ᝬ 🥀 𖠵 chapter two, out of memory, more problems.𓄹
Você pode vencer o mundo
Você pode vencer a guerra
Você pode conversar com Deus, bater em Sua porta
Você pode jogar suas mãos para cima
Você pode vencer o tempo
Você pode mover uma montanha
Você pode quebrar rochas
Você pode ser um mestre
Não espere pela sorte
Dedique-se e você se verá
THE SCRIPT (FEAT. WILL.I.AM) - Hall of Fame
Mabel Queen
Atualmente...
NA ESCALA DE DIAS RUINS DA MINHA SEMANA, hoje estava variando entre "muito ruim", "que Deus tenha piedade e me leve logo" e por último, mas não menos importante, "Eu só quero morrer".
— EU VOU TER QUE DIZER QUANTAS VEZES QUE NÃO SOU APERITIVO DE VELHA?
Percy fez uma careta enquanto corria ao meu lado, quer dizer, eu tinha quase certeza de que seu nome era realmente esse, mas considerando que minha mente era uma grande sala em branco e eu não lembrava de absolutamente nada antes de acordar em uma mansão velha no meio do nada...
Digamos que eram tempos difíceis, ok?
Enfim, no momento atual, Percy e eu estávamos sendo perseguidos por mulheres com cabelos de cobra que estavam começando a me irritar em um nível totalmente novo.
— Eu odeio a minha vida — ele resmungou, ao meu lado.
— Diga algo novo, Estrela do Mar.
Elas deviam ter morrido três dias antes, quando eu derrubei uma caixa de bolas de boliche em cima delas no Napa Bargain Mart. Deviam ter morrido dois dias antes, quando Percy as atropelou com um carro da polícia em Martinez (aliás, ele era um ótimo motorista de fuga). E, definitivamente, deviam ter morrido naquela manhã, quando a gente cortou as cabeças delas no Tilden Park.
Não importava quantas vezes Percy e eu as matasse e as víssemos se transformar em pó: elas continuavam a se reconstituir, como grandes cotões do mal. Aparentemente nós dois não conseguimos nem ser rápido o bastante para escapar delas
— Mais do que odeio a minha vida, odeio essas desgraçadas aí.
A gente alcançou o topo da colina e paramos para tentar recuperar o fôlego.
Quanto tempo se passou desde que as matou pela última vez? Talvez duas horas. Parecia que a morte delas nunca durava mais que isso, infelizmente.
Nos últimos dias a gente mal conseguiu dormir e nossa alimentação estava ainda pior, comemos o que a gente conseguia surrupiar — saquinhos de jujuba, pão dormido, até burrito para viagem, atingindo um novo nível de "fundo do poço". Nossas roupas estavam rasgadas, queimadas e sujas de gosma de monstro e coisas que eu não queria realmente saber sobre a procedência.
Eu só estava viva ainda porque Percy parecia indestrutível e tinha uma estranha tendência de sempre me proteger, muitas vezes sendo um escudo humano, era bizarro, pois ele parecia sempre agir no automático, como se estivesse fazendo isso há anos.
As duas mulheres — górgonas, como chamavam a si mesmas — também pareciam não conseguir matá-lo. As garras não cortavam sua pele. Os dentes se quebravam sempre que tentavam mordê-lo. Só que do jeito que estávamos indo, não conseguiríamos sobreviver por muito tempo, a exaustão estava começando a cobrar o seu preço e de alguma forma, as velhas iam conseguir nos matar.
Para onde correr?
— Alguma ideia do que fazer?
Ele olhou ao redor. À esquerda, colinas douradas ondulavam continente adentro, marcadas por lagos, bosques e alguns rebanhos de gado. À direita, as planícies de Berkeley e Oakland se estendiam para oeste — um vasto tabuleiro de bairros, com milhões de pessoas que provavelmente não iriam querer que sua manhã fosse interrompida por dois monstros e um semideus imundo.
Mais para oeste, a Baía de São Francisco cintilava sob uma bruma prateada. Para além dela, um muro de neblina havia engolido a maior parte de São Francisco, deixando à vista apenas o topo dos arranha-céus e as torres da ponte Golden Gate.
Teria sido uma vista incrível se a gente não tivesse sendo perseguidos e lutando pela sobrevivência.
A loba Lupa havia prometido que a gente iria recuperar nossa memória se tivéssemos glória na nossa missão. Infelizmente, não ganhamos tantas informações úteis sobre isso.
O vento mudou. Percebi o cheiro horrível de acre de réptil. Cem metros encosta abaixo, alguma coisa farfalhou no meio do bosque: galhos se quebrando, folhas sendo esmagadas, sibilos.
Górgonas
Pela milionésima vez, eu desejei que o nariz delas não fosse tão bom. Elas sempre disseram que podiam nos farejar porque éramos semideuses — o filho meio-sangue de algum antigo deus romano. Percy e eu tentamos rolar na lama, atravessar riachos e até levar aromatizantes nos bolsos para ficar com cheiro de carro novo; mas, aparentemente, o fedor de um semideus era difícil de disfarçar.
Percy agarrou a minha mão e me puxou para o lado oeste do cume. Era íngreme demais para descer. A encosta despencava uns vinte e cinco metros, direto para cima do telhado de um complexo de apartamentos construído junto à colina. Quinze metros abaixo disso uma estrada emergia do pé da colina e serpenteava na direção de Berkeley
Ótimo. Não havia outra forma de sair dali.
A gente havia se deixado encurralar, ele apertou a minha mão ao ponto de fazer doer, mas não reclamei.
— Lembra quando você disse que minhas ideias são ruins?
O sussurro dele chamou a minha atenção.
— Porque normalmente são — murmurei nervosa — mas acho que a gente não tem opção, então...
Segui o olhar dele. Então percebi que a estrada atravessava a colina. Devia haver um túnel... bem debaixo dos nossos pés. Meu radar interno enlouqueceu. A gente estava no lugar certo, só que alto demais. Tínhamos que dar uma olhada naquele túnel. Precisávamos arranjar um jeito de descer até a estrada — e rápido.
Percy tirou a mochila dos ombros. Conseguimos pegar muitos suprimentos no Napa Bargain Mart: um GPS portátil, fita adesiva, isqueiro, super cola, garrafa d'água, isolante térmico para acampamento, um travesseirinho em formato de panda e um unicórnio, por último, um canivete suíço — praticamente todas as ferramentas que dois semideuses modernos poderiam querer. Mas não havia nada que pudesse servir como paraquedas ou trenó.
Soltei uma risadinha nervosa.
— Percy...
Isso nos deixava com duas opções: saltar mais de vinte metros para a morte ou ficar e lutar. Ambas pareciam péssimas.
Ele praguejou e sacou sua caneta do bolso, sem ter muitas opções, tirei o meu acessório de cabelo que se transformou em um arco, as flechas apareceram magicamente nas minhas costas e eu peguei uma. Cada flecha tinha uma cor especial na ponta, eu já havia decorado o que significava cada cor, felizmente.
— E se eu fizer elas se apaixonarem uma pela outra?
Percy me lançou um olhar, incrédulo.
— Com a sorte que a gente tem, é capaz delas se apaixonarem pela gente.
Ah...
O garoto tirou a tampa da caneta, que cresceu até se tornar uma reluzente espada de bronze. Eu ainda queria saber se aquela caneta servia para escrever, mas não tivemos muito tempo para descobrir.
A gente havia acordado com essa espada e o arco e flecha na nossa primeira noite na Casa do Lobo... dois meses antes? Mais? Perdi a noção do tempo. Estava no pátio de uma mansão incendiada no meio da floresta, ele estava vestindo short, camiseta laranja e um cordão de couro com um punhado de contas estranhas de argila, a minha roupa era parecida, mesma camiseta laranja e contas de argila, mas no lugar de um short, estava a parte debaixo de um pijama - minusculo e humilhante. As armas estavam em nossas mãos, mas a gente não fazia ideia de como chegamos lá, e tínhamos apenas uma vaga noção de quem éramos. Estávamos descalços, confusos e com muito frio. E então os lobos vieram...
Bem perto da gente, uma voz familiar me jogou de volta ao presente.
— Aí está você!
Me afastei bruscamente, quase descendo a colina e fiz uma careta ao perceber qual das duas era, a sorridente.
— Beano — Percy resmungou.
O.k., o nome dela, na verdade, não era Beano. Pelo que eu podia supor, era disléxico, pois as palavras se misturavam quando eu tentava ler. A primeira vez em que vi a górgona, bancando uma recepcionista do Bargain Mart com um grande bóton verde no qual se lia: Bem-vindo! Meu nome é esteno, eu li beano.
Ela ainda usava o grande colete verde dos empregados do Bargain Mart por cima de um vestido de estampa floral. Ao observar apenas o corpo dela, era possível tomá-la por uma avó velha e atarracada — até que, ao baixar a vista, percebia-se que ela possuía pés de galo. Ou, ao olhar para cima, viam-se presas bronze de javali projetando-se dos cantos de sua boca. Os olhos tinham um brilho vermelho, e os cabelos eram um ninho de inquietas cobras de um tom verde vivo.
O que havia de mais horrível nela? Suas mãos ainda seguravam a grande bandeja de prata de amostras grátis: Enroladinhos Crocantes de Queijo e Salsicha. A bandeja estava amassada por conta das tentativas de Percy e eu de matar a górgona, mas as pequenas amostras pareciam em perfeito estado. Esteno continuava carregando-as por toda a Califórnia para que pudesse oferecer um lanchinho a nós dois antes de nos matar. Eu não sabia por que ela continuava fazendo aquilo, mas, se um dia precisasse de uma armadura, a faria com Enroladinhos Crocantes de Queijo e Salsicha.
Eram indestrutíveis.
Ajeitei a flecha no arco, pronto para a lançar assim que tivesse uma oportunidade, a ponta laranja da flecha chamou a minha atenção e eu sorri.
Iria explodir aquelas velhas pela quinta vez, se tivesse sorte. Isso normalmente nos rendia bons minutos para fuga. Atirei a flecha, que acabou pegando em na árvore atrás da velha e então explodiu, enviando um pedaço de madeira direto para a cabeça de Esteno.
— Boa — Percy murmurou.
— Quer experimentar? — ofereceu Esteno, ainda segurando a porcaria das amostras gratis.
Percy ameaçou-a com a espada.
— Cadê sua irmã?
— Ah, guarde essa espada — repreendeu-o Esteno. — A essa altura, vocês já devem saber que nem o bronze celestial pode nos matar por muito tempo. Coma um Enroladinho de Queijo e Salsicha! Estão em promoção esta semana, e eu detestaria matar vocês de estômago vazio.
Troquei um olhar cansado com Percy. Esteno aproveitou e tirou a lasca de madeira - que mais parecia uma estaca - que havia a atingido.
— Esteno! — A segunda górgona surgiu tão depressa à direita de Percy que não tivemos tempo de reagir. Felizmente, ela estava muito ocupada fuzilando a irmã com o olhar para prestar atenção em nós. — Eu disse para você se aproximar do casal furtivamente e matá-los!
O sorriso de Esteno vacilou.
— Mas, Euríale... Não posso dar a ele uma provinha primeiro?
— Não, sua imbecil!
Forcei um sorriso.
— Pela milionésima vez, não somos um casal.
— A gente acha — Percy murmurou — Mas não temos certeza, tem o lance das memórias ou melhor, a falta delas...
Euríale voltou-se para nós e mostrou as presas.
Exceto pelos cabelos — um ninho de cobras-corais em vez de víboras verdes —, ela era idêntica à irmã. Seu colete do Bargain Mart, o vestido florido e até mesmo as presas estavam enfeitadas com adesivos de 50% DE DESCONTO. Em seu crachá lia-se: Olá! Meu nome é morra, SEMIDEUS MALDITO!
— Vocês nos renderam uma perseguição e tanto, Percy Jackson e Mabel Queen — disse Euríale. — Mas agora estão encurralados, e teremos nossa vingança!
— Os Enroladinhos custam apenas 2,99 — acrescentou Esteno, prestativa. — Seção de mercearia, corredor três.
Euríale rosnou.
— Esteno, o Bargain Mart era uma fachada! Você está se perdendo no personagem! Agora largue essa bandeja ridícula e me ajude a matar esses semideuses. Ou já esqueceu que foram eles que pulverizaram a Medusa?
— Em minha defesa, eu não lembro disso — retruquei, rapidamente — e se eu não lembro, então não fiz!
Percy agarrou meu braço e deu um passo para trás, me arrastando junto. Mais quinze centímetros e a gente despencaria pelo morro, o que não seria nem um pouco divertido.
— Olhem, senhoras, já conversamos sobre isso e como Mabel acabou de dizer, nós nem lembramos de ter matado a Medusa. Não lembramos de nada! Não podemos fazer uma trégua e falar sobre as promoções da semana?
Esteno lançou um olhar pidão para a irmã e fez beicinho, o que era bem difícil com presas gigantes de bronze.
— Podemos?
— Não! — Os olhos vermelhos de Euríale cravaram-se em Percy e então, em mim. — Não estou nem aí para o que vocês lembram ou não, filho do deus dos mares e filha do desejo. Posso sentir o cheiro do sangue da Medusa em vocês. Está fraco, sim, depois de vários anos, mas vocês foram os últimos a derrotá-la. E ela ainda não retornou do Tártaro! A culpa é de vocês!
Eu não consegui mesmo entender aquilo. O conceito de "morrer e então retornar do Tártaro" me dava dor de cabeça. Naturalmente, isso também acontecia diante da ideia de que uma caneta esferográfica pudesse se transformar em espada, presilhas de cabelo se tornavam arco e flecha ou que monstros pudessem se disfarçar por causa de uma tal Névoa, ou que eu era filha de um deus de cinco mil anos incrustado de cracas. Mas acreditei, sim. Embora minha memória tivesse sido apagada, eu sabia que era um semideusa da mesma forma que sabia que meu nome era Mabel Queen.
Desde minha primeira conversa com Lupa, a loba, eu havia aceitado que esse mundo louco e confuso de deuses e monstros era a minha realidade.
O que era bem chato.
— Que tal declararmos um empate? — Percy sugeriu. — Nós não podemos matar vocês. Vocês não podem nos matar. Se são irmãs da Medusa... tipo a Medusa, que transformava as pessoas em pedra... eu já não deveria estar petrificado?
— Heróis! — exclamou Euríale com asco. — Eles sempre mencionam isso, exatamente como nossa mãe! "Por que vocês não conseguem transformar as pessoas em pedra? Sua irmã consegue." Bem, lamento desapontá-lo, garoto! Essa maldição era apenas da Medusa. Ela era a mais hedionda na família. A sorte foi toda para ela!
Esteno parecia magoada.
— Mamãe dizia que eu era a mais hedionda.
Olhei de uma para outra como se fosse o melhor jogo de ping pong que já presenciei.
— Calada! — repreendeu-a Euríale — Quanto a você, Percy Jackson, é verdade que você possui a marca de Aquiles. Isso faz com que seja um pouco mais difícil matá-lo. Mas não se preocupe. Vamos dar um jeito... Sua amiguinha não possui, então vamos nos livrar dela primeiro.
— A marca do quê?
— Aquiles — disse Esteno, alegremente. — Ah, ele era lindo! Foi banhado no Rio Estige quando criança, sabe, então tornou-se invulnerável, exceto por um minúsculo ponto no tornozelo. Isso também aconteceu com você, querido. Alguém deve tê-lo jogado no Estige, o que deixou sua pele dura como ferro. Mas não precisa se preocupar. Heróis como você sempre têm um ponto fraco. Só precisamos descobrir qual é, e então poderemos matá-lo. Isso não vai ser ótimo? Pegue um Enroladinho!
Percy me encarou, claramente vários pensamentos passando pela sua cabeça naquele momento, então seus olhos se desviaram para a bandeja de prata de Esteno.
Arregalei os olhos.
— Percy... — sussurrei, indignada.
— Reconsiderando? — perguntou Esteno. — Muito sábio, querido. Acrescentei um pouco de sangue de górgona a estes, portanto, sua morte será rápida e indolor.
Ele respirou fundo.
— Você adicionou seu sangue aos Enroladinhos?
— Só um pouquinho. — Esteno sorriu. — Um corte minúsculo em meu braço, mas é gentileza sua se preocupar. O sangue de nosso lado direito pode curar qualquer coisa, sabe, mas o sangue de nosso lado esquerdo é letal...
Poderia curar a nossa memória, pensei rapidamente.
— Sua estúpida! — berrou Euríale. — Não é para você contar isso! Ele não vai comer as salsichas se você avisar que estão envenenadas!
Esteno pareceu confusa.
— Não? Mas eu disse que seria rápido e indolor.
— Deixe para lá! — As unhas de Euríale cresceram, transformando-se em garras. — Primeiro, vamos matar a garota, depois vamos ter que matá-lo da forma mais difícil... Continue a golpeá-lo até encontrarmos o ponto fraco. Quando derrotarmos Percy Jackson e sua namoradinha, Mabel Queen, vamos ser mais famosas que a Medusa! Nossa patrona vai nos recompensar imensamente!
Percy empunhou sua espada e me lançou um rápido olhar, que dizia que ele tinha um plano. Peguei uma flecha e ajeitei no arco, mirando em Esteno.
— Sabe, eu sou contra essa coisa de "ser morta" — murmurei — vamos ter que deixar para a próxima.
— Antes da gente iniciar todo o drama de vocês tentando nos matar... Quem é essa patrona de quem vocês falaram?
Euríale riu com desdém.
— A deusa Gaia, é claro! Aquela que nos trouxe de volta do esquecimento! Vocês não viveram o suficiente para conhecê-la, mas seus amigos lá embaixo logo enfrentarão a ira dela. Neste exato momento os exércitos da deusa estão marchando para o sul. No Festival de Fortuna, ela irá acordar e os semideuses serão abatidos como... como...
— Como nossos preços no Bargain Mart! — sugeriu Esteno.
— Ah!
Euríale avançou na direção da irmã.
Percy aproveitou a oportunidade e agarrou a bandeja de Esteno, espalhando os Enroladinhos envenenados, e com Contracorrente rasgou a cintura de Euríale, cortando-a ao meio. Atirei uma flecha explosiva em Euríale, que acabou acertando bem no seu olho, sua cabeça explodiu e Percy correu na minha direção.
Antes que eu pudesse dizer algo, ele agarrou minha cintura e me puxou, jogando a bandeja embaixo de nós e saltou a colina.
Fechei os olhos com força, tentando não gritar.
— Seja lá quem é o deus romano que rege truques estúpidos de trenó, por favor, não me deixe morrer — sussurrei, desesperada.
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