𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟐
─ Boa noite pra você também, vossa alteza! ─ Geto me cumprimenta em um tom de brincadeira, fechando a porta do apartamento assim que passo furiosa por ela ─ Qual é a da vez?
Eu apenas jogo a bolsa com a câmera e meus pertences pessoias em cima do sofá com uma força incomum e saio batendo os pés até a cozinha, sem responder adequadamente o questionamento do meu colega de quarto. Ele, sem entender o que estava acontecendo, continua me seguindo enquanto dou voltas pelo cômodo e respiro fundo, parando apenas para apertar meus dedos na borda de um dos balcões.
─ Qual é a da vez?! ─ me viro rapidamente quando ele se senta no banco de estilo americano e apoia a cabeça na palma da mão, esperando a minha explicação ─ Eu tô sendo refém de um ômega! Tem noção disso?
Geto arregala os olhos de imediato e cobre a boca para impedir que uma risada escapasse, quase como se estivesse se divertindo muito com aquilo, o que me deu uma grande vontade de pular na garganta dele para tirar o maldito sorrisinho de seu rosto convencido.
─ Muito engraçado, ria enquanto pode!
─ Uhum, e por que você só não usa a sua voz de comando pra sair dessa? ─ ele finalmente consegue me encarar com uma expressão um pouco mais séria.
─ É um lúpus, Suguru, um fodido lúpus! Essa coisa supostamente não funciona com eles.
─ Sim, isso é o que as histórias sempre dizem. Mas você nem ao menos testou essa teoria, não é?
Quando penso sobre esse tema, talvez ele realmente tivesse razão. Por natureza, ômegas lúpus são considerados mais fortes e atraentes do que a maioria de sua espécie e não podem ser afetados por membros de matilhas inferiores, se tornando um ponto extra para que tivessem uma presença mais intimidadora. Claro que não chegava nem perto da presença de um alfa, mas já era o suficiente para que eles criassem uma certa coragem diante de outras pessoas.
Contudo, assim como Gojo havia mencionado, lúpus de sangue puro são extremamente incomuns e as informações acerca de suas fraquezas são muito escassas. Alguns tópicos podem ter sido inventados e espalhados pelo próprio grupo para obter vantagem, então ainda era incerto dizer que uma voz de comando não funcionava, pois poderia ser uma grande mentira.
Mesmo com isso em mente, ainda tinha um detalhe importante que não poderia ser descartado: ─ E perder meu emprego por desafiar Satoru Gojo? Não, não mesmo, obrigada. Prefiro aceitar meu trágico destino.
─ Você acabou de dizer Satoru Gojo? ─ a surpresa presente em sua voz me fez ficar igualmente espantada por um breve momento, mas eu apenas dou de ombros com a pergunta.
─ Sim, eu disse.
─ [Nome], como foi capaz de deixar acontecer?! É sério, isso não poderia ser pior.
Esse foi exatamente o mesmo pensamento que tive anteriormente. Em alguns momentos, até consigo imaginar que nós dividimos o mesmo neurônio, mas dada a situação, acho que essa linha de raciocínio é um consenso óbvio.
Realmente não dava para piorar, a não ser que fossem dois dele. No entanto, o tom de voz aflito do meu amigo ainda era inesperado e nada comum, me fazendo entrar em estado de alerta pela declaração.
─ O que é, Suguru? Você está me assustando!
─ Conheci a família Gojo uma vez durante a infância quando fiz companhia a Satoru, e sei muito bem que nenhum membro daquela alcateia costuma ser gentil com alguém. Se o primogênito deles te tem como "refém", e nem ouse me explicar qual é o sentido disso, então precisa escapar o mais rápido possível dessa.
─ Ah, ótimo! Já que você o conhece, pode me dar dicas de como evitá-lo ─ digo sorridente, genuinamente empolgada com o fato de que poderia ter algumas armas para usar contra ele.
A expressão de Suguru, no entanto, se torna nebulosa e ameaçadora diante da menção, e eu imediatamente me arrependo de ter sugerido isso. Não sabia até que ponto esse assunto também estava o afetando, mas ele parecia não querer me contar nada sobre qualquer evento relacionado ao passado dos dois.
Portanto, assim como ele, eu apenas fico em silêncio e me viro de costas para pegar um copo de água, esperando me distrair do clima estranho que se instalou. Nenhum de nós gostaria que Satoru Gojo retornasse para aquela conversa, então enterramos o assunto definitivamente enquanto os longos goles de água desciam pela minha garganta.
─ O Apollo deixou algumas mensagens para você ─ ele interrompe o desconforto ao evitar o tema anterior, o que eu aceito como uma brecha para voltar a agir naturalmente.
─ Manda ele ir se ferrar, eu não aguento mais ter que deletar aquele histórico de emails cheio de recados chorosos.
─ Então mande você mesma, ué.
Após isso, ele pigarreia e se levanta para caminhar até a sala de estar que ficava no cômodo ao lado, pegando o controle remoto na mesinha de centro para mudar o canal assim que se senta no sofá, acompanhando a televisão que havia permanecido ligada esse tempo todo.
O apartamento não era tão grande quanto parecia, então os incessantes ruídos de qualquer elemento reverberavam pelas paredes muito mais facilmente, e isso incluía o barulho estático da televisão.
─ Geto! Desliga essa porcaria ─ solicito ao franzir o cenho, massageando a têmpora. Minha cabeça já doía o suficiente para conseguir suportar barulhos altos demais no momento, e meus ouvidos pareciam que iam explodir quando ele aumentou o volume.
─ Calminha aí, eu ainda preciso ver como estão indo as coisas na atualidade.
Determinada a checar no que ele tanto prestava atenção, eu me aproximo e rapidamente pego o controle de sua mão, diminuindo o som através do botão de volume.
Ele nem sequer olha para trás ou percebe o que eu fiz, e apenas continua lendo as legendas do jornal local que passava na grande tela, me fazendo jogar o controle de volta em um canto qualquer e me apoiar no encosto do sofá.
─ Pelo menos abaixa o volume, não estava assim antes.
─ Foi mal, eu sou meio surdo.
Eu dou um soquinho em seu ombro pela resposta e meus olhos seguem o mesmo caminho até a tela, observando a explicação do noticiário. Finalmente consigo entender o motivo que fez Suguru me ignorar completamente, já que aquilo era algo importante para nós.
─ Eles conseguiram mesmo disponibilizar os supressores especiais?
─ Estão em fase de teste, mas tudo indica que, se funcionarem, os ômegas não serão afetados pelos feromônios de alfas e consequentemente não precisarão deles para suprir as necessidades naturais ─ ele me responde prontamente, virando a cabeça para trás para me encarar com um sorriso estranho ─ Isso tudo foi graças a alcateia do seu novo querido ômega, agradeça a ele por nós.
─ Ainda me pergunto onde fica a gente nessa história ─ ignoro a sua tentativa de provocação, não querendo ter que voltar ao mesmo cenário de antes.
─ Simples, a gente não fica. Alfas não tem mais tanta autoridade, além de serem raros hoje em dia. Suponho que eles pensam que o nosso cio não é importante o suficiente.
─ Época perfeita para se nascer um, não acha?
─ Nem me fale ─ ele revira os olhos e coloca uma almofada no meio das pernas, apoiando o corpo para frente novamente ─ E aproveitando a oportunidade, como estão os seus aprendizes?
─ Do jeito que você diz, eu me sinto uma feiticeira ou algo assim. Mas eles estão seguros, eu acho. Já sabem esconder o cheiro, e estão dando sinais de que podem evoluir mais.
Sim, Itadori e Sukuna ficariam bem. Contanto que eles não se atacassem novamente em outra briga idiota de irmãos, tudo estaria sobre controle. Da última vez que isso aconteceu, tive que pará-los pessoalmente, visto que ambos não sabiam controlar a própria força e espalhavam o cheiro por toda a parte para ameaçar um ao outro.
Ridículos. Mas eles ainda são apenas adolescentes com os hormônios à flor da pele, no fim das contas. Então, não é de se espantar esse tipo de comportamento vindo deles, e eu não poderia culpá-los, pois eu e Suguru costumávamos ser bem pior do que isso.
Essa pequena lembrança me faz soltar uma risada involuntária ao pensar o quão reconfortante era o fato de que nossa amizade ainda continuou a mesma após tantos anos de intrigas repetitivas.
A melhor linguagem que tínhamos para demonstrar algum carinho era através de lutas, as quais eu sempre ganhava, claro. Talvez ele estivesse se contendo durante essa fase por eu ser uma mulher, o que eu achava uma grande besteira, mas não deixava de ser engraçado vê-lo sempre fazer um biquinho irritado enquanto eu cuidava de seus machucados feitos por mim mesma.
─ Que bom, muito bom... ─ ele diz de maneira arrastada, levantando o corpo assim que escuta a minha voz novamente ─ Ei, tá rindo do quê?
─ Nada, nada. Agora, chega pra lá. Hoje eu quero assistir Teen Wolf ─ eu rapidamente dou a volta no sofá e me jogo ao lado de Geto, roubando a almofada macia que ele segurava para posicionar nas minhas costas.
─ Olha ela, que gracinha. Quer aprender mais sobre a própria família?
─ Nem começa com as piadinhas, ou eu vou te expulsar desse sofá.
─ Que nem da outra vez que você ficou me chutando até eu cair no chão?
─ Você estava me dando spoilers de graça! Era a única maneira de fazer você ficar quieto, já que ia ficar ocupado demais adorando o chão.
─ Ah, bom saber! Da próxima, eu não vou te beneficiar com minhas preciosas prévias.
─ Obrigada!
Ele sorri e me empurra de propósito para pegar o controle que eu havia jogado ao seu lado. Não hesito em devolver isso enquanto Suguru procura a série que eu havia indicado no catálogo, mas ele desvia de minha investida facilmente e quase me faz cair no instante em que ia o tocar.
Mesmo não aceitando muito bem o meu pedido que interrompeu o seu momento de "lazer", ainda era a nossa série favorita, então ele não pensou duas vezes em dar play no episódio que paramos.
Eu agradeço aos céus por essa intervenção, afinal, com essa distração conveniente, Satoru era a última coisa que se passava pela minha mente. Pelo menos por enquanto.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro