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hippies, galeria vermelha e spike

Shoreditch era muito. A casa do hipsterismo, o berço de mil barbas espessas e talvez uma vítima urbana do seu sucesso comercial. Era um ciclo familiar: um bairro negligenciado do centro da cidade, colonizado por artistas, onde uma cultura de café floresceu e novos negócios se estabeleceram, depois que os aluguéis aumentaram e os habitantes originais que deram o caráter ao local foram expulsos da área, enquanto os mais teimosos permaneceram.

Naquela semana estranha no fim do inverno londrino, Charlotte viu o fechamento da Red Gallery, o espaço de eventos idiossincrático, e de seu estabelecimento irmão, o local pop-up de comida e música simbolicamente intitulado Last Days of Shoreditch. Eles seriam liberados para a construção de um hotel de 18 andares com mais de trezentos quartos para uma rede de luxo que pertencia a um grupo multinacional. Observando a Red Gallery fechar, Charlotte agarrou-se à sua casa mais do que nunca e suspirou profundamente ao pensar em quão perto a expansão ela estava, a demolição e a construção haviam chegado ao lado sua pequena loja de discos.

Ao contrário do que acontecia no passado, nas ruas de Shoreditch e nas proximidades de Hoxton, já era difícil encontrar muitos groovers de jeans skinny chorando em suas roupas brancas. O lugar ainda estava cheio de energia, claro, ou pelo menos havia muitos jovens atraentes vagando de bar em café, em boutique e vice-versa, mas não parecia o mesmo de anos atrás.

Quando os pais de Charlotte trabalharam lá no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, era uma espécie de deserto cultural e culinário. Naquela época, apenas um raver que estivesse mergulhado em êxtase demais teria previsto que a área abrigaria uma loja Versace, como aconteceu na Redchurch Street. Havia apenas alguns cafés gordurosos, um pub meio decente e um lava-rápido (que ainda estava lá). Basicamente era isso o entretenimento diurno. À noite, havia o Bass Clef, um espaço de jazz surpreendentemente sofisticado para a época (servia comida!) que parecia ter vindo de outro universo.

Naquela época, artistas e fotógrafos já haviam se mudado para os ateliês desocupados com a saída das empresas têxteis e de alfaiataria. Em 1993, um grupo de jovens artistas britânicos, incluindo Tracey Emin, Gavin Turk e Gillian Wearing, participaram de uma festa pior que a morte em Shoreditch, onde venderam os seus produtos em barracas, como se estivessem numa celebração de uma aldeia distante.

Mas foi isso. Shoreditch era famosa pelos seus jovens artistas residentes britânicos, e havia quem alugasse espaços para raves ilegais em armazéns de fotógrafos, ou por vezes simplesmente invadia espaços vazios. Era difícil para muitos pensar naqueles tempos, porque eles se foram para sempre. Esse tipo de nervosismo tinha pouco lugar numa área agora próspera e cada vez mais rica, onde famílias inteiras andavam com as suas Gucci, Prada e Dior. Havia versões irônicas e sofisticadas de um submundo furtivo, onde a clientela tinha que digitar uma senha ou passar pela porta de um guarda-roupa para entrar em bares de coquetéis artisticamente escondidos. Mas seria errado olhar para trás com muita nostalgia. Não só era difícil comprar coisas básicas como meio litro de leite, como havia muito poucas lojas locais e a área também era famosa pela sua política de extrema direita. A sede da Frente Nacional ficava na Great Eastern Street até o início dos anos 1980. Naquela época, os pubs locais nem sempre eram acolhedores.

Havia uma enorme comunidade branca e havia evidências de fascistas frequentando bares. Mas vários fatores ajudaram a transformar Shoreditch. A política de extrema direita foi derrotada e a decisão do conselho de Westminster, na virada do século, de restringir os pubs no Soho e Covent Garden ajudou a criar a necessidade de um novo conjunto habitacional. Todos os futuros proprietários de bares seguiram para o leste. Com isso, os pais de Charlotte seguiram para o norte.

Com um bairro antigo, mas agora totalmente remodelado; com suas lojas caras e gente rica, talvez não parecesse o lugar certo para Charlotte, que mal tinha certeza se pagaria as contas do mês seguinte, mas ela tinha passado parte da infância em Shoreditch, e voltou para lá quando pisou na faculdade. Com um diploma que não ajudava muito, ela tinha uma loja de discos e um apartamento não tão grande em Brick Lane, com uma vista perfeita da cidade do terraço.

Brick Lane tinha um mercado nos fins de semana que vendia todas as frutas e vegetais conhecidos pelo ser humano. O estúdio de tatuagem, com centenas de caras confusos que sempre acabavam lá depois de noites agitadas nos bares. Era difícil esquecer o salão de beleza que fazia todo mundo parecer o Cookie Monster da Vila Sésamo, além dos milhares de pessoas comprando antiguidades, algumas genuínas, como vasos chineses com inscrições antigas, mas outras nem tanto, como o vitral que carregava os personagens de desenhos infantis antigos.

O melhor de tudo talvez fosse o fato de que muitos dos amigos de Charlotte acabaram naquela parte de Londres, como por exemplo Matt, um arquiteto que virou chef de cozinha e investiu todo o dinheiro que ele tinha guardado em um restaurante italiano.

Então, ali estava Charlotte passando seus dias. Naquele bairro no meio da cidade, agitado, em uma casa com a porta vermelha que ela e a ex-esposa tinham comprado juntas. Claro, isso antes que ela a deixasse por um homem que parecia muito como o Tom Cruise quando mais novo, talvez um pouco mais alto e definitivamente menos esquisito. Com sua esposa indo embora, Charltote agora dividia o mesmo apartamento com um cara estranho de nome Spike. Na verdade, Spike era um apelido, porque ele se chamava Cian. Spike foi algo que surgiu durante a época da faculdade, quando Cian ainda estudava em Trinity, e apenas ficou. Ele não se importava, o contrário disso, preferia.

— Spike! — Charlotte chegou em casa. Em um apartamento pequeno cheio de coisas, definitivamente bagunçado e com certeza um apartamento de duas pessoas solteiras.

Cian surgiu no andar de cima. Ele tinha um cabelo desajeitado, cortado em um penteado que parecia já desaparecer, a barba crescia falhada enquanto o bigode se destacava, e carregava um sotaque irlandês tão puxado que às vezes parecia difícil entender o que falava. Cian não era um homem comum, apesar de ser um rosto branco de cabelo escuro e olhos claros, ele tinha um estilo que se estendia por todos os lados. Naquele dia estava usando apenas shorts, uma peça rosa minúscula toda cheia de pequenos patinhos amarelos, enquanto mantinha o torso descoberto.

A coisa sobre Spike e Charlotte morarem juntos era, na verdade, bem inusitada. Eles se conheceram em um pub, o The Mayflower, que ficava na Rotherhithe Street. Cian havia acabado de chegar em Londres, já na cidade por algumas semanas, saindo de Dublin, foi para Londres buscando novas oportunidades no mercado publicitário. Ele tinha uma formação, algumas malas e duas ou três ideias, além do pouco dinheiro que tinha guardado pelos anos de graduação, trabalhando perto do Trinity.

Três anos antes, quando Spike entrou naquele pub, Charlotte havia acabado de ser trocada por uma versão mais nova de Tom Cruise, e Spike estava vivendo em um apartamento com dois russos que, segundo ele, eram suspeitos demais para não estarem envolvidos em, no mínimo, tráfico de drogas. No primeiro "encontro" entre os dois, eles ficaram horas conversando, e Charlotte contou sobre o que estava fazendo e o que tinha acontecido. Spike deu uma biografia completa de si mesmo e a próxima coisa que a inglesa se lembrava era como eles estavam chegando na casa dela, cheios de malas. Três anos depois e eles ainda viviam juntos, no apartamento de tijolos brancos e porta vermelha.

— Ei, você pode me ajudar com uma decisão extremamente importante? — Spike perguntou parando no fim da escada, usando apenas uma cueca e com o cabelo extremamente bem penteado. Charlotte sabia que ele tinha um compromisso naquele dia.

Spike chegou animado na tarde anterior, falando sobre como tinha conhecido essa garota no trabalho. Eles tinham se entendido bem, e sem realmente esperar ele a chamou para um encontro. A resposta positiva o pegou de surpresa, e sobre isso ele foi honesto. Agora havia um encontro prestes a acontecer e um Spike mais nervoso que o normal.

— Com "extremamente importante" você quer dizer no nível de "aquecimento global"? — Charlotte falou alcançando para si um copo limpo e o enchendo com água.

— Exatamente, Lottie! — ele concordou, respirou fundo e continuou o que conversava — Eu vou me encontrar com a Jane e quero ter certeza de que vou estar usando a camisa certa.

— E quais são as opções?

— Bem... — Spike começou a subir as escadas — Espere aí — ele desapareceu no andar de cima e logo voltou vestindo uma camisa branca. O homem abriu os braços, mostrando a estampa melhor — Tem essa.

A camisa era branca, com um horrível alienígena de plástico saindo do meio dela, os dentes à mostra, sangue por todo lado e com letras gigantes dizendo "Eu amo sangue". Parecia bem como o tipo de coisa que se usava brincando, uma fantasia estúpida, e não o tipo de roupa que se cogitaria para um encontro.

— Ok... — Charlotte encarou bem a camisa assustadora. Ela suspirou, tentando formular o que diria enquanto também organizava o próprio pensamento sobre o que sentia vendo aquilo — Talvez seja difícil você conseguir um clima romântico usando isso

— Bom argumento — Spike aceitou, fácil assim. Ele balançou a cabeça e voltou a subir as escadas, para a descer segundos depois, quase tropecando no próprio pé enquanto passava o torso pelo tecido azul — Acho que você vai gostar mais disso.

Usando uma camisa azul, havia essa seta apontando para baixo e em cima letras enormes em que se lia "Chegue até aqui!". Era obviamente a conotação errada, ou certa - dependia bem sobre o que ele planejava - e Charlotte revirou os olhos levando o copo com água até sua boca. Ela sentiu o líquido em temperatura ambiente descendo de maneira leve, foi quando balançou a cabeça negando.

— Jane talvez pense que você não está interessado em amor e romance mas sim em...Outras coisas. E eu não estou dizendo que isso é ruim, mas como você sabe...

— Eu não quero isso! — Spike disse, em uma resposta tão rápida que parecia exasperado. Ele subiu as escadas, mas sua voz preencheu o espaço antes mesmo que um minuto se completasse — Só mais uma...

Descendo os degraus da escada, dessa vez ele chegou no fim dela e indicou para si mesmo. Usando uma camisa cheia de corações vermelhos com letras fofinhas dizendo "Você é a mulher mais bonita desse mundo!". Parecia muito bom, talvez um pouco demais para um encontro, mas definitivamente melhor do que todas as outras opções, e com isso Charlotte não teve dúvidas. Ela acenou positivamente, e foi apoiando o copo de água, já vazio, na pia, que fez um sinal positivo com confiança.

— É perfeito!

— Obrigado! — ele falou e sorriu — Tenho alguns minutos ainda, você acha que devo usar uma bermuda ou uma calça?

— Você está indo aonde?

— Em um pub às margens do Tâmisa.

— Bem, acho que calça é sempre uma opção — ela deu de ombros — De qualquer maneira, boa sorte, cara!

Spike agradeceu. No tempo que fez isso ele também se virou e levantou o pé, voltando a subir as escadas. Charlotte forçou a própria vista e inclinou a cabeça um pouco, apenas para ler, em letras médias, a frase "Vamos fazer sexo?" na parte de trás da camiseta de Spike, como o completamento para a afirmação inicial na frente do tecido.

Claro. Ela poderia ter dito qualquer coisa, porque aquela camisa já não parecia a melhor escolha para um encontro que tinha pretensão de se tornar algo mais, só que, honestamente, aquilo parecia ser a energia certa para Spike. Era bem como uma boa história que ele contaria assim que tudo acabasse. 

Jane poderia amar, Charlotte só não tinha certeza se ela o faria.

*

Taylor saiu de Nashville, depois de algum tempo na casa da mãe, em direção a Londres. Joe estava se mudando, saindo do apartamento em Crouch End para a casa nova em Hampstead, e ela deveria o ajudar no início de tudo. Não era a primeira casa dos dois juntos, porque na verdade o investimento era total de Joe, mas Taylor manteria suas coisas por ali e tinha plena consciência disso. O namorando, ela se dividia entre Londres, Nashville, Los Angeles e Nova York. Claro, na maior parte do tempo, com Joe gravando, eles estavam nos Estados Unidos, mas dois anos antes, depois de quase quatro meses nos Los Angeles, por conta da pandemia, eles então se estabeleceram por um bom tempo em Londres, isso antes de Joe precisar voar para trabalhar no Panamá.

Agora Taylor imaginava que passaria algumas semanas em Londres, antes que voasse de volta para Nova York, e então Joe seguiria seu próprio caminho para Wicklow, na Irlanda. Ele gravando sua nova série, e ela regravando sua discografia.

Naquela manhã, Taylor acordou assim que seu avião pousou em Heathrow. Ela suspirou cansada, e voltou a fechar os olhos pensando em como logo estaria se enfiando de baixo de um guarda-chuva para que ninguém tivesse a mínima visão dela saindo do avião e entrando no carro. Não havia problema em ser vista em Londres, porque as pessoas sabiam que namorando Joe, ela passava muito tempo na cidade, mas ainda assim Taylor gostava de manter tudo o mais normal possível. Ela e Joe mal eram vistos, e isso era um ponto importante da relação deles. Importante porque Joe odiava exposição, e Taylor estava apenas tentando fazer feliz. Quem não a acompanhava, talvez pensasse que nem mesmo namorando ela estava.

Mas isso era muito do que ela estava sempre fazendo. Sempre tentando manter-se confortável nesse relacionamento, porque a vida dela era uma bagunça, e Joe parecia ser a única pessoa disposta a enfrentá-la. Conhecendo ela quando o mundo a odiava, Taylor não conseguia pensar como o contrário do fato de que devia algo para Joe. Ele era gentil, e continuava sendo. Era compreensivo, e continuava sendo. Eles tinham seus problemas, mas ela tentava não olhar tão diretamente para isso. Quase seis anos juntos, Taylor queria mesmo acreditar que independente de tudo, Joe era a pessoa com quem ficaria pelo resto da vida.

Os relacionamentos anteriores delas foram expostos. Não era questão de escolha, ou imagem. Taylor tinha se acostumado a agir daquela maneira e, honestamente, não se importava, mas então 2016 a acertou em cheio e aí tudo parecia muito difícil. Começar a relação com Joe foi também mergulhar em uma vida menos caótica e aprender que era possível se manter em uma relação sem que todas as partes dela fossem compartilhadas.

— Estamos indo direto para o novo endereço? — George, o segurança de Taylor, perguntou. Ele estava com a direção no GPS, no banco do passageiro, enquanto o motorista esperava apenas a confirmação para que pudesse sair.

Taylor queria dizer que estava indo para um hotel como alternativa antes que pudesse encarar Joe, mas ele estranharia isso e ela não estava tentando criar suspeitas sobre como estava cansada nas últimas semanas. Não havia um problema maior, na verdade, ela apenas sabia como a atenção de Joe estaria por todos os lados e não estava querendo lidar com isso. Ou talvez fosse o que estivesse se forçando a pensar, enquanto evitava olhar de maneira direta para o que a incomodava.

— Sim, estamos — ela respondeu.

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