03. por uno cannolli maledito
" por um cannolli maldito "
ELENA NÃO É do tipo louca por dietas, que conta as calorias de tudo que come e que faz de tudo para entrar nos jeans perfeitos. Pelo contrário, ela era muito leve com o que comia. Ela amava comer pratos saudáveis, não aquela bobeira sem glúten, sem lactose ou qualquer coisa do tipo, mas ela amava colocar em seus pratos tudo aquilo que a mãe Terra dá de colher, tudo aquilo que brota da terra e das plantações. Exatamente tudo aquilo que não se via na geladeira de Jake.
Mesmo que o homem deva manter uma boa forma, ele estava acostumado a beber muitos shakes de proteína, jogando tudo no liquidificador e bebendo, e quando não era isso, eram suas cervejas e qualquer coisa que ele achasse na rua para comer, o homem não se preocupava muito já que tinha um metabolismo invejável e treinava o suficiente para manter seus músculos definidos.
Encontrando apenas frutas para suas bebidas proteicas, algumas cervejas, dois ovos que sobraram da meia dúzia que havia comprado e um queijo muito provavelmente mofado, Elena sabia que se quisesse comer bem, teria que fazer as compras ela mesma.
Depois de tomar um banho que dessa vez teve que realmente ser rápido devido a sua barriga roncando, Elena pegou sua mala abarrotada e a abriu no chão do quarto jogando algumas roupas em cima da cama para ver quais opções para usar e o resto ela foi empurrando as roupas de Jake de seu guarda roupa para que ela pudesse colocar as suas no lugar. Elena desistiu na metade do processo, estava com fome demais para isso.
Ela pegou uma saia longa preta com uma fenda grande na lateral e uma camiseta da seção masculina com o logo da banda Fleetwood mac mas no menor tamanho que eles tinham para que ficasse um pouco despojada mas nem tanto, logo calçou as botas de couro preta que havia roubado do armário de storm da última vez que a viu. Sem conseguir sair se quer uma vez sem o seu combo de anéis e colares, Elena não resistiu a não usá-los. Por último ela amarrou seu cabelo rebelde em um coque alto no topo de sua cabeça soltando algumas mechas para dar o toque que ela tanto gostava. Ela pegou sua bolsa e um dos milhares de pares de óculos de sol de seu namorado e saiu de casa já respirando os ares de mudança.
(...)
Elena não é a única Alves determinada na região, pouco longe dali sua irmã favorita e única mostrava o porquê de Jake ter tanto a temer. Então a voz de Storm se tornou algo mais do que só um lembrete em seus pensamentos.
─── Isso foi ontem ─── a Capitã disse, observando rostos se virarem enquanto a mulher caminhava pelo corredor entre as cadeiras, se dirigindo ao Almirante que parecia querer esconder o rosto com a aparição fora de hora da mulher ─── Os caças de quinta geração do inimigo nivelaram o jogo ─── ela falou, se colocando ao lado de Warlock e observando os rostos espantados dos aviadores, ela teve vontade de sorrir ─── Não fiquem mais se 'achando, galera, porque nós a mulher retirou seu par de aviadores do rosto e encarou sua "plateia" ─── Não temos mais a vantagem tática. O sucesso, agora mais do que nunca, dependerá do homem ou da mulher na cabine.
Warlock se colocou ao lado de Storm, que observava lentamente o seu novo esquadrão, e assim como Locky havia tentado mais cedo, dar nomes aos rostos.
─── A líder da missão de vocês é a primeira mulher e piloto estrangeiro, e um dos melhores pilotos graduados da Top Gun, suas habilidades são nada menos dignas das histórias que circulam por aí sobre seus combates aéreos. Tudo é verdade. Tenham certeza de que ela não desaponta do quesito expectativa ─── o homem começou sua introdução, que teria sido feita mais tarde se não fosse a intromissão da brasileira ─── Capitã Alice Alves, codinome, Storm.
Storm sorriu levemente para o amigo que saiu de seu lugar para se juntar ao outro almirante e ao CWO, dando espaço no pedestal para ela.
─── Bom, essa missão será difícil, não mentirei para vocês, mas se vocês estão aqui, é porquê são os melhores dos melhores e dentro de cada um de vocês, sei que há potencial para que conquistem e alcancem o necessário para concluir esta missão ─── Storm saiu de trás do pedestal e caminhou entre os pilotos com os braços atrás das costas ─── Iremos voar em dois pares de F-18, duas duplas, sendo dois jatos únicos e dois duplos, ou seja, cinco de doze de vocês voaram comigo, e nestas três semanas, durante o treinamento, eu estarei observando, tomando nota de como vocês se sairem e ao fim, sete de vocês ficarão para trás na reserva, aguardando algum outro papel que possa surgir durante a missão.
A mulher começou a caminhar em direção a Warlock, mas não antes de se virar mais uma vez.
─── Deem o seu melhor.
(...)
Elena estava pensando em fazer as compras em uma rede de mercado famosa nos Estados Unidos pelos produtos orgânicos e assim já aproveitaria para comprar algumas coisas não tão saudáveis para seu famoso lanchinho da madrugada. Mas, durante sua caminhada perto do centro comercial da cidade enquanto ela comia o tão famoso burrito do Mission District criado pelos latinos de San Francisco bem próximo aos pratos brasileiros com bastante arroz e feijão que Elena tanto sentia falta. Elena descobriu que estava tendo uma feira de rua que misturava desde gastronomia, produtos orgânicos e até brechós dos italianos da cidade.
A história de Breeze era uma das partes que mais alegravam a mulher e a deixava mais animada em questão de sua própria existência. Digna de aventuras, um misto de emoções e fora do comum. Há muitos anos atrás sua história começava quando seus bisavós saíram de Nápoles, Itália para tentar uma vida nova nos cafezais do Brasil e assim um dia conquistando sua própria fazenda que com muito trabalho duro não demorou a prosperar. Sua avó se chamava Francesca Giordano, uma jovem criada aos costumes e tradições italianas, recém chegada ao Brasil e muito curiosa pelo país, assim como Breeze.
Mas, Francesca não sabia nada de português e para se viver nesse país ela sabia que deveria aprender e assim seus pais contrataram Antônio Alves, o filho de um casal rico e muito bem educados para ensiná-la sua língua mãe e também praticar seu italiano. Não foi muito difícil de imaginar que a calorosa e expressiva italiana se apaixonaria pelo criativo e desenvolto brasileiro.
Os dois foram prometidos um para o outro e Antônio era tão bem afeiçoado e um homem de caráter invejável que os dois não precisavam viver como Romeu e Julieta, um romance trágico e proibido. Pelo contrário, os dois viviam um romance doce, suave e cheio de carinho. Após uma bela festa de casamento com direito a dançar nas uvas e tudo, nasceram Tommaso Giordano Alves, Giulia Giordano Alves e Marco Antônio Alves, o pai de Alice e Elena.
Marco quando atingiu a maioridade se mudou para estudar na capital juntamente com sua irmã Giulia enquanto Tommaso permaneceu nas terras dos pais aprendendo seu ofício. Ele estudava agronomia e agricultura, para assim aprender as melhores técnicas para a fazenda sempre crescer, já Giulia fazia a pedido da mãe enfermagem. Os irmãos eram muito simpáticos, carregando sangue italiano e brasileiro mostrando lado bom de cada nacionalidade, então não era difícil fazer amigos.
E definitivamente não foi difícil para Marco Antônio se apaixonar pela estudante de letras, Maria Helena. Dentre tantos nomes, Marco achava que os deles se completavam e não demorou muito para usar isso a seu favor para cortejar a mulher de espírito livre, riso frouxo e independência e determinação nunca vistos em nenhuma outra mulher.
Depois de muitas caminhadas juntos pelos campos da faculdade, Maria Helena cedeu e aceitou o convite de Marco Antônio para um jantar e depois disso ela só conseguia dizer sim para ele e assim se casaram. Logo se mudaram para a fazenda dos pais de Marco que assumiu ao lado do irmão todos os negócios.
Anos depois nasceu Alice, antes de virar a grande Storm, ela era apenas a princesa do papai. E mais alguns anos depois, nasceu Elena, a outra princesa. A vida das duas na fazenda era boa, simples, feliz e cheia de tradições. Ambas as irmãs Alves haviam seguido suas vidas, Elena acreditava que as histórias de seus antepassados eram nada menos do que o prólogo de sua própria história a qual ela amava escrever da maneira que quisesse. Já Alice acreditava que a história de sua família tem sim uma importância para a sua já que ela não estaria aqui se nada disso tivesse acontecido, mas nenhum deles e seus jeitos de viver a vida vão sequer chegar perto de definir o que ela fará com a vida dela.
Elena sorriu fechando os olhos quando deixou entrar pela narinas novamente o cheiro de molho italiano cozinhando, o cheiro tão familiar que a fez lembrar da história de sua família.
Ao longe Elena ouvia os arranjos de uma banda tocando músicas típicas da Itália, enquanto algumas pessoas cantavam e batiam palmas. A mulher se aproximava das primeiras barracas onde as comidas italianas já prontas eram vendidas, ela não resistiu em parar na barraca de sobremesas italianas já que uma de suas manias era sempre comer um doce depois de qualquer comida salgada que comia. Ela não resistiu em comprar dois Cannolis tradicionais, logo lembrando de Alice que amava doces indo contra sua personagem durona.
Elena se encaminhou para um banco mais afastado do meio da feira e subiu os óculos de Jake os colocando em seu cabelo com a mão livre ela pegou o celular dentro da bolsa e abriu a câmera chegando os cannolis mais perto da boca e fazendo uma cara engraçada enquanto fingia comê-los. Ela abriu a conversa com Alice e enviou a foto.
"Lembrei de você!"
( ... )
Enquanto isso nas instalações de Top Gun, a Capitã se ajeitou em sua poltrona no meio da sala de jogos, como era chamada pelos pilotos, dos aposentos da Top Gun, seu caderno azul escuro balançava em seu colo enquanto ela observava como os tenentes ajustavam seu trajes de voo no corpo, se preparando tanto física quanto mentalmente para o primeiro dia de voos. Storm contou mentalmente o número treze em sua cabeça e começou a listar os nomes que conhecia até agora, Rooster, Hangman, Phoenix, Coyote, Fanboy, Payback, BOB, Harvard, Yale… mas sua cabeça não conseguiu mais achar apelidos para dar nome aos pilotos e seus WSOs a sua frente.
Um pigarro atrás de si fez a mesma virar sua cabeça na direção do barulho, e surpreendentemente, encontrou o olhar nervoso de seu afilhado.
─── Roos! ─── ela chamou, encarando os olhos do garoto que havia lhe chamado a atenção. Storm observou o semblante um tanto quanto perturbado do afilhado e questionou com preocupação ─── ‘Tá tudo bem, Brad?
Bradshaw coçou a parte de trás da cabeça, olhando para os lados rapidamente como se temesse que alguém estivesse o observando, e sentou na poltrona ao lado da Capitã.
─── Sim, sim ─── ele respondeu rapidamente, e logo após abriu um sorriso convincente para a mulher que lhe encarava com as sobrancelhas erguidas.
Storm decidiu ignorar o comportamento estranho de Rooster e apenas balançou a cabeça para o mesmo, sorrindo de volta.
─── Já sabe com quem vai virar hoje? ─── a mulher perguntou, colocando o caderno de lado e se virando para encarar completamente o garoto.
─── Sim, saio em dez minutos ─── ele respondeu rindo levemente, o que causou um sorriso na mulher ao ver o afilhado se sentindo confortável novamente ─── Payback e Fanboy.
Storm ergueu as sobrancelhas e virou o rosto para observar a piloto e seu WSO. Os treinamentos para a missão eram feitos em três F-18s: o de Maverick que seria o inimigo, e um duplo: com um piloto e seu WSO, e um sozinho: apenas um piloto. O que significava que se Rooster estaria voando com uma dupla, iria voar sozinho.
─── Você tinha me dito que iria voar em dupla, não sozinho ─── a Capitã questionou a fala do garoto, que havia lhe mandado mensagem assim que havia descoberto sobre a presença de sua madrinha na missão.
Rooster fechou os olhos e jogou a cabeça para trás.
─── Foi o que me disseram: que haveria um WSO me esperando quando os treinos começaram ─── Bradley levantou a cabeça e olhou para a mulher novamente ─── Agora me disseram que ele só chega em dois dias.
Storm revirou os olhos mentalmente para a Marinha, que mais uma vez, deixava seus pilotos sem suporte, e tendo que treinar de maneiras que não estão acostumados.
Mas ela sorriu para Bradshaw, sabendo que seu comentário apenas o deixaria mais nervoso.
─── Tenho certeza de que ele vai chegar daqui a pouco, Roos ─── a mulher sorriu para o garoto e apoiou sua mão no ombro do mesmo.
─── E quando você vai voar? ─── ele trocou de assunto, se ajeitando na poltrona.
Foi a vez de Storm fechar os olhos e suspirar.
─── Eu estou de castigo ─── ela respondeu, fazendo um bico com os lábios. Rooster riu alto, atraindo a atenção de Fanboy e Payback que também aguardavam a liberação para irem para o hangar ─── Não vou voar até a missão.
─── ‘Tá brincando, né? ─── ele questionou, piscando várias vezes antes de voltar a falar ─── Você é a líder da missão, pelo amor de Deus, como que só vai voar no dia da missão?
Storm deu de ombros e colocou o caderno de volta no colo, havia feito a sua paz com o assunto, e tinha se conformado com o fato de que não encostaria em um F-18 se quer.
─── Eu fiz algumas bobagens em Cuba e agora o Simpson não me deixa mais voar até segunda ordem ─── a Capitã respondeu, mas ao terminar de falar, teve que se controlar para não desabafar o quanto aquilo era ridículo.
─── O que você fez dessa vez? ─── a pergunta de Rooster veio com um sorriso maroto cheio de provocação.
A capitã sorriu levemente e fechou os olhos, lembrando da sensação de estar livre no ar, com seu caça F-22, voando como se não houvesse amanhã e como se nem mesmo o céu fosse o limite.
─── Eu fiz A Manobra Storm.
Bradley virou o rosto rapidamente para encarar o rosto da madrinha.
─── Meu Deus ─── ele respondeu simplesmente, lembrando de relatos de tanto da madrinha quanto de seus colegas sobre a Manobra Storm, o quanto era perigosa e proibida, e como apenas um piloto no mundo havia a feito, aquela cujo nome estava na manobra.
Storm sorriu maritalmente.
─── Eu sei.
Rooster abriu a boca para falar mais alguma coisa quando o alarme que marcava 10:50 apitou e Fanboy e Payback começaram a se mover em direção a porta para o hangar.
Bradley se levantou da poltrona, ainda em choque pelos atos da mulher, e mesmo sabendo que ela já havia feito essa manobra diversas vezes, ainda se espantou com a calma que ela havia falado sobre.
O rosto de Bradshaw mudou quando os colegas começaram a chamar.
─── Roos ─── a mulher chamou, observando o semblante do afilhado ─── Não pense, só faça.
─── Eu te vejo quando pousar ─── ele respondeu, seu olhar não ficando em nenhum ponto em específico.
Storm tinha certeza de que o garoto não voaria bem. Storm tinha absoluta certeza de que algo havia acontecido. Mas, ela também sabia que ele só falaria quando estivesse pronto e não seria agora. Ela deu de ombros sentindo seu celular vibrar em seu bolso. Ela desbloqueou o aparelho e abriu a conversa com Elena que mostrava uma nova mensagem, era uma foto com uma legenda.
Era Elena com dois cannolis e suas caras e bocas de sempre.
"Lembrei de você"
─── CASPITA! MALEDITA! ─── Alice exclamou assustando alguns dos poucos pilotos que estavam na sala. Ela murmurou um pedido de desculpas cujo ela não estava sendo sinceramente sincera.
Elena sabia da grande queda de Alice Alves por doces especialmente os feitos em casa ( brasileiros ou italianos ) , mesmo que vá contra a postura de durona da Capitã Alves, ele ama doces de todos os tipos.
"Se não for trazer pra mim, não quero nem papo" Alice respondeu a mensagem com um emoji com raiva.
"São quase tão bons quanto o da Nona!"
"Elena..." Alice choramingou se derretendo no sofá.
"É sério! Você tem que provar!"
"Se você não trouxer pra mim, quebro a cara do Jake!"
"Vai fazer meu namorado de refém?!"
"São cannolis quase iguais os da Nona, então sim!"
"Não vou levar pra você, mas unicamente porque vai estregar até seu turno acabar."
"Chata!"
"Calma, calma, Captain! Isso é apenas uma desculpa para você almoçar comigo amanhã ou depois"
"Pelo cannoli, eu aceito!"
"E por mim?"
"Alice Alves!!!"
Alice riu para a tela do celular. Era assim sua amizade com sua irmã, muitas provocações mas o dobro de amor.
Elena sorriu bloqueando o celular e finalmente atacando de verdade os cannolis que havia comprado. A mulher não teria nem perto ficado brava com a irmã, a amizade delas era quase sempre brigas encenadas, provocações e muitas risadas ela apenas riu pensando em como Alice iria ter um dos dias mais infelizes no trabalho pensando nos doces que Elena se sujava do tanto que estava saboreando. Depois de se deleitar com os doces, Elena jogou a embalagem fora, limpou as mãos com um álcool em gel que sempre carregava em sua bolsa e se levantou rumo a uma pequena viagem de volta a suas raízes.
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