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Dixon idiota !

         MAYA ACORDOU CEDO na manhã seguinte. Embora ela conseguisse perceber que a luz suave do amanhecer já tinha tomado conta do céu, ela permaneceu com os olhos bem fechados. Podia-se ouvir os pássaros batendo suas asas entre as árvores e sentir a sensação abafada que fazia de manhã na pedreira.

Shane estava acordado, de vigia, em cima do trailer de Dale. Ele sentava em uma cadeira de praia com sua espingarda em mãos e binóculos pendurados em seu pescoço. Ele já tinha bocejado algumas dezenas de vezes, mas permaneceria acordado. Além do mais, ele tinha muito o que pensar.

Maya sentia o suor que descia pela sua nuca, então sentou-se e deixou o casaco deslizar pelos braços. A cabana estava cheia de luz do sol, não escutava mais o som dos ventos assobiando.

Naquela manhã, decidiu que iria caçar. Tomou consciência da falta de flechas para sua besta e começou a buscar por algo naquela cabana que fosse ajuda-la. Mexeu em algumas mochilas, encontrou algumas drogas com o nome de Merle nelas e, por fim, descobriu algumas flechas debaixo de alguns cobertores. Não conseguiu acreditar que as flechas encaixavam perfeitamente em sua besta.

Daryl não se importaria se Maya pegasse algumas para caçar, não é?

Maya colocou-se de pé, dizendo a si mesma que só voltaria se conseguisse pegar ao menos um coelho. Ela foi direto para o zíper da cabana e o abriu. Ela contou dezessete flechas em sua aljava ao sair dos aposentos de Daryl. Sentiu a luz do sol bater em seus olhos, a mão cobriu os olhos imediatamente.

Shane a notou, passando a espiar por cima do ombro. Uma dúvida cruzou sua mente ao que se questionava o motivo dela estar acordada tão cedo.

Maya acenou para ele, ele acenou de volta.

━━ Já acordada?

━━ Não, ainda estou dormindo ━ respondeu, ajeitando a besta nas mãos.

Shane não pareceu se importar com a arrogância, na verdade, deu risada. Ele não estava a caçoando, a achava divertida.

━━ Acordou de bom humor ━ brincou, desviando o olhar ao horizonte. ━━ O que faz acordada tão cedo? ━ Insistiu por uma resposta.

━━ Não consegui dormir direito. Vou ver se acho alguma coisa para caçar ━ disse, não muito preocupada; torcia para voltar o mais tarde que podia. ━━ Quem sabe eu descolo um almoço. ━ A figura dela foi, aos poucos, sumindo entre as árvores.

━━ Tome cuidado, Maya! ━ Exclamou, virando seu corpo na direção em que ela havia sumido. ━━ Grite se acontecer alguma coisa!

Maya deu uma risada ao revirar os olhos. Shane não conhecia ela e isso era óbvio. Não me entenda mal; Maya não é uma super lutadora, mas sabia se virar sozinha muito bem.

Ela andava pela floresta ouvindo o som das folhas amassando embaixo de suas botas. O céu estava limpo e não havia sinal algum de que uma chuva estava por vir. Maya olhou para cima de uma árvore e assistiu uma família de passarinhos com minhocas em seus bicos. Ela sorriu gentilmente e soltou uma risadinha.

━━ Passarinhos malditos. Não sabem a sorte que têm de poderem voar.

O som do farfalhar de folhas cresceu atrás dela. Geralmente não se importaria tanto, mas da última vez que algo assim aconteceu... bem, vocês se lembram quem apareceu.

Virou-se como um raio, olhou para cada canto que conseguia, tentando imaginar que tipo de criatura poderia estar ali com ela. Maya apertou bem a besta nas mãos, dando um olhar de canto de olho. Ela se aproximava com calma de um arbusto, sabendo que o som vinha exatamente de lá.

Maya sentiu sua tensão sair do corpo como se um balão tivesse esvaziado dentro dela. Sorriu, assistindo um cervo mastigando algumas plantas e balançando as orelhas. Estava mais animada em saber que ele iria garantir um bom almoço a todos do acampamento.

Aproximou-se mais um pouco, ergueu os braços e estreitou os olhos para mirar perfeitamente. Deu mais um passo — algo que se arrependeu no mesmo instante. Seu pé amassou um galho no chão. O cervo assustou-se e não levou nem mais um segundo para correr.

Ela chutou o galho para longe e começou a correr atrás do bicho. O cervo sumiu entre as árvores, mas Maya se atentava às pegadas deixadas no chão. Seus olhos traçaram cada rastro e agora daria os passos mais lentos e serenos que conseguia. Escutou o som de folhas novamente e desta vez não deixaria o cervo ir embora.

━━ Te peguei ━ disse, quase que inaudível.

Os braços compridos de Maya ergueram-se ao segurar a besta no alto. Ela apertou os olhos e deixou um suspiro sair antes de disparar a flecha. Aparentemente, Maya tinha um grande talento para acertar o traseiro dos outros, já que a flecha voou e perfurou em cheio o posterior do cervo. Ele correu logo dali.

━━ Que mania de atirar na bunda dos outros!

Começou a correr novamente. A este ponto, Maya já estava ofegando. Ela parou, apoiou-se nos joelhos e respirou fundo, mas o cervo já tinha sumido pelas árvores. Alguns esquilos a encararam bastante quando ela passou, suada e cansada — era quase como se eles estivessem a julgando. Maya não podia culpa-los. Ela não só estava coberta de suor, mas tinha errado completamente a mira e perdeu o bicho da maneira mais estúpida possível.

Quando alcançou o olhar do cervo mais uma vez — e última, finalmente —, tinha mais duas flechas em seu corpo. Ela não estava doida. Tinha usado apenas uma para acertar o bicho, nada mais. Decidiu não dar muita importância e o atirou bem na cabeça. O corpo caiu e sumiu entre os arbustos.

━━ Finalmente ━ suspirou, jogando a besta para cima do ombro.

Gritos cresceram atrás dela, vinham das crianças. Carl estava gritando, chamando pela mãe. Seu corpo estava rígido ao que corria de volta para o acampamento. Embora Maya soubesse exatamente o caminho que precisava fazer para voltar, ela não parecia ser acostumada a ir pela forma comum. Ela se enfiou entre as árvores e arbustos, se enroscou em alguns galhos e um hematoma cresceu em seu braço quando trombou com não sei o que.

Quando escalou até lá, alguns homens do acampamento estavam levantando as armas para ela. O mais engraçado era que Maya só se assustou quando olhou para baixo e viu um zumbi decapitado. Além do morto, o cervo que lutou tanto para conseguir estava ali, com a barriga toda mordida.

━━ Jesus... ━ murmurou Shane, abaixando a arma.

━━ O nome é Maya, Shane ━ disse Maya, tirando uma planta que estava presa no cabelo.

Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, ouviram barulhos vindo de dentro da floresta. Levantaram as armas mais uma vez, apenas para ver um homem bem sujo e suado, segurando uma besta e esquilos mortos nos ombros. Este homem era Daryl Dixon.

Ao contrário de Merle, Daryl não era nada feio; muito pelo contrário. Ele era musculoso, tinha cabelos castanhos escuros e desalinhados. Os olhos eram azuis e mostravam uma mistura perfeita de intensidade e vulnerabilidade. Ele vestia uma camisa de flanela cortada nos braços e tinha tatuagens aparentes, assim como cicatrizes que o deixavam parecer assustador.

━━ Filho da puta! ━ Exclamou, irritado. ━━ Este cervo era meu! Olhem só ele! Todo comido por essa coisa imunda e doente, ━ começou a chutar o corpo do zumbi para descontar a raiva, ━━ esse filho da puta desgraçado!

━━ Perdão... seu cervo? ━ Perguntou Maya, espiando Daryl. ━━ Tenho certeza que estava perseguindo ele por mais tempo que você.

━━ Do que você sabe, morena? ━ Estufou o peitoral, rixoso. ━━ Eu te vi na floresta. Você deveria ter sido mais esperta e acertado em outro lugar que não fosse a bunda!

Daryl abaixou e contou as flechas que estavam no cervo. Ele puxou as duas que usou e olhou para Maya com um olhar hostil assim que notou que as outras também eram suas. Ele arrancou todas e a jogou de volta na aljava, nada contente.

━━ Mexeu nas minhas coisas, ô cabeluda? ━━ Ele parou bem na frente dela, bravo. As sobrancelhas finas e espessas estavam todas contorcidas.

━━ Mexi ━━ confessou, sem nenhum traço de remorso. Ela não sabia com certeza de que ele era Daryl, mas poderia imaginar.

━━ Sua mãe não te ensinou que é feio mexer nas coisas dos outros? Me devolva. ━━ Ele estava a centímetros dela, tinha que olhar para baixo para encontrar seus olhos azuis e determinados.

Maya apertou os olhos, sorriu com desdém e entregou a aljava a ele. Daryl afastou-se dela, mas não antes de olhar bem para seu rosto e desejar que ela não fosse tão bonita. Estavam todos em silêncio em volta, assistindo os dois brigarem da forma mais passiva agressiva que já viram.

Dale encostou o pé na cabeça do zumbi no chão e o morto abriu os olhos de repente, batendo os dentes com estupidez.

━━ Meu deus! ━ Amy enojou-se e deu meia-volta, desejando não ver mais aquilo que poderia a garantir pesadelos.

Daryl estava revirando os olhos e resmungando. Ele puxou a corda da besta e disparou na cabeça do zumbi, seu olhar severo caiu sobre Maya quando viu a flecha dela acertar o morto também. Seus olhos azuis e intensos se encontraram, ao que desejavam pular no pescoço um do outro. Os dois respiram fundo e puxam suas respectivas flechas.

━━ Tem que ser no cérebro ━ falaram ao mesmo tempo e olharam-se mais uma vez, nada encantadores.

Daryl balançou a cabeça e apressou-se de trás deles para o acampamento. Ele segurou os esquilos mortos nas mãos, gritando por seu irmão. Dale e Shane trocaram olhares nada corajosos, debatendo quem iria contar para Daryl que seu irmão havia sido largado em Atlanta.

━━ Merle, vem logo para cá! Consegui uns esquilos, vamos prepará-los. ━ Ele parou e olhou em volta. ━━ Merle!

━━ Daryl, espere um pouco. Preciso falar com você ━ disse Shane, passando a mão no queixo.

Ele parecia nervoso, mas não por medo de Daryl, só não queria mais problemas. Daryl largou a besta em um canto e olhou para Shane de cima a baixo, o peitoral forte marcava debaixo da camisa.

━━ Sobre o que?

━━ Sobre o Merle ━ confessou, mas a verdade era que não sabia por onde começar. ━━ Houve um... Houve um problema em Atlanta.

Maya tocou o ombro de Shane e o olhou bem afiada ao levantar as sobrancelhas. Ele balançou a cabeça e limpou a garganta, deixando que ela contasse para Daryl. Daryl estava prestes a tacar pedras se mais uma pessoa não o dissesse naquele instante o que teria acontecido com o seu irmão.

━━ Ele morreu? ━ Daryl murmurou.

━━ Não temos certeza ━ continuou Shane.

━━ Ele morreu ou não?

Maya deu um passo para frente e Daryl a olhou de cima a baixo, com aquele mesmo olhar de quando disseram e agiram da mesma forma mais de uma vez.

━━ Escute, Daryl, serei sincera com você...

━━ Quem é você, garota?

━━ Maya Windward. Será que pode me ouvir, idiota? ━ Ela só queria que aquilo acabasse logo. Por outro lado, Daryl parecia que tinha engolido um limão.

━━ Maya Windward ━ zombou. ━━ Tem alguma coisa pra me falar?

━━ Sim, tenho. Seu irmão era um cuzão. Atirei na bunda dele e ele ━ apontou para Rick ━━ o algemou em um pedaço de ferro. Ele continua lá.

Daryl piscou uma, duas vezes e ainda não sabia muito bem o que dizer. Ele coçou a nuca, olhou para Shane, então para Maya novamente. Ele deu as costas, começou a perambular, tentando acreditar no que lhe disseram. A vontade de voar no pescoço de Maya era enorme e atroz.

━━ Espera aí... deixa eu processar isso por um tempo ━ disse, passando a mão pelo cabelo desalinhado e bagunçando. ━━ Está me dizendo que deu uma flechada na bunda do meu irmão, algemou ele em um terraço e o largou lá?!

━━ É, basicamente isso. Resumiu bem.

Daryl ficou parado, sentindo a raiva borbulhar no peito. Ele não parava de olhar para o rosto dela, obrigando-se a respirar fundo ou explodiria. Ele jogou os esquilos mortos para cima dela, mas ela abaixou e o xingou logo em seguida.

Shane segurou Daryl em seus braços, enquanto ele se debatia para se soltar. Eles caíram no chão, Daryl estava tossindo ao sentir o antebraço de Shane apertar seu pescoço.

━━ Estrangulamento é ilegal! ━ Ele gritou, tirando o braço dele de seu pescoço. Tossiu mais uma vez, então estava ofegando.

━━ Vamos lá, Daryl ━ Maya agachou-se ao lado dele. ━━ Você vai querer conversar civilizadamente igual uma pessoa normal ou preso igual um animal numa gaiola?

Quando Daryl não respondeu, apenas rosnou ao respirar, Maya respirou fundo e olhou bem para o fundo dos olhos dele.

━━ A escolha é sua. O que vai querer? ━ Insistiu.

━━ Tá.

Shane o largou e Daryl colocou-se de pé bem depressa. Ele passou as mãos pela roupa para limpar a areia e resmungou palavras que só ele poderia escutar.

━━ O que nós fizemos com o Merle não foi à toa ━ começou ela. ━━ Seu irmão não estava colaborando. Ele não ia conseguir e nem consegue trabalhar em grupo.

━━ Não é culpa deles ━ disse T-Dog, sentindo-se terrível mesmo que não tivesse motivos para isso. ━━ Eu tinha a chave da algema. Deixei ela cair.

━━ Não dava pra pegar?

━━ Ela caiu num ralo.

Daryl suspirou, frustrado e revirou os olhos. Ele estava com o peito cheio de raiva e não sabia como ainda não tinha socado cada um. O rosto estava todo vermelho e o corpo rígido.

━━ Se isso era para fazer eu me sentir melhor, não adiantou nada! ━ Exclamou. ━━ Vão para o inferno todos vocês! Me digam onde ele está e eu vou sozinho busca-lo.

━━ Eu vou levá-lo até lá ━ falou Rick, apertando os lábios.

Daryl deu risada e virou os olhos, apanhando sua besta do chão. Não ousou dizer nem mais uma palavra. Deu as costas e sumiu.

· 🏹🧫🪓 ·

             GLENN, RICK, MAYA, Daryl e T-Dog estavam de volta em Atlanta. Maya desejou que pudesse ter tido mais oito horas de sono, ou que nunca tivesse conhecido essas pessoas. Fim de história. As vidas deles não valiam Merle Dixon. Não mesmo!

Maya não queria ir à Atlanta novamente, não depois do que viu lá, mas Glenn a convenceu de ir. Ela sentia que devia algo a ele, já que tinha salvado a vida dela quando não tinha obrigação nenhuma de fazer isso.

Estavam na mesma loja de departamento de ontem. Estava tudo como antes, exceto a brisa fantasmagórica que os fazia arrepiar. As dezenas de zumbis já não vagavam por ali. Na verdade, a cidade inteira parecia vazia demais.

Rick colocou os olhos em uma zumbi no fundo da loja. Ela rosnava, mas estava andando bem devagar. Um sinal de cabeça para Maya foi o suficiente para que ela atirasse uma flecha.

━━ Ela é gatinha ━ zombou Maya, então puxou a flecha da cabeça da zumbi.

Lá em cima, T-Dog abriu a porta acorrentada, deixando que a luz do terraço os acertasse bem nos olhos. Ele ainda estremecia ao lembrar dos gritos de Merle, implorando para que ele não o deixasse ali.

━━ Merle! ━ Daryl gritou.

Ele andou até o lugar onde Merle estava algemado e seu rosto caiu em horror quando tudo que estava sobrando era uma serra, uma algema suja de sangue e a mão decapitada de seu irmão. Seu coração afundou terrivelmente.

━━ Não!

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