Um dia após o "primeiro dia" de Juniper no miyagi-do, a loira podia dizer que sua vida estava voltando aos eixos, ou o que ela achava ser o "normal". Depois de absorver as lições de Chozen, ela voltou para a casa pensando sobre a fala do sensei. Eles tinham algo que o Cobra kai não tinha, e ─ definitivamente ─ trabalhar em grupo era a especialidade deles. Por isso, deixando todos os problemas de lado, quando os Campbell's chegaram na casa dos Davis's com a companhia do Moskowitz, ela se viu aceitando a ideia de ser amigável novamente.

Os adultos ficaram resolvendo os problemas problemas da empresa, enquanto os adolescentes se trancaram no quarto da Davis mais nova para jogar vídeo game, e claro que ela não perdeu a oportunidade de importunar o seu namorado e fazê-lo ir até lá para lhe fazer companhia.

─ Vai se ferrar, Keene!

Era a décima vez que Falcão xingava Robby depois de ser golpeado pelo time "Keene&Davis" enquanto pulava com o controle do vídeo game em mãos, tirando mais uma risada alta do garoto, que se jogava para o lado tentando atrapalhar a visão da namorada, levando mais um tapa na cabeça.

─ Eu juro por tudo, amor, que a próxima vez que você fazer isso eu acabo com você. - Ameaçou entredentes, tentando não rir quando viu o Moskowitz levar mais um golpe do seu personagem.

Serena, que estava com a cabeça apoiada no ombro do namorado, irritava o irmão sentando no chão ao seu lado. Na tela do aparelho instalado na parede o time "Campbell&Moskowitz" ficou com os pontos estagnados quando o mais velho largou o controle para atacar a irmã com cosquinhas do lado da cama da Davis.

─ Qual é, Ethan! Deixa ela. - Falcão reclamou olhando para a confusão de risadas que a namorada se tornou.

─ Agora é guerra. - Ele gritou ainda "atacando" a irmã.

Juniper revirou os olhos rindo ao olhar para os dois, voltando a sua atenção para a televisão, mas logo ela teve que levantar ─ com as reclamações do Keene ─ para atender a porta da frente. Depois de descer as escadas xingando quem estava apertando a campainha repetidas vezes, ela chegou na porta de madeira e abriu com o rosto fechado, porém logo ela abriu um sorrisinho brincalhão com a visão de Daniel, Johnny e Chozen esperando do outro lado impacientes.

─ O que é isso? Vocês formaram uma "boyband" e não me contaram? - A adolescente zombou passando o olhar pelos três enquanto cada um entrava na residência.

─ Ela sempre é assim? - Chozen bateu no ombro de Johnny, olhando de canto para a Davis.

─ Ela é pior. - Sorriu, soltando um riso anasalado quando a loira fechou a porta e parou com as mãos na cintura.

─ Tudo bem, o que vocês querem? - Perguntou.

─ Viemos falar com os seus pais e a mãe da Srta. Campbell. - Daniel, o mais racional ─ segundo Juniper ─ entre eles, respondeu olhando para os lados. - O pessoal da empresa Campbell disse que ela estaria aqui, então corremos para alcançar ela.

─ Ok, isso é estranho... - Ela cerrou os olhos desconfiada. - Mas eu estou acostumada! Eles estão na cozinha resolvendo os problemas da empresa. - Deu de ombros apontando para a direção do cômodo, e logo os três agradeceram indo até ele.

─ Espero que tenha cerveja. O Brian sempre compra das melhores. - Johnny comemorou.

─ Lembre-se que estamos em uma missão, Johnny. - Daniel o olhou de canto com uma sobrancelha arqueada, fazendo o loiro revirar os olhos e calar-se quando chegaram no cômodo.

Os três adultos estavam apoiados na bancada com uma papelada espalhada nela. Brian fazia contas na calculadora, enquanto Anne e Anastasia pareciam discutir por algo.

─ Não, nós sempre usamos o patrocínio da imobiliária para o transporte de encomendas! - Anastasia repetiu pela terceira vez, mexendo as mãos nervosa. - Não podemos mudar isso agora.

─ Só tem um jeito de resolver. - Anne a olhou séria, e logo a loira fez o mesmo.

Surpreendendo os três novos espectadores, as duas melhores amigas de infância começaram a jogar "pedra, papel ou tesousa", uma alternativa nada profissional, mas que funcionava entre eles. Daniel, ainda em choque, coçou a garganta chamando a atenção deles.

─ Ah, não sabia que viraram uma "boyband"! - Brian exclamou ao se afastar da bancada com um sorriso travesso enquanto abria os braços.

─ Ele combinou isso com a loirinha? - Chozen sussurrou para Johnny, que estava ao seu lado e atrás de Daniel, fazendo-o dar de ombros.

─ O que lhes devo a honra, meus companheiros? - O Davis olhou diretamente para Johnny, arqueando uma sobrancelha ao analisá-lo. - Cara, você não mudou nadinha! Os dois, continuam os mesmos magrelos de sempre. - Apontou para Daniel e Johnny rindo.

─ E você o mesmo babaca de sempre, Davis! - Johnny retrucou rindo, indo na direção do velho amigo e lhe cumprimentando com um abraço rápido. - Precisamos da ajuda de vocês.

Quando o Lawrence terminou de falar, os três colegas de trabalho se olharam sem entender o motivo, mas depois de uma breve explicação sobre a visita ao presídio onde Kreese estava, eles entenderam onde aquela conversa ia parar.

─ Vocês querem a ajuda de um advogado. - Não foi uma pergunta, pois Anne compreendeu o que faltava na história.

─ Uma advogada, no caso. - Daniel disse gentilmente. - E que tenha um pezinho no caratê para entender os riscos que estamos tomando em levar as crianças para esse torneio.

─ Eles vão surtar quando descobrirem. - Anastasia comentou baixo com os olhos arregalados.

O torneio regional era uma coisa, mas o torneio mundial seria ultrapassar todos os limites.

─ Nós vamos participar de um torneio mundial? - A voz de Falcão assustou os adultos, que olharam para trás e encontraram os cinco adolescentes olhando para eles completamente chocados parados na escada.

─ Cedo demais, Ana. Cedo demais! - A Campbell mais velha reclamou com a amiga, que passou a mão no rosto sem paciência.

─ Ainda é cedo para confirmar. Viemos aqui justamente para entender como fazer isso acontecer. - Daniel explicou tranquilo, respirando fundo quando percebeu que a sua fala não adiantaria de nada.

─ Nós temos que contar para os outros agora! - Serena quase gritou animada, dando um pulinho ao puxar o namorado para subir as escadas com ela enquanto eles conversavam sobre a novidade, deixando Ethan, Robby e Juniper para trás.

─ Quem participa desse torneio? - A Davis questionou com um olhar enigmático, sentindo a mão do namorado pousar no seu ombro enquanto esperavam uma resposta.

─ Apenas os melhores dos melhores. - Foi Johnny que respondeu, dando um sorrisinho de canto ao inclinar a cabeça como se estivesse se referindo a eles.

─ Não é isso que eu quero saber. - Juniper reforçou, com a voz quase trêmula. - Quem do Valley quer participar além do miyagi-do?

A casa ficou em silêncio por breves segundos, com os adultos se olhando sem ter coragem de respondê-la.

─ O Cobra kai. Terry quer espalhar o método do punho para o mundo inteiro com a ajuda desse torneio. - Daniel disse quando percebeu que ninguém teve coragem de falar a verdade para a adolescente. - Mas nós vamos impedir que isso aconteça.

Não vai funcionar. Nunca funcionou. Cobra kai nunca morre. As palavras se repetiam na cabeça dela sem parar, mas nenhuma saiu entre os seus lábios sem cor. Definitivamente entrar em outra competição contra o Cobra kai depois de ter sido ameaçadora, não uma, mas duas vezes pelo dono atual do dojô, não era uma opção agradável.

─ Confiamos em vocês. Se acham que temos uma chance, vamos fazer o possível para impedir o Cobra kai. - Robby se manifestou, descendo um degrau para proteger a namorada dos olhares preocupados dos adultos.

Johnny sorriu para o filho, olhando para os outros como se estivesse prestes a gritar orgulhoso que aquele era o menino dele. Brian riu baixo, se aproximando do amigo e colocando a mão no ombro dele mexendo a cabeça antes de subir o olhar até a filha, preocupando-se com o olhar inquieto dela.

─ Tudo bem, filha? - Questionou com o tom de voz carinhoso.

─ Sim, sim! - Ela piscou várias vezes, forçando um sorriso para o pai enquanto descia a sua mão de encontro com a do Keene. - Robby está certo. Nós precisávamos de uma chance para deter o cobra kai, e se esse torneio for ela, devemos pelos menos tentar. - Mexeu a cabeça para cima soando o mais positiva possível.

─ É assim que se fala! - Chozen fechou a mão animado comemorando, trocando um toquinho de longe com a garota.

─ Então, o que temos que fazer agora? - Daniel olhou para Anne, que franziu as sobrancelhas pensativa.

─ Conversar.

• • •

Anne estava certa quando disse que o próximo passo seria conversar, pois assim que os três senseis e a mulher procuraram os representantes do sekai taikai no dojô do Cobra kai, as palavras sábias da Campbell conquistaram o coração deles e conseguiram barrar as tentativas falhas de Silver em conter a situação. Com mais um passo para a vitória do Miyagi-do contra o Cobra kai, os senseis voltaram para o dojô com o propósito de treinar os alunos para a próxima etapa: lutar contra o Cobra kai.

─ Acham que vai funcionar? - Serena olhou para Juniper e Samantha, que trocavam alguns golpes para se aquecerem na plataforma de madeira perto do tatame. - Não me entendam mal, mas arrumar mais uma briga contra aquele maluco do Silver não me parece um plano bom.

─ Não era você que estava animada para o torneio mundial? - Juniper zombou olhando por cima do ombro a amiga, abaixando em seguida para desviar do chute giratório da Larusso.

─ Não acho que é uma péssima ideia, principalmente porque vamos ter grandes oportunidades se ganharmos. - Samantha deu de ombros bloqueando o soco da loira, segurando o braço dela, mas sendo empurrada pela mesma. - Só é mais desafiador do que o All Valey.

─ Essa palavra ainda me assusta. - A Davis arregalou os olhos sendo dramática. - Acho que preciso de um tempo. - Olhou para a morena quando parou para respirar fundo, e logo Sam concordou com a cabeça pegando a própria garrafinha do chão.

─ Por que ainda te assusta? Você foi roubada! A Nichols claramente não se machucou, e teria sido destruída por você no final. - A Larusso exclamou indignada mexendo a mão livre antes de tomar um longo gole de água enquanto as três andavam para longe do deque.

─ Mas depois vocês duas teriam que lutar. - Serena as lembrou sem graça, fazendo elas se entreolharem.

─ Não sei se eu quero descobrir o que aconteceria depois. - Juniper comentou sincera, pois a ideia de lutar contra Sam não era mais prazerosa.

─ Também não. - Ela concordou mexendo a cabeça, parando de falar quando se aproximaram do Robby, Miguel e Falcão.

─ Você viu aquele vídeo do Sekai Taikai do ano passado? - O Moskowitz perguntou impressionado para o Diaz, olhando para o lado quando Serena se aproximou com um sorrisinho bobo. - Oi, amor. - Ele sussurrou ao passar o braço pelo ombro dela e lhe dar um selinho rápido.

─ Sim! Quem chuta tão alto? - Miguel exclamou com os olhos arregalados.

─ Ou tão forte? - Robby completou, segurando a mão da namorada quando a mesma apareceu na sua frente dando um suspiro cansado.

─ Fiquei cansada só de pensar em voltar a chutar daquele jeito. - A Davis reclamou revirando os olhos.

─ Por isso é a maior competição do mundo. - Samantha disse, dando um empurranzinho no ombro da loira, conseguindo tirar um sorriso de canto dela.

─ O vencedor do ano passado fez um comercial em Taiwan. - Falcão comentou.

─ Seria legal fazer um comercial! Imagina ter toda aquela estrutura cinematográfica e aqueles efeitos maneiros. - Juniper olhou para o Moskowitz empolgada.

─ A grana também seria legal! Daria para pagar uma faculdade boa sem problemas. - Serena pensou alto com o apoio da Davis, que concordou pensativa ao se aconchegar no ombro do namorado.

─ Vocês estão pensando baixo! - Chris apareceu entre eles junto com os outros alunos. - Eu compraria um iate com uma jacuzzi e encheria de doces e gostosas. - Fez uma dancinha esquisita, tirando gargalhadas do grupo.

─ Beleza, mas não se empolguem tanto. - O sensei Larusso cortou as risadas deles, sendo acompanhado pelo sensei Lawrence e Chozen. - O Cobra kai vai fazer de tudo para conseguir entrar. Se vencerem, os jovens do mundo terão que passar pelo que vocês estão passando.

─ Mas se vencermos, mostraremos ao mundo como detê-los. - Samantha se mostrou otimista.

─ E quem sabe você consegue comprar o seu iate! - Juniper aproveitou para zombar Chris, fazendo todos rirem.

─ Mas antes disso devem provar que podem competir com os melhores. - Chozen olhou reaprendendo a loira, que mexeu a cabeça enquanto fechada um "zíper" imaginário nos lábios e jogava a chave fora.

─ Para isso, precisam ser melhores que todos. Por isso vamos pegar pesado. - Johnny exclamou olhando sério para os alunos.

─ Nós vamos prepará-los para a apresentação de amanhã, tudo bem? - Daniel passou o olhar pelos senseis e pelos alunos, batendo uma palma silenciosa animado. - Vamos nos aquecer.

─ Mexam esses traseiros gordos! - Johnny foi mais agressivo fazendo os alunos se dispersarem e começarem a treinar em pontos diferentes.

─ Ei, Juniper! Vem com a gente. - Daniel chamou a loira quando a mesma estava indo treinar do lado do namorado, e sem pensar muito a mesma seguiu ele junto com a Samantha. - Queria te introduzir mais ao que ensinamos no miyagi-do. E acho que o primeiro passo é você aprender a base do caratê miyagi-do. - Explicou brevemente enquanto a loira de posicionava ao lado da Larusso.

─ Tudo bem. Por onde começamos?

• • •

No dia seguinte todos se reuniram no dojô novamente, mas dessa vez os alunos estavam sendo supervisionados pelos representantes do Sekai Taikai. Alguns estavam em grupos com os colegas, treinando normalmente, enquanto outros ─ como a Davis ─ esperavam as suas apresentações.

─ Nossos alunos começam com movimentos básicos. - Daniel explicava para eles andando pelo dojô. - Usamos tarefas para possuir memória muscular. - Apontou para os dois alunos que lixavam a plataforma de madeira perto deles, se aproximando de Chozen e Juniper. - Assim que aprendem podem dominar a defesa. - Parou do lado da dupla, dando permissão para eles começarem.

─ Mostre-me o "lixar assoalho"! - O Sensei comandou.

Juniper ─ que estava em posição de luta ─ se preparou para golpe, e assim que Chozen ergueu a perna para acertá-la, a garota colocou o braço verticalmente na frente, defendendo-se mais duas vezes dos golpes do sensei antes de pararem para dar espaço para Daniel e os representantes passarem.

─ Depois que dominam a defesa, ensinamos o ataque. - O Larusso foi para o lado do Lawrence.

─ Mas com um toque irado. - Completou o loiro. - Mostrem o grito da águia. Prontos? - Olhou para Falcão, Miguel e Robby.

Assim que o sensei Lawrence deu o comando os três realizaram o "grito da águia" que consistia em um chute seguido de outros golpes. Johnny olhou para os representantes orgulhoso, tirando uma risada baixa da Davis, que encarava tudo orgulhosa. Depois de explicarem a história do dojô e da combinação de estilos, todos foram para o dojô dos presas de águia, que não passava de um galpão cheio de tralhas que Johnny usava para treinar os alunos.

Samantha era o foco da apresentação, onde a garota quebrava melancias penduradas no teto com correntes de ferro, enquanto os outros assistiam de longe.

─ Não temos frescuras. Nosso dojô é tradicional. - Johnny explicava do jeito dele quando Samantha partiu uma melancia em pedaços com os pés. - Não mimados os alunos. Eles conseguem do jeito difícil.

A Larusso quebrou mais uma melancia, virando-se para quebrar outra que estava pendurada um pouco mais para cima do lado de outra, mas quando a mesma tentou quebrá-la com os incentivos do sensei Lawrence a demonstração deu errado.

─ Srta. Davis, do lado dela! - Johnny comandou quando teve uma ideia, fazendo a loira arregalar os olhos do lado do namorado.

Ainda receosa ela se aproximou da Larusso, fechando os punhos ao lado dela enquanto respirava fundo antes de encarar a mesma.

─ Nós conseguimos fazer isso, você só precisa focar as forças no seu quadril ao girar e esticar mais os pés. - Juniper aconselhou, ambas acenando com a cabeça ao mesmo tempo antes de se prepararem.

─ E também trabalhamos o trabalho em grupo. - Johnny disse para um deles quando sua ideia se concretizou.

Com o comando dele as duas garotas deram um grito antes de girarem os quadris e saltarem para chutar as duas melancias, atingindo em cheio as frutas, mas ao pousarem no chão perceberam que os restos atingiram um dos representantes. Juniper e Samantha se olharam preocupadas se sentindo culpadas, assim como o resto dojô.

─ Olha, cara. Sei que parece estranho, mas às vezes precisamos sair do comum para evoluir. - Johnny tentou concertar, usando o um tom de voz mais calmo e sério. - Alguns usam porcarias tecnológicas para isso, outros sobem montanhas na neve para gritar no topo.

─ Drago! - O homem gritou com todas as forças dos seus pulmões, assustando os alunos, mas impressionando o Lawrence. - Rocky Balboa é meu herói. - Explicou ao entender a referência do sensei.

─ Não brinca! O meu também! - Johnny se animou.

─ A vitória dele sobre a Rússia restaurou minha pátria fraturada. - O outro disse.

─ Então você entende.

─ Sim. Me mostre mais. - Pediu se interessando na loucura do Lawrence.

─ Sim, senhor.

Depois de mais algumas apresentações incluindo Samantha e Robby na plataforma de madeira no lago ─ que impressionou Juniper pela precisão dos dois a cada golpe ─ e mais uma série de golpes com a liderança de Juniper e Samantha em cada grupo com diferentes ensinamentos. O resultado não chegou como eles queriam, pois no dia seguinte os dojôs teriam que lutar para decidir qual iria representar o país no Sekai taikai.

Todos foram para a casa dos Larusso's celebrar comendo pizza, mas Samantha e Juniper continuaram no dojô com Daniel e Chozen para treinarem, pois Serena caiu fora quando ouviu que teriam que escolher uma lutadora feminina para lutar contra o Cobra kai. A Davis tentou contestar, só que a Larusso era muito boa para deixá-la de lado e não decidir de uma maneira justa quem lutaria no dia seguinte. Consequentemente os únicos barulhos no dojô aquela noite eram dos golpes que as duas realizavam contra a proteção que cobria o corpo dos dois senseis. Ambas estavam tão cansadas e nervosas com a luta, mas mesmo assim se forçavam a dar tudo de si no treino.

─ Ok, vocês já treinaram o bastante. - Daniel disse depois das duas terminarem um chute giratório seguido de um soco.

Samantha parou onde estava, colocando as mãos nas costelas enquanto respirava fundo para se concentrar. Diferente dela, Juniper encarou os dois senseis preocupada.

─ Mas já? Eu ainda acho que não estou totalmente por dentro das habilidades do miyagi-do, eu pensei em tentar aquele negócio do lago... - Quando ela apontou para o lugar que Sam e Robby se equilibraram, Chozen colocou a mão no ombro dela fazendo-a parar de tagarelar.

─ Você precisa relaxar, Srta. Davis! Nem mesmo o Daniel aprendeu as coisas mais rápido do que você. - Disse do jeito "maneiro" dele, mexendo as mãos despreocupado ao apontar para o Larusso, tirando uma risada da loira.

─ E ainda temos que decidir quem lutará amanhã. - Daniel finalmente disse, tirando um resmungo descontente da Davis, chamando a atenção da morena de braços cruzados.

─ O quê? Eles estão certos, temos que decidir de uma maneira justa para ambos os lados. - Ela explicou olhando para a amiga com o seu típico olhar doce. - Eu e a Serena não somos as únicas lutadoras do miyagi-do, você faz parte dele agora.

─ É, eu sei. - Sussurrou dando um longo suspiro antes de começar. - Mas eu não quero lutar contra o Cobra kai. E não podemos esquecer que quem foi para a final foi você, não eu. - As palavras saíram dolorosamente entre os seus lábios, fazendo a Larusso abrir a boca se preocupando com o olhar vago dela. - Essa é escolha mais justa que poderíamos fazer.

A adolescente parecia tão fechada com a sua opinião que até os dois adultos ficaram em silêncio, trocando um olhar rápido como se entendessem que aquele momento não era deles. Juniper estava abrindo mão do mais gostava de fazer para que Samantha tivesse o seu momento.

─ Tudo bem. - A Larusso resmungou frustrada, soltando os braços do lado do corpo. - Mas eu ainda quero a sua ajuda com o treino. E eu não aceito "não" como resposta! - Levantou um dedo quando a loira tentou rejeitar.

─ Você que manda, Larusso. - Levantou as mãos se rendendo, soltando uma risada antes de dar as costas para ir tomar água.

─ Só mais alguns minutos, meninas. Ainda temos que ir para a casa ver se sobrou alguns pedaços de pizza. - Daniel avisou para elas.

─ Aqueles arrombadinhos devem ter acabado com toda a pizza de peperoni. - Chozen reclamou revirando os olhos.

─ Calma lá! Eu pedi para o Robby e o Miguel separarem alguns pedaços de todas as pizzas, e isso inclui a sua pizza de peperoni, sensei. - Juniper se intrometeu, dando dois tapinhas no ombro dele ao passar do seu lado com um sorrisinho nos lábios.

Chozen olhou desacreditado para Daniel e Samantha, não esperando que a Davis se preocupasse com eles dessa maneira pelo pouco que a conhecia. Mas diferente dele a dupla de pai e filha sorriram agradecidos pela ação.

─ Ela é a minha favorita agora. - Chozen sussurrou para Daniel quando as duas garotas foram para o tatame improvisado treinar, tirando uma gargalhada do Larusso.

─ Eu me pergunto o por quê!

• • •

Ethan não esperava cair nos encantos da sua própria imaginação tão cedo, mas assim que percebeu estava cara a cara na porta da Nichols depois de apertar a campainha uma única vez. Sua cabeça estava vazia, e ele não queria pensar nas consequências ou no que achariam dele se descobrissem que a primeira pessoa que veio na sua cabeça quando o assunto "torneio mundial" invadiu seus ouvidos foi a rainha cobra.

─ Ethan? - A porta abriu lentamente, apenas uma fresta com o rosto confuso da loira.

─ Desculpa aparecer esse horário, eu só... - Pensou duas, três, múltiplas vezes enquanto encarava os olhos dela totalmente perdido. - Eu não sei o que eu vim fazer, me desculpa eu vou te deixar em paz.

Estúpido. Ethan se xingou ao dar as costas para a Nichols e caminhar rapidamente para fora do condomínio de apartamento, mas antes que ele pudesse abrir o carro preto estacionado na frente, uma mão segurou o seu punho delicadamente. Quando seu corpo virou, ele tentou não demonstrar sua fascinação pela ação da Nichols.

─ Eu sei que você tem algo para falar, Campbell. Você é meio bobo, mas não viria atrás do inimigo por nada. - Ela finalizou com um tom sarcástico, fazendo ele jogar a cabeça para trás incrédulo.

─ Inimigo? Acha que estamos em um filme de guerra dos anos 80? - Questionou gesticulando com as mãos. - Eu só queria ter certeza que estava sabendo do Sekai Taikai.

─ Por quê? - Tory estava confusa.

Era óbvio que ela sabia do torneio, foi uma das primeiras do seu dojô a ser avisada sobre os representantes que visitaram o Cobra kai.

─ Pensei que fosse uma grande oportunidade para você. - Ele suspirou descendo o olhar até o chão, percebendo no caminho que a mão da Nichols ainda estava segurando o seu pulso de forma suave. - Os patrocinadores vão estar de olho nos lutadores, especialmente aqueles que tiverem destaque como capitães. Abriria portas e mais portas para você. - A olhou carinhosamente, o tipo de olhar que a garota não estava acostumada a receber, principalmente de garotos.

─ Por que você se importa, Ethan? Se eu ganhar a luta amanhã a sua irmã e os seus amigos vão perder todas essas oportunidades incríveis que você mencionou. - Soltou o pulso dele quando o toque fez a sua pele queimar.

─ Eu acho que você merece algo melhor do que toda essa merda de guerra entre dojôs. - Exclamou, sentindo falta do toque dela ao massagear o próprio pulso.

A maneira em que Ethan se mostrou preocupado com o futuro dela e seu envolvimento com o caratê, fez o estômago dela revirar ao lembrar da conversa que teve com Kreese mais cedo. Ela tinha que cuidar de si mesma agora, e talvez aquele fosse o universo lhe mandando um sinal para fazer a coisa correta.

─ Podemos conversar? - Tory pediu com o olhar caído, e prontamente o garoto concordou com a cabeça.

Ele a seguiu até um banco próximo a entrada do condomínio, onde sentaram-se lado a lado, com alguns centímetros de distância. Depois de um longo silêncio, Tory teve coragem de contar para Ethan tudo o que descobriu nos últimos dias com a ajuda de Kreese na cadeia. Cada conversa e cada detalhe foi passado para o Campbell entre longos suspiros e respirações pesadas para se controlar.

─ E agora ele me deixou sem nenhuma ajuda, ou caminho para sair daquele lugar. - Finalizou frustrada, jogando o corpo no banco.

─ Quem mais sabe sobre a verdadeira história sobre a agressão? - Foi a única dúvida de Ethan, a qual Tory tentou contornar durante a história.

─ Ethan, eu... - A loira abriu a boca várias vezes, tentando não encarar os olhos desesperados do mais velho.

─ Quem sabe, Tory? - Repetiu a pergunta, notando que ela escondia algo.

─ Kreese me contou uma vez que Silver estava obcecado em trazer Juniper para o lado dele, logo depois da noite que a agressão aconteceu. - Ela contou, sentindo o coração se partir em pedaços ao vê-lo desviar o olhar. - Olha, eu não sei é verdade, Kreese não é a pessoa mais confiável do mundo.

─ Tanto faz. A Juniper tem os problemas dela, e eu não vou me meter neles. Não mais. - Ele deu de ombros, mesmo que estivesse magoado com a possibilidade da Davis saber a verdade e não ter contado. - Mas, por que você não contou nada? Se você buscasse por mim quando descobriu sobre a trapaça, talvez eu poderia ter colocado a justiça na cola dele. - Tagarelou, sentindo-se inútil por saber tantas informações e não poder fazer nada.

─ Como se algo pudesse prejudicar aquele babaca. - Ela resmungou baixo, revirando os olhos ao virar o corpo para a frente.

Os dois ficaram em silêncio, perdidos nos próprios pensamentos enquanto seus dedos ─ apoiados no banco ─ foram para o encontro um do outro sem que eles ao menos percebessem. Apenas quando os dois se tocaram que aquilo se tornou real e não mais um dos sonhos lúcidos deles. Ambos encararam as suas mãos se entrelaçarem sem dizer nada ou tentar impedir que o outro lhe tocasse de forma tão íntima.

─ Se eu pedir para você sair daquele lugar pelo seu próprio bem, você faria isso? - Ethan sussurrou, mesmo que a resposta fosse tão óbvia quanto os sentimentos que inundaram o seu peito.

─ E para onde eu iria? E, por favor, não tente me convencer a mudar para o Miyagi-do. - Foi rápida em cortá-lo.

─ Eu não ia tentar nada, já sabia que você odiaria essa ideia. - Ele contou com um sorriso triste nos lábios. - Mas você ainda não respondeu a minha pergunta. - Insistiu, fazendo um carinho leve na mão dela.

─ Desculpa, eu não consigo... - Imediatamente o corpo da Nichols saltou do banco, soltando a mão dele no processo. - Meu irmão e minha mãe estão me esperando em casa. - Disse enquanto andava em passos rápidos para dentro do condomínio, sendo seguida por alguns metros pelo Campbell.

─ Tory, por favor! - Ele tentou, mas parou quando escutou o barulho de porta se fechando.

Ele nem sabia identificar pelo que estava quase implorando, mas sua cabeça estava tão confusa que um simples "porque" não faria mais diferença entre tantos outros.

I. E olha quem voltou! Demorei mas voltei com atualização dupla, pois hoje às 18h eu vou postar mais um capítulo (continuação desse) com muitasss emoções.

II. Espero que tenham gostado, porque
estou tentando dar o meu máximo
na organização dos próximos capítulos!
Até daqui a pouco <3

não revisado.