𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟓
Ele foi capaz de fazer isso.
Não se passou exatamente uma semana, e talvez eu estivesse mesmo exagerando na contagem, mas apenas algumas horas foram o suficiente para me deixar perturbada. Ficar trancada em um lugar fechado e silencioso era uma situação angustiante que conseguiu me levar para um estado de pânico completo. Além disso, a noite chegou mais rápido do que eu esperava, e não queria aguardar por mais tempo nessa situação.
A única coisa que foi capaz de me acalmar foi aquele adorável gatinho. Posso não gostar de Satoru Gojo em pessoa, mas preciso admitir que ele tem um bom gosto para animais. O gatinho era pequeno e peludo, com olhos verdes brilhantes. Não sabia como se chamava, pois não tinha nenhuma coleira para indicar seu nome, mas ele tinha sido meu único companheiro.
Estando sozinha e sem outra opção, preferi explorar o lugar para me distrair desse sentimento. Não iria bater na porta para chamar Gojo de volta, e me sentar próxima a ela para esperar pacientemente como um bom cãozinho estava fora de cogitação. Também seria minha última escolha, caso tivesse uma. No mais, essa casa parecia ser sofisticada demais para não ser explorada.
O lugar era enorme e luxuoso. Todas as paredes eram decoradas com obras de arte de renome internacional, e os móveis eram todos feitos de materiais nobres. Eu me senti como se estivesse em um museu.
Explorei cada cômodo da casa, procurando por alguma pista que pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo. Mas não encontrei nada. A sala era espaçosa e confortável, com móveis de madeira maciça. A cozinha era moderna e bem equipada. Os banheiros eram limpos e bem cuidados.
E então, cheguei aos quartos.
Eu esperava algo diferente. Imaginava que os quartos seriam decorados com luxo e sofisticação, mas não foi o que encontrei. Os quartos eram simples e acolhedores, as camas eram confortáveis e as roupas de cama eram feitas de tecidos macios.
As paredes estavam pintadas de cores claras e as janelas eram grandes, deixando entrar a luz do sol. Eu me senti um pouco estranha. Talvez a casa não seja tão sofisticada assim, afinal. Na verdade, todo o ambiente, embora moderno, me passa uma energia familiar. Tal como uma casa de vó.
Me pergunto se Gojo morava com sua família aqui, pois na parede havia alguns quadros espalhados mostrando diferentes momentos de sua vida. O que mais me chamou a atenção foi que ele estava sozinho em todas as fotos, mesmo sendo supostamente lembranças familiares.
Ao observar o seu rosto nas recordações, percebi que ele sempre parecia triste e solitário. Seus olhos sempre estavam baixos, e a boca constantemente fechada e curvada para baixo também. Era como se fosse um garoto completamente diferente da imagem grandiosa que Satoru Gojo tentava mostrar ao público no presente.
Eu queria saber mais sobre sua história, mas ao mesmo tempo a identidade da alcateia Gojo ainda era um enigma para mim.
Quando me aproximei para olhar de perto um dos quadros na parede, o som da chave na porta ecoou pela casa e interrompeu os meus pensamentos. Instantaneamente o sentimento de realização desapareceu, pois percebi que ainda estava trancada. Meu suposto sequestrador entrou com sacolas de mercado, indo direto para a cozinha como se nada tivesse ocorrido.
Caminho até ele com passos firmes, mostrando claramente minha insatisfação com seu comportamento. Contudo, antes que eu possa reclamar, Gojo levanta a mão em minha direção sem nem mesmo olhar nos meus olhos enquanto coloca as sacolas no balcão com a mão livre.
─ Você é muito dramática, sabia? ─ ele solta um suspiro assim que termina de esvaziar os braços, se concentrando em organizar os itens das sacolas nas prateleiras.
─ O que? Eu nem disse nada ainda.
─ E nem precisa, eu reconheço a energia de uma pessoa enfurecida quando vejo uma ─ ele zomba, se voltando para mim apenas para encarar minha expressão incrédula ─ Qual é, não é como se eu fosse te deixar trancada aqui por uma semana. Foram apenas algumas horas, não?
─ Eu ia era ligar pra polícia, tem noção de quanto tempo se passou? ─ apontei para a janela, onde a escuridão da noite evidenciava minha visão ─ Você ao menos se importa? Não pode sair por aí fazendo o que quiser.
─ Talvez não ─ ele finge ponderar enquanto inclina a cabeça, mas então um sorriso surge em seus lábios ─, mas para falar a verdade, eu só estava tentando te distrair.
─ Como é?
─ Você ficou mais concentrada no fato de que te tranquei aqui que nem pensou muito no que estava te incomodando antes, não é?
Agora sim isso me pegou de surpresa. Eu não fazia a mínima ideia de que estava fugindo disso, mas ele tinha razão. Me esqueci completamente de Apollo nesse meio tempo, e foram os únicos momentos em que não tive que lidar com suas sentenças acusadoras rondando minha mente. Mas de qualquer maneira...
─ Você tem algum problema de lógica? Era só ter me contado antes.
─ Claro que não, conversar antes é muito entediante. Além disso, você não iria conseguir esquecer se soubesse ─ ele retruca, finalizando sua organização ao colocar uma garrafa de iogurte na gaveta da geladeira.
Eu zombo de sua declaração, balançando a cabeça em descrença. Ele havia percebido, afinal. Foi por isso que ficou em silencio depois daquilo? Não conseguia adivinhar, mas ele realmente tinha notado algo que nem mesmo eu fui capaz de notar.
─ Existem maneiras melhores de ajudar alguém a se distrair ─ murmuro ao cruzar os braços, me apoiando no balcão que estava distante dele.
─ Você ainda precisa ficar nessa casa por uma semana, no entanto ─ ele parece não ter me escutado, e logo se aproxima de mim para conferir se a torneira ao meu lado funcionava corretamente ─ Aqui não tinha tantos mantimentos, então decidi fazer as compras para você.
E uma de minhas suspeitas foram confirmadas. Essa era uma casa a qual ele não costumava visitar, e os quadros misturados com o ambiente sugeriam que o local pertencia a família dele ou coisa semelhante.
Deve ter sido deixada de lado por muitos anos, pois se não existiria algum abastecimento de comida e ele não precisaria abrir a torneira com uma expressão pensativa como se estivesse averiguando sua funcionalidade.
─ Vem comigo, tem mais uma coisa que quero te mostrar ─ Gojo não me espera reagir e me segura pela mão, me guiando para fora da cozinha em direção ao extenso corredor.
Como instinto ao seu toque, eu imediatamente recolho minha mão de volta e estreito os olhos para ele em um aviso silencioso enquanto começo a caminhar dois passos atrás. Ele se surpreende de início e paralisa para olhar para mim por alguns segundos antes de desviar sua atenção e continuar o caminho.
─ Desculpa ─ ele diz em um tom de voz baixo, ignorando sua vergonha.
Apenas resmungo em resposta e mantemos o silêncio até chegar em frente a uma porta grande de madeira branca. Essa se destacava de todas as outras espalhadas pela casa, e provavelmente foi a única que não abri na minha pequena exploração, já que não cheguei nessa parte do corredor.
Gojo não demora para vasculhar o bolso de sua calça e retirar de lá uma chave dourada que parecia um pouco enferrujada, alinhando-a com a fechadura para destrancar e revelar um cômodo totalmente novo para mim.
─ A biblioteca daqui tem todas as informações que você precisa saber sobre o cio de um lúpus, e a leitura pode demorar se você não for do tipo estudiosa.
No momento, não estava nem um pouco interessada em nada do que ele estava falando. Todos os meus sentidos disponíveis estavam totalmente focados no interior do local. Esse lugar era assustador.
As diversas estantes que cobriam a parede tinham um aspecto muito antigo, assim como os outros móveis, e a atmosfera era escura e minimamente convidativa. Era de longe um estranho contraste com o resto da casa, e não havia nada de legal em passar uma semana naquele covil.
─ Já estou começando a me arrepender disso ─ declaro derrotada, coçando a nuca em um gesto nervoso.
─ Vamos, mais ânimo, alfa! ─ Gojo me dá um tapinha reconfortante no ombro, sorrindo de orelha a orelha ─ Isso é só o começo, ainda é muito cedo para você desistir.
─ Mas que droga, dá para parar de me chamar assim?! ─ reclamo, finalmente perdendo a paciência e segurando seu pulso em um impulso.
Minha ação parece não abalar ele de maneira alguma, muito pelo contrário. Ele aproveita a oportunidade e permite que eu continue com meu aperto em seu pulso, se aproximando do meu rosto como fez da última vez. Seus olhos azuis penetrantes não desviam nem por uma fração de segundo enquanto seu sorriso se torna provocador.
─ Por que te incomoda tanto? Não é exatamente o que você é?
Decido não recuar como normalmente faria e intensifico meu aperto, olhando diretamente para ele enquanto também me aproximo ao sentir uma onda de adrenalina preencher meu corpo. Eu poderia muito bem acabar com tudo isso agora.
─ Ah, pode apostar que é sim ─ respondo com uma expressão séria, e até mesmo eu não conseguia acreditar no meu próprio tom ─ Eu já te pedi antes, e essa vai ser a última vez. Se continuar com essa palhaçada de me chamar de alfa, eu juro por tudo nesse mundo que vou descontar toda a minha frustração durante o seu cio. Estamos entendidos?
Pela primeira vez, Gojo vacila na minha presença e a sombra do que julgo ser medo aparece em seus olhos. Mas ele ainda mantém o sorriso nos lábios com um ar satisfeito, como se tivesse acabado de atingir alguma meta. Merda, como eu adoraria arrancar aquele sorriso idiota da cara dele.
─ Acho que você deve estar com fome ─ ele desvia do assunto com rapidez e puxa o pulso para fora do meu agarre, conseguindo se libertar de mim facilmente desde que o permiti se afastar ─ Vou fazer um lanche para você. Sinta-se à vontade pra entrar quando quiser.
Ele faz um sinal de espaço para que eu pudesse entrar na biblioteca e se afasta, colocando as mãos no bolso e sumindo de vista enquanto volta para a cozinha com uma tranquilidade que chegava a me assustar. Eu nem sabia se ele tinha me levado a sério agora.
Respirei fundo e fiz o que deveria fazer: entrei na maldita biblioteca. Com o calor do momento, nem percebi que estava liberando meus feromônios com tanta imprudência. Isso não acontecia com frequência, então suponho que devo mesmo estar estressada e que talvez seja hora de tirar umas férias. Uma visita na casa dos pais de Geto para uma meditação nas montanhas poderia ajustar minha paz rapidinho.
Caminhando com mais atenção, constatei que o local não era tão ruim assim. Apenas antigo, como havia averiguado. Tudo era muito bem limpo e organizado e não demorei para encontrar o que Satoru gostaria que eu encontrasse, já que a maiorias dos artigos que existiam ali relatava algo relacionado a ômegas.
Puxei o livro de capa dura da estante a minha frente e comecei a folheá-lo, tentando descobrir o seu conteúdo. As informações que estavam escritas era apenas o que eu já sabia. Apenas o que me fez temer tanto esse momento, e o que me incitava a não ter nem vindo para cá na realidade.
Ômegas Lúpus são agressivos.
Geralmente, eles costumam ser bastante mansos durante a rotina cotidiana, mas durante o cio eles se tornam impossíveis. É praticamente uma disputa de território, e é o principal motivo pelo qual alfas comuns não são capazes de satisfazê-los.
Alfas comuns, embora tenham grande força e poder dominante, não possuem uma marcação territorial tão forte quanto a de um Lúpus, o que torna tudo mais preocupante.
Apesar de que eu ficaria ficar ocupada por um longo período e tentaria me satisfazer com a ideia de que teria que lidar com mais essa etapa da minha vida, meus mais profundos instintos imploravam para que eu fugisse da visão de Satoru Gojo o mais rápido possível. No entanto, por agora, eu não tinha outra escolha. Apenas ignoraria todos eles até que estivesse livre novamente.
. . .
No que eu estava pensando?
Eu mal consegui me conter quando avistei aquela mulher pela primeira vez em anos novamente. Esse não era o plano original, para ser sincero. Embora para [Nome] eu fosse apenas um desconhecido esnobe e excêntrico, ela não era uma estranha para mim em nenhum sentido.
Também seria uma vergonha para mim caso fosse. Afinal, como poderia não reconhecer a alfa medrosa que ganhou o respeito de todos os alfas agressivos da minha alcateia? Seu cheiro com certeza se tornou um pouco diferente, mas era irreconhecível, e eu sabia quem era ela muito antes que sonhasse em colocar seus pés na agência.
Ela se escondeu bem por tanto tempo, e devo admitir que fiquei impressionado. Mas ela ainda não era o que eu esperava. Eu precisava trabalhar em um caminho para que ela se tornasse perfeita. A alfa que sempre desejei ter ao meu lado. Não tinha dúvidas de que ela seria uma ótima companheira, mas suas atuais características apenas dificultavam o meu objetivo.
Medrosa, tímida, envergonhada, pequena... Ela era uma alfa, porra! Por que ela tinha tanto receio de se aceitar e agir como tal? Do que ela estava fugindo, no fim das contas? Independente das circunstâncias, manter ela por perto seria uma boa estratégia se eu fosse paciente, uma a qual ainda tinha seus devidos benefícios.
Mas meus Deus, aquilo foi do caralho.
Não pensei que depois de se restringir tanto, ela realmente tivesse tanta força na intensidade dos feromônios que liberava. Fazia um tempo desde que senti um cheiro tão genuíno e natural, e precisei de bastante autocontrole para não fazer nenhuma besteira naquele momento.
Geralmente estou cercado por alfas que usam perfumes específicos para acentuarem o próprio cheiro com o intuito de se tornarem mais atrativos. Nunca gostei disso em particular, sempre foi enjoativo. Mas aquele não era. Não existia nenhuma intervenção de produtos, e esse fato foi mais do que o suficiente para que eu precisasse de mais.
Eu teria mais em breve, muito provavelmente. E embora tivesse outras intenções iniciais, não me arrependo de ter feito aquela escolha apressada durante o imprevisto com Utahime.
Talvez a jogada fosse arriscada, já que ela poderia simplesmente recusar minha oferta e acabar com todas as minhas expectativas e planos. Mas eu já tinha conhecimento do novo traço dela naquele ponto, então a porcentagem de que eu acertaria era muito alta.
Deixei um longo suspiro escapar e encarei o prato na bancada com o sanduíche que havia prometido a ela, oscilando entre o pensamento de decisão certa ou errada. Eu realmente deveria estar fazendo isso?
Poderia facilmente conseguir qualquer outro alfa com mais facilidade se quisesse, mas não seria a mesma coisa. Mordi o lábio e finalmente criei coragem para vê-la novamente, seguindo o mesmo caminho de antes pela casa.
Quando cheguei na biblioteca, deixei o prato em uma pequena escrivaninha da entrada e apoiei o corpo no batente da porta, cruzando os braços para ficar apenas observando ela se concentrar nos estudos dos livros. Analisei os traços de sua feição de longe e cerrei os punhos sobre o peito, aquela espera estava acabando comigo.
Antes que minha mente pudesse pensar em uma distração qualquer, o celular dela tocou em cima da mesa e o olhar preocupado que apareceu em seu rosto quando checou a tela indicava que não era coisa boa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro