🕸️ .•° 𝟎𝟔: 𝓒𝐇𝐎𝐂𝐎𝐋𝐀𝐓𝐄 𝓠𝐔𝐄𝐍𝐓𝐄⃤
O SILÊNCIO que circulava pelo cômodo era tranquilo, mas parecia ser pesado de alguma forma. Grace não conseguira pregar os olhos desde que acordada durante a madrugada, após dormir durante duas horas seguidas, a garota acordara com um ruído baixo perto de si. Abrindo os olhos devagar e piscando diversas vezes ela percebeu ser Peter derramando lágrimas novamente.
Não havia muito o que a Barnes pudesse fazer por ele, então, apenas o abraçou mais forte e ficou em silêncio até que o garoto se acalmasse novamente e voltasse a dormir. Mesmo longe de casa Grace pôde sentir o cheiro da fumaça das chamas que queimavam os cômodos pouco a pouco. Respirou fundo várias, e várias vezes, até que estivesse calma mas memórias ainda estavam vivas e com cores ardentes.
Ela escutou May levantando as seis da manhã, provavelmente sem sono também, a mulher havia aberto a porta devagar e colocado apenas alguns centímetros do corpo para dentro do quarto. Grace sorriu sem humor para ela e a Parker mais velha a convidou para a acompanhar no café da manhã, a Barnes — com dificuldade — empurrara o corpo de Peter para o lado, observando se o menino iria acordar. Ela fechou a porta assim que passou por ela e desceu as escadas.
— Bom dia — Grace começou a conversa. May ergueu a cabeça o suficiente para olhá-la e a cumprimentar novamente. — Como sabia que eu estava aqui? — Caminhou até a mulher.
— Não consegui dormir muito, e escutei Peter durante a madrugada. Eu iria até o quarto dele, mas ele calou de repente. E o Peter não é de se acalmar rápido, não se estiver sozinho. Então, eu só liguei uma ponta a outra. — Ela explicou e apontou uma cadeira para Grace.
— A senhora precisa de ajuda? Eu posso fazer o chá enquanto arruma a mesa. — A garota percebeu May abrir a boca, provavelmente para recusar, mas Grace já colocava a água para ferver em uma panela que estava de cabeça para baixo sobre a pia.
— Como dormiu? — A Parker perguntou, o que fez Grace pensar em uma resposta.
— Bem.... — Ela deu um sorriso a mulher que suspeitou.
— Você avisou seus pais de que dormiria aqui? Eles podem estar preocupados. — A garota hesitou.
— Minha... Minha mãe morreu a um mês atrás. — Finalizou a frase em um tom baixo e com um suspiro no final. May ergueu os olhos para Grace, arrependimento brilhava em seus olhos.
— Sinto muito, eu não queria...
— Tudo bem. Não tinha como saber, e a propósito, eu nunca conheci meu pai. Então, não sei nada sobre ele. — Se virou e desligou o fogo. — Onde fica o chá?
— No armário de cima. — A Parker apontou, com os olhos brilhando novamente pelas lágrimas.
Tocar no assunto de morte a deixara sensível, com as lembranças e frases dos policiais lhe acertando com toda a força que possuíam. Nada e nem ninguém conseguiria retirar a dor de perder Ben de May, ou de Peter, Grace sabia disso melhor do que ninguém. E também sabia que máximo que ela poderia fazer, seria abraçá-los e acholhe-los em seus braços.
Tissila não havia saído para fora desde o acontecimento no meio da rua, ela não saira quando Grace havia ficado com Peter, e a Barnes suspeitou por ser as palavras dirigidas a garota momentos atrás. Peter estava com raiva e chateado com algum acontecimento desconhecido por Grace, mesmo que as palavras tenham doído nela, a garota ainda tentava entender o lado do Parker.
Quando May e Grace sentaram-se na mesa, com os chás postos em suas xícaras, Peter desceu as escadas com os olhos recém vermelhos e o corpo parecendo mole. Sua tia se levantou da cadeira com as mãos tremendo, e o abraçou apenas para o garoto a abraçar com força e ambos derramarem mais lágrimas de dor.
Grace fechou a porta do apartamento. Apenas jogara a mochila no chão da sala, e seguiu para a cozinha querendo comer algo. Havia saído da escola a algum tempo atrás, o dia fora movimentado demais novamente para o gosto da Barnes. Os ombros estavam baixos e cabeça parecia que iria explodir pela dor, a expressão que mantinha em seu rosto era caída.
Não existia ninguém com ela ali no apartamento, o que significava ninguém para mandar um sorriso. E isso foi o único motivo que fizera Grace ficar um pouco mais leve. Mesmo que o silêncio que rondava os cômodos poderia parecer assustadores as vezes, agora parecia lhe manter aquecida e relaxada.
Nenhum mísero grito de adolescente, ou confusão que Peter havia causado na escola com Flash. Nenhum diretor gritando com alunos, ou qualquer idiota lhe enchendo a paciência. Apenas o silêncio do apartamento pequeno, que, dessa vez, Grace se permitiu abraçar.
Resgatou uma caixa de leite da geladeira e fechou a porta, derramou o líquido dentro de um copo de vidro e depois o achocolatado, mexendo-o com a colher metálica. Tissila ainda permanecia dentro de si, sem soltar nem um ruído se quer.
Um som eletrônico soou do celular de Grace que o pegou de dentro da jaqueta, se apoiando no balcão e tomando um gole do leite. O alarme estava disparando, com o lembrete do passeio com Gwen no dia seguinte. A semana havia passado tão rápido que nem se quer percebera ser sexta-feira. Ela fechou os olhos suspirando, desligou o alarme e deixou o celular de tela virada para baixo sobre o balcão.
Apenas gostaria de cancelar todos os compromissos que ela havia pelo final de semana, e se trancar assistindo a maratonas de filmes de romances que ela era obcecada com um bom pote de sorvete para a acompanhar. Mas não faria isso, ela sairia com Gwen no sábado
— amanhã — e faria o máximo que pudesse para que fosse agradável, e para que a Stacy não a odiasse. Uma notificação fizera o objeto vibrar, Grace o pegou leu a mensagem que recebera.
Grace sorrira pequeno, desejando voltar a dormir profundamente. Mas tratou de deixar tal pensamento de lado, ela precisava respirar ar puro e talvez esse passeio lhe fizesse mais bem do que ela esperava.
Após terminar e desligar novamente o celular, Grace deslizou as pernas para fora do banquinho e se levantou. Caminhou até o próprio banheiro retirando a roupa pelo caminho, ligou o chuveiro e sentiu a água quente cair sobre seu corpo. Grace respirou fundo. Os olhos ardendo, e o corpo pedindo descanso.
Após finalizar seu banho, a Barnes fechou o registro e se secou. Colocou uma calça de moletom que havia achado no guarda-roupa e sobre o peito penas um cropped. O inverno estava quase chegando por completo, mas as colchas que decorava sua cama seria o suficiente para a aquecer.
Grace se deitou na cama. Puxou o ar com os lábios e passou a mão sobre os olhos. Todas as juntas de seu corpo doíam e pareciam a xingar pelo esforço e falta de descanso. Não demorou muito para ela adormecer. Após quatro segundos inteiros, Tissila ameaçara sair, e se enrolar do lado de Grace mas a sombra se encolheu dentro da garota e apenas ficou ali. Também indisposta para o mundo.
Grace não havia acordado no mesmo dia, estava cansada o suficiente para que conseguisse dormir o resto do dia todo, e isso causou com ela acordado as cinco da manhã de um sábado. A garota piscou, os olhos ardendo pelo sono que parecia não acabar, mas ela estava rolando pela cama tentando adormecer novamente a quase quarenta minutos. Então, a Barnes apenas desistiu. Se levantou e escovou os dentes, e, ao voltar para o quarto ela pegou seu livro de cima do criado mudo.
O sábado estava mais gélido do que o dia anterior, e Grace apenas se encolhera em cima da cama novamente com as cobertas e começou a ler até der algum horário mais tarde. Quando completou todo o livro lido, o horário bateu oito e meia da manhã. Percebendo que não havia como fugir, ela se levantou e se trocou mandando uma mensagem para Gwen no meio do caminho e sendo respondida alguns segundos mais tarde, com a loira lhe avisando que já estava a caminho da cafeteria.
A garota ainda olhava — ás vezes — dentro da própria jaqueta, procurando por Tissila mas sempre obtendo resultados negativos. Grace bufara quando certificou pela uma última vez antes de adentrar a cafeteria, logo avistando os cabelos loiros de Gwen em uma mesa distante. A Barnes caminhou até o local e sorriu para a Stacy, mas seu sorriso logo sumira quando percebeu não ser a garota.
— Caroline? — A mulher ergueu a cabeça, e a olhou com um sorriso.
— Oi, Grace. — A Barnes juntou as sobrancelhas, a respiração falhando.
A última vez que vira a mulher fora no velório de sua mãe, a despedida que ambas dera a Agnes. Grace piscou para tentar afastar as lembranças, que foram inúteis as tentativas.
🕸️.°• 𝐏𝐄𝐐𝐔𝐄𝐍𝐎 𝐄𝐒𝐏𝐀Ç𝐎 𝐃𝐀 𝐀𝐔𝐓𝐎𝐑𝐀 ⤵
∘⋅⋆ ❛ one ▬ oi, bebês. O capítulo seria maior, realmente. Mas acabei tendo uma ideia de última hora, e aqui estamos. Beijos, até semana que vem❤️
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