keene revirar os olhos e o Campbell passar a mão no rosto para se acalmar. - Os dois não estão pensando direito, e brigar por coisas idiotas, e que não fazem sentido, não vai melhorar a situação de ninguém, apenas piorar. Então, por favor, parem de agir como crianças e pensem em alguma maneira de ajudar.
A fala de Miguel pareceu funcionar, pois Robby o olhou levemente envergonhado enquanto concordava com o próprio. Ethan pensou por alguns segundos, sustentando a feição dura em seu rosto ao encarar os próprios pés. O garoto não entendeu por que se incomodou tanto com o que Juniper não falou, mas algo lhe dizia que seu incômodo não pairava sobre a Davis, mas sim pelas escolhas e ações da Nichols. Desde a conversa do dia anterior, sua mente rodava pelo lapso entre as personalidades da loira dentro e fora do Cobra Kai. Ela o enlouquecia sem ao menos tentar.
─ O que aconteceu aqui? - Serena apareceu, olhando para os lados confusa ao ver apenas os três. - Eu fui ajudar a Sam, mas ela pegou um Uber e foi embora. - Explicou para o Diaz, que juntou os lábios em uma linha fina cheia de preocupação. - Cadê a Junie? - Seus olhos arregalaram ao notar a falta da amiga.
─ Foi embora. - Robby contou chateado, sentindo a mão do Diaz em seu ombro para demonstrar apoio.
─ Vamos embora. - Ethan cortou a conversa com o tom de voz baixo, mal olhando para Miguel e Robby quando deu as costas para eles.
─ E o Eli? Ele deve estar arrumando a sala e eu prometi dar carona para ele. - A mais nova indagou mais confusa, apontando para o apartamento onde o namorado estava.
─ Vai chamar ele, eu vou esperar no carro. - O Campbell revirou os olhos, tirando um sorriso leve da irmã, que correu na direção da porta branca, e assim que não estava mais em seu campo de visão, Ethan suspirou antes de olhar para os dois adolescentes. - Amanhã me encontrem no Miyagi-do, precisamos encontrar um meio de lidar com o que aconteceu.
• • •
Assim como combinado, no dia seguinte, o grupo se encontrou no dojô para explicar o que aconteceu para aqueles que não estavam presentes e tentar encontrar uma solução. Robby não compareceu, mas a todo instante Miguel ou Serena recebiam uma mensagem dele dizendo todos os lugares que procurou pela Davis desde que amanheceu. Embora a preocupação, a situação era delicada, e eles mal sabiam explicar a parte dela no problema, por isso Robby ficou responsável por descobrir a verdade.
Enquanto Falcão e Serena explicavam a noite passada para Demetri e Bert ─ os únicos que não estavam presentes na noite anterior ─ Miguel e Samantha pensavam em uma alternativa para espalhar a verdade, ao mesmo tempo em que Ethan permanecia sentado no tatame ao lado deles, olhando para o celular e as trinta mensagens e diversas ligações que enviou para Tory desde que a loira saiu no outro dia.
─ Então o sensei Targaryen comprou o árbitro do Regional, incriminou o Kreese e ainda coagiu uma adolescente a mentir por ele? ─ Demetri recapitulou toda a história, soando impressionado com a quantidade de notícias. ─ Não me deixem perder outra festa. ─ Virou-se para Falcão e Serena, que reviraram os olhos.
─ Ainda não temos certeza na parte do coagiu, mas é da Junie que estamos falando. Ela não mentiria sem algum motivo. ─ Serena comentou, abraçando os próprios braços em busca de conforto.
Falcão a olhou de canto enquanto a puxava para um abraço de lado, sussurrando que tudo ficaria bem. A morena assentiu com a cabeça antes de suspirar e prestar atenção na conversa.
─ Precisamos contar aos senseis. ─ Miguel disse sério, olhando para os colegas em busca de apoio.
─ O que eles vão fazer? Vimos o que houve quando o meu pai confrontou o Silver. ─ A Larusso foi contra, fazendo-o fechar a boca em uma linha fina. ─ Não quero que o machuquem de novo.
─ Se o árbitro e o Arraia foram comprados pelo Silver, eles não vão admitir. Nossa última esperança seria a Junie. ─ Demetri explicou pensativo.
─ Ela não vai falar, e mesmo se falasse, seria a palavra de uma adolescente com um histórico péssimo contra um empresário famoso. ─ Ethan abriu a boca pela primeira vez, levantando-se do tatame para olhar os colegas, que o olharam sem esperanças.
─ Não tenho certeza se o Arraia não falaria mesmo. ─ Bert se intrometeu na conversa, chamando a atenção dos outros. ─ Eu sei que ele é do Cobra Kai, e eu sou do Presas de Águia, mas o Arraia ainda é meu amigo. Ele não mentiria para mim. ─ Explicou. ─ Pelo menos é o que eu acho.
─ Pode fazê-lo falar? ─ Falcão questionou levemente impressionado, fazendo o garoto concordar com a cabeça.
─ Ok, isso me soou como um sim! ─ Serena bateu as mãos se animando.
─ Descubra onde ele mora. ─ Sam pediu para o loiro antes que ele e os outros saíssem do dojô, deixando ela e Miguel para trás, conversando.
O caminho até a entrada do dojô foi silencioso, sendo apenas o barulho dos sapatos entrando em contato com a grama e o assobio baixo de Demetri. Serena não parava de ligar e desligar o celular, esperando por notícias da Davis.
─ Devo ficar preocupado com a sua aproximação com o Keene? ─ Falcão segurou o braço dela levemente, parando de andar e deixando os dois garotos irem para o carro antes deles.
─ Idiota. ─ Ela revirou os olhos com a brincadeira, soltando uma risada fraca, que logo se tornou uma careta preocupada. ─ Só não consigo tirar a noite passada da minha cabeça. ─ Suspirou, jogando o próprio corpo de forma dramática no peito do namorado, o qual colocou os braços nas costas dela para confortá-la.
─ Sei que está preocupada com a Junie, eu também estou, mas desde ontem você focou nos outros e esqueceu que isso também te prejudicou. ─ Eli disse cuidadoso, com a típica mudança de postura que apenas a morena causava.
─ Minha cabeça anda me trapaceando ultimamente. Às vezes eu penso se a Junie teria me perdoado, e vice-versa, se ela tivesse ganhado aquele troféu. ─ Serena sussurrou, transmitindo toda a sua angústia nas palavras. ─ A Sam também poderia ter ganhado, o que torna tudo pior, porque a possibilidade de tudo o que aconteceu depois do torneio ter sido falso é enorme e eu...
─ Ei! ─ O garoto a interrompeu quando percebeu a agitação em sua voz, segurando o rosto dela com cuidado. ─ O torneio já acabou, e o que aconteceu depois dele não pode ser desfeito ou esquecido. As coisas aconteceram do jeito que deveriam, e se ficarmos pensando em como tudo seria se tal coisa tivesse acontecido, aí sim vamos perder a cabeça e estragar tudo. ─ Suas palavras acalmaram o coração da Campbell, fazendo-a dar um sorriso fraco enquanto olhava para o namorado encantada com o cuidado no olhar dele.
─ Você tá certo. Apenas o presente que importa agora. ─ Ela assentiu, respirando fundo antes de ficar na ponta dos pés e dar um beijo rápido em Moskowitz.
─ Eu sei, eu sempre tô certo. ─ Se gabou convencido, recebendo um tapa fraco no ombro. ─ Ouch! Isso doeu! ─ Reclamou massageando o local.
─ Era o objetivo. ─ Deu de ombros, começando a andar destemida até o carro. ─ Temos que focar na "operação Arraia" e descobrir onde a Junie se meteu.
• • •
Se tomar decisões arriscadas de última hora contassem pontos na escola, a Davis passaria de ano em um piscar de olhos. Como um déjà vu decepcionante, Juniper sentia sua garganta fechar ao passar os olhos pelo cômodo gélido em que estava. As mesas e cadeiras afastadas, com as cores neutras das paredes, deixavam seu sangue fervendo de raiva por estar ali. Se pudesse correr naquele momento, ela o faria, mas no momento em que seu pé deixou o chão para levantar, o motivo de sua ida até a prisão saiu pela porta.
John Kreese não passava de mais um criminoso com roupas azuis naquele momento. Para Juniper, aquele homem não era o mesmo que lhe ensinava golpes no dojô, mas sim apenas mais um problema na sua vida. Por isso estava ali.
Depois de passar a madrugada em claro na casa na árvore para fugir de Robby e os outros, sua cabeça mal parava em pé com o peso dos seus pensamentos. Todos envolviam vingança, acumulando diversos planos para derrotar Terry Silver, mas todos eles tinham um obstáculo, que tinha nome e sobrenome.
─ Sabia que você viria. - Kreese admitiu ao sentar-se de frente para ela com os olhos cheios de soberba. - Mas confesso que achei que não seria tão cedo, mal tive tempo para comer o café da manhã.
─ Esse era o seu plano? Fazer Tory admitir na frente de todos a merda que você e ela vêm escondendo, apenas para que ela pudesse me atingir, não é? - Juniper o cortou ríspida, batendo os pés ansiosa debaixo da mesa. - Então, parabéns, você conseguiu! - Bateu de leve na mesa, olhando-o irritada.
─ Assim você faz tudo parecer simples. - Ele comentou enquanto cruzava os braços, mas seu rosto demonstrava o quão satisfeito estava. - Quando Nichols veio ao meu encontro para admitir o que ela viu, minha única chance para ter sucesso era contá-la a verdade.
─ Como você sabe? - Ela perguntou, repetindo a ação dele ao olhá-lo com os olhos semicerrados. - Lembro-me bem de estar sozinha quando entrei no dojô, e também quando fui embora.
─ Silver não é o único com acesso às câmeras de segurança. Quando me dei conta sobre a mudança repentina em sua obsessão sobre o Cobra Kai, consegui olhar os arquivos, e estranhamente percebi um corte nos vídeos. - Contava lentamente, torturando a garota que o olhava impaciente, quase lhe tirando gargalhadas pelas caretas. - No vídeo só mostrava você entrando e saindo totalmente assustada, um corte seco para cobrir os rastros dele. Quando me encontrei nesse lugar, liguei os pontos das datas e acontecimentos.
─ Então foi uma suposição. - A loira soltou um riso anasalado amargo, percebendo que caiu nos jogos dele.
─ A qual deu certo. - Retrucou vitorioso.
─ Por que eu? Não seria mais fácil fazer Tory contar a verdade e anular a merda do torneio? - Ela quase gritou enquanto falava, suas mãos apertando fortemente os próprios braços.
─ Nós dois sabemos que você não quer isso, Srta. Davis. - Kreese soltou em um sopro, erguendo a sobrancelha de forma sugestiva.
Juniper desviou o olhar, mordendo os lábios até sentir o gosto metálico do sangue, ao mesmo tempo que seu peito subia e descia sem parar, ao ponto de ter dificuldades para respirar. Ela não queria admitir que ele estava certo, mas sabia que não tinha para onde correr.
─ Ele roubou o que era meu, e ele deve pagar por isso. - Sussurrou, deixando todo o seu ódio sair com as palavras enquanto sentia sua boca tremer de raiva.
─ É muito egoísta admitir que o troféu é seu, sabendo que a filha do LaRusso lutou na final. - Ele disse como se fosse engraçado, fazendo a adolescente olhá-lo irritada. - Não leve para o coração, sei que teria ganhado aquele torneio, e lhe garanto que todos pensavam o mesmo, apenas pensei que eram amigas agora.
Kreese sabia os pontos fracos da loira, desde que entrou no dojô e deu de cara com uma adolescente com a postura de "gente grande", ele viu o seu potencial, mas também assistiu o coração da mesma amolecer por causa das suas amizades. Porém, surpreendendo o mais velho, naquele momento a mesma não demonstrou nenhum sinal de incômodo, pois os olhos dela mantinham-se cheios de ódio.
─ Não vim aqui atrás de conselhos ou mais suposições, o que eu fiz depois do torneio não importa. - Disse tudo encarando os olhos dele, passando a segurança que ele precisava para continuarem. - Como nós vamos destruir o Silver? É para isso que eu estou aqui, não é?
─ É uma simples tarefa, criança, embora ambos estejamos cientes da verdade, a justiça precisa de provas. - Ele deu de ombros, fazendo suas palavras soarem fáceis.
─ E como eu vou conseguir provas? - Questionou interessada, soltando os braços na mesa. - O vídeo do que aconteceu foi apagado e eu duvido que Silver tenha guardado ele em algum lugar.
─ Ele não é burro, mas não conta com o nosso conhecimento sobre o que aconteceu no torneio. - A lembrou, fazendo-a mexer a cabeça, começando a entender. - Tory fez ele admitir enquanto conversavam no dojô, então, talvez, as gravações daquele dia sejam o suficiente para fazer justiça ao torneio. É o suficiente, não é? O problema é como você vai entrar no sistema, pois as autorizações são feitas da casa dele para o dojô, a parte boa é que eu sei as senhas.
─ Invadir o dojô não será um problema, conheço alguns meios para entrar sem que ele seja avisado. - Contou pensativa, entrando com tudo nos planos do mais velho. - Eu consigo entrar na casa dele, duvido que aquele idiota se recuse a conversar comigo. Vou precisar de um deslize dele para conseguir a permissão.
─ Imagino que também não será um problema, você é boa em entender os jogos camuflados em conversas. - Soou como um elogio, mas Juniper não o levou como tal, revirando os olhos enquanto soltava uma risada ácida.
─ Cresci rodeada de pessoas como você e o Silver, se eu consegui absorver algo positivo de todas as merdas que eu passei, tenho absoluta certeza de que é a minha habilidade em reconhecer um babaca quando eu vejo um. - Alfinetou, não se importando com as consequências, ou se as teria. - Então, qual é o seu "preço" pela ajuda?
Kreese não conteve a risada que soltou, totalmente incrédulo com a atitude da mais nova. Por mais que estivesse presente na época em que a garota estava na luta pelo troféu, aquela garota sentada na sua frente com olheiras fundas embaixo dos olhos não parecia ser a mesma. Ela parecia sedenta pela vingança, só precisava da ajuda "certa".
─ Eu quero sair desse lugar. - Contou simples, fazendo a loira arregalar os olhos em choque. - Não me entenda mal, as acomodações aqui são ótimas, você deve entender como é. - Imediatamente o rosto dela endureceu em puro ódio, sendo a exata reação que o homem queria. - Com Silver fora do jogo, eu preciso estar livre desse lugar para terminar o meu propósito.
─ Eu não quero saber o que você vai fazer depois que sair daqui. - Ela pediu impaciente, batendo os dedos na mesa enquanto analisava o local, parando a atenção em um policial em pé ao lado da porta. - Você precisa de um cartão de acesso para sair. - Sua mente se iluminou com a ideia.
─ Então, você vai me ajudar? - Ele questionou, levemente surpreso com a rapidez da garota.
─ Apenas se você me ajudar. Eu quero as senhas. - Sua atenção voltou para o homem enquanto se inclinava na mesa para olhá-lo nos olhos.
─ Tudo bem. - Ele aceitou, tirando do bolso um pequeno papel amassado, passando-o pela superfície fria até os dedos da loira.
Ela pegou o papel, abrindo-o e encontrando uma série de números. Sua mente traiçoeira logo a levou a pensar que seria mentira, fazendo seus olhos subirem até os do mais velho. A mesma o analisou, buscando algum superpoder que não tinha para tentar decifrar o homem.
─ Como eu vou saber que é verdade? - Ela questionou, cerrando os olhos na direção dele.
─ Eu não arriscaria passar uma eternidade dentro das grades à toa. - Kreese exclamou sério, sendo a resposta que a garota precisava para poder guardar o papel no próprio bolso enquanto soltava um longo suspiro. - Sei que você não está afim de papo furado agora, mas tenho que pedir para que tome cuidado com o Silver.
Juniper não entendeu a mudança repentina, e logo o olhou confusa com o pedido.
─ Eu sei lidar com o Silver. Ele vai perder. - Ela afirmou, mais para si mesma do que para o homem.
─ Ele nem sempre foi assim, sabia? Quando o conheci ele não passava de um magricelo com medo da própria sombra, não fazia mal nem para uma mosca. - O homem começou a contar, atraindo a atenção da loira. - Parecido com você antes de entrar no Cobra Kai, segundo as histórias do Johnny. - O ar ficou pesado para a Davis quando escutou a comparação. - Até que fundamos o Cobra Kai e ele se tornou obcecado. Silver quer poder, e ele irá fazer o que for preciso para mantê-lo.
─ Eu não sou ele. - Ela cortou a história, sua postura rígida com as informações transmitidas.
─ Não, você não é. - Kreese deixou-se levar pelo pedido silencioso para trocarem de assunto. - Mas, de uma coisa eu tenho certeza, Silver irá cair.
A Davis gostou do que ouviu, e logo abriu um sorriso de canto, aos poucos deixando-se levar pela raiva. As consequências não importavam para ela naquele momento, suas escolhas já foram feitas, e ela tinha certeza de que seu objetivo seria concretizado.
─ Foi bom conversar com você, mas espero não vê-lo tão cedo. - Juniper confessou de forma sarcástica enquanto se levantava, tendo o olhar analítico do mais velho nela enquanto a mesma olhava para os lados, mirando no mesmo policial que viu antes.
─ O que você vai fazer? - Kreese questionou ao olhar na mesma direção que ela.
─ Só segue o plano. - Ela sussurrou, virando o rosto para olhá-lo antes de respirar fundo para repensar suas próprias ações uma última vez. - Como você ousa falar algo assim depois de sumir por anos? - Ela gritou fingindo estar desesperada, chamando a atenção das pessoas presentes no cômodo, especialmente o policial, que começou a se aproximar deles. - Você é um péssimo avô! Minha mãe estava certa em se afastar de você! - A adolescente não parou, apenas intensificava a atuação com os gritos e movimentos como se estivesse passando mal.
─ Tá tudo certo aqui, senhorita? - O policial perguntou quando chegou à mesa deles, vagando o olhar entre a adolescente em pé e o homem sentado com o semblante "chateado".
─ Esse homem teve a audácia de falar coisas terríveis sobre a minha mãe! ─ A loira gritou mais uma vez, cambaleando até o policial enquanto fazia sua melhor cara de doente ao colocar a mão na testa antes de começar a abanar. - Ah, aqui não tem ventiladores? Começou a esquentar. - Murmurou fingindo estar tonta quando praticamente jogou-se na direção do policial.
O homem ─ sem saber o que estava acontecendo ─ começou a pedir ajuda, tentando ao máximo estabilizar a garota em pé utilizando o seu próprio corpo como apoio, dando a oportunidade perfeita para que Juniper soltasse o cartão da roupa dele no chão. Sem pensar duas vezes, ela colocou o próprio pé em cima do objeto e arrastou-o rapidamente para debaixo da mesa, fazendo Kreese escondê-lo com os pés quando outros policiais entraram para socorrer a garota.
Enquanto Juniper era levada para fora com o auxílio de dois policiais, Kreese escondeu o cartão no sapato, olhando na direção que a mais nova foi levada sentindo o gosto da vitória, pensando o mesmo que a adolescente. Silver ia cair de um jeito ou de outro.
• • •
Robby estava a um passo de surtar.
Depois de encher o telefone da Davis com mensagens e ligações ─ as quais não foram poucas ─ ele decidiu procurá-la em todos os lugares que ela frequentava. Começou pelo lugar mais óbvio, a sua casa, mas ficou decepcionado por não ser atendido, nem mesmo pelos pais da namorada. Em seguida, tentou a casa na árvore, mas não teve sucesso, assim como na praia, na cafeteria onde eles tomavam café às vezes e no dojô do Miyagi-do. Robby até tentou ir ao antigo dojô do Cobra Kai, e mesmo assim não a encontrou.
Como seu último recurso, o adolescente decidiu refazer os seus passos antes de desistir e começar a se preocupar de verdade, ou mais do que já estava. O caminho até a casa dos Davis foi curto, mas angustiante. Ele tinha medo de não ter notícias dela tão cedo, mesmo que a ideia soasse dramática, ele não queria perdê-la. Ao tocar a campainha, os próximos cinco segundos quase o levaram à loucura, mas quando a porta abriu, seu coração palpitou com a esperança.
─ Robby? O que faz aqui, querido? - Anastasia questionou, confusa, dando espaço para que o adolescente entrasse na casa, deixando o skate no canto da porta, como sempre.
─ A Junie está em casa? - Ele não se segurou, olhando esperançoso para a mulher.
─ Ela ainda não chegou, deve estar na casa dos Larusso ainda, ela mandou mensagem dizendo que ia dormir lá depois da festa. - A mais velha comentou enquanto iam até a cozinha, onde ela pegou um copo de suco de laranja para ela e o garoto. - Beba um pouco, fiz ontem pois sei que você gosta.
─ Obrigado, Srta. Davis. - Ele sorriu fraco ao aceitar o copo, decepcionado pela falta de notícias.
─ Ah! Esqueci de te parabenizar pelo novo membro na família. - Anastasia sorriu alegre, fazendo o mais novo olhá-la confuso. - Seu pai e o Larusso ligaram hoje convidando a gente para comemorar a gravidez da Carmen.
Quando ela terminou de falar, Robby finalmente notou o vestido longo e bordado com lantejoulas da mais velha, além da maquiagem levemente pesada que denunciavam que eles iriam sair.
─ Foi inesperado, mas estamos felizes com a notícia. - Não deixou de sorrir bobo.
─ Robby? O que você tá fazendo aqui, parceiro? - Brian surgiu no cômodo, mantendo um sorriso animado ao ver o genro e logo indo cumprimentá-lo com o toque especial dele.
Ele não sabia se era a sua antiga amizade com Johnny que o influenciou, mas desde que conheceu o namorado da filha, ambos viraram quase "melhores amigos" e principalmente rivais no videogame da Davis mais nova.
─ Ele veio atrás da Junie. - Anastasia respondeu pelo garoto, apoiando-se na bancada atrás dela.
─ Ela não deve demorar, a casa dos Larusso não é tão interessante assim. - Brian zombou, rindo com a mulher dele.
Robby tentou disfarçar a sua careta ao rir com eles. Claro que a garota não estava com os Larusso, muito menos com a Samantha, por isso tentou ao máximo levar a história que a namorada inventou à frente pelos próximos minutos de conversa. A todo momento ele olhava para o relógio e para o celular em busca de notícias sobre o "plano Arraia" ─ assim intitulado pela Campbell ─ ou da Davis.
─ Ah, ainda não falamos com o seu pai, mas o que acha de ir viajar com a gente no final do ano? - Anastasia se lembrou, virando-se para o adolescente animada. - Ainda é uma surpresa para a Junie, estamos decidindo o lugar antes de contá-la.
─ Seria ótimo! Já devo me preparar e aprender a surfar, ou não vamos para um lugar paradisíaco? - Ele zombou com um sorriso travesso nos lábios, mas a todo momento olhava para a porta, esperando que a loira entrasse por ela.
─ Se depender desse daí e da Junie, vamos passar um mês morando no mar e sobrevivendo de peixes e água salgada. - A mais velha brincou, batendo no ombro do esposo de leve, fazendo-o rir e revirar os olhos.
─ Se a sua intenção era me criticar, saiba que você falhou. - Brian a olhou sarcástico, sustentando toda a atitude que um dia já teve ao levantar as sobrancelhas, desafiando-a.
Antes que Anastasia pudesse revidar, o barulho de chaves na porta fez os três olharem para o pequeno corredor e encontraram Juniper com a mesma roupa da noite passada e uma aparência cansada. Porém, no momento em que percebeu estar sendo observada, a adolescente abriu um sorriso largo enquanto arrumava a roupa e os fios de cabelo caídos no seu rosto.
─ Não sabia que marcamos uma reunião familiar. - Ela brincou, aproximando-se do namorado para cumprimentá-lo brevemente com um selinho, logo indo na direção dos armários para pegar um copo.
Robby não conteve a careta ao perceber a mudança sutil em seu comportamento.
─ Como foi na casa dos Larusso? Amanda comentou que mal teve tempo para acordá-las essa manhã antes de ir trabalhar. - Anastasia perguntou, curiosa, fazendo a filha engolir em seco.
Essa foi por pouco. Pensou, rapidamente soltando uma risada anasalada para disfarçar o medo em seus olhos. Ela não se atreveu a olhar para Robby, pois podia sentir o olhar dele queimando o seu rosto.
─ Chegamos tarde ontem, e quando acordamos não pensamos duas vezes antes de passar a tarde assistindo filmes do quarto da Sam. - Mentiu, sem um pingo de remorso.
─ Que bom que vocês aproveitaram! - A mulher disse sincera, sorrindo doce antes de passar pela filha e deixar um beijo no topo da sua cabeça, consequentemente olhando a tela do seu celular no balcão. - Merda! Estamos atrasados! - Arregalou os olhos, pegando o próprio celular para checar o horário novamente.
─ Onde vocês vão? - A loira questionou, confusa, parando de encher o seu copo com suco para olhá-los.
─ Comemorar a gravidez da mulher do Johnny. - Brian respondeu tranquilo, sem se afetar pelo atraso.
Diferente dele, Anastasia não demorou mais um segundo para pegar sua bolsa e calçar os sapatos, ficando pronta em questão de segundos. Os dois adultos se despediram da filha e do genro, pedindo para que trancassem as portas e janelas se decidissem sair depois, o que fez a Davis mais nova sorrir brevemente. Eles não se preocupavam em deixar os dois sozinhos, um sinal de que confiavam neles.
Mas, naquele momento, Juniper desejou que eles não os deixassem sozinhos. No segundo em que a porta da frente fechou, ela sentiu o olhar de Robby segui-la pela cozinha, em completo silêncio durante a sua viagem da bancada até os armários para guardar o copo não utilizado. Assim que a porta de madeira fechou, ela respirou fundo, ainda de costas para o garoto, tomando longos segundos para criar coragem.
─ O que você quer saber? - Perguntou baixo, sentindo seus dedos doerem ao segurar nas bancadas à sua frente.
─ Você 'tá bem? - As três palavras saíram da sua boca no momento em que ela deu abertura para perguntas.
A preocupação genuína de Keene fez a loira sentir seu estômago revirar. Talvez o seu drama fosse demais para ele. Pensou, segurando um soluço em sua garganta enquanto virava lentamente, ao mesmo tempo em que o garoto levantava e andava até ela com as sobrancelhas contorcidas em uma mistura de sentimentos.
─ Eu preciso responder? - Retrucou, machucada, fechando a boca em uma linha fina quando sentiu seus olhos se encherem de lágrimas.
─ Você me assustou pra caralho ontem, passei o dia te procurando como louco e não tinha ideia de como ia te encontrar. - Robby sussurrou com cuidado, aproximando-se dela lentamente.
─ Eu não queria acabar descontando em você. Nunca me perdoaria se eu machucasse você, de novo. - Disse sincera, levantando o olhar até encontrar o dele, sentindo a confusão em seus olhos. - Não vai me perguntar se é verdade sobre o Silver?
─ Só quero saber se você quiser me contar. - Deixou um sorriso fraco sair em seus lábios, sentindo as mãos dela segurarem a sua camiseta lentamente, como se buscasse algum tipo de conforto.
─ Quando eu fui devolver as chaves do carro para o Silver, o dojô estava vazio, ou pelo menos eu achei que estava. Fui até os fundos, e a primeira coisa que eu escutei foram os grunhidos do Arraia. Eu fugi assim que vi o que estava acontecendo pela fresta da porta. - Juniper cuspiu os detalhes, seu olhar longe e cheio de lágrimas, as quais ela lutava para não derrubar enquanto apertava o tecido em suas mãos. - Eu pensei que ninguém me viu aquele dia, mas no torneio ele me ameaçou, e claro que eu não abaixei a cabeça. - Riu ácida. - E logo em seguida eu fui desclassificada e ele me expulsou do dojô. - Em um piscar de olhos, a tristeza se transformou em raiva, fazendo-a cerrar o maxilar com a memória.
─ Não consigo imaginar o que você tá sentindo agora. - Robby demorou alguns segundos para digerir as informações, mantendo-se o mais calmo possível. - Sinto muito por não ter percebido isso antes, eu devia ter ido no seu lugar aquele dia, ou pelo menos ter ido com você. - Começou a tagarelar, mal conseguindo encarar os olhos dela pela culpa que sentiu.
─ Para de se culpar, por favor! - Ela o cortou rapidamente, encarando a feição caída dele enquanto sentia seu coração quebrar em mil pedaços. - Eu mantive segredo para te poupar disso, você tava tão feliz em voltar para o Miyagi-do e finalmente resolver os problemas com o seu pai e o Miguel. Não queria estragar tudo. - Suas mãos subiram até o rosto dele, segurando-o delicadamente ao sorrir triste, ao mesmo tempo que sentia uma lágrima escorrer pela sua bochecha.
─ Você não estragaria nada, ver você bem é a minha maior prioridade e eu não consigo imaginar o quão merda foi ter guardado isso para si mesma esse tempo todo. - Disse baixo, puxando-a com as duas mãos e mantendo-a entre os seus braços.
─ Pelo menos eu tinha você. - Sussurrou, sentindo seus olhos queimarem pelas lágrimas, mas Robby não deixou de notar a forma em que eles brilhavam ao olhá-lo.
─ Você sempre vai me ter aqui com você, sabe disso, não é? Independente dos problemas, ou dos senseis, eu prometi estar com você até que a morte nos separe.
O mundo em volta deles sumiu, e tudo o que os olhos do garoto captavam foi o rosto angelical da Davis. Um conjunto de momentos passou pela sua mente, todos enaltecendo a forma em que Juniper o tratava como parte da sua família, sendo a primeira a fazer isso por ele. O Keene sabia que o sentimento era mútuo, e não deixava de demonstrar o quão apaixonado estava por ela, mas paixão não era o bastante para ele naquele momento. As três palavras estavam na ponta da sua língua, esperando o momento em que sua coragem atingisse ele e o fizesse admitir o que já estava visível para todos.
Ele poderia fazer aquele ser o momento, mas as palavras simplesmente não saíam. As lembranças de que eles tinham um problema para resolver o atingiram em cheio, estragando a sua idealização do "momento perfeito". Tudo precisava estar bem para ambos, e agora ─ definitivamente ─ não estava. Juniper merecia mais do que três palavras jogadas no meio de uma confusão sem previsão para um fim.
─ Eu acho que tenho um plano. - Juniper cortou a tensão entre eles, afastando-se para andar na direção das escadas.
Ela estava guardando em segredo a visita que fez durante a tarde ─ que foi o motivo do seu sumiço ─ e não queria passar mais tempo mentindo para Robby. O mesmo não entendeu porque ela se afastou, mas mesmo assim a seguiu até o quarto dela com as mãos nos bolsos da calça.
─ Tudo bem, o que temos que fazer?
• • •
Como decidido na reunião que fizeram, o grupo foi até a casa de Arraia, quase coagindo o homem a deixá-los entrar na casa. Porém, assim como Sam esperava, a conversa não estava tendo o fim que eles precisavam, pois Silver parecia ter feito uma lavagem cerebral na vítima do seu ódio. Depois de ser persuadido pelos adolescentes, o homem começou uma espécie de campanha de RPG, mas todos entenderam que a história contada era o que realmente aconteceu naquele dia.
Eles estavam em volta de uma mesa, e no centro o tabuleiro estava montado com alguns bonecos posicionados de forma estratégica para a história. Samantha, Ethan, Serena e Bert estavam sentados nas cadeiras deixadas pelos amigos do adulto, enquanto Falcão, Miguel e Demetri ficaram em pé para escutar o que ele tinha para contar.
─ O que o Monge fez? O Monge fez um pacto com um rei de cabelo prateado para derrubar o atual líder. - Continuou, mostrando os bonecos que faziam alusão ao Silver, Kreese e ele. - Em uma manhã, antes dos guerreiros chegarem, o rei golpeou o Monge. Várias vezes. - Derrubou um boneco, enquanto o golpeava com o outro. - O líder acabou sendo incriminado pela agressão, e foi aprisionado por isso. Assim, o rei de cabelo prateado assumiu a guilda.
─ Tinha mais alguém no lugar quando o rei golpeou o Monge? - Serena perguntou interessada, apoiando os cotovelos na mesa para prestar atenção.
─ Não, eram apenas eles. - Pensou antes de falar, respondendo com uma careta confusa.
─ E o Monge voltou para a guilda? - Demetri também perguntou.
─ Claro, e com benefícios. - Falcão respondeu pelo homem, sendo sarcástico sobre a situação.
Enquanto Arraia concordava com o de moicano, Serena sentiu seu celular vibrar, acendendo a tela e se deparando com uma ligação. Sem pensar duas vezes, a Campbell levantou da cadeira colocando o celular na orelha, olhando para o namorado antes de sair e sussurrando que já voltava.
─ Por que não conta o que aconteceu? - Miguel questionou o mais velho.
─ Ele não quer perder os benefícios. - A Larusso levantou sem paciência, irritada com a história que lhe foi contada.
─ Não. Eu... O Monge abriria mão de tudo que recebeu se pudesse, mas o rei de cabelo prateado quase matou o Monge. Ele podia tê-lo matado! - Arraia retrucou a morena, soando desesperado. - E, por quê? Para ter poder! Então, sim, o Monge tem medo do que o rei faria para manter o poder. E acho que o Monge só queria voltar para a guilda, porque ele achou que poderia ser um guerreiro nobre e honrado. Como a Samantha, o Falcão e todos vocês.
─ É, mas parece que nada te levou à nobreza e à honra. - Ethan comentou sarcástico ao revirar os olhos, compartilhando do mesmo sentimento da Samantha.
─ Exatamente. - Concordou cabisbaixo. - Ele brinca com eles todos os dias, mas o Monge apenas tem medo. - Parou por alguns segundos, balançando a cabeça em negação. - Eu não posso. Desculpa.
─ Ótimo. Obrigada por nada. - A Larusso reclamou antes de ir até a porta.
Não passou nem cinco segundos que a morena saiu, e logo Miguel estava fazendo os mesmos passos dela para o lado de fora, mas ao passar pela porta ele deu de cara com Serena desligando o celular agitada e com os olhos arregalados. Ele a olhou confuso, demorando para perceber o que estava acontecendo.
─ O que foi? - Perguntou, ficando preocupado, tendo a atenção da amiga no mesmo momento.
─ Juniper apareceu e ela tem um plano.
I. Ainda lembram de mim? Demorei para postar mas aqui estou eu com o penúltimo capítulo do quinto ato de the loneliest! Confesso que tive problemas para escrever ele, principalmente por causa do desenvolvimento do "plot", e já adianto que o último pode demorar também porque eu tenho MUITA coisa planejada para ele.
II. Não pensem que eu estou fazendo a junie ter um momento igual aqueles heróis adolescentes que lutam com um vilão mais poderoso e ganham fácil. Na verdade, eu estou tentando fazer totalmente o contrário e mostrar pra vocês a manipulação que o Kreese e o Silver sempre fazem.
III. Espero que tenham gostado! Não esqueçam de comentar e votar (porque isso me dá mais ânimo para escrever), e até o próximo capítulo <3
não revisado.
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