A SEMANA CONTINUOU a seguir normalmente. Mídias e policiais seguiam tentando tirar Peter e Grace das ruas os nomeando de vigilantes noturnos, o que deixava a Barnes levemente irritada, pois eles nem ao menos se esforçavam para pensarem em outros adjetivos para nomearem a dupla. E nesse exato momento a garota estava sentada em uma cadeira na cozinha da casa de Peter, com as sobrancelhas unidas e o rosto apoiado nas mãos observando a pequena discussão de May e o Parker sobre ele querer lavar suas roupas, mas sua tia não permitir isso.

Isso porque da última vez o garoto manchou todas as outras roupas com vermelho e azul. Grace até mesmo se lembrava de receber a ligação de Peter às uma hora da madrugada estando desespero, pois não sabia o que fazer com as roupas de sua tia.

— Tudo bem, eu lavo outra hora. — Peter olhou para a tia sorrindo enquanto se afastava com um pequeno cesto de roupas, onde muito provavelmente estava seu uniforme de Homem Aranha.  — Tudo bem? 

Grace olhou para cima quando ele se aproximou dela, balançando a cabeça para concordar a Barnes abandonou um selinho nos lábios do garoto e sorriu para ele. Ela havia tido pesadelos naquela noite com o apartamento em chamas novamente, e fora acordada por Peter segurando seus braços na cama enquanto ela suava como se estivesse perto do calor do fogo como naquele dia. 

O garoto lhe disse que Grace estava se auto debatendo e isso o fez acordar, suas sobrancelhas sempre juntas e os músculos tensos. O Parker havia a puxado para um abraço mais tarde e ficado acordado até que ela dormisse novamente. A Barnes se sentia mal sempre que isso acontecia, por isso tentava evitar ao máximo dormir com Peter. Seus pesadelos constantes estavam fazendo com que ambos tivessem noites de sono perdidas e a garota não queria envolver o Parker nisso.

Grace levantou-se pegando a jaqueta que estava sobre a mesa da cozinha quando assistiu o garoto voltar para a cozinha logo após deixar o cesto, que guardava seu uniforme, no quarto novamente. 

— Vamos? —Peter terminou de tomar seu copo de água e virou para a garota, a Barnes balançou a cabeça concordando e estendeu a mão para o Parker que a pegou. 

— Onde vocês dois estão indo tão cedo? — May os parou com um pano de prato em suas mãos e os observou. 

— Cafeteria, voltamos para almoçar com a senhora. Até mais tarde, May. — Grace respondeu a mais velha e abandonou um selinho em sua testa antes de arrastar Peter para fora da casa. 

A dupla seguiu pelas ruas de Nova Iorque, mas dessa vez sendo apenas dois jovens que se costinha em um relacionamento não confirmado por nenhuma das partes. Peter pensava que não era necessário fazer um pedido oficial, eles praticamente estavam morando juntos e com toda a certeza aquilo não era uma amizade colorida. Ao contrário dos pensamentos de Grace que sempre era pega pelas perguntas de May Parker e nunca sabia o que dizer. 

Quando chegaram na pequena cafeteria eles se sentaram e Peter retirou os notebooks da mochila que estava em suas costas, entregou o da Barnes para a garota que o pegou. A garçonete não demorou para os atender e Grace decidir por pedir um chocolate quente e o Parker um café normal.

— O que está fazendo? — Ela perguntou depois de algum tempo, Peter apoiou o rosto na mão direita e a olhou. 

— Tentando convencer o Jameson que o Homem Aranha e a Encantadora das Sombras não são os vilões aqui, e que querem apenas ajudar. — Ela tomou um gole do chocolate e sorriu por cima da caneca. 

— Encantadora das Sombras? — O garoto ergueu seu tronco lembrando-se que não havia contado para Grace sobre o nome que havia pensado para ela. 

— Ah, eu não te falei... — Peter coçou a cabeça — Quer dizer, eu pensei que esse poderia ser seu codinome se você gostar. Mas se não gostar, tudo bem, podemos pensar em outro. 

Grace abaixou a caneca e balançou a cabeça sorrindo pelo nervosismo do Parker, pegou em sua mão e fizera um carinho breve ali. 

— Eu amei, está bem? Eu só... não tinha parado para pensar que talvez precisasse de um nome de super herói também, mesmo que eles não nos considerem assim. Talvez as crianças sim, mas o jornalistas com toda a certeza não. Bom... eu gostei do nome, só preciso trabalhar para fazer ele sair da sombra do Homem Aranha. 

— Sinto muito por isso. — Peter fez uma careta. 

— Tudo bem, não é culpa sua se nossa sociedade é machista. Já que estamos falando de nomes de super heróis e todas essas coisinhas... — Grace se arrumou na cadeira antes de voltar a se pronunciar — Eu estava pensando no meu novo uniforme e... 

Ela virou seu notebook para Peter lhe mostrando o desenho que estava quase finalizado, a roupa seria feita pelas próprias sombras para facilitar a vida de Grace. Ao final do pescoço e começo do colo, existia tiras que formavam um "X" logo no meio, e bem no local havia uma figura recortada de aranha — apenas uma homenagem que a Barnes resolvera fazer para Peter. Os braços seriam cobertos por completo assim como o restante, nas coxas estavam suportes para facas ou pequenas lanças nas quais seriam feitas também pelo próprio poder de Grace, nos pés estavam os coturnos que ela tanto era apegada — por ter sido o último presente de Agnes para a filha — e que agora serviria para salvar Nova Iorque.

— Grace, isso... — Peter a olhou por um breve segundo antes de olhar novamente para o objeto à sua frente. — Isso está incrível. 

— Obrigada. — A garota sorriu para ele cutucando os dedos e se levantou caminhando para trás do garoto. — Mas ainda faltam alguns detalhes para ele ficar por completo, e eu irei melhorar. 

— Eu sei, já está incrível assim e quero ser o primeiro a ver quando estiver finalizado. — Ele segurou em sua mão que estava poiada em seu ombro e inclinou a cabeça para trás, Grace se abaixou apenas para deixar um beijo rápido em seus lábios e pegar seu notebook novamente. 

— O Jameson respondeu você? — Ela perguntou e Peter olhou sua caixinha de e-mail, mas logo soltou um suspiro irritado. 

— Sim, mas não com a resposta que esperávamos. 

— Acabamos de ser informados, notícia urgente! — Grace não pôde responder o Parker, pois a voz do jornalista na televisão a cortou trazendo a atenção da dupla para as imagens que se passavam ali. — Norman Osborn, o lendário fundador e presidente da Indústrias Oscorp, faleceu. Fato confirmado por um representante do patrimônio Osborn. Seu único parente vivo é o filho, Harry Osborn que é o único herdeiro do império Osborn.

— Harry... — Peter murmurou e Grace o olhou.

— É próximo dele? — O garoto continuou olhando para o jornal quando a respondeu.

— Éramos amigos de infância. 

— Osborn mudou a visão médica sobre a cura humana afetando a vida de milhões de pessoas. — A garota olhou novamente para Peter e suspirou colocando sua mão sobre a dele. 

— Sinto muito. — Ele balançou a cabeça assentindo, depois terminou de tomar o seu café. 

— Preciso ir, vou até a casa do Harry e depois volto pra casa para almoçarmos com a tia May. — Peter falou se levantando e guardando suas coisas.

— Eu posso ir com você se quiser... 

— Não, tudo bem. Não demoro muito. — Ele inclinou na mesa e abandonou um beijo em sua bochecha antes de sair. 

Grace juntou as sobrancelhas se encostando na cadeira, tentando entender o que fora tudo aquilo. Então apenas balançou a cabeça e voltou a finalizar seu desenho, para logo depois começar a escrever currículos para entregar pela cidade, talvez Peter apenas quisesse um tempo para consolar seu antigo amigo sozinho.

A Barnes olhou para seus documentos já prontos guardados dentro de um envelope na coloração marrom, seu coração palpitava dentro do peito com a ansiedade enquanto esperava a mulher dentro do pequeno escritório. A porta atrás de si se abriu e Grace arrumou-se na cadeira observando Abigail se sentar à sua frente.

— Como está, senhorita Barnes? — A garota apoiou o envelope nas pernas e sorriu pequeno para a moça.

— Estou bem, e a senhora? — A mulher estendeu a mão para ela e Grace lhe entregou o papel marrom, Abigail apenas a respondeu que também estava bem e a garota esperou que ela terminasse de ler seu currículo e os documentos escolares. Barnes começou a cutucar a pele ao redor de seus dedos se perguntando se havia preenchido tudo corretamente ou deixado algo passar. — Todas as suas notas que envolvem Ciências você tirava A+... E igualmente em Matemática.

Grace balançou a cabeça concordando quando a mulher lhe observou por um segundo e depois voltou aos papéis. Talvez ter levado currículos diretamente às Indústrias Oscorp fora uma péssima ideia e se superestimara demais.

— Vou encaminhá-la para o senhor Osborn. — Ela apertara algum tipo de botão que havia em sua mesa e logo a porta atrás de si fora aberta — A senhorita Stacy irá lhe acompanhar.

Grace engoliu uma saliva e suspirou se levantando do local onde estava sentada, a garota se virou olhando para Gwen que esperava por ela. Percebendo somente agora também quem era a pessoa que estava dentro do escritório. Ambas saíram do escritório com a loira fechando a porta atrás delas.

— Não sabia que queria fazer estágio na Oscorp. — Gwen iniciou uma conversa, mesmo que ainda estivesse hesitante quanto a isso.

— Não estava nos planos, na verdade. Mas o ensino médio acabou e eu não tinha planejado nada. — A Barnes deu de ombros e elas continuaram caminhando para o andar de cima.

Grace apenas queria abrir a boca e continuar a trocar palavras com a Stacy ao seu lado, mas parecia que sempre que olhava para a garota loira ao seu lado seu pai estava a acompanhando. Gwen deu duas batidinhas nas portas duplas pretas da sala imensa, chamando a atenção do garoto que parecia ter a idade delas.

— Senhorita Stacy... — Ele cumprimentou — E você deve ser a senhorita Grace Barnes, certo? — Ela iria concordar e assim começar a conversar, se os seus olhos não tivessem se movido centímetros para o lado e avistado Peter parado no local a observando. Ela juntou as sobrancelhas.

— Aqui, vai precisar disso. — Gwen falou enquanto entregava o envelope marrom para ela, que Grace provavelmente teria esquecido dentro do escritório no andar de baixo. — Boa sorte...

A Barnes viu a cabeleira loira se distanciar e limpou a garganta quando percebeu que ficou tempo demais daquela forma, ela se aproximou da mesa do outro garoto e colocou o envelope sobre a mesa assistindo-a abrir. Grace afastou alguns passos olhando para Peter quando chegou ao lado dele.

— O que está fazendo aqui? — Ela lhe perguntou.

— Te disse que viria ver Harry... — A garota reconheceu quem estava a sua frente como Harry Osborn, mas apenas agora.

— Abigail realmente não exagerou quando disse sobre suas notas. — Harry ergueu os olhos para a garota que lhe deu um sorriso, como se agradecesse. — Deixe eu adivinhar, é a sua Grace?

A garota olhou para Peter quando viu que a pergunta fora direcionada à ele, e Grace desanimara por um segundo com o pensamento que, muito provavelmente, se Harry a contratasse seria por ser namorada se Peter e isso era algo que ela não queria.

— Sim, é sim minha namorada. — O Parker contou.

Grace piscou e olhou para o garoto ao seu lado, minha namorada. Era a primeira vez que Peter titulava a relação que eles tinham e isso a fez segurar ao máximo o sorriso que queria sair naquele momento. 

— Peter disse muito sobre você, praticamente as palavras de Abigail mas de uma forma mais elevada. Está contratada, Grace, já ouvi o suficiente sobre você para saber que não vou me arrepender disso.

— Vai dormir lá em casa hoje? — Peter interrogou assim que eles saíram do prédio.

— Não, eu dormi praticamente a semana inteira lá. Sua tia irá me expulsar se eu aparecer de novo hoje, é sua vez de dormir lá em casa. — Grace o puxou pela mão enquanto caminhavam pelas ruas movimentadas do Brooklyn.

— É mais fácil ela me expulsar do que à você, acredite. — O Parker passou o braço ao redor do seu pescoço e beijou o topo de sua cabeça. — Poderia ter me pedido para trazer seu currículo para você.

— Eu não sabia que estaria aqui, não é como se eu estivesse compromissos pelo dia inteiro também... — Grace parou de falar e Peter a olhou.

— O que foi? — Observou as sobrancelhas unidas da garotão seu lado

— Acha que Harry apenas me contratou por ser... sua namorada? — Ele balançou a cabeça negativamente.

— Não, claro que não, Grace. Você tem potencial para conseguir as coisas sozinhas e sem ser por causa do seu título de minha namorada. Eu realmente falei de você para Harry, mas sobre como te conheci e essas coisas, por isso já sabia sobre você.

A Barnes concordo e respirou profundamente desta vez bem mais calma e relaxada do que antes.

— Conversei um pouquinho com a Gwen hoje...

— É? — Ela balançou a cabeça e abraçou a cintura de Peter por completo — Como foi?

— Ela não parece me odiar, acho que já é um avanço. — Grace sorriu sem humor e o Parker apertou seu ombro.

— Isso é óbvio, Bela. Não consigo ver alguém conseguindo te odiar, ainda mais Gwen Stacy. Mesmo que tenha sido necessário, ou ao menos na sua cabeça, foi você quem se afastou.

— Bela? — Ela perguntou com as sobrancelhas juntas.

— É, sabe... Eu estava pensando em como alguns casais sempre tem apelidos e tava pensando em um para ser o seu. Bela combina perfeitamente com você. — O garoto explicou e a Barnes sorriu com os pensamentos que rondavam a cabeça dele quando ela não estava por perto.

— E por quê?

— Lembra de quando ganhou a Tissila? — Grace balançou a cabeça concordando e ficou o observando, mesmo que os pés e pernas de ambos ainda se movimentassem pelas ruas. — Você desmaiou por um tempo e é extremamente viciada em dormir. — Grace abriu a boca.

— Eu não sou extremamente viciada em dormir, eu só estou cansada, por isso ando dormindo muito ultimamente. — Ela explicou e Peter lhe observou por um segundo.

O garoto sabia que ela realmente estava cansada, mas tinha algo por trás de tudo aquilo e ele sabia do que se tratava. A Barnes nunca se deixou levar pelo luto e seus sentimentos, e fases. Mas somente agora tudo isso estava caindo em cima dela e Grace parecia não perceber tal coisa.

— Então... — A garota parou para pensar durante dois segundos inteiros. — Bela seria de "A Bela Adormecida"?

— Isso. — Ela assistiu o Parker sorrir e se inclinar para baixo apenas para abandonar um selinho em seus lábios. — Vou dormir no seu apartamento hoje, tudo bem?

— Claro.

Ambos continuaram andando até o pequeno supermercado que havia naquela esquina, eles compraram algumas pipocas assim como chocolate — por parte de Grace — e refrigerantes. Depois seguiriam para a casa do garoto e almoçariam com May, assim como haviam lhe prometido pela manhã. Sempre era a mesma rotina, ou quase sempre, mas isso não parecia os cansar e estava bem longe disso. A presença de um ao outro sempre relaxava ambos e fazia com que todo o peso do dia simplesmente desaparecesse, e existisse apenas Grace e Peter nos locais. 

🕸️.°• 𝐏𝐄𝐐𝐔𝐄𝐍𝐎 𝐄𝐒𝐏𝐀Ç𝐎 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀 ⤵

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