𝐗𝐈. 𝐂𝐇𝐔𝐏𝐀-𝐂𝐀𝐁𝐑𝐀
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Chupa-cabra !
A MANHÃ SEGUINTE começou como qualquer outra. A família Greene acordou bem cedo, como sempre, e cuidou da fazenda: recolheram os ovos no galinheiro, verificaram o crescimento dos tomates na plantação, e garantiram que tudo estivesse em ordem. O trabalho na fazenda era um ritual quase sagrado, uma âncora de normalidade em meio ao caos lá fora. Enquanto o sol mal rompia o horizonte, a rotina seguia seu curso. Rick, no entanto, só despertou por volta das nove da manhã. Seu sono tinha sido inquieto, assombrado pelas incertezas da busca por Sophia. Ao acordar, chamou os outros, e quinze minutos depois já estavam reunidos, discutindo as novas áreas de busca.
━━ Tudo bem, todos terão novas áreas de busca hoje ━ disse Rick, alisando o queixo, sentindo a aspereza da barba que começava a despontar. Seu rosto estava exausto, mas o olhar continuava firme.
Vindo de trás, tímido, Jimmy apareceu, segurando o chapéu de pano nas mãos. Seus olhos eram inocentes e ansiosos, como se estivesse esperando o momento certo para dizer alguma coisa. Jimmy era o namorado de Beth, era jovem demais para o mundo que agora conhecia. Magro, de cabelos curtos e num tom indefinido entre o loiro escuro e o castanho claro.
━━ Eu gostaria de ajudar ━ disse Jimmy, hesitante. ━━ Conheço bem a área e... posso ser útil.
Rick o olhou com ceticismo, mas não disse nada de imediato.
━━ Hershel está sabendo disso? ━ perguntou Rick, seu tom cuidadosamente neutro.
━━ Sim, ele disse que eu deveria perguntar a você. ━ Jimmy engoliu em seco, sua garganta apertada pela tensão, mas ninguém pareceu notar o desconforto em sua voz.
Maya estreitou os olhos. Sua expressão desconfiada percorreu Jimmy de cima a baixo. Hershel, o homem devoto e teimoso que se recusava a permitir armas na fazenda, permitiria que um de seus protegidos se unisse a uma busca que claramente envolveria perigos e, possivelmente, o uso de armas? Não parecia possível. Algo no discurso de Jimmy não estava certo. Ele estava mentindo.
Rick, no entanto, preferiu ignorar.
━━ Tudo bem, então. Obrigado, Jimmy. ━ Ele lançou-lhe um sorriso gentil.
Enquanto isso, Shane estava sentado no banco do passageiro da caminhonete, com os cotovelos apoiados nos joelhos. Seu desinteresse por tudo aquilo era claro. Ele sabia que procurar por Sophia era uma perda de tempo. Ele já estava convencido de que a menina estava morta, mas também sabia que, se ousasse dizer isso em voz alta, os olhares de condenação seriam implacáveis. Exatamente como foram quando Maya ousara sugerir a mesma hipótese.
━━ Talvez possamos encontrar os rastros dela novamente ━ disse Rick.
━━ Talvez nada ━ rebateu Daryl, puxando o mapa mais para perto. ━━ Vou pegar um cavalo e seguir até esse monte aqui... Vou ter uma visão ampla da área. Se ela estiver lá, vou achá-la.
━━ Eu vou com você ━ disse Maya, de repente.
O vento abafado que passava pelo campo agitou os cabelos de Maya enquanto Daryl a olhava, uma sobrancelha arqueada. Ele sabia que ela ainda não tinha mudado de ideia, mesmo que ela se esforçasse para acreditar nele ou em qualquer outra coisa que os outros diziam sobre Sophia.
━━ Não era você quem achava que a Sophia estava morta? ━ Daryl provocou, a voz amarga.
━━ Sim, mas não tenho certeza ━ Maya respondeu. ━━ E mesmo assim, não vou deixar de ajudar. Não sou um monstro, embora você pense o contrário.
Daryl não pensava que Maya fosse um monstro, mesmo que ainda se irritasse todas as vezes que lembrava do que ela tinha feito com Merle. Por mais que tentasse sustentar aquela ideia, sabia muito bem que Merle era egocêntrico e, sendo sincero, irritante! Ele era difícil de defender, mesmo para o próprio irmão.
━━ Talvez Daryl veja o chupa-cabra lá em cima também ━ brincou T-Dog, soltando um sorriso ao lado de Dale.
Dale deu risada, levantando os óculos meia-lua à ponte do nariz. Ele nunca sabia quando era uma boa hora para rir perto de Daryl. Daryl poderia ser bem intimidador.
━━ Chupa-cabra? ━ Maya perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Daryl apenas bufou, enquanto T-Dog continuava rindo.
━━ Não ouviu falar disso? ━ questiona Dale, surpreso. ━━ Na primeira noite no acampamento, Daryl nos disse que essa coisa toda o lembrou de quando ele foi caçar esquilo e viu um chupa-cabra.
Jimmy deixou uma risada escapar. A mão correu para cobrir a boca no mesmo instante que Daryl o olhou, nada contente. Os olhos profundos o olhavam de cima a baixo.
━━ Está rindo de que, ô babaca? ━ diz Daryl, estufando o peito.
━━ Acredita num cão sanguessuga? ━ perguntou Jimmy, sorrindo de canto com os dentes tortos.
━━ Acredita em pessoas mortas andando por aí?
Ele deu de ombros. Daryl estava certo. Depois de tudo que viram, qualquer coisa era possível. Até mesmo um... cão sanguessuga.
Jimmy levantou a mão para agarrar o rifle em cima do capô, mas Maya segurou seu pulso e lançou-lhe um olhar severo. Ele engoliu em seco, nervoso como se a mão dela estivesse queimando sua pele.
━━ Ei, Indiana Jones. Isso não é brinquedinho, não ━ diz ela, soltando o pulso dele para longe. ━━ Já atirou com um desses antes?
━━ Bem, se vou junto, eu quero uma.
━━ E as pessoas no inferno querem sorvete ━ disse Daryl, dando as costas.
━━ Não é assim que funciona, caipira.
Ela agarra o rifle e o pendura no ombro, dando as costas e sumindo entre as cabanas do acampamento. Jimmy ficou ali, sem graça, encarando Rick com olhos tímidos e ingênuos.
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MAYA E DARYL partiram uma hora depois, trotando sobre os cavalos. Os cavalos andavam, batendo os cascos no chão e parando de vez em quando para roubar uma plantinha de um arbusto. Daryl já tinha lançado alguns olhares assustados e nervosos ao animal debaixo dele. Ele estava tenso e o cavalo já tinha percebido. Custou muito para que Maya não soltasse uma risada de vez em quando.
Daryl vê um esquilo subir a árvore e levanta a besta, aperta o gatilho e assiste a flecha perfurar o corpinho peludo e cor de caramelo dele. Ele estica o braço, arranca a flecha e o esquilo de lá e os examina em sua mão. Maya o olhava com a sobrancelha lá para cima.
━━ Estou começando a achar que sua comida preferida é esquilo ━ diz Maya, puxando a rédea para interromper o trote.
━━ Você é caçadora também. Deve ter caçado muitos esquilos.
━━ Eu focava em caçar outras coisas. Cervos, coelhos, às vezes pássaros. Acho que os clientes não curtiam esquilos empalhados. ━ Ela sorriu, em parte porque era verdade. Quem iria querer um esquilo empalhado?
Toda vez que Maya sorria, Daryl desejava que ela nunca tivesse aberto a boca. Ele costumava desviar o olhar porque odiava como o sorriso dela refletia nele, causando a sensação mais esquisita na barriga e esquentando o corpo.
━━ Gostava do emprego? ━ pergunta ele, jogando o esquilo dentro da mochila.
━━ Era normal. Querendo ou não, me ajudou bastante agora, mas, na época, eu não tinha moral pra reclamar. Era isso ou deixar que a minha irmã morresse de fome.
Daryl abriu a boca para dizer algo, mas deixou as palavras de lado quando desviou o olhar por apenas um segundo e viu algo lá embaixo, molhado pela água do rio. Era a boneca de Sophia, que estava presa a um tronco de árvore. Ele tirou um dos pés do estribo e pulou do cavalo.
━━ O que houve? ━ pergunta Maya, procurando em volta o que quer que ele estivesse olhando.
━━ A boneca da Sophia ━ diz ele, amarrando o cavalo no tronco da árvore. ━━ Ali no riacho, ao lado de um tronco. Consegue ver?
Maya apertou os olhos, que rapidamente encontraram a boneca; suja pela lama e por Deus sabe o que. Ela pulou do cavalo e amarrou a corda no tronco da árvore, também. Ela não disse nada, apenas seguiu o caminho de Daryl, procurando copiar exatamente os lugares em que ele pisava.
A descida era estreita, escorregadia e lamacenta. Qualquer passo diferente poderia resultar em uma queda feia. E nós não queremos ver isso, certo?
Quando finalmente colocaram os pés na areia, sentiram os respingos de água alcançarem a pele e baterem na canela. Daryl agarrou a boneca. Ela pingava a água do rio, coberta por areia e sujeira. O desenho dos olhos estava apagado e tinha apenas um último resquício do desenho da boca.
━━ É. É a boneca dela ━ afirma Maya, deixando o ar pesado sair pela boca.
Daryl olhou em volta, procurou por rastros, mas não tinha nada ali. A água do rio deveria ter levado embora. Parecia que Sophia nunca esteve ali. Mas como aquilo era possível se sua boneca deitava-se na água?
━━ Sophia! ━ grita Daryl.
Ficaram calados, com uma pontinha de esperança de que Sophia poderia sair de trás de um arbusto a qualquer momento. Esperaram mais um pouquinho, mas nada aconteceu. Nenhum barulho além da água do rio. Nada.
Eles subiram, montaram os cavalos de novo e retomaram o percurso. Daryl gostaria de manter o otimismo, mas ficava cada vez mais difícil. E, não menos importante, ele não queria, de forma alguma, provar a Maya de que ela estava certa. Essa era a última coisa que ele queria fazer. Em parte porque era orgulhoso, mas aquilo também significaria que todo o tempo que passou procurando seria em vão.
Seguiram em frente. Os cascos dos cavalos batiam no chão de terra e amassavam algumas folhas debaixo das patas. Tudo daria certo se não fosse pelo sibilar de uma cobra à frente. A cobra se assustou, levantou o pescoço escamoso e brilhante e tentou avançar. Maya tinha conseguido acalmar o cavalo que montava, mas Daryl estava longe disso. O cavalo dele relinchou, empinou e o derrubou no chão lamacento. Ele rolou pela rampa, bateu nas pedras e só parou quando alcançou a água fria do rio lá embaixo. Enquanto Daryl batia a cabeça e escorregava, o cavalo já estava correndo para bem longe, relinchando e trotando pelo mato.
━━ Daryl!
Maya agarrou a besta e atirou uma flecha bem na cabeça da cobra. Ela pulou do cavalo, amarrou a corda dele em volta do tronco de uma árvore e, sem pensar, apoiou o quadril no chão e escorregou como se estivesse descendo em um tobogã no parque aquático. Maya caiu no chão, sentiu o braço arranhar, mas correu até ele.
Daryl deitava na água gelada, sangue escorria por sua testa e pelo nariz. O sangue era vermelho bem forte, fazendo parecer que os lábios dele estavam mais pálidos do que realmente estavam.
━━ Daryl! ━ Exclamou Maya, ajoelhando na água gelada.
━━ Que droga ━ resmungou Daryl, tentando levantar.
Ele rosnou, arranhando o fundo da garganta quando sentiu uma dor lancinante tomar conta das costas e de toda a barriga. Daryl levantou a cabeça e pareceu sentir mais dor ainda quando viu a flecha que atravessava a lateral do abdômen.
━━ Que merda ━ Maya soprou, tentando manter a calma. O sangue que escorria do abdômen estava colorindo a água de vermelho sangria. ━━ O sangue vai atrair os zumbis. A gente tem que diminuir a circulação ou você vai acabar desmaiando.
━━ Tem uma faca no meu bolso esquerdo, pega ela ━ ele diz, apoiando a cabeça em uma pedra cheia de musgo. Os fios castanhos claros do cabelo estavam escuros na água e tinha terra no rosto dele, tocando a boca.
Maya balançou a cabeça e subiu a camiseta de Daryl. Ela agarrou a faca e fez exatamente o que ele disse: cortou uma manga da camisa que ele vestia e a amarrou acima de onde a flecha perfurava. A circulação iria diminuir, mas o cheiro metálico do sangue ainda impregnaria as águas e chamaria os zumbis como tubarões no oceano.
━━ Nós conseguimos subir? ━ perguntou Daryl, colocando-se de pé com um pouco mais de facilidade que antes.
Maya sabia que era muito alto. Fazer o caminho de volta seria muito arriscado, principalmente Daryl, que poderia desmaiar a qualquer instante. De repente, passou pela mente dela que ele poderia ter uma concussão. O que ela faria se ele tivesse uma? Nada! Não tinha nada que ela pudesse fazer!
━━ Não. É muito alto, não tem como subir.
Olharam em volta mais uma vez, procurando por uma saída, tentando enxergar os mínimos detalhes. O farfalhar das folhas veio de trás de alguns arbustos altos e bem verdes. O coração deles estava disparado, como se pudesse explodir a qualquer momento.
━━ Está com a sua besta aí? ━ sussurrou Maya.
━━ Não, caiu no rio ━ diz ele, encarando os arbustos.
Maya agarrou um galho ao seu lado, o galho seria grande o suficiente para aguentar o peso de Daryl. Ela o estendeu a ele e Daryl a olhou certamente confuso, mas não disse nada.
━━ Vou pegar ela pra você. Fica aqui e usa isso pra se proteger se for preciso ━ anunciou e prendeu o cabelo cheio em um coque antes de tirar as botas dos pés.
Ela entrou na água, tocou o fundo com os pés, tentando encostar no metal da besta. Ela ficou ali por alguns minutos, molhando metade no corpo na água gelada, até os dedos tocarem na besta. Maya sorriu, mergulhou o braço na água e puxou a arma de lá. Parte do cabelo estava molhado, mas ela não ligava.
Maya saiu de lá, segurando a besta em uma mão e torcendo a regata molhada na outra. Ela calçou as botas, soltou o cabelo e depois prendeu de novo em um rabo de cavalo. Os respingos de água caíam e batiam no chão. Daryl se apoiou mais no galho e o olhar de Maya o percorreu de cima a baixo, com as sobrancelhas arqueadas. Não havia motivos para se apoiar no galho agora que estava ali.
━━ Larga o pau, Daryl ━ mandou ela, passando um dos braços dele por cima dos ombros. Ela o segurou acima do machucado e lançou-lhe um olhar rápido. ━━ Eu te levo.
━━ Como vamos subir?
━━ Me dá aqui esse pau. ━ Ela puxou o galho da mão dele e o segurou. ━━ Vamos subir por ali. ━ Apontou.
Era uma ladeira alta, mas menos arriscada que a anterior. Não parecia ser tão lamacenta e escorregadia e ainda teriam várias árvores para se segurarem, ou para baterem a cabeça se caírem. Mas depende do ponto de vista!
Maya segurou Daryl com um dos braços e fincou o galho na terra para terem mais apoio ao subirem. Ela tentou ao máximo, mas seus músculos estavam doloridos e iria acabar fraquejando logo. Daryl não era tão pesado, mas ainda era muito peso para suportar.
━━ Consegue segurar aqui? ━ perguntou Maya, apontando para o tronco ao lado dele.
Daryl odiava como estava se sentia como um peso morto, tendo que ser carregado para lá e para cá. Ele sabia que conseguia ser melhor que aquilo. Então, mesmo que seu corpo gritasse de dor, ele agarrou a árvore e ficou ali. Daryl se segurou para que um grunhido rouco e doloroso não escapasse, contorcendo o rosto inteiro.
━━ Vou tentar subir mais um pouco sem você e tento te pegar por cima. Já subimos metade, falta pouco.
Ele balançou a cabeça. Maya conseguiu subir e enfiou o galho bem fundo na terra. Se segurou nele com uma mão e estendeu a outra a Daryl. Ele olhou para cima e suspirou, exausto.
━━ Estamos conseguindo. Pega a minha mão ━ ela disse, tentando esticar o braço para perto.
Daryl rosnou, agarrou-se na árvore e segurou a mão dela. Ela tentou puxá-lo para cima, mas a mão dele soltou devagar, o corpo fraco e dolorido caiu e alcançou o rio mais uma vez. Se Maya estava exausta, não era nem comparado como Daryl estava.
━━ Puta merda ━ resmungou antes de escorregar ladeira abaixo de novo.
Ajoelhada ao lado dele no rio mais uma vez, ela tentou levá-lo consigo. A água ainda estava vermelho sangria e mais um machucado tinha sido feito. A ferida escorria o sangue das têmporas de Daryl. Maya tocou os ombros dele e sentiu o pânico crescer no peito quando viu seus olhos fechados.
━━ Daryl? ━ chamou, assustada. ━━ Daryl? ━ chamou mais uma vez, uma oitava mais alta. Ela o balançou. ━━ Puta que pariu! Não vai desmaiar agora, seu merda!
Maya levantou novamente e respirou fundo. Ela tinha que encontrar uma saída antes que os zumbis chegassem e fizessem Daryl de almoço. Ela olhou em volta e começou a andar, sumindo entre os arbustos e as pedras, deixando ele ali.
Daryl acordou depois de alguns minutos. Abriu os olhos devagar, sentindo uma dor terrível na cabeça inteira e a luz do sol não ajudava. A visão estava embaçada e o deixando maluco. Ele fechou os olhos, abriu de novo e viu Merle à sua frente com um sorriso. Ele fechou os olhos mais uma vez, abriu, e ele ainda estava lá. Daryl só poderia estar ficando maluco.
━━ Melhor puxar essa flecha pra ferida ficar melhor ━━ disse Merle, ainda como um eco na cabeça de Daryl.
Daryl riu, fraco. Os olhos estavam fechando sozinhos, mas ele os manteve semiabertos.
━━ Quer que eu te traga um travesseiro? Massageie seus pés, talvez?
━━ Vai se foder ━━ rosnou Daryl.
Merle deu uma risada.
━━ Talvez você prefira que aquela sua namoradinha faça isso, então? ━━ provocou ele. Agora os olhos de Daryl estavam bem abertos.
A luz do sol cortava o rosto de Merle com um raio, o embaçando e deixando-o mais difícil de ver. Mesmo que Daryl estivesse de olhos fechados, o que certamente deveria estar acontecendo, ele sabia exatamente o sorriso que seu irmão tinha no rosto. Aquele sorriso orgulhoso e nojento, que o manipulava a fazer qualquer coisa.
━━ Ela não é minha namorada.
━━ É claro que não. Ela não seria louca o suficiente pra transar com você ━━ disse ele, agachando ao lado do irmão. ━━ Percebi que não está mais procurando pelo velho Merle. Agora só se importa com essa vadia, Maya e com a garotinha que não é sua responsabilidade para procurar.
━━ Nós voltamos para te buscar. Eu e ela. Rick, também. Te procurei como um louco.
Os olhos de Daryl não abriam mais. Daryl estava em uma linha tênue entre desacordado e acordado, escutava a voz de Merle ressoar como um eco desagradável e torturante. Ele tinha se esquecido de como era sua voz, como sua presença poderia deixá-lo perturbado.
━━ Você é a cadela deles agora?
━━ Não sou a cadela de ninguém.
Daryl abriu os olhos e tentou espiar as mãos de Merle, mas a mão que deveria estar decapitada aparecia como um borrão, uma luz forte do sol. Ele apertou os olhos, afastou o pensamento.
━━ Você é uma piada, é isso que você é ━━ disse Merle, ficando de pé. ━━ Vou te dizer uma coisa, maninho. Você não é nada além de um lixo caipira pra eles. Não tem ninguém nesse mundo que vai se preocupar com você além de mim, irmão. E ninguém nunca vai. Muito menos essa mulher que você está pensando agora.
━━ Não estou pensando em ninguém. Cale a boca.
━━ Você sabe que está ━━ Merle riu, desagradável. ━━ Anda. Levanta logo daí antes que eu arrebente seus dentes.
Merle o deu um chute no pé, mas Daryl ainda estava zonzo. Então, agarrou seu pé e tentou puxá-lo. O corpo dele balançava, mas Daryl não despertava. Quando seus olhos abriram por um instante, o borrão de Merle não estava mais ali e quem puxava seu pé era mais um dos zumbis nojentos e fedorentos. Isso parecia mais real.
Daryl arquejou, o chutou para longe e esticou o braço para alcançar a besta. O zumbi agarrou a perna dele de novo e ele não teve outra opção além de usar a faca em sua cintura. Ele levantou o braço para enfiar a faca na cabeça daquele nojento doente, mas uma flecha passou atravessando a cabeça do bicho e o sangue respingou no rosto de Daryl.
Maya veio correndo, jogando a besta por cima dos ombros e assistiu Daryl rosnar ao jogar o zumbi para longe.
━━ Você acordou finalmente! ━ exclamou, a adrenalina a deixava entorpecida.
━━ Não sou um fracote.
━━ Eu nunca disse que era ━ rebateu, confusa. ━━ Achei uma saída. Vamos.
Maya o examinou, enquanto o via ficar em pé. O rosto dele estava cheio de terra e a roupa estava encharcada e lamacenta. Daryl agarrou a besta e a pendurou no ombro.
━━ Meu irmão... Merle apareceu aqui ━ disse Daryl, então arrancou a flecha do abdômen sem se importar.
━━ Você está ficando louco? Como pode tirar a flecha assim? ━ disse, arregalando os olhos. ━━ E como assim Merle estava aqui? Tem certeza de que não foi o chupa-cabra? Você bateu a cabeça, Daryl. Está imaginando coisas.
━━ Não sou a cadela de ninguém! Eu vou encontrar a saída sozinho.
Maya não tinha ideia do que tinha acontecido, mas também não queria saber. Ela queria era ir embora, subir no cavalo e ficar bem longe do rio. Não se importava se Daryl estava perdendo a cabeça ou não, mas estava começando a ficar irritada.
━━ Do que você está falando, cara? Vamos logo!
━━ Não preciso de você, vadia idiota.
━━ Quer saber? Vai se foder, Daryl. Espero que você desmaie enquanto volta pra fazenda andando, seu merda!
Maya deu as costas, pisando no chão com força ao sumir pelos arbustos de novo. Ela não conseguia acreditar que tinha passado esse tempo inteiro procurando por uma saída que não fosse terminar de matá-lo, apenas para ele não dar a mínima e a xingar segundos depois.
Quando estava no topo novamente, Maya encarou seu cavalo e suspirou, cansada. Ela secou uma gota de suor ao arrancar sua flecha da cobra que matara e a jogou de volta na aljava. Soltou o nó da corda na árvore e pulou para subir no cavalo. O cavalo começou a trotar, batendo os cascos no chão, como se já soubesse que era hora de voltar para casa.
O corpo dela ainda fervia como uma panela de óleo quente. Ela não sabia dizer se era pelos músculos doloridos ou pelo ódio que sucumbia cada veia em seu corpo. Não importava o quanto havia se empenhado para salvar a vida de Daryl Dixon, ele sempre seria um egoísta mal agradecido.
Ela já estava trotando havia um tempo. Se olhasse para baixo, poderia ver o rio que encontraram a boneca de Sophia. O som veio abaixo dela, subindo o monte de terra. Eram galhos batendo uns nos outros e quebrando. Maya puxou a rédea do cavalo e olhou para onde vinha o barulho. Levantou a besta e esperou, apenas para ver a mão de um homem — ou de um zumbi — alcançar o topo. Homem ou não, Maya iria atirar.
Ela bufou e pendurou a besta de volta nos ombros quando o rosto de Daryl surgiu entre os troncos das árvores. Maya gostaria de dizer que se esforçou para não revirar os olhos, mas seria mentira.
━━ Está difícil aí, cadela? ━ provocou ela, sorrindo sorrateira.
━━ Não ━ rosnou Daryl. Ele alcançou o topo e ficou de pé, ofegando e olhando para ela lá em cima do cavalo.
━━ Que pena que você vai ter que voltar andando, não é? Odiaria estar no seu lugar.
Daryl respirou fundo e baixou o olhar. Ele sabia como Merle poderia mexer com sua mente, mesmo que fosse apenas fruto de delírios de uma concussão. Ele odiava como, mesmo depois de anos, seu irmão ainda o afetava como quando eram mais novos.
Maya queria bater o calcanhar no cavalo, galopar para bem longe dali e deixar que ele se ferrasse mais um pouco. Ao menos isso era o que ela deveria fazer. Mas não fez. Ao invés disso, ela suspirou e olhou bem para a terrível circunstância que ele se encontrava.
━━ Sobe logo ━ disse ela, mexendo o quadril mais para frente. Daryl hesitou, mas se segurou na sela e sentou-se atrás de Maya. ━━ É melhor não se segurar em mim ou vai perder a mão, idiota.
O caminho de volta foi silencioso. O cavalo foi trotando, batendo os cascos. Daryl não tirou as mãos de trás da sela em nenhum momento. Ele tentou encostar o mínimo possível em Maya, como se um simples toque fosse fazer a pele dela queimar. Eles ficaram quietos, mesmo que houvesse muito a dizer. Maya estava xingando todas as próximas gerações dele na cabeça.
━━ Ei.
━━ O que foi? ━ despejou, ríspida.
━━ Eu não quis dizer aquilo ━ disse, sem graça.
━━ Tanto faz, Daryl.
Digamos que o que Maya desejou mais cedo se tornou realidade. Daryl realmente desmaiou. Ele desceu do cavalo e caiu no chão no mesmo instante, assim que chegaram na fazenda. Rick e Shane vieram correndo, o carregaram pelos braços e o levaram para dentro do casa.
Hershel entrou no quarto, cobrindo as mãos com luvas brancas de borracha e pediu uma porção de coisas à Beth. A garota entrou no quarto, apressada, equilibrando todos os utensílios médicos nos braços. Minutos depois, os ferimentos de Daryl foram costurados e limpos. Mas de uma coisa eles sabiam: Daryl vai sentir muita dor quando acordar.
Maya estava sentada sobre uma cadeira à ponta da cama, encarando Daryl. Ele estava mais limpo, com uma faixa na cabeça e os lábios um pouco menos pálidos.
━━ Temos que cuidar das coisas lá fora ━ disse Rick, limpando a garganta.
━━ Eu fico aqui até ele acordar. Podem ir ━ disse Maya.
Hershel a lançou um sorriso gentil e fechou a porta ao sair.
Maya ficou olhando a faixa na cabeça dele, finalmente assimilando tudo que tinha acontecido, porque, meu Deus, que merda tinha acontecido nas últimas duas horas? Como ele poderia ter sido tão estúpido e mal agradecido, e, ainda assim, ela se culpava pelo que tinha acontecido com ele?
━━ Seu idiota ━ resmungou, revirando os olhos.
━━ Esperou que eu desmaiasse para dizer isso? ━ perguntou Daryl, sua voz soando mais rouca que o normal.
━━ Não, eu sempre falo na sua cara ━ respondeu, soltando uma risada fraca. ━━ Você está um horror.
━━ Eu caí de umas três ladeiras diferentes hoje, Maya. Me dê um tempo.
━━ Só estou dizendo... Você sabe que tem chuveiro aqui, não é? Você está cheirando igual cu de gambá morto.
Daryl levantou as sobrancelhas, ainda sentindo a cabeça dolorida. Ele grunhiu de dor e se ajeitou sobre a cama.
━━ Não queria abusar do bom velhinho ━ zombou ele. ━━ Sobre mais cedo, eu não quis...
━━ Esquece isso.
━━ Tudo bem.
Ele balançou a cabeça, cansado e respirou bem fundo. Ele não ia esquecer tão cedo. Não mesmo.
━━ Por que tentou me salvar? ━━ perguntou ele.
━━ Porque, infelizmente, tem uma pequena parte de mim que se preocupa com você, Daryl. E eu odeio essa pequena parte.
Então Merle estava errado — ou a própria mente de Daryl estava errada. Maya se preocupava com ele, mesmo que fosse apenas um pouquinho. E, à noite, quando o jantar era servido, Maya estava entrando no quarto dele de novo, nem um pouco à vontade. Ela bateu na porta três vezes, segurando um prato de comida. Quando ele gritou para entrar, ela arqueou a sobrancelha ao vê-lo. Ele estava deitado, de costas para a porta.
━━ O que você está fazendo aqui? ━ perguntou ela, largando o prato de comida na mesa de cabeceira. ━━ Achei que iria descer pra jantar.
━━ Não estava afim ━ resmungou.
━━ Eu te trouxe comida.
Os dois ficaram quietos. Maya espreitou os olhos quando viu as costas nuas dele, debaixo do lençol. Ela não conseguiu ver direito, mas sabia que aquilo que vira era uma cicatriz. E sabia muito bem que não era nada recente. Ela sentou na beira da cama e olhou para ele que, tampouco, não fazia questão de olhá-la.
━━ Como você está? ━ perguntou.
━━ Uma merda ━ rosnou, cobrindo o peitoral largo com o lençol.
━━ Não te deram uma camisa? ━ questionou ela.
━━ Não consegui vestir... Dói.
Maya deu uma risada e agarrou a camisa cinza da penteadeira. Ele sentou, deixando o lençol cair do peito dele. Daryl tinha o peito e o abdômen bem definidos e musculosos, os músculos eram bem visíveis, embora não exagerados. Maya passou o braço dele pelo tecido, e o desenrolou pelo abdômen enquanto ele reclamava de dor.
━━ Que fofo. Parece que estou vestindo uma boneca ━ brincou, esperando ver os olhos dele revirarem e eles reviraram.
Daryl deitou na cama e virou de costas para a porta mais uma vez. Maya riu, porque sabia que aquilo era mais que merecido pelo que a tinha feito passar hoje.
━━ Bem, ━ ela ficou de pé ━━ eu vou voltar para o acampamento. É melhor você comer. Boa noite, idiota.
𝟶𝟷 - 🝯 ┊𝐨𝐧𝐞 '࣪˖ ๋ → Oiê! Espero que tenham gostado desse capítulo.
𝟶𝟸 - 🝯 ┊𝐭𝐰𝐨 '࣪˖ ๋ → Interajam nos comentários, isso motiva demais.
𝟶𝟹 - 🝯 ┊𝐭𝐡𝐫𝐞𝐞 '࣪˖ ๋ → Lembrem de deixar seus votos e feedbacks, isso é muito importante.
𝟶𝟺 - 🝯 ┊𝐟𝐨𝐮𝐫 '࣪˖ ๋ → Se puderem, sigam meu tiktok. Posto edits e vídeos sobre minhas histórias por lá. @/immaddiebowman
𝟶𝟻 - 🝯 ┊𝐟𝐢𝐯𝐞 '࣪˖ ๋ → Obrigada por estar lendo até aqui ♡.
walkthdead ©️ 2023
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