𝟎𝟐𝟎┆𝗄𝗂𝖽𝗇𝖺𝗉𝗉𝗂𝗇𝗀
↱₊˚.்⸙𝑷𝒐𝒗 𝑺 / 𝒏 𝑯𝒐𝒍𝒎𝒆𝒔 ₊˚.்⸙↴
Eu andava de um lado para outro no minúsculo quarto. Já passava mais das sete horas e o Tewksbury não havia chegado. Comecei a criar paranóias na minha cabeça. Será que ele me enganou? Será que ele não quer mais me ver? Será que ele desistiu de fugir e não veio?
Será que ele se acidentou no meio do caminho? Será que ele foi sequestrado ou... NÃO!
Balancei a cabeça diversas vezes, me repreendendo mentalmente por pensar um absurdo desses.
-- S/n calma! -- exclamou Enola, ainda sentada sobre a cama. Ela me olhava preocupada. -- Ele já já aparece.
Neguei com a cabeça e parei de andar.
-- Não Enola! Eu não tenho como me acalmar! -- voltei a andar de um lado pra outro. -- será que ele me enganou?
Enola se levantou e deu de ombros.
-- Não sei. Eu não entendo os homens -- confessou ela se encostando na porta do banheiro. -- mas acho que ele não seria capaz de enganar você.
Minha vontade era de roer as próprias unhas de tão nervosa e tensa que eu estou nesse exato momento. Eu preciso procurá-lo. Tenho certeza de que algo de ruim aconteceu com ele. Essa impressão ruim começou depois das seis horas. Mas eu achei que isso era uma paranoia da minha cabeça.
Fui rapidamente até o baú e retirei a roupa de viúva de mamãe. Se eu quiser que ninguém me reconheça, vou me vestir com o manto negro da noite. Peguei o espartilho novamente e entrei no banheiro. Coloquei tudo no lugar. Coloquei debaixo da minha saia, um canivete pequeno para que eu pudesse me defender.
Saí do banheiro e peguei minha bolsa. Enola também estava vestida de viúva como eu. Ela deve ter visto eu pegando a roupa e deduziu a ideia de que ela devia colocar também.
-- Vai procurá-lo né?! Eu vou com você.
Eu iria impedir, mas acho que ela realmente deve estar comigo. Não posso ficar totalmente sozinha nessa cidade que ainda é um pouco desconhecida pelos meus olhos.
Assenti e descemos as escadas da hospedaria. Eu dava graças a Deus por nós estarmos saindo daqui. Aqui não era um lugar confortável, como se pode ver.
Falamos com a velha. Ela disse que se quiséssemos voltar, poderíamos voltar. O que eu acho que não irá acontecer. Só se for urgente.
Aqui em Londres, assim como todo lugar, o sol se põe no oeste. Forcei meus membros a se mexerem e descia a ampla avenida que seguia na direção oposta -- pois eu queria ir primeiro ao leste, em direção a loja de roupas usadas, às docas, às ruas pobres. Ao East End.
Começamos a andar pelas ruas estranhas e escuras de East End. A única luz que havia aqui era das luzes amarelas das vitrines e das lamparinas de gás. Eu observava tudo ao meu redor e pude sentir também cheiro forte de vinagre. Eu simplesmente odeio vinagre.
Vi figuras dignas de um pesadelo. Os ratos entravam e saíam correndo da escuridão, audaciosos ratos da cidade que não fugiam de forma alguma quando eu passava por eles. Tentei não olha-los, tentei ignorá-los e fingir que não estavam lá. Tentei não olhar para um homem de barba por fazer usando um cachecol carmesim, um menino faminto e esfarrapado, um homem alto e musculoso com um avental ensanguentado, uma cigana descalça na calçada. Eu não sabia que havia ciganos em Londres.
Ela não parecia orgulhosa como as pessoas que eu via no campo. Ela é uma mendiga suja, inteiramente coberta por fuligem, como limpadores de chaminé.
Então isso é Londres? Onde estavam os teatros e as carruagens luxuosas, as damas cheias de joias em casacos de pele e vestidos de baile, os cavalheiros de abotoaduras de ouro, com gravatas brancas e fraques? Pelo amor de Deus.
Passei de frente a um bar. Havia várias pessoas saindo do local. Elas passaram por mim, esbarrando, conversando em voz alta, com um palavreado vulgar, e eu comecei a andar mais rápido, puxando Enola depressa como se eu pudesse de algum modo, escapar.
Com toda aquela barulheira, comoção e tantas visões estranhas, é claro que eu e Enola não escutamos passos nos seguindo.
Não percebi que a noite havia caído de fato. Só vi quando a rua ficou mais escura, ou foi o que pareceu no princípio. Não havia mais luz de lojas, apenas o clarão que saía das tavernas nas esquinas. Vi uma mulher parada na soleira de uma porta, rosto maquiado, lábios extremamente vermelhos, pele branca e sobrancelhas negras, supus que eu estava vendo aquelas pobres mulheres prostitutas que fazem isso pra ganhar o pão de cada dia. Seu vestido era espalhafatoso e decotado. Ela exalava um cheiro forte de gim que eu podia indentificar com exatidão.
Mas ela não era a única fonte de pestilência; todo o East End de Londres fedia a repolho cozido, fumaça de carvão, peixes mortos ao longo do Tâmisa e o esgoto das sarjetas. E havia obviamente pessoas na sarjeta.
Vi um homem bêbado ou morto caído no meio da calçada. Com certeza teve uma overdose e caiu ali mesmo. Vi várias crianças aninhadas umas com as outras, tentando se abrigar pelo frio. Meu coração doía; eu queria dar dinheiro para aquelas crianças para que pudessem comprar pelo menos um pão para saciar sua fome. Mas preciso continuar andando.
Mas algo me parou. Uma figura escura surgiu a minha frente. Rastejando no chão. Dei um pulo de susto, agarrei o braço de Enola.
Rastejando. De quatro, com as mãos e os joelhos no chão. Arrastando os pés descalços na rua.
Continuei imóvel, olhando estupidamente para ela, atordoada com a visão de uma velha reduzida a um estado tão miserável, usando um vestido rasgado e puído que mal cobria e nenhuma roupa de baixo. Ela também estava com a cabeça descoberta; nela não havia um único pedaço de pano ou um fio de cabelo. Apenas uma massa de feridas cobriam o couro cabeludo. Sufoquei um grito áquela visão, e lentamente, como passos de uma lesma ela enclinou a cabeça para nos olhar. Vi seus olhos, eram claros como groselhas...
Enola escondeu seu rosto em meu ombro. Ela não aguenta olhar por muito tempo. Ela não suporta ver a sofrência de pessoas inocentes.
Mas ficamos paradas tempo demais. Passos pesados soaram atrás de nós. Agarrei a mão de Enola e dei um salto a frente para fugir, mas já era tarde demais. Os passos correram em minha direção e uma mão de ferro agarrou meu braço. Comecei a gritar mas uma mão de aço tapou minha boca. Muito perto do meu ouvido, uma voz grossa rosnou.
-- Se mexer ou gritar, eu mato você e a sua irmã.
O terror me deixou paralisada. De olhos arregalados, olhando para a escuridão, eu não conseguia me mover. Mal podia respirar. Enquanto eu arquejava, a mão de ferro soltou meu braço e, como uma cobra, envolveu com força meus dois braços, precionando minhas costas em uma superfície que podia ser um muro de pedra, se eu não soubesse que é o peito dele. Sua mão saiu de minha boca, mas num instante, antes que meus lábios trêmulos emitissem algum som, vi um brilho de aço na escuridão da noite. Era afiada como uma lâmina. Um canivete foi precionado em meu pescoço.
-- Onde está ele?
DE NOVO? SANTO DEUS!
Mas que saco, eu já disse que não sabia onde ele estava! Ele não consegue entender isso?
-- Onde está Lorde Tewksbury?
Fiquei calada. Eu não conseguia se quer mover a garganta. Mordi o lábio inferior nervosamente. O que diabos vou fazer pra escapar.
-- Ficou muda? Onde está o visconde Tewksbury marquês de Basilwether?
Já devia passar da meia noite. Gritos confusos e extasiados saíam do bar aqui perto com a música ébria tocando ao fundo. A praça estava vazia. Qualquer coisa poderia estar a espreita nas sombras. E esse não era o tipo de lugar de onde alguém poderia esperar alguma ajuda.
A lâmina subiu sobre meu queixo, me fazendo arfar de medo. Escutei Enola tentando gritar. Eu podia escutar o barulho das suas tentativas de se soltar, mas parece que o outro homem que estava com ele, a segurava forte também. Engoli em seco, fechando os olhos.
-- Eu não tô brincando -- meu captor alertou. -- você estava indo ao encontro dele. Onde ele está?
-- Eu já disse -- murmurrei, tentando falar algo sem gaguejar. -- eu não sei onde ele está.
-- Mentirosa. -- pelos músculos do seu braço, senti que ele estava prestes a cometer um assassinato. Com um movimento rápido da faca, tentou cortar minha garganta, encontrando ao invés dela, o osso de baleia do meu colarinho. Com o que poderia ter sido o meu último suspiro, eu gritei.
Mas a última coisa que eu vi antes de sentir um impacto forte na minha cabeça, foi um homem de casaco negro segurando Enola que tinha uma expressão de medo em sua face.
Olá amores, tudo bom??
Bom, esse foi mais um cap de hoje. Espero que tenham gostado<3
Amo vcs<3
Your girl
Nívia 💐
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