𝟎𝟏𝟏┆𝖭𝗂𝗀𝗁𝗍
↱₊˚.்⸙𝑷𝒐𝒗 𝑺 / 𝒏 𝑯𝒐𝒍𝒎𝒆𝒔 ₊˚.்⸙↴
Já havia escurecido. Estávamos ao redor de uma pequena fogueira, comendo os cogumelos que Tewksbury havia preparado. Até que comer cogumelos não era tão ruim assim. Estava um silêncio, só podia escutar os estalos do fogo. Eu olhava fixamente pras chamas que dançavam no ar com uma leve poeira subindo.
Olhei para baixo, e vi que Tewksbury me observava. Ele me olhava de um jeito sério, mas depois que eu o olhei de volta, ele deu um sorrisinho de lado e desviou o olhar. Neguei com a cabeça, afastando a imagem da minha mente do garoto sorrindo de um modo convencido e ousado.
Eu disse ousado?Neguei ainda mais com a cabeça.
-- Vou buscar mais cogumelos pra gente -- disse Enola de repente, se levantando indo em direção ao campo, logo sumindo de vista.
Ficamos em um silêncio um tanto tedioso. Eu já estava ficando agoniada e isso não ajudava de forma alguma. Já bastava o nervosismo de encontrar logo a minha mãe, agora isso... Por causa que quero ouvir a voz do visconde.
-- Eu tava pensando -- falei, tentando puxar conversa. --, deveria se disfarçar também. O que acha do seu cabelo?
Tewksbury, que estava com uma pedra na mão com toda a sua atenção nela,me olhou. Ele deu de ombros.
-- Nunca me importei com ele -- respondeu ele, ainda olhando de relance pra mim.
Assenti e me virei, pegando o canivete que eu tinha levado no meio das bagagens. Peguei o objeto pontudo e peguei uma pedra pra amolar. Tewksbury olhou pra faca e estremeceu, se ajeitando no chão, já que estava quase deitado.
-- Vai cortar com uma faca. É claro que vai -- disse ele, atento ao o que eu estava fazendo.
Raspei a faca na pedra, fazendo um barulho que podia ser irritante. Mas eu não me importava, já que eu fazia isso algumas vezes. Eu já tava acostumada com isso.
-- Quem te ensinou a afiar desse jeito?
Suspirei, pensando se eu respondia a pergunta. Era tão doloroso lembrar de minha mãe, do tempo que passamos juntas no passado, na possibilidade de ela ter me abandonado e só estivesse mandado essas pistas pra me fazer sentir melhor. Mas decidi responder a pergunta.
-- Minha mãe -- respondi olhando para o mesmo.
-- Sua mãe com certeza é diferente da minha -- disse o garoto dando uma risadinha leve.
Ri de um jeito suave. Claro, a mãe dele é uma dama da corte, e a minha,era uma dama comum e feminista. O que eu tenho orgulho, ou tinha. Não sei ao certo.
-- Quem te ensinou sobre flores e ervas?
-- O meu pai.
-- Eu não conheci meu pai -- falei com a minha total atenção na faca a minha frente.
-- Meu pai morreu também.
Parei de amolar a faca por um estante. Isso é muito chato. Alguém que ama partir. O Tewksbury deve amá-lo muito, já que ele ficou mudo de repente. Olhei pra ele no mesmo momento que ele me olhou.
-- Sinto muito... -- falamos em uníssono.
Isso pareceu algo de filme de romance. Eu ainda fiquei olhando pro garoto de cabelos longos, mas depois desviei o olhar, mexendo um pouco a cabeça. Continuei amolando a faca, mas não demorou muito tempo pra chegar aonde eu queria.
-- Por que fugiu de casa? No caso...
Me sentei ao lado dele, inclinada para sua direção. Antes de eu erguer a faca, respondi a outra pergunta. Ele está fugindo comigo mesmo. Eu tonta, falei o meu nome, então o que adianta esconder mais?
-- Não quero ir pra escola de aperfeiçoamento para damas da senhorita Harrison. -- respondi começando a cortar seu cabelo, que por sinal, era macio do jeito que eu esperava -- E você?
O garoto olhou para a frente e suspirou.
-- Então, um galho de árvore -- começou ele. -- quebrou em cima de mim enquanto eu pegava cogumelos. Era pra ter caído em mim, mas consegui desviar e eu percebi que...
Ele me olhou e se calou, como se não quisesse terminar o que tinha começado.
-- O quê? -- perguntei curiosa, parando de cortar o cabelo do visconde.
-- Você vai rir de mim.
-- Não vou, relaxa.
-- Eu pensei na minha vida toda -- disse ele, me encarando com seus lindos olhos cor de mel, que eu nem tinha percebido isso antes. Me perdi em seu olhar, mas continuei atenta ao que dizia -- Eu ia assumir meu lugar na Câmara dos Lordes. Eu tinha ideias sobre como melhorar o estado. Mas minha família decidiu me mandar para o exército, servir fora do país igual ao meu tio. Eu percebi que estava com medo, medo de odiar cada segundo do resto da minha vida.
O olhei suavemente. Por um momento, entendi ele. E tive pena da expressão de seu rosto. Ele só era um garoto de dezessete anos, nem chegou na idade de controlar suas responsabilidades de Lorde. Mas não digo que ele é incapaz, mas digo que ele é novo pra isso.
-- Por que eu riria disso?
-- Não pareceu patético?
-- Não.
Estou ficando com uma certa vergonha dele, por estar me olhando tão profundamente. Vi que minhas bochechas iriam corar, mas como assim? Eu com vergonha do olhar de um homem? Isso é inédito. Sempre fui forte, mas na verdade, eu não convivia muito com garotos. Poderia ser isso.
Desviei o olhar, com vergonha.
-- Por que iam te mandar para a escola de aperfeiçoamento? -- foi a vez dele de perguntar. Senti que ele estava curioso.
O olhei novamente, por alguns longos segundos. Essa pergunta, com certeza não irei responder.
-- Voltei! -- disse Enola, com mais cogumelos. Ela preparou os cogumelos, já que Tewksbury tinha ensinado.
Enola odiava que as pessoas fizessem algo que ela é capaz de fazer por si mesma. As vezes, ela aceitava a minha ajuda, mas como falei, a gente fazia as coisas sozinhas, como nossa mãe nos ensinou desde o princípio.
Acenei pra ela e voltei a minha atenção para o visconde.
-- De manhã temos que ser rápidos -- falei, mudando de assunto. -- O homem de chapéu coco-marrom deve estar nos procurando...
-- Para onde você vai? -- perguntou ele, de um modo de... Desespero? -- Eu vou pra...
-- Londres -- o interrompi, antes que ele falasse. Tenho certeza que ele iria a Londres.
O garoto suspirou e sorriu. Por quê? Até parece que ele quer estar comigo em Londres. Duvido muito disso. Eu não aguentaria ele nem um segundo.
-- Então vamos... Seguir juntos. Se quiser.
Sorri sem mostrar os dentes. Parece que adivinhei sua intenção. Não entendo porque ele quer minha companhia. Pra ele, eu devo ser uma chata que controla tudo. E fria, principalmente.
Não seria tão ruim pra ele e nem pra mim. Mas com certeza, ele pode acabar me distraindo ou atrasar meus planos de encontrar quem eu procuro. Não posso permitir. Ele vai ter que seguir seu rumo, sozinho.
Enola me olhou pelo canto do olho, curiosa pra saber a minha resposta.
-- Não. -- respondi. O sorriso do garoto se desmanchou e ele ficou sério, e depois desviou o olhar. percebi que Enola negou com a cabeça e revirou os olhos. -- Quando chegarmos a Londres, lá nos separamos. Entendeu?
-- Entendi -- disse ele em um sussurro. Me levantei e agarrei seu cabelo, com um pouco de força talvez? Ele foi pra trás e percebi que ele ficou tenso -- Perfeitamente. Precisa ser tão cruel com o cabelo?
-- Sim -- falei dando de ombros.
-- Se acostuma paspalhão -- disse Enola rindo. -- S/n as vezes é bruta.
-- Percebi -- disse Tewksbury rindo de leve.
-- Vão se ferrar.
Terminei de cortar o cabelo dele finalmente. Deixei ele curto, mas ainda longo. Pareceu que ficou ótimo o corte, sou boa nisso. Saí de trás dele e me sentei novamente ao seu lado. Olhei pro seu rosto e arquei as sobrancelhas, orgulhosa de mim mesma. Tewksbury pareceu outra pessoa, ficou mais bonitinho, confesso.
Acho que fiquei olhando pra ele demais.
-- Eita paspalhão -- disse Enola com os olhos arregalados. -- Ficou parecendo um homem.
Tewksbury mexeu no cabelo. Se gabando, e logo olhou pra mim. Como se esperasse que eu o elogiasse.
-- Você ficou apresentável -- falei com indiferença.
-- Ah S/n! Confessa -- disse Tewksbury sorrindo convencido. -- Fiquei tão lindo que ficou me encarando por alguns minutos.
Arregalei os olhos e neguei com a cabeça dando uma risada.
-- Pelo amor de Deus Tewksbury. Para de blefar.
-- Não estou blefando. Estou simplesmente falando verdades.
Enola ria do outro lado, comendo seus cogumelos.
-- Tenho certeza que vou conquistar os corações das garotas damas de Londres.
Revirei os olhos.
-- A, e como vai. Com seu jeitinho fofinho e mal agradecido? -- perguntei, ainda rindo.
-- Me ofendeu -- disse ele fingindo estar magoado, colocando a mão no coração.
-- Vamos dormir logo.
Estendi um dos lençóis que eu trouxe da bagagem. Me deitei no meio, Enola no meu lado direito e Tewksbury no esquerdo. O garoto se virou de costas pra mim e sussurrou um boa noite.
Olhei pro céu estrelado por alguns segundos, e depois fechei os olhos, adormecendo sem perceber.
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Foi isso amores, espero que tenham gostado<3
xoxo<3
Nívia<3
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