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cds, suco de laranja e beijo

Era apenas mais uma quarta-feira comum, pelo menos foi o que Charlotte pensou enquanto caminhava pelo mercado ao longo da rua a caminho do trabalho. Seu trabalho não era o mais difícil do mundo. Ela vendia discos. Claro que não era seu plano de vida, pelo menos não inicialmente, mas com a escassez de empregos no mercado e a ideia de que não poderia ficar parada, Charlotte pegou dinheiro emprestado com Bernie, um de seus melhores amigos de escola, e abriu uma pequena loja de discos em Shoreditch. A ideia dos discos surgiu porque era o negócio mais barato em que ela poderia investir na época. A fachada da pequena loja era simples, mas absurdamente vermelha. A especialidade eram discos antigos, mas havia uma série de projetos novos. Charlotte tentava não cobrar muito por eles, mas tinha raridades e custavam muito caro. Sendo uma loja de discos, poderia parecer o negócio perfeito, porque sempre haveria demanda, mas o que mais havia em Shoreditch eram lojas de discos, com uma surgindo em cada nova rua nos últimos anos.

Charlotte entrou na loja vendo o caos de sempre, prateleiras de discos espalhadas pela lojinha, algumas prateleiras bagunçadas e mesas com ainda mais discos e até CDs compactos. Martin já estava na loja, esperando entusiasmado. Ele era uma criatura estranha e extremamente otimista, trabalhando na loja pela manhã e num café na esquina da Brick Lane à tarde.

A garota sentou-se na cadeira atrás do caixa e ficou de frente para Martin que segurava o livro de despesas. Ele entregou-lhe os papéis e Charlotte suspirou vendo o de sempre, antes mesmo de olhar a página completa. Não havia novidades e eles ainda gastavam muito, talvez não mais do que ganhavam, mas o suficiente para que não sobrasse nada de reserva além das despesas.

– Clássico. Lucro de vendas menos 947 libras... — disse ela — Achei que tínhamos feito melhor este mês.

— Devo comprar um cappuccino? — perguntou Martin, tentando equilibrar o clima — Para amenizar a dor das despesas — o garoto deu de ombros.

— Claro — Charlotte concordou — Mas me traga meio cappuccino, porque aparentemente é tudo que posso pagar.

— Não tenho ideia se é uma piada ou não porque pode até ser verdade — ele brincou, e Charlotte riu um pouco — Enfim, um cappuccino chegando. Ah, Phil está na sala dos fundos, ele disse que estava procurando um CD do Pearl Jam, mas você sabe...

Charlotte sabia. Phil era um homem estranho que estava sempre indo e vindo, com um histórico complicado de pequenos furtos. Na maioria das vezes, Charlotte não se importava. Ele pegou CDs antigos e eles continuaram com isso, mas nos últimos meses ela parecia muito mais intolerante com a situação.

Martin acenou uma última vez e saiu em direção à rua, desaparecendo da vista de Charlotte. A porta que ele abriu e fechou se abriu novamente, e então Charlotte rapidamente olhou para a pessoa que passava com passos medidos. Ela era uma mulher, com moletom e capuz cobrindo os cabelos, óculos escuros, ainda usando máscara facial, embora isso não fosse mais obrigatório.

— Posso te ajudar? — Charlotte perguntou, de onde ela estava. A distância era considerável e ela estava sentada atrás do balcão, apoiando as mãos na superfície de madeira. A garota do outro lado olhou para ela e sorriu gentilmente, mas Charlotte mal pôde ver, por conta da máscara e dos óculos. Pelo menos não até que a garota tirasse os óculos e o mantivesse nas mãos.

Seus olhos eram tão azuis que por um momento Charlotte perdeu parte da ideia que tinha. Ela perguntaria o que a garota estava procurando, mas se esqueceu completamente. Jeans escuros, tênis Nike brancos e uma jaqueta preta sobrepondo a camisa branca. Olhando de perto, Charlotte poderia até dizer que a conhecia. Ela era familiar, de uma forma estranha.

— Não, obrigada. Estou apenas olhando.

— Ok — a inglesa sorriu e encolheu os ombros, abaixando o olhar e focando nos papéis à sua frente.

A garota continuou andando pela loja e, pelo canto do olho, Charlotte a observou. A inglesa tentava esconder que o fazia, mas também estava claramente falhando. A garota parou em frente a uma estante e pegou um dos discos de uma antiga cantora que cantava em turco.

— Hm, esse disco é realmente muito ruim — disse Charlotte — Só para o caso de você... não sei, estar pensando em comprá-lo. Seria dinheiro desperdiçado.

— Sério? — ela a olhou e a inglesa assentiu. Pensando, ela murmurou para si mesma algo como "Que porra estou fazendo?", porque realmente, ela não deveria estar apontando se o disco era ruim ou não. Mais do que nunca, ela precisava vender todos aqueles discos, independentemente de quais ou para quem.

— Sim, mas este aqui é muito bom — disse Charlotte, pegando um disco que estava sobre a mesa atrás dela, jogado entre mais papéis, um telefone fixo e um pequeno laptop — Acho que o cara que gravou era na verdade turco, diferente dessa outra mulher, o que ajuda muito. Ah, e ele canta sobre muitas coisas, sabe... É legal!

— Obrigada pela sugestão, vou pensar nisso — disse a garota e Charlotte estava prestes a dizer mais alguma coisa quando parou e desviou o olhar, pelas imagens das câmeras na tela do computador, na tela de monitoramente, muito pequena, ela viu uma operação estranha no outro cômodo, onde os discos mais antigos e todos os cd's ficaram. Onde Phil tinha se enfiado.

— Ei... Se você puder me dar licença — Charlotte falou se levantando e seguindo em direção ao outro cômodo. Phil estava lá, usando calças de moletom e uma camisa larga dos Rolling Stones — Hm, licença.

— Sim... — ele a olhou parecendo nervoso. Os dois tinham passado por aquilo repetidas vezes, e ainda assim era sempre uma experiência.

— Tenho uma notícia ruim.

— Qual? — Phil perguntou. Ele coçou a própria nuca e bagunçou os cabelos.

— Tem câmeras de segurança em cada canto dessa loja, inclusive uma bem ali — Charlotte mencionou, apontando para a câmera logo acima, que pegou Phil de maneira direta. Ele a encarou, e suspirou cansado.

—E...? — o mais velho desconversou.

— E que eu vi você colocar o cd na sua calça. E, você sabe, por algum tempo eu realmente não me importava, mas já conversamos sobre isso, Phil.

— Eu sei que conversamos, mas não sei sobre o que você está falando — ele tentou se fazer de desentendido — CD? Que CD?

— O que está na sua calça — ela reiterou.

— Eu não tenho um cd na minha calça — ele deu de ombros — Nem faz sentido.

Suspirando de maneira pesada, Charlotte também revirou os olhos. Ela contornou a situação e contou até cinco, dentro da própria mente, lançando uma orientação na direção de Phil sem ânimo algum.

— Certo... Olha, temos um impasse aqui e eu vou te dizer apenas uma coisa: Vou chamar a polícia e... Ei, o que posso dizer? Se eu estiver errada sobre toda a questão do CD na sua calça, então não vou me importar em me desculpar.

— Ok — Phil suspirou e olhou para a garota de modo estranho — E se eu estiver mesmo com um CD na minha calça?

— Bem, então eu vou voltar pra minha mesa e enquanto faço isso você tira o CD da sua calça e devolve a estante ou então leva até o caixa e compre o CD — ela falou, simplificando o que podia. Não deveria ser difícil — Te vejo em um segundo!

Voltando para a mesa, ainda a tempo de ver Phil pelas câmeras, Charlotte suspira. Ele tirou o CD da calça e o devolveu em meio a arrumação de outros CD's em uma estante. Phil ainda olhou para os lados, como se procurasse algo, e quando seu olhar encontrou a câmera, parecendo ter ideia de que estava, com muita certeza, sendo visto, o mais velho acenou e sorriu. Charlotte balançou a cabeça, revirando os olhos.

Ali ainda estava a garota de antes, mas quando Charlotte levantou o olhar, como uma surpresa, ela já não usava máscara em sua boca, e o capuz do moletom estava abaixado. O som que quase saiu da boca de Charlotte seria vergonhoso se tivesse mesmo tomado o espaço. Ela levantou a sobrancelha, e em meio a um pigarro limpou a própria voz.

— Me desculpe, hm, isso não acontece sempre — ela olhou para Taylor, que estava esperando na caixa, muita calma, parecendo não se importar com a situação. Taylor pensou que Charlotte estava falando sobre Phil, mas não. A situação com Phil acontecia sempre. O que não era reconhecível naquela loja era ter Taylor entrando pela porta como se fosse uma visita qualquer.

— Não, tudo bem — Taylor deu de ombros — Eu ia roubar um Vinil, mas mudei de ideia — ela brincou levantando um disco branco com a assinatura do cantor na capa — Olha, assinado pelo artista...

— Pois é, não consegui parar ele de fazer isso. Se você encontrar uma cópia não assinada, com toda certeza, ela vale uma fortuna — Charlotte brincou.

Taylor concordou e abriu a boca para falar algo, mas então Phil deixou a sala do fundo, com as mãos no casaco e sorrindo de maneira aberta. Ele mal olhou para Charlotte. Parou se apoiando na bancada e encarou Taylor, como se não parecesse um total estranho fazendo isso.

— Com licença — ele chamou a atenção da americana. Charlotte dividiu o olhar entre eles, mas pousou a atenção final em Taylor. A garota, por sua vez, voltou a atenção para Phil.

— Claro — ela o encarou, e foi tão gentil que ele levantou a sobrancelha, talvez não esperando que recebesse aquilo.

— Você pode me dar um autografo?

— Qual o seu nome? — Taylor quis saber.

A realidade caiu um pouco mais. Taylor Swift estava mesmo ali, e Charlotte estava à vendo de perto, não era nenhuma confusão. Phil a reconheceu, e Charlotte também, mas essa, por sua vez, parecia precisar de mais uma confirmação - parecia tão irreal. A situação era, no mínimo, inusitada. Charlotte não conhecia Taylor bem o suficiente para entender o que ela estava fazendo em Londres, mas também não quis pensar nisso.

— Phillip — ele disse, estendendo um pedaço de papel gasto que tirou do próprio bolso. Havia uma caneta jogada em cima da bancada, e foi essa que Phil alcançou, colocando nas mãos de Taylor. A americana se apoiou na bancada, se inclinou, e então assinou o pequeno papel, o entregando para Phil segundos depois. O garoto juntou as sobrancelhas e forçou os olhos, ele também inclinou a cabeça e tropeçou um pouco nas palavras até perguntar: O que está escrito aqui?

— Bem, isso é a minha assinatura — Taylor indicou para o que realmente parecia o nome dela. Charlotte, curiosamente, se inclinou de maneira cuidadosa enquanto tentava não chamar atenção — E bem em cima diz "Querido Phillip, você deveria estar na cadeia!".

— Ok, legal — Phil sorriu, parecendo muito agradecido. A brincadeira de Taylor talvez carregasse um fundo de verdade sobre o que ela queria dizer, mas Phil não levou isso para o coração. Não porque sua tranquilidade era sincera, ainda que fosse, mas muita mais porque estava completamente desconectado, e era completamente sem noção — Ei, você quer meu número de telefone?

Charlotte o encarou um pouco incrédula, e então desviou o olhar e esperou a reação de Taylor. A americana riu por um momento, mas também revirou os olhos.

— Não — ela negou, e o encarou sem tanto humor, carregando um pingo de ironia na própria expressão — Tentador, mas... Não, muito obrigada!

Phil aceitou isso, parecendo muito bem contido, como se a negativa não significasse nada para ele. Logo em seguida, ele enfiou o papel com a assinatura de Taylor no bolso, acenou de maneira desajeitada e saiu sem dizer nada.

Charlotte o viu caminhar e deixou um suspiro escapar quando a porta se abriu e fechou. Ela queria entender a loucura daquele dia, mas também não estava animada para fazer aquilo, porque, honestamente, nada fazia muito sentido.

— Olha... — a voz de Taylor chamou a atenção de Charlotte, e lá estava ela, com uma das mãos no balcão, segurando aquele mesmo disco de Vinil. Ela o estendeu na direção de Charlotte e acenou — Vou ficar com esse.

— Ah, ok... Certo, pensando bem talvez esse álbum não seja tão ruim — a inglesa falou — Na verdade, é meio que uma obra prima, e eu falo isso sério. Nenhuma dessas músicas com letras meio bobas do outro álbum que indiquei são realmente interessantes. E, bem, eu vou colocar um desses aqui, de graça — Charlotte alcançou um Vinil em uma montanha de muitos outros, de uma banda nova de nome esquisito. Eles eram escoceses, e estavam fazendo barulho. Não era exatamente o que Charlotte ouvia, porque o som era pop demais, mas também não era ruim — É muito útil usar o encarte para acender lareiras, enrolar peixe... Esse tipo de coisa, você sabe — a inglesa brincou e Taylor riu um pouco.

— Obrigada — ela agradeceu e estendeu algumas notas, Charlotte murmurou um "Não foi nada", e viu quando Taylor pegou a sacola de compras de suas mãos e então sentiu o contato breve entre elas. A americana saiu sem que Charlotte pudesse dizer qualquer outra coisa além das palavras murmuradas. Ela não queria dizer que tudo foi bem estranho, mas na verdade tudo foi bem estranho. Em um momento Taylor estava logo ali, e no instante seguinte não estava mais. Charlotte balançou a cabeça, um pouco tonta, talvez levemente mexida. Não era todo dia que aquilo acontecia, e ela percebeu, mas não teve tempo pra se manter mergulhada na própria incredulidade.

Ouvindo o barulho da porta, Charlotte levantou o olhar e então viu Martin dando passos para dentro da loja enquanto equilibrava seus dois copos de capuccino, abrindo e fechando a porta com os pés, a empurrando como podia.

— Capuccino, como você pediu — ele a estendeu um copo e bebeu o líquido do outro — Me desculpe a demora, por sinal. Tinha uma fila enorme, e Trent estava reclamando do irmão ao invés de fazer o capuccino. Você sabe, às vezes acho um erro que eles estejam trabalhando juntos.

— Bem, obrigada pelo cappuccino, de qualquer maneira — Charlotte agradeceu, passando direto pela história de Trent e seu irmão, Kendall. Ela ficou em silêncio por um momento, pensando no que diria, ou no que queria dizer. Não era tão aberta e animada sobre tudo, mas pensou como seria legal compartilhar com Martin a experiência recente — Você não vai acreditar no que aconteceu, quem apareceu aqui — ela falou e Martin a olhou curioso, sorvendo parte do cappuccino.

— Quem? — ele murmurou — Algum famoso? — veio a pergunta, e foi aí que, em Charlotte, bateu uma descrição própria. Ela se pegou pensando que se estivesse no lugar de Taylor, querendo não ser reconhecida enquanto fazia compras simples em uma rua de Shoreditch, talvez odiasse se alguém falasse que acabou de a ver saindo de tal loja. Fazer do fato algo grande parecia desonesto, porque nada tinha acontecido. Taylor parecia uma garota normal, e então talvez fosse honesto que Charlotte a tratasse assim.

— Hm, ninguém, na verdade — ela bebeu um pouco do capuccino — Apenas Phil, era isso. O de sempre.

— Seria incrível se alguém realmente famoso aparecesse por aqui não é mesmo? — Martin disse — Eles escolhem Notting Hill nos dias de semana, mas com cada vez mais lojas de grife em Shoreditch, espero ver mais do que os idiotas ricos. E, você sabe, isso é bem impressionante, mas eu já vi o Ryan Gosling... Ou ao menos acho que era ele — Martin encarou o nada, parecendo lembrar de alguma coisa, ou uma situação — Mas talvez fosse aquele cara de "Downton Abbey", o Lynch.

— Leech — Charlotte corrigiu. Ela ainda assistia Downton Abbey, como se não tivesse chegado ao fim anos atrás, e sabia bem mais do que gostava de admitir sobre a série — O nome dele é Allen Leech.

— Isso! — Martin balançou uma das mãos — Leech!

— Mas o Ryan Gosling não parece nada com o Allen Leech — ela falou — Em contrapartida, o Allen é a cara do Niall Horan.

— Não, bem, é verdade. Ele lembra o Niall Horan, mas eu estava longe quando o vi, então...

— Então você pode ter visto qualquer outra pessoa sem ser o Ryan ou o Allen? — Charlotte o olhou, levantou as sobrancelhas levemente e Martin deu de ombros.

— É, acho que sim.

Balançando a cabeça, Charlotte se levantou finalizando o cappucino no copo pequeno e mexeu no bolso da calça que usava, apenas para ter certeza de que sua carteira estava por ali.

— Ok, vou pegar um outro desses — ela balançou o copo vazio — Você vai querer mais um?

— Sim — Martin concordou, mas mudou de ideia logo em seguida — Não, espere! Vamos mudar um pouco. Eu vou querer suco de laranja, naqueles copos pequenos.

Saindo da loja, Charlotte encontrou o clima ainda gélido, mas com o sol fraco da manhã dando às caras. Havia esse tom delicado no céu, e o fato de que não tinha nem mesmo uma nuvem aparente era um pouco surpreendente. No dia anterior havia chovido por quase todo o dia; aquela chuva fina que não chegava a incomodar. O tipo de chuva que, para alguém como Charlotte, residente permanente de Londres desde que tinha nascido, nunca a atrapalhava em nada. As pessoas daquela cidade aprenderam a conviver com o tempo, e uma garoa era o mesmo que o tempo aberto.

Vivendo em Brick Lane, na mistura de clássico com novo, com um passado tumultuado e fachadas que evidenciavam a história do bairro, caminhar pelo lugar com chuva era talvez uma das melhores sensações que se poderia ter. Charlotte fazia isso sempre. Trabalhando praticamente na mesma rua em que morava, ela dava uma contagem de 900m, atravessando a Brick Lane para então entrar em sua loja. E, no geral, tudo era muito perto. Tinha o café na esquina, os mercados de bairro e os pubs. Se Charlotte realmente não quisesse, ela não precisaria nem mesmo colocar os pés para longe de Brick Lane, deixando Shoreditch.

Charlotte gostava de tudo, das pequenas ruas da região, com quantidade absurdas de grafites expostos nos muros, sendo a maioria de artistas conceituados como Banksy, D*Face e Ben Eine. Os clubes por todos os cantos, e o som alto por quase todo o dia, da mistura de pessoas falando com também a música que nunca deixava o lugar.

Atravessando a calçada, ela andou por algum tempo até o café da esquina. Exposto ao lado direito, na mesma direção, do outro lado da rua, ficava o flat de Charlotte. A fila no café tinha diminuído, e ela foi atendida tão rápido que logo estava voltando para a loja com um suco de laranja em uma mão enquanto sorvia o expresso minúsculo na outra. Tão pequeno que acabou em três ou quatro goles.

Virando a esquina para entrar na rua da loja, Charlotte deveria seguir direto, mas ela se distraiu e antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu um forte esbarrão. O suco de laranja escapou de sua mão e sujou tudo que poderia sujar. O suéter branco de Charlotte; a camisa branca da outra pessoa.

— Meu Deus! — a inglesa escutou a voz irritada e levantou o olhar, apenas para encontrar o semblante irritado que, minutos atrás, tinha estado tomado por gentileza, quando a viu em sua loja. Mas Charlotte aceitou a reclamação. Ela tinha sujado Taylor com um suco de laranja que, apesar de muito bom no gosto, era extremamente barato e cheio de açúcar, carregando um tom próprio, numa cor tão vibrante que Charlotte duvidava que fosse realmente laranja.

— Aqui... — a garota estendeu o tecido de papel que havia pegado junto aos copos no café, com a mão na direção da blusa de Taylor, nem mesmo pensou como aquilo seria visto. Honestamente, Charlotte estava apenas tentando limpar a própria bagunça — Me deixe ajudar.

No pânico do momento, Taylor se afastou assim que sentiu a mão de Charlotte em si. O contato mal existiu, mas ela não queria dar brecha para qualquer outra coisa, por mais que a intenção fosse genuinamente boa. Ela tomou distância da mão de Charlotte e puxou o guardanapo para si, tentando se limpar sozinha.

— O que você está fazendo? — Taylor perguntou, e foi quando a realidade caiu para Charlotte. Ela quase revirou os olhos para si mesma, pensando que deveria ter sido um pouco menos exasperada.

— Nada, eu não estava tentando fazer nada — a garota deu alguns passos para trás e passou a mão no cabelo. Ela sentiu que estava mais nervosa que o costume, em um ponto que qualquer pessoa que a visse, mesmo que de longe, poderia reconhecer. Então Charlotte tentou resolver a situação — Olha, eu moro do outro lado da rua. Eu posso te levar até lá para limpar sua camisa.

— Não — Taylor respondeu simples, sem nem mesmo olhar para Charlotte. Ainda focado em tirar o que bem podia daquela mancha, mas a cor não sairia fácil e Taylor sabia. Aquilo era camisa branca, mas era uma camisa da The Row e, como quase tudo que Taylor usava, custava bem mais do que uma peça simples de roupa — Obrigada, mas eu preciso esperar meu motorista. Eu... — ela se atrapalhou um pouco — Eu não deveria nem mesmo estar sozinha, mas convenci minha equipe de segurança que conseguiria ficar um minuto sem supervisão e sem arrumar confusão alguma. Acho que errei um pouco nisso.

— Ok — Charlotte reconheceu — Isso está na minha conta — ela tentou brincar, mas não ganhou nada. Então suspirou fundo, e tentou falar sério — Olha, eu posso te levar até minha casa, você troca isso ou limpa o que pode com um pouco de água e em cinco minutos você vai estar de volta nessa esquina... — ela disse , sem pensar como soaria. Quando a última palavra deixou sua boca, foi que reparou em como aquilo tinha saído de maneira ambígua — Quero dizer, no sentido de estar de volta na esquina para esperar seu carro, e não como "estar de volta na esquina" como uma "prostituta " — a garota tentou se explicar, e pelo menos isso rendeu um sorriso de canto, nos lábios de Taylor — Obviamente.

Charlotte estava mesmo nervosa. Para Taylor, de uma maneira própria, era bem engraçado. Ela quase se esqueceu da falta confiança momentânea, porque mal conhecia a garota. Charlotte, claro, ainda estava esperando uma resposta, e essa veio quando Taylor levantou o olhar, e a inglesa pôde prestar atenção em seu rosto, e em como ela era bonita, de um jeito que quase a deixava triste.

— Ok, então, quando você diz do outro lado da rua você quer dizer... — ela gesticulou — Me dê a distância em Jardas.

— 18 jardas — a inglesa apontou para o outro lado da rua, se impressionando consigo mesma por conseguir pensar naquilo. Deus, jardas? Por que o sistema de medidas dos Estados Unidos é tão horrível?, ela pensou — Aquela é minha casa, a da porta vermelha.

Dizer que a casa tinha uma porta vermelha era um pouco simples demais para definir o efeito vermelho em toda a fachada. Os tijolos laterais eram brancos, mas a fachada principal era realmente pintada em um tom de vermelho vibrante, tão chamativo que mesmo quem não queria prestar atenção, acabava fazendo isso.

Taylor encarou Charlotte, olhou para sua camisa suja de suco e voltou a desviar o olhar. Segundos depois as duas estavam entrando na casa da inglesa, que parecia uma bagunça completa. Charlotte entrou na frente e tentou arrumar o mínimo. Chutou os tênis de Spike para debaixo das escadas, jogou uma pizza velha no lixo e deixou os pratos sujos na lava louças. Quando Taylor colocou os pés no corredor e subiu os únicos dois lances que separavam a cozinha minúscula da sala de estar, Charlotte parecia já ter feito um ótimo trabalho. Tirando a bagunça na mesa de jantar, tudinho estava consideravelmente arrumando. Mas a mesa parecia mesmo demais para se arrumar em alguns segundos. Spike deixou seus papéis de trabalho, junto ao laptop e sua bolsa. Ele fazia isso todos os dias.

— Aqui, o banheiro é ali em cima — a garota apontou para as escadas — Primeira porta à direita.

Taylor olhou, concordou e então subiu as escadas sem que dissesse uma única palavra. Antes de fazer isso, ela deixou parte das sacolas de compras apoiadas na bancada da cozinha, subindo com apenas uma sacola e sua bolsa na mão. A americana sumiu da vista de Charlotte segundos depois, e a garota aproveitou o tempo ganho para deixar o apartamento um pouco mais arrumado, ainda que não tivesse já mais tanto a se fazer. Escondendo a bagunça de Spike e passando um pano na mesa, foi no que ela se focou. Quando o barulho de Taylor saindo do banheiro tomou o apartamento, Charlotte já tinha acabado de fazer o que poderia, e lá estava a americana.

Ela tinha feito compras, algumas peças aqui e ali, e foi uma dessas que terminou vestindo. O frio estava indo embora, mas ainda estava lá, ainda assim Taylor vestiu o que poderia, que consistia em um cropped preto, com uma saia que acompanhava o conjunto. Com a jaqueta preta por cima, que por alguma sorte tinha ficado intacta, ela estava linda. Charlotte precisou de alguns segundos para conseguir raciocinar.

— Você quer uma xícara de chá antes de ir? — foi o que ela conseguiu perguntar antes que Taylor pudesse dizer "tchau". A loira estava, ela mesma, um pouco envergonhada. Em uma hora ela estava se mostrando muito pouco, e agora parecia que estava se mostrando demais. Ela sentiu o olhar de Charlotte em seu abdômen, e então descendo até subir de novo e encontrar seus olhos, mas Taylor não disse nada.

— Não, obrigada — ela respondeu.

— Café? — a garota continuou tentando.

— Não.

— Suco de laran... — ela se interrompeu, se lembrando do acontecimento recente e da memória não tão boa — Ok, provavelmente não — Charlotte se aproximou da geladeira e a abriu, vendo o que tinha disponível nas divisórias. Mas não tinha muito — Algo gelado... Coca? Água? Uma coisa estranha que tem a ver com frutas e florestas? — Charlotte encarou Taylor. Ela sorriu de leve e continuou quando Taylor sorriu de volta — Você quer algo com... — pegou o pote de doce de damasco misturado com o que parecia ser mel — Damasco mergulhado em mel... O porque de estar assim ninguém sabe porque ele deixa de ter gosto de damasco e fica com gosto de mel e se você quer algo que tenha gosto de mel você compra mel e não damasco mas... — ela divagou, e vendo que fez isso, balançou a cabeça e voltou ao comentário direto — Enfim, está aqui. O damasco é seu se você quiser.

— Não, obrigada — Taylor falou.

— Você sempre diz "não" pra tudo? — Charlotte quis saber, bem como uma brincadeira, mas também porque não queria deixar o momento ir embora.

Taylor a olhou, parecendo pensar na resposta que daria, mas fez isso como uma pequena encenação. Ela entrou na brincadeira, e Charlotte percebeu, o que a fer rir um pouco.

— Não — a americana soltou uma risada leve, anasalada — Olha, é melhor eu ir, mas obrigada pela ajuda.

— Certo, de nada... — ela fechou a geladeira e se apoiou na porta — Ei, aproveitando minha chance para te falar que depois de escutar aquele álbum horrível, você muito provavelmente não vai voltar na minha loja.

A expectativa era que Taylor achasse graça disso, e ela achou. A loira riu um pouco e Charlotte brilhou com a visão. O silêncio caiu entre elas, até que Taylor acenou para trás, e então a inglesa entendeu que era mesmo hora de dizer "tchau". Ela guiou Taylor até a porta e parou ali junto dela, com a mão na maçaneta. Taylor olhou mais uma vez para Charlotte, que não hesitou ao olhar de volta.

— Obrigada, de novo.

— Não foi nada. Bem, foi um prazer ajudar, ainda que tenha sido culpa minha a coisa toda — ela disse — E foi bom te conhecer. Surreal, mas legal.

Taylor deixou claro que estava agradecida, ainda sorrindo, mas não disse nada. Charlotte abriu a porta e a viu caminhar de volta para onde estava indo quando acabou com a camisa suja de suco. Ela então fechou a porta, sem acreditar em como estava nervosa e na besteira que tinha dito ali, segundos antes. "Surreal, mas legal?", ela fechou os olhos e sentiu um pouco de vergonha de si mesma.

— Surreal mas legal? O que eu estava pensando? Meu Deus! — ela se apoiou na porta, com as costas, e revirou os olhos. Mas seu momento de vergonha de si mesma não poderia durar para sempre, e foi pensando nisso que Charlotte se afastou da superfície de madeira e deu seus primeiros passos seguindo pelo corredor. Nem mesmo um segundo depois e ela estava virando outra vez, quando o barulho da companhia soou alto. Abrir a porta foi não se preparar para nada, porque do outro lado estava Taylor, e de dentro, Charlotte parecia um pouco sem palavras. Mas ela continuou — Oh, Ei! Você esqueceu alguma coisa?

— Uma das minhas sacolas — Taylor falou e Charlotte concordou, entendendo. Muito provavelmente ela teria reparado na sacola quando a visse, completa e jogada na bancada da cozinha com o logotipo da Versace tão grande que parecia impossível não chamar atenção.

– Certo. Entre aqui e eu vou lá pegar. Não vou demorar — a inglesa disse dando espaço para que Taylor pudesse entrar. Ela fechou a porta e acenou, se virou, seguindo em direção a sala, para encontrar a sacola onde deveria mesmo estar. Ela a pegou, e assim que colocou os pés no corredor, bastou se aproximar de Taylor para estender a sacola. A garota a segurou, e sorriu com cuidado, agradecida — Acho que é isso, certo?

— É exatamente essa — Taylor falou. Elas se olharam. As duas estavam de frente uma para outra, com Taylor segurando suas compras, e Charlotte com as mãos nos bolsos. O silêncio tomou conta, e a impressão era a de que se sustentaria, mas Charlotte quis quebrar isso. Querer também não queria dizer que tivesse o feito. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ou mesmo fazer menção de abrir a porta, Taylor se mudou de posição, e a seguinte coisa que Charlotte sentiu foram os lábios da americana nos seus.

O mundo dela parou por um momento.

Não foi aprofundado, apenas um selinho, um encostar de lábios que parecia singelo. No mínimo inesperado, Charlotte soube, como aquilo parecia certo. Taylor também tomou consciência quando se afastou, sentindo uma tristeza própria pela falta de contato, e até um pouco envergonhada.

— Desculpa pelo "surreal mas legal" de mais cedo — Charlotte disse sem espaço, não deixando o silêncio tomar conta daquilo, na outra vez — Aquilo foi um desastre — ela reconheceu.

— Não liga para isso — Taylor a tranquilizou — Eu achei o breve monólogo do damasco e do mel mil vezes pior — ela confessou e riu de leve. Charlotte acabou rindo também, mas o momento foi cortado quando o barulho da porta se fez presente e o trinco se mexeu.

Spike empurrou e entrou no flat sem nem mesmo olhar para Charlotte ou Taylor. Ele passou entre elas e sumiu pelo corredor, tirando seu casaco e a touca rosa que usava; ambos ficaram pendurados no cabideiro no início da sala.

– Charlotte! — ele falou quando sumiu pela sala.

— Sim? — a garota respondeu.

— Eu vou procurar algo pra comer e então vamos nos sentar porque preciso te contar uma história que vai fazer você ficar morrendo de medo — Spike disse — Mas medo do tipo, sei lá... Se você tivesse bolas elas iriam diminuir de tanto medo.

— Ah, ok — Taylor voltou a atenção para Charlotte — Eu preciso ir. É melhor você não contar pra ninguém sobre isso que acabou de acontecer entre a gente — ela falou, e não foi séria ou ameaçadora, mas certamente mais contida. Parecia um pouco nervosa também. Se Charlotte reparou, ela não disse nada.

— Claro, ninguém vai saber — ela garantiu — Bem, quero dizer, vou contar pra mim mesma de vez em quando, mas não se preocupe, eu mesma não vou acreditar — a inglesa brincou, e a risada breve de Taylor garantiu que tinha sido o comentário certo.

— Bem, então... Acho que é isso. Tchau, Charlotte! — Taylor deixou um beijo no rosto da garota e dessa vez ela mesma abriu e fechou a porta, sumindo de vista logo em seguida.

Charlotte ainda estava atônita, parada no corredor, quando Spike apareceu segundos depois, se apoiando nos únicos dois lances que separavam o corredor do resto da casa. Ele estava comendo alguma coisa branca, numa tigela de promoção que tinha os desenhos coloridos do Looney Tunes.

— Tem alguma coisa errada com esse iogurte — Spike falou, fazendo careta ao comer a pasta branca e então alcançando mais uma colherada para ter certeza do que dizia.

Ele não estava enganado. Tinha algo errado com o iogurte, e Charlotte sabia bem o que era.

— É que não compramos iogurte — ela falou — Isso é maionese, Spike.

O irlandês a olhou, como se a revelação fizesse total sentido. Balançou a cabeça e acenou positivamente, antes de dar de ombros.

— Agora faz sentido — ele falou e alcançou outra colher da maionese, comendo agradecido — Ei, vamos assistir um documentário hoje? — o garoto jogou — Eu estou realmente curioso para ver o documentário daquela cantora do "Romeo save me..." Tã nã nã nã nã nã nã. Miss Americana, acho que o título do doc. Minha sobrinha tem me falado disso por tanto tempo, Lottie.

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