GRACE FEZ uma cara de nojo ao enxergar um rato perto de seu pé, puxando-o um pouco para o lado ao passarem por ele. O único barulho que existia ali — além deles caminhando — era da água caindo e escorrendo pelo chão mais abaixo. Peter havia a assustado uma vez deslizando uma teia devagar e silenciosamente até seu calcanhar, fazendo o fio branco grudar ali. O que resultou em uma Barnes irritada por odiar levar sustos, e um Parker rindo de sua reação e a abraçando.

Um barulho de toque de celular dispersou a atenção deles, e Grace retirou o celular de sua jaqueta olhando o nome brilhando na tela.

— Onde você tá? — Foi a primeira coisa que Grace escutou da amiga, assim que deslizou o botão verde.

— Estou no esgoto junto com o P... Homem Aranha! — A garota se autocorrigiu rapidamente, e o Parker a observou.

— Conhece o Homem Aranha? — Grace poderia até mesmo dizer que Gwen estava com as sobrancelhas arqueadas se estivesse a assistindo agora. Ela piscou e suspirou.

— Hm, sim? Gwen, eu estou bem, nós dois estamos. Vamos tentar rastrear a lagartixa e acabar com tudo isso, te dou novas informações assim que sairmos daqui... — Peter começou a fazer gestos tentando se comunicar com Grace. Ela juntou as sobrancelhas — O que foi? — Sussurrou, retirando o microfone da boca.

— Preciso falar com a Gwen.

— Não seria mais fácil ter dito isso? — Peter abriu a boca, mas nada saira. — Gwen, ele quer falar com você.

— O quê? Quem? — A Barnes entregou o celular para o Parker e ele logo o pegou.

— Gwen, precisamos do antídoto e como você trabalha com o Doutor Connors, pensei que você pudesse nos ajudar. — Ele explicou.

— Peter? — O garoto arregalou os olhos e coçou-os em seguida. Havia esquecido do fato de sua voz poder ser reconhecida.

— N-não, sem Peter aqui. Apenas o Homem Aranha e a Grace, sua amiga. Sabe preparar o soro? — Peter mudou de assunto o mais rápido que pôde.

— Sim, fazia para o Connor o tempo todo — A voz da loira ainda exalava suspeita.

— Tá, tá, tá... Ótimo. Escuta, eu preciso que você vá até a Oscorp e acesse o arquivo de cruzamento de espécies. É um soro azul. Arquivo 12389. — Grace o observava, ansiosa.

— Tá bem. Entendi. Estou indo. Mas vocês dois têm muita coisa a me contar ainda. — Gwen desligou o celular, e Peter retirou do ouvido entregando para Grace de novo.

— O que houve? Ela descobriu? — A Barnes perguntou assim que guardou o objeto no bolso novamente.

— Não... Eu acho que não... Ou talvez sim. — Peter piscou confuso e movendo a cabeça.

— Aí, Peter. Que confusão... Vamos. Precisamos nos apressar. — Ele concordou com a cabeça e a dupla apressou os passos.

Após algum tempo de caminhada e observações em cada canto, e suspeitando de cada calango que encontravam no caminho (Grace sempre fazendo questão de matar cada um que encontrava), Peter parou ao enxergar um local diferente, fazendo uma curva eles entraram. O Parker ainda fazendo de tudo para manter Grace atrás de si ou pelo menos por perto.

Ele subiu o degrau que era necessário e começou a observar os materiais que haviam ali. A garota subiu logo atrás e engoliu em seco ao ver os soros pela metade em cima de uma mesa.

— Meu Deus... — Grace passou os dedos pelos tubos transparentes e anotações em cadernos. Peter deu play em um vídeo assim que encontrou-o pausado no computador que estava instalado ali.

— Passei minha vida tentando criar um mundo sem fraquezas. Sem excluídos. — A voz do Doutor soou. — Procurei criar um ser humano mais forte, mas isso não existe. Seres humanos são fracos, patéticos, criaturas de mentes fracas. Por que sermos seres humanos quando podemos ser muito mais?

— No meu caso eu não tive muita escolha, amigo. Eu apenas nasci. — Grace murmurou se aproximando do computador.

— Mais fortes! Mais rápidos! Mais espertos! Esse é meu presente para vocês. — Peter se abaixou semicerrando os olhos. Grace o olhou como se perguntasse o que havia acontecido, mas o garoto voltou o vídeo e deu zoom na imagem. A Barnes se abaixou para olhar melhor.

— Olhe... Bem aqui. — Ele colocou o dedo na tela, antes de dar play novamente.

A imagem do Doutor havia sido cortada por causa do zoom e apenas sua voz agora era ouvida. Mas Grace prestou atenção, e então enxergou. Um vulto de cabelos loiros e curtos, seguido de um corpo que olhara para a câmera e logo depois saira rapidamente. Se eles não tivessem prestado atenção, não enxergariam quem estava ali. Mesmo Grace já sabendo, a garota colocou o vídeo em câmera lenta e pausou-o no segundo em que a mulher apareceu.

Caroline. Era ela quem estava ali. E não como prisioneira, mas como ajudante do Doutor Connors.

O mundo ao seu redor parecia estar se fechando cada vez mais, e isso fazia com que todo ar que Grace tinha em seus pulmões fossem roubados de si. Ela havia piscado diversas vezes assim como voltado o vídeo, apenas para ter certeza de que era realmente Caroline ali no vídeo.

Grace se afastou do computador, com os olhos de Peter sobre si. O coração pulando no peito enquanto o suor começava a escorrer pelo seu rosto.

— Grace? — O garoto tentou se aproximar, tocando de leve em seu braço. Mas a garota não conseguia respirar facilmente. Ela puxou o ar com força, olhando ao redor. — Ei...

O Parker se aproximou, preocupado. Mesmo não sabendo o que fazer e muito menos falar para a ajudar. Grace soluçou.

— Respira... Devagar... Me acompanhe.

Ele começou a respirar fundo e quando a garota o observou, ele passou a mão em seu rosto. Grace começou a conseguir puxar o ar aos poucos, os olhos vermelhos por querer chorar mas as lágrimas não caírem. Mas as imagens do vídeo lhe vieram a tona de novo.

— Ela... — A garota soluçou de novo, enquanto uma lágrima caiu. — Confiei nela... — Sua voz saira por um fio.

Peter juntou as sobrancelhas em frustração, e raiva. Raiva de Caroline e pelo Connors.

O Parker passou os braços ao redor das costas de Grace quando os joelhos da garota falharam, as pernas tremendo demais para suportar o próprio peso. Depois passou o outro braço livre pelas pernas da Barnes e a ergueu levando-a até uma cadeira que havia ali.

— Não consigo respirar. — Ela entre abriu os lábios de novo, mas não entrou ar fazendo Grace entrar em desespero por completo. O choro se intensificou.

— Lembra de quando nos conhecemos? — A garota tentou puxar o ar, juntando as sobrancelhas confusa.

— O quê? — Peter pegou ambas as suas mãos se ajoelhando em frente a Grace.

— Nos conhecemos na escola, no seu primeiro dia. — Ele observou-a engolir uma saliva enquanto o observava — Quando encontrou seu armário havia um casal se beijando em frente a ele e ao meu. Se lembra? — Ela balançou a cabeça, concordando. — Eu não conseguia abrir meu armário por causa deles, e quanto tentei o peso deles me esmagou, e aquilo doeu muito. Mas aí você chegou e brigou com eles, como se já estivesse naquela escola desde que havia nascido.

Grace passou a língua nos lábios, ainda tentando entender onde ele queria chegar. Sem ao menos perceber, ela havia parado com a crise e sua respiração estava voltando ao normal.

— Foi a primeira vez que me senti realmente importante naquela escola. Mesmo que você não tenha brigado com eles por minha causa. Depois na minha briga com o Flash, onde minha câmera quebrou. Quando eu ganhei meus poderes. Depois na morte do meu tio... Você também estava lá. Estava lá sempre que eu precisei. — Peter colocou ambos os cotovelos em cada lado das pernas de Grace, onde haviam espaço ali. Juntou as mãos da garota em uma concha as cobrindo com suas próprias, e depositando um selinho ali — Quero que saiba que também estou aqui por você. Independente da situação, sempre estarei aqui.

Grace respirou fundo, sentindo os olhos arderem. Inclinou-se para frente e encostou sua testa na de Peter. Apenas ficando ali por algum tempo, até que tudo voltasse a tona.

— Temos que ir. — Ele concordou e a ajudou a se levantar.

— Quer mesmo ir? Podemos passar no seu apartamento, eu te deixo lá e vou até o Doutor Connors. — O Parker a observou.

— Caroline é problema meu, Peter. Eu quero estar lá e estarei.

Antes de saírem do esgoto, Tissila havia saído para fora e deitado sobre o ombro de Grace como se a confortasse também. Depois sombras voltaram a aparecer, criando um traje. A garota sorriu levantando os braços e observando o collant preto de mangas longas. Suas pernas eram cobertas por um short saia que batia no meio de suas coxas.

Peter havia se afastado para olhar o uniforme de Grace, ela podia jurar ter visto os olhos do garoto brilhar antes dele sorrir e fazer joinhas com as mãos. Por último, uma máscara apareceu na região de seus olhos, tampando pouco mas o suficiente.

— E então? — A garota deu risadinha pequena, com os braços abertos. Depois movimentou os dedos para abrir a tampa do esgoto e Peter se aproximou.

— Tá linda. — Ele a beijou, antes de abaixar a máscara e a segurar pela cintura disparando uma teia para cima, os tirando do buraco.

Peter deixou Grace de pé no chão, e avaliou a situação ao redor. A garota murmurou uma maldição observando tudo.

— Liga para a Gwen e fala pra ela sair da Oscorp. O Lagarto está indo para lá. — O Parker explicou.

— Como sabe disso? — A Barnes indagou enquanto digitava o número da amiga, e colocava o celular no ouvido.

— Estava no vídeo que estávamos assistindo no computador. — Ela não havia percebido, imersa demais em Caroline para perceber isso.

— Oi! — A voz da loira soou do outro lado.

— Onde você está?

— Na Oscorp.

— Saí daí agora, está bem? — Grace ergueu a cabeça quando um som de viatura lhe chamou a atenção.

— Eu estou fazendo o antídoto. — Gwen explicou, confusa.

— Não, não. O Connors está indo para aí, ela está indo para aí agora. Ele precisa do aparelho de dispersão, ele vai infectar a cidade inteira. — Grace leu o que Tissila foi escrevendo no ar, enquanto Peter sinalizava para a Sombra. Mesmo a Barnes não sabendo como a pequena podia entender os gestos confusos do Parker, ela sabia que os dois faziam uma boa dupla.

— Ainda faltam oito minutos. — Grace perdeu o sorriso que ela tinha quando assistira Peter e Tissila baterem as mãos, comemorando.

— Ainda vai esperar oito minutos depois do que eu falei?! — Ela aumentou o tom de voz. — Pessoas vão morrer! Saía daí agora! É uma ordem, tá? — A Barnes sentiu o coração bater contra o peito.

— Eu vou tirar todos daqui.

— Você escutou... — A frase de Grace foi interrompida pelo barulho de ligação finalizada por parte da loira. — Gwen? Gwen? Aí, que garota teimosa. Não acredito... — A Barnes resmungou bufando para o celular quando só recebeu silêncio em troca, Peter a olhava esperando uma resposta. — Ela vai tirar todos da Oscorp, e quer esperar o antídoto ficar pronto.

— O que vocês garotas tem que amam se colocar em perigo, hein?! — O Parker gritou quando Grace concentrou sombras nas mãos e começou a voar, atraindo atenção dos grupos de pessoas que estavam por ali.

Grace respirava fundo, enquanto tentava se auto prometer de que Gwen ficaria bem e que ela não perderia mais ninguém.

Peter soltava teias nos prédios, pulando de um lado para o outro. Em algum momento Tissila saiu para fora e cumprimentou Grace que sorriu para a Sombra. Uma iluminação mas costas do trio chamou atenção da Barnes.

— Renda-se ou iremos atirar! — A garota engoliu uma saliva olhando os helicópteros atrás deles. — Você está cercado, não há como escapar!

— PETER! — Grace gritou por cima do barulho.

— É, EU PERCEBI! — A garota olhou para baixo assistindo soldados empunhando armas em mãos.

A Barnes inclinou a cabeça para o lado, e juntou as sobrancelhas. Quando percebeu eles já haviam começado a atirar. A garota parou de voar rápido, de repente, fazendo ficar mais atrás de Peter assim. As munições de choque começaram acertar o muro, quando Grace e Peter desviavam delas.

Seu interior se contorceu, e um arrepio subiu por suas costas o vento noturno se tornando familiar demais mas também ainda desconhecido. Grace se pôs voar atrás do Parker mais rápido, mas a sensação ruim ainda lhe perseguia então um helicóptero entrou na frente de Peter. Eles haviam virado na rua errada e acabaram enrascados. A Barnes movimentou as mãos mais rápido do que jamais havia conseguido antes, as sombras segurando a munição de choque que estava destinada a acertar o abdômen de Peter.

Mas então, algo chocou contra sua lateral. Uma energia percorrendo seu corpo fora forte demais fazendo Grace destabilizar o vôo e as sombras perderem sua força, simplesmente evaporando. A Barnes soltou um fôlego pelos lábios para então seu corpo começar a cair. Sua visão estava turva, e a luz do farol do helicóptero a cima da garota não ajudou muito.

Seu corpo parecendo queimar de dentro para fora, como se não fosse apenas um choque normal para apenas descordar.

Talvez Peter tivesse gritado seu nome, ela não soube dizer se foi alucinação de sua cabeça pelo choque que havia a acertado ou se havia realmente acontecido. Mas ela assistiu as lentes reflexivas do uniforme de Peter cair em sua direção, enquanto a teia se estendia em direção a ela. Grace lembrou das palavras do garoto mais cedo, e por um instante seu interior se sentiu em paz e bem.

❝ Quero que saiba que também estou aqui por você. Independente da situação, sempre estarei aqui. ❞

Peter estava ali, mas Grace estava em queda livre. Com quilômetros para seu corpo ainda percorrer apontados para o céu norturno. O vento lhe parecia familiar, como todos os outros que a Barnes sempre sentia e agora parecia lhe fazer sentido as sensações.

A garota se permitiu respirar fundo o ar, observar as estrelas e sentir o cheiro da noite. Ela sempre ficava encantada pelo perfume que a noite lhe oferecia, muitas pessoas não entendiam, mas Grace se sentia livre e em paz quando olhava para o céu noturno e respirava o ar puro da noite, com Peter ali na sua frente pareceu completar mais ainda sua casa.

O helicóptero ainda os iluminava e a teia de Peter parecia perto demais de Grace, mas ao mesmo tempo longe. Seus olhos se fecharam e a última lembrança que veio em sua mente fora de Agnes. Porque de repente, o mundo ao seu redor pareceu quieto, e a última frase de sua mãe pareceu lhe sussurrar em seus ouvidos.

🕸️.°• 𝐏𝐄𝐐𝐔𝐄𝐍𝐎 𝐄𝐒𝐏𝐀Ç𝐎 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀 ⤵

∘⋅⋆ ❛ one ▬ oi, bebês como estão? Boa noite à vocês.

∘⋅⋆ ❛ two ▬ O que acharam do capítulo?

∘⋅⋆ ❛ three ▬ Até semana que vem❤️