⎧ 𝟬𝟬𝟰. 𝗦𝗖𝗘𝗡𝗘 𝗙𝗢𝗨𝗥
▍ FOUR
PODERES DE SUPER
ARANHA
𝗝𝗢𝗦𝗛, 𝗡𝗢 𝗙𝗨𝗡𝗗𝗢, 𝗡𝗔𝗢 𝗤𝗨𝗜𝗦 𝗖𝗢𝗡𝗧𝗔𝗥
pra ninguém sobre a picada da aranha, porque ainda tinha a esperança de que acontecesse com ele, o mesmo que nos quadrinhos. Como o bom nerd que era, o loiro já tinha lido diversas vezes sobre o Homem-Aranha, se lembrava de como na infância todos achavam sua história semelhante a dele, até mesmo pelo nome de seus tios. O que devia ser uma baita coincidência, ou obra do destino.
— Viram? Não foi nada. — Josh comentou ao entrarem no carro.
Nour e Krystian o haviam levado ao hospital mais próximo, seus pais já deviam estar preocupados por terem passado da hora de chegarem em suas residências, mas o mais importante naquele instante era ver o Beauchamp bem. E ele estava tecnicamente melhor, não fosse pela temperatura que abaixava abruptamente de forma tão perigosa que o fazia tremer, diferente de antes.
— Eu tô achando tudo isso muito estranho. — Nour fechou a porta do táxi no qual entraram com força, colocando a mão sobre a testa do garoto, levando um completo susto ao senti-lo frio — Josh! Agora você tá gelado! Como puderam te mandar pra casa? Não é possível que não tenham visto nada!
— Isso que dá não tomar vacina da gripe. — Wang apoiou o braço na janela.
— Bobagem! — rebateu — Da última vez que tomei vacina pra gripe, peguei gripe do mesmo jeito...
— Será que foi a AG? Vai ver ele ficou tão em choque por ter conseguido falar com ela que deu nisso! — o asiático começou a rir.
— Tá, que ela é um pouco mimada todo mundo sabe, mas daí culpá-la pela situação do Josh já é um pouco demais! Você não acha? — o beliscou.
— Eu tô legal, galera! É sério... — Josh suspirou.
— Com licença, mas, qual é o destino? — o motorista perguntou, impaciente.
— Ah, só um minuto — a morena vasculhou o mapa do celular para marcar as coordenadas — É esse aqui...
E por fim, o entregou.
Minutos mais tarde, centenas de rodovias depois, tendo passado por diversos semáforos, os jovens finalmente chegaram ao seu destino previsto. Josh morava em um apartamento simples no subúrbio de Nova York, e naquele dia, sua tia já o aguardava no sofá, angustiada, rezando incansávelmente, perdendo a conta de quantas orações já havia feito. A televisão ligada num volume audível, desejando que a foto do garoto não aparecesse ali, ela repetia em pensamento para que o loiro chegasse em segurança, até que a campainha finalmente tocou, interrompendo seu sofrimento. Abriu a porta, depois de uma curta corrida e quando deu de cara com o sobrinho, sentiu vontade de gritar.
— ATÉ QUE ENFIM! — May o puxou para um abraço, se tranquilizando, mas não por muito tempo, ao depositar um beijo na sua bochecha e perceber o quão gelado e pálido ele estava — Mas o que foi que aconteceu? Você tá frio! Bateram em você? Como foi que...
— A gente também não sabe... — Krystian comentou da porta.
A mulher então se voltou para os dois, ela ainda parecia meio atordoada com a situação que até esqueceu que o sobrinho havia chegado acompanhado.
— A gente levou ele no hospital. Os médicos receitaram um antibiótico que a senhora deve ter, olha, tá aqui a receita... — Nour tentou acalmá-la, retirando o papel de seu bolso.
— Hospital?... Obrigada, querida! Ele tá ferido?!
— Não. — a jovem repetiu — Achamos que possa ser uma gripe, talvez um pouco mais forte...
— Eu tô bem, tia! — Beauchamp tentava esconder os lábios já praticamente roxos que tremiam, colidindo um contra o outro.
Mas é claro que ele não estava, precisava parar de repetir aquilo para si mesmo. Talvez se contasse a verdade, mas Josh sempre foi teimoso como uma pedra.
— Olha, tia May, se não se importa, precisamos ir agora, já ta ficando tarde, nossas mães devem estar super preocupadas... — Wang interrompeu.
— Não, claro! Eu não quero tomar o tempo de vocês. Inclusive, quero agradecer por terem o levado até o hospital. Se quiserem ligar daqui de casa, fiquem a vontade...
— Não, não. A gente agradece, na verdade devíamos ter telefonado do hospital, mas ficamos tão nervosos que acabamos esquecendo. Só não se preocupe, "para a cada um passo, andamos um quarteirão", somos rápidos, num piscar de olhos estaremos em casa. — respondeu Krys.
— Tudo bem. Então, precisam de ajuda pra pagar um táxi? Qualquer coisa, não posso deixar vocês irem sozinhos...
— Tia, May, tá tudo bem, sério. — Nour segurou em suas mãos, ninguém ousava contrariar aquele rostinho tão doce — Muito obrigada! Mas tem uma coisa que você pode fazer por nós... Promete que se ele melhorar, amanhã você liga pra gente?
— Ah, claro que sim, querida. — May a abraçou, sempre sonhou em ter uma filha, mas nunca pode.
— Ah, Nour... Ei, Nour!... — o loiro surgiu logo atrás com sua câmera, se apoiava nos objetos pra chegar até a garota — Fica com a câmera, se eu não puder ir amanhã, vocês apresentam o trabalho.
— Ok, só... Fica bem, tá Josh? — Ardakani o puxou para um abraço.
Depois o asiático apertou sua mão e, assim se despediram.
— Tchau, meus amores... Tomem cuidado! — ela sinalizou com os dedos, enquanto eles pegavam um elevador.
Beauchamp sentou-se no sofá da sala, para descansar e puxar o ar cada vez mais fraco em seus pulmões. Havia um comercial bastante irônico passando na televisão, algo sobre picadas de cobra, e como nesse caso, o atendimento deve ser sempre imediato. Mas ele ignorou aquilo, já se levantando, pronto pra ir pro seu quarto.
— Ah, Josh! O que tem na cabeça? Vai me dizer o que tá acontecendo? Você não é de ficar doente assim...
— Foi a garoa de hoje mais cedo, eu vou pro meu quarto, amanhã vai ser um dia melhor.
— Tá, tudo bem... — ela suspirou — Mas não tranque a porta, vou levar seu remédio daqui a pouco!
Não foi muito tempo depois que Josh caiu na cama, seu corpo tão pesado como nunca esteve antes. Tia May logo apareceu na porta, trazendo os medicamentos que ele precisava tomar, e mesmo contra a vontade, o loiro os tomou. O que não faria qualquer diferença naquele momento. Seu sangue já estava contaminado pelo veneno, suas veias cada vez mais se apertavam contra sua pele. Ele apagou num instante, depois de sua tia deixar o quarto, foi como entrar num sono profundo. Tudo o que se lembrava era de sentir um grande arrepio em sua espinha dorsal e de sua respiração ter ficado mais leve que as plumas de seu travesseiro, seu rosto pesou contra o mesmo e, seus lábios se entreabriram. Ele ainda não havia ido por completo, de alguma maneira estava escrito que o menino não encontraria a morte naquela hora, mas, se visse cada célula de seu corpo se transformando...
Se modificando a cada segundo, nunca haviam parado de se movimentar desde o instante em que Josh foi mordido. Foram horas até que o mesmo recobrasse os sentidos, ele se remexia em seu leito, porque no fundo sentia a dor passear por seu corpo, seu subconsciente mandava coordenadas para seus nervos. Mas de repente, os dedos roxos foram engolidos por células vermelhas, que voltavam aos poucos para tomar conta de seu organismo. As bochechas se ruborizaram como quando ficava completamente envergonhado e a respiração retornou alta como um ronco. Seu cérebro reatou a consciência, seus pelos completamente ouriçados, pulavam sobre sua pele.
Os olhos claros, fixaram-se diante da única janela do quarto. Não precisavam dos óculos para enxergarem os detalhes, agora tudo ao redor era nítido para o Beauchamp admirar sem eles. Chacoalhou a cabeça achando estar louco ou dentro de um novo sonho, mas ao saltar da cama, sentiu uma clara mudança: sua coluna não estalou, seus pés não se curvaram calmamente, ele realmente pulou à uma distância de um passo de onde dormia, mas tudo o que se lembrava de ter feito, foi de ter empurrado seu corpo para fora, como em todas as manhãs. Porém ainda não estava compreensível, devia ser por volta de umas quatro horas da madrugada, Josh caminhou e encarou seu reflexo contra o espelho. Algo havia mudado ali, entre seu semblante ou em seu espírito.
E já que estava totalmente louco, por bem, precisava ir até o final. Se vestiu o mais rápido que pode, respirou acelerado, não se sentia fraco, um perdedor como sempre o chamavam, também não estava mais gelado como antes. No fundo, o garoto teve certeza de que o que havia planejado tinha dado mais do que certo, seu corpo tinha reagido da melhor forma. Por mais insano que parecesse, precisava ignorar qualquer explicação racional. Sentiu o vento lhe puxando para fora, colocou os pés na varanda. Ele havia organizado uma mochila, a qual carregava em suas costas. Estava vivo, aquela certeza foi suficiente para a adrenalina lhe empurrar a uma aventura noturna.
A qual nunca experimentara antes. Desceu as escadas laterais do apartamento e correu discretamente pelas calçadas já vazias, no máximo, alguns marginais em outra esquina faziam arrastões ou causavam truculências, mas o loiro se certificou que não trombaria com os mesmos, uma pacífica viatura circulava pelas áreas e os moradores de rua, ainda tentavam se aquecer em seus papelões e dormirem ali. Josh não queria olhar pro chão, havia algo o puxando até as nuvens. Encontrou um beco que, por sorte, estava vazio e então saltou sobre o muro na divisa, não encontrando qualquer dificuldade, foi estranho a princípio, ele observou o cimento e se surpreendeu com sua força ao se ver distante do chão. Mas um pouco e, se esforçando para escalar ao lado de um cano que o levaria até o topo do prédio ao lado, percebeu que seus dedos se grudavam as paredes, de modo que mesmo suspenso, se corresse de maneira rápida, não cairia contra as latas de lixo ao canto.
Um passo por vez, até que finalmente pode saltar no térreo. A vista da Grande Maçã dali de cima era incrível, Beauchamp sentiu vontade de chorar, mas se concentrou, era tanta liberdade circulando por suas veias, como nunca sentira alguma vez antes. Deitou a mochila contra o concreto e caminhou até a beira do prédio. Ainda em pé, olhou para seus dedos, com medo e sem saber se de fato conseguiria fazer aquilo, o garoto esticou o braço e os impulsionou.
— Vai teia! — sussurrou.
Mas nada aconteceu, talvez estivesse esperando demais, então se deu conta de como parecia absurda a ideia. Fechou os dedos, Josh respirou fundo, sacudiu a cabeça e tentou de novo. Impulsionou os braços pra frente e, ergueu os dedos, redisse a frase engraçada e patética, até que um fio branco saltou das veias de seu pulso e se grudou ao poste. Seus olhos se arregalaram, ele havia feito aquilo mesmo? Como se fosse uma aranha? Como se fosse o Homem-Aranha? Caramba!, pensou. Tava acontecendo, como devia ser ou, como havia planejado. Puxou o que achava ser a teia suspensa e ela não se soltou, testou para se certificar de que estava realmente firme, então impulsionou seu corpo para trás.
Se era mesmo um sonho, caso caísse e se arrebentasse no asfalto, acordaria intacto. Ele precisava tentar, correu o mais rápido que pode, se lançando em direção ao outro prédio, a corda não despencou, ela o aguentou firme, um tanto desajeitado, sentiu seu coração voar ao ritmo. Mesmo escorando levemente no prédio a sua frente, para o qual havia passado, ele conseguiu pular e flutuar em sua teia como cipó, alcançando seu objetivo. Depois subiu no novo térreo com o coração pulsando forte. A dor em suas mãos não deixava mentir, com certeza tudo ali era real. Estava acontecendo com ele. Mas por que comigo?, se questionou. Ninguém tinha a resposta exata, no entanto, não teria acontecido com qualquer um.
Provavelmente todos para quem contasse jamais acreditariam nele, mas era mais seguro mesmo que ninguém ficasse sabendo. Dali de cima comemorou em pensamento, querendo gritar sua descoberta pro mundo. Sua felicidade escancarada, a qual não durou muito tempo. Seu corpo sentiu, seus ouvidos se atentaram ao alarme do banco soando incansávelmente, não estava tão longe e mesmo que estivesse, ainda conseguiria ver. Um grupo de ladrões saindo pela porta. De repente, lhe passou pela cabeça que aquela era a oportunidade perfeita. A oportunidade de fazer algo pelas pessoas, como sempre quis.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro