𝐈𝐗. 𝐍𝐎𝐈𝐓𝐄 𝐈𝐍𝐂𝐎𝐌𝐔𝐌
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Noite incomum !
O SOL SE PUNHA, sumindo entre as árvores altas e esparsas. Maya estava sentada à mesa do trailer de Dale, limpando as poucas flechas que restavam em sua aljava. O pano que usava já estava todo sujo de sangue e pedaços de carne de zumbi. Ela ouviu a porta abrir e levantou o olhar por apenas um instante; Daryl entrou e parou entre a parede e o armário da mini-cozinha. Ele não disse nada.
━━ Precisa de alguma coisa? ━ pergunta ela, sem olhar.
━━ Não ━ responde, sentando-se à frente dela, no banco acolchoado. ━━ Só vou pedir para que você seja mais sútil com Carol. A filha dela está desaparecida.
Mais cedo, quando finalmente chegaram à estrada, Dale perguntou por aqueles que não retornaram. Maya explicou a ele toda a situação. Carol revirou os olhos e reclamou por não estarem mais procurando por sua filha. Maya explodiu e disse coisas que não deveria à Carol, irritada e exausta. Ela se arrependeu uma hora depois, mas era orgulhosa e nunca pediria desculpas.
━━ Eu disse que estava cansada ━ explica. ━━ Ela estava agindo como se não tivéssemos passado horas procurando pela garota. É fácil falar quando ela passa o tempo inteiro com a bunda sentada. Hoje foi a única vez que ela realmente fez algo além de chorar.
Ela jogou as flechas limpas dentro da aljava e olhou para Daryl.
━━ E pode apostar que chorar não vai adiantar de nada. ━━ Ela suspirou, vendo uma sombra cruzar o rosto dele. ━━ Eu gosto de Sophia, Daryl. Mas temos que começar a considerar a hipótese de que não vamos encontrá-la.
━━ Eu vou encontrar a Sophia. ━━ Daryl apertou o maxilar.
━━ É, claro que vai ━ ela riu e levantou-se do banco.
Daryl levantou também e parou entre a parede e o balcão novamente. Ficou na frente dela e não a deixou passar até que o respondesse. Ele estava com raiva, cansado e sobrecarregado.
━━ O quê? Não acha que consigo?
━━ Não é isso. Você conseguiria achar ela se ela estivesse viva.
━━ Acha que ela está morta?
Vou muito bem dizer a ele, decidiu Maya. Ela não devia nada a ninguém, não se importava se Daryl ficaria bravo. Maya conseguia ser um grande pé no saco às vezes e, dependendo da situação, o pensamento racional poderia ser seu maior inimigo. Ela odiava como os outros poderiam agir de forma tão emocional.
━━ E você não acha que ela está? Por favor, Daryl. Sophia tem doze anos de idade e vivia assustada.
━━ O que você está querendo dizer?
━━ Quero dizer que ela está morta. Não tem como ela ter sobrevivido tanto tempo assim. Ela estava sozinha e é apenas uma garota. Se você acredita que ela está viva, está mentindo para si mesmo. Agora, me dê licença, tenho que ficar de vigia.
· 🏹🧫🪓 ·
GLENN E T-DOG partiram da estrada à fazenda dos Greene ao pôr do sol e chegaram ao escurecer. Todos eles iriam juntos pela manhã, mas T-Dog estava ficando fraco, sobrevivendo de alguns últimos comprimidos anti-inflamatórios e precisava de ajuda.
Daryl deitava sobre um cobertor fino no chão, apoiando a cabeça no travesseiro que pegou da cama de Dale. Ele virava de lá para cá, tentando dormir. O que Maya tinha lhe dito mais cedo ainda martelava sua cabeça e escutar Carol chorar apenas a alguns metros de onde tentava dormir nunca permitiriam que seus olhos fechassem e a mente desligasse.
Ele levantou do chão, pegou a besta de cima da mesa e a pendurou no braço. Pegou também sua pistola, uma faca e enfiou os dois dentro dos bolsos da calça. Ele espiou Carol por cima dos ombros e ela o olhava, entre a escuridão e a luz da lua que entrava pela janela, secando as lágrimas dolorosas. Ele respirou fundo e agarrou uma lanterna antes de abrir a porta e pular para fora do trailer.
Daryl olhou para cima, viu Maya e Dale conversando sobre algo que não entendia — ou só não se importava o suficiente para entender —, enquanto sentavam sobre cadeiras de praia em cima do trailer. Maya estava com roupas diferentes, uma das que encontrou nos carros. Ela vestia uma regata branca, uma calça jeans azul claro e o cabelo cheio e bagunçado estava preso em um rabo de cavalo, com mechas onduladas fugindo do elástico e caindo na frente do rosto. Ela viu a luz da lanterna lá embaixo e olhou para ele.
━━ Está indo para onde? ━━ pergunta ela.
━━ Vou dar uma caminhada na floresta, com a lanterna. Se ela estiver por aí, vai poder ver a luz.
Maya sabia que tinha sido dura com ele mais cedo, mas também sabia que não pediria desculpas por falar o que pensava. Ela respirou fundo e levantou da cadeira. Dale a olhou com a sobrancelha lá para cima.
━━ Eu vou com você ━━ disse Maya.
Dale levantou da cadeira também, olhou para os dois, nervoso. Maya já estava descendo a escada e pulando para o chão.
━━ Vocês acham que é uma boa ideia irem agora? ━━ pergunta Dale.
━━ Não se preocupe, não vai acontecer nada ━━ disse Maya, ajeitando a besta no ombro.
E assim os dois sumiram entre a floresta. Deveria ser uma da manhã, corujas piavam escondidas nas árvores. Ao menos a noite não era quente como os dias haviam sido. Eles chegavam a sentir um pouco de frio.
Maya e Daryl não disseram uma palavra, embora estivessem pensando demais. De vez em quando, Daryl espiava Maya quando ela não percebia, e Maya fazia o mesmo algumas outras vezes. Estava começando a ser dolorosamente desconfortável.
━━ Por que está aqui se não acredita que ela está viva? ━━ perguntou Daryl, iluminando o chão com a lanterna.
━━ Porque não aguentava mais ouvir as histórias de clube do livro de Dale ━━ falou e deu de ombros. Em parte, era verdade. Mas também sentia uma pontinha de arrependimento por como agiu mais cedo. ━━ E... porque sei que você é um cara esperto e não estaria procurando pela garota se não acreditasse mesmo que estivesse viva.
Maya tinha o elogiado? Talvez tivesse. Sendo um elogio ou não, Daryl não tinha ideia como responder. Então fez exatamente o que sempre fazia. Ele ficou quieto. Por baixo de toda aquela raiva e jeito de cara durão, Daryl era um homem sem graça, que acreditava que tudo que fazia não era mais que sua obrigação, ou — como seu pai e Merle sempre diziam — que nenhuma garota algum dia seria louca o suficiente para chegar perto de dormir com ele. Foi criado para acreditar nisso a vida toda.
Quando Daryl era adolescente, passou duas semanas inteiras tentando chamar Rachel Perry para o baile de formatura do ensino médio. Quando finalmente criou coragem para convidá-la, quase pulou de alegria no quarto quando ela aceitou. Porque garotas como Rachel Perry não saíam com caras como Daryl Dixon. Elas gostavam de caras extrovertidos, que faziam parte do time de futebol e que não passavam o horário do almoço sozinhos.
Então, no dia do baile, quando convenceu seu pai velho e agressivo a deixá-lo dirigir seu carro para buscar Rachel em casa, recebeu um telefonema do telefone fixo. Ele atendeu e escutou Brad Wilson, capitão do time de futebol, dizer que Rachel sentia muito, mas que não iria a baile nenhum com ele. O que o fez socar o espelho de seu quarto mais tarde foi ouvir a risada dela no fundo da ligação, pedindo que ele parasse. Daryl não foi ao baile e passou a noite limpando os cortes nos dedos e enfiando o blaser velho no armário de novo.
━━ Além do mais, não são as montanhas do Tibete. Estamos na Geórgia ━━ continuou Maya. ━━ Se ela estiver viva, deve estar escondida numa fazenda em algum lugar.
━━ Ela está viva.
━━ Tudo bem. ━━ Maya suspira. ━━ Eu teria sobrevivido na idade dela. Eu era uma criança assustada como ela, mas era esperta.
━━ Eu era mais novo que ela quando me perdi e sobrevivi sem choramingar ━━ disse Daryl, encarando uma aranha que subia o tronco da árvore. ━━ Nove dias na floresta comendo frutas... limpando a minha bunda com urtiga.
A ideia de Daryl perdido na floresta, tendo que limpar a bunda com urtiga era boa o suficiente para fazer Maya rir, mas ela se segurou e não deixou que uma risada escapasse. O lado bom era que a escuridão da noite cobria o sorriso no rosto dela.
━━ Eles te encontraram?
━━ Meu velho estava fora numa farra com uma garçonete e Merle estava preso no reformatório de novo. Nenhum dos dois sabia que eu tinha sumido. Mas consegui voltar depois. Não foi tão ruim, só a minha bunda que coçava pra caramba.
Maya deu risada e cobriu a boca na mesma hora. Ela não precisava de nenhuma luz iluminando o rosto de Daryl para saber que ele estava com cara feia. Até que ele também riu. E aquilo foi a melhor coisa que ela ouviu naquele dia.
Eles andaram por mais alguns quinze minutos, viram uma família de gambás rosnarem e sumirem entre dois arbustos. Maya cutucou o braço de Daryl quando viu uma cabana. Não tinha nada em volta, apenas uma luz acesa lá dentro. Ela pediu que Daryl vigiasse o lado de fora, e tentou enxergar sombras, mas não conseguiu. Abriu o zíper devagarinho e se enfiou lá dentro, com as mãos apertando a besta. Não tinha ninguém lá, mas parecia que quem quer que tivesse saído para dar uma volta, voltaria logo.
Maya enxergou uma caixa de maços de cigarro Marlboro e, surpreendentemente, três flechas como as suas antigas ao lado do saco de dormir. Ela agarrou a caixa de cigarros, as flechas e saiu dali. Ela sorriu, levantando o Marlboro para cima e Daryl riu.
━━ Vamos voltar, não quero estar por perto quando o otário perceber que roubei suas flechas e sua caixa de cigarros ━━ Maya deu risada.
Os dois voltaram à estrada, sentaram nas cadeiras de praia em cima do trailer de Dale e ficaram de vigia. Maya tirou a caixa de cigarros e o isqueiro — que pegou emprestado de Dale — do bolso. Ela segurou um cigarro entre os lábios finos e viu a chama do isqueiro crescer quando levantou a tampa de metal. Ela acendeu a ponta, tragou e passou para Daryl. Ele pegou o cigarro e colocou na boca.
━━ Posso perguntar uma coisa? ━━ pergunta Daryl, soltando a fumaça pela boca.
Maya acenou e pegou o cigarro de volta. Ela puxou, tragou e viu a fumaça subir de novo.
━━ Por que quis ficar no CCD?
━━ Ah, não. Não vou fazer isso agora ━━ reclamou ela, passando o cigarro mais uma vez. ━━ Você não vai ser meu terapeuta, Daryl.
━━ E pode apostar que não vou ser mesmo ━━ disse Daryl, balançando a cabeça. ━━ Terapeutas são para cretinos ricos e maricas.
Maya riu, porque era exatamente isso que pensava. Ela não conseguia acreditar que todos os problemas dela seriam resolvidos com sessões semanais de conversa sobre como sua vida era terrível e, eventualmente, tudo se resolveria. Além disso, ela nunca teria o tipo de dinheiro para pagar por um terapeuta. A não ser que fosse Susan Geller, a garota rica do fim da rua de quando era mais nova. Susan era do tipo de garota endinheirada, com pais presentes e amorosos, que tinha uma cama para descansar o coro, mas ainda assim pagaria por um terapeuta para reclamar de sua vida miserável.
Daryl passou o cigarro de volta para ela e a ponta encostou e queimou o dorso da mão de Maya. Ela tomou um susto e reclamou:
━━ Ai! Caralho, Daryl... ━━ Ela chacoalhou a mão e segurou o cigarro com os lábios.
━━ Considere como vingança por ter rido da minha bunda coçando e por me chamar de terapeuta ━━ ele riu e Maya revirou os olhos.
Ela respirou fundo, deixou a fumaça sair da boca e olhou para ele.
━━ Tudo bem ━━ disse, finalmente. ━━ O único motivo pelo qual quis ficar no CCD aquele dia era porque estava deprimida. Eu nunca fui assim e, acredite, não faria nada daquilo de novo. Não sei o que deu em mim, mas pelo menos não virei parte dos destroços e estou aqui dividindo um cigarro com Daryl Dixon.
━━ Qual é a parte mais esquisita? Eu ou os pensamentos suicidas?
━━ Você. Você é definitivamente a parte mais esquisita.
Os dois sorriram debaixo da luz prateada da lua, escutando os grilos cantando e as corujas piando na floresta. Eles olhavam para os lados e tudo que viam era dezenas de carros largados na estrada. Da forma mais incomum, foi uma noite perfeita.
𝟶𝟷 - 🝯 ┊𝐨𝐧𝐞 '࣪˖ ๋ → Oiê! Espero que tenham gostado desse capítulo.
𝟶𝟸 - 🝯 ┊𝐭𝐰𝐨 '࣪˖ ๋ → Só os antigos vão lembrar que a Maya não ficava na estrada e ia pra fazenda com o Glenn e o T-Dog, mas acho que assim ficou muito melhor <3
𝟶𝟹 - 🝯 ┊𝐭𝐡𝐫𝐞𝐞 '࣪˖ ๋ → Interajam nos comentários, isso motiva demais.
𝟶𝟺 - 🝯 ┊𝐟𝐨𝐮𝐫 '࣪˖ ๋ → Lembrem de deixar seus votos e feedbacks, isso é muito importante.
𝟶𝟻 - 🝯 ┊𝐟𝐢𝐯𝐞 '࣪˖ ๋ → Obrigada por estar lendo até aqui ♡.
walkthdead ©️ 2023
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