
♡ ' 四 ' : 避けられぬ始まり. ୨୧
︵︵﹆ . ⁺ . ✦ ﹒₊˚𓂃 ★﹒₊‧
꒰੭ ゚ ׅ リズムに恋をのせて ໒ ゚ ꒱
˙ . ꒷ 𝓒𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐪𝐮𝐚𝐭𝐫𝐨 . 𖦹˙— 🎀
ㄑ ꔠ ⋮ O Começo
do Inevitável ୭ ! ✦
── ֺ ᪄ 𖹭 ၃ ִ ──
4561 palavras
Dias depois
Tóquio estava ainda mais deslumbrante do que Clara Heine imaginava. As luzes pulsantes refletiam nas vitrines e os letreiros luminosos jogavam cores vibrantes por todos os cantos, criando um contraste hipnotizante com a noite escura. A cidade parecia ter vida própria, uma energia frenética que se enroscava nas ruas movimentadas. Quando seus pés tocaram o chão do aeroporto, ela sentiu como se tivesse sido engolida por um turbilhão, um mar de sons e movimentos que a deixava sem fôlego.
Porém nada, absolutamente nada, a preparou para o que estava por vir.
Ao sair das portas automáticas, Clara foi confrontada com uma multidão. Cartazes coloridos se erguendo como bandeiras de uma guerra não declarada, gritos animados e flashes que estouravam como raios no ar, cada um tentando capturar uma fração daquele momento único. Clara sentiu a pressão crescente em seu peito, o coração batendo mais rápido, como se sua respiração tivesse sido interrompida pela intensidade da cena. Ela ficou parada, os olhos arregalados, tentando processar o que via. Nunca, nem nos seus sonhos mais ousados, imaginou que seria recebida assim do outro lado do mundo.
Ela piscou algumas vezes, engolindo a surpresa que lhe subia pela garganta. Porém logo, um sorriso genuíno, aquele tipo de sorriso que você não consegue evitar quando é invadido por uma onda de emoção, se espalhou em seus lábios. Mesmo exausta da longa viagem, o carinho e a paixão ao seu redor eram palpáveis, intensos, como um abraço coletivo que a envolvia sem pedir permissão.
Respirou fundo, sentindo a energia da multidão como um campo magnético que a atraía, e deu um passo à frente. Com a mão levantada, acenou com entusiasmo, sentindo-se conectada àquele mar de desconhecidos que, de alguma forma, a conheciam como se fosse uma amiga de longa data.
— Oh mein Gott, you are amazing! Thank you so much! (Oh meu Deus, vocês são incríveis! Muito obrigada!)
Os gritos dos fãs aumentaram em volume, uma onda de euforia que fazia o saguão do aeroporto vibrar. Alguns estendiam álbuns, outros, pôsteres, todos ansiosos por um pedaço da Clara que estavam vendo pela primeira vez ao vivo. Alguns tentavam se comunicar em inglês, outros no japonês arrastado, fazendo-a rir com as tentativas engraçadas de se conectar.
O esforço deles, como tentavam ultrapassar a barreira linguística, tocava Clara de uma maneira que ela não esperava. Era uma sensação que não tinha nome, mas que fazia algo aquecer seu peito, uma gratidão tão profunda que mal conseguia expressar em palavras. Ela nunca imaginou que seu trabalho, sua música, tivesse chegado tão longe, que tivesse tocado tantas vidas. Aquilo não era somente um reconhecimento — era uma conexão.
No meio da animação, uma fã se aproximou com um caderno nas mãos, falando rápido em japonês, sua voz quase abafada pelo tumulto. Clara piscou, confusa. Sua mente, ainda embriagada pela viagem e pelas emoções à flor da pele, tentava entender.
— Hum... sorry? (Hum... desculpa?)
A garota riu com um brilho nos olhos, tentando novamente, dessa vez com um inglês doce, mas com um sotaque tão carregado que Clara não pôde deixar de franzir a testa, tentando decifrar.
— Wait... you want a picture? Or... you want me to sign? (Espera... você quer uma foto? Ou... quer que eu assine?)
A fã sorriu e repetiu a frase com um esforço cativante, e Clara, sem saber o que fazer, soltou uma risada leve, mais para aliviar o constrangimento do que qualquer outra coisa. No entanto, antes que a situação ficasse ainda mais desconfortável, o empresário de Clara, sempre atento, se aproximou rapidamente e sussurrou perto de seu ouvido:
— She asked for an autograph, Miss Heine. (Ela pediu um autógrafo, senhorita Heine.)
Clara riu, um pouco envergonhada e, com um sorriso de desculpas, exclamou:
— Ah! Mein Gott, of course! (Ah! Meu Deus, claro!)
O riso ecoou pela multidão, uma risada compartilhada que suavizava a tensão, e ela assinou o caderno com um entusiasmo genuíno, sentindo-se como se estivesse participando de algo maior do que ela mesma, algo mágico. Era como se cada pequeno gesto fosse uma parte de um sonho que estava se tornando realidade.
O calor da multidão, os flashes das câmeras, as vozes que se entrelaçavam em uma mistura de idiomas... Tudo pulsava ao redor dela, criando uma sinfonia de emoções que parecia inebriante, quase como se ela estivesse flutuando num sonho no qual a realidade e a fantasia se confundiam.
Dando um último aceno para seus admiradores, Clara seguiu em direção à saída, o coração acelerado com a adrenalina do momento, como se ainda estivesse presa naquele turbilhão de sensações.
“I need to capture every second of this trip!” (Preciso registrar cada segundo dessa viagem!)
Ela pegou o celular com as mãos trêmulas de empolgação, a tela acesa refletindo a excitação no seu rosto enquanto começou a gravar para o vlog.
— Hey, guys! I just arrived in Japan and have already been welcomed in such a wonderful way! I'm sure this trip is going to be amazing! (Hey, pessoal! Acabei de chegar ao Japão e já fui recebida de um jeito maravilhoso! Tenho certeza de que essa viagem vai ser incrível!)
Seu sorriso brilhava mais do que as luzes neon ao seu redor, e seus olhos, intensos de expectativa, refletiam a imensidão da cidade à sua frente. O Japão estava ali, esperando por ela, e ela estava pronta para se perder nessa experiência inesquecível.
A viagem até o hotel parecia ser uma extensão daquele encantamento. Os arranha-céus de vidro e aço se misturavam aos templos antigos e tranquilos, criando uma visão contrastante, mas perfeita. As luzes piscando nas vitrines das lojas de eletrônicos, o aroma inconfundível de comida japonesa, o som distante de conversas apressadas... tudo se somava em uma sinfonia que parecia vibrar dentro dela.
No caminho, Clara, ainda com o celular na mão, gravava seus pensamentos e impressões, compartilhando cada pedaço dessa nova aventura com seus seguidores. Os vídeos se sucediam, cheios de entusiasmo e encantamento. Era como se Tóquio fosse um universo novo, um sonho colorido que ela estava prestes a explorar.
Chegando ao hotel, Clara não queria perder um segundo. Ela não estava ali para descansar — ela estava ali para viver, para sentir a cidade, para absorver tudo ao seu redor. Com a câmera ligada, ela saiu para explorar as ruas vibrantes de Tóquio, as lojas de souvenirs, os cafés charmosos, as butiques com roupas kawaii. Cada esquina parecia um novo capítulo do anime que ela sempre sonhou viver.
Ela estava tão encantada que não sabia por onde começar, mas uma coisa era certa: aquela viagem se tornaria uma lembrança inesquecível.
Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas, seu olhar foi atraído para os telões imensos dos prédios, que exibiam videoclipes de bandas e anúncios de filmes. De repente, ela parou, o coração quase parando. O logo da banda Crimson Pulse brilhou na tela, e a guitarra inconfundível de Sae Itoshi preencheu o ar. O rosto de Sae apareceu em um dos telões gigantes, projetados em plena Tóquio. Clara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era surreal ver alguém que só conhecia através das telas agora tomando forma naquela grandiosidade.
Ela sorriu, a energia da cidade pulsante e vibrante, misturando-se com o calor de sua própria excitação. Era sua primeira vez em Tóquio, e tudo parecia se encaixar perfeitamente, como se fosse parte de um destino que ela ainda não compreendia totalmente.
Sem hesitar, pegou o celular e começou a gravar, compartilhando o momento com seus seguidores, sem saber que, a poucas ruas dali, Sae também estava em Tóquio, imerso em seu estúdio, pensando nela enquanto ensaiava sua voz.
A voz de Sae ainda ecoava em sua mente, mas a cidade tinha sua própria melodia, uma sinfonia vibrante que parecia dançar com a cidade. Cada rua, cada esquina, pulsava com um ritmo frenético. O som dos passos apressados e das buzinas de veículos era como uma batida constante, fazendo seu coração acelerar em compasso com a energia elétrica da metrópole.
Clara respirou fundo, sentindo a excitação em seu peito crescer. Quando a câmera se aproximou de seu rosto, ela não conseguiu conter um sorriso largo, quase contagiante.
— Okay, time to explore! First stop… let’s find some cute cafés! (Ok, hora de explorar! Primeira parada… vamos encontrar alguns cafés fofos!) — disse, o entusiasmo evidente na sua voz, enquanto seus olhos brilhavam com a promessa de novas descobertas.
Tóquio era uma explosão de sons e cores, e Clara se deixou levar pela magia da cidade. Ela atravessou ruas iluminadas por neon e adornadas com vitrines que pareciam saídas de um sonho, sua caminhada marcada pela curiosidade em cada passo.
Logo, ela parou diante de um café que parecia uma página arrancada de um conto de fadas. A fachada, pintada em tons suaves de rosa e lavanda, era adornada com ilustrações fofas de gatinhos, cujas caudas pareciam se enrolar nas bordas da janela. Luzes suaves piscavam ao redor, criando uma aura aconchegante que chamava para dentro.
— This place looks absolutely adorable! (Este lugar parece absolutamente adorável!) — Clara exclamou para a câmera, seu sorriso se ampliando, como se ela tivesse encontrado o lugar perfeito para sua próxima aventura. Ela empurrou a porta de vidro, e um aroma doce de baunilha e creme a envolveu instantaneamente.
Ao entrar, Clara ficou maravilhada com o interior, que exalava um charme de outro mundo. O café estava decorado com uma estética que mesclava o moderno e o encantador, com garçons vestidos como personagens de anime, seus uniformes perfeitamente detalhados, circulando entre as mesas com graciosidade. Cada sobremesa parecia uma obra de arte delicada, uma explosão de cores e formas que deixavam claro o cuidado de cada preparo.
Clara se acomodou em um cantinho acolhedor, com almofadas fofas espalhadas pelas cadeiras. Ela abriu o cardápio e mostrou empolgação para a câmera, já pensando nas opções.
Os olhos dela brilharam quando ela fez sua escolha: um parfait decorado com marshmallows, um arco-íris de cores, e uma xícara de café com latte art em formato de coração, cada detalhe prometendo uma experiência que ela sabia que ficaria gravada em sua memória.
Enquanto esperava, um garçom, vestido como um personagem de anime shoujo, se aproximou com um sorriso encantador. Ele se inclinou para Clara, com os olhos brilhando de empolgação.
— Welcome, princess! Would you like me to draw something on your latte? (Bem-vinda, princesa! Gostaria que eu desenhasse algo no seu latte?) — ele perguntou, a voz cheia de doçura.
Clara soltou uma risadinha surpresa, completamente encantada pela abordagem inusitada.
— Oh, yes! Maybe… a cat? (Oh, sim! Talvez... um gatinho?) — Ela sugeriu, já imaginando o resultado.
O garçom assentiu, o sorriso se ampliando enquanto começava a desenhar na espuma cremosa do café. Seus movimentos eram rápidos e precisos, quase como uma dança. Clara observava cada traço, hipnotizada pela habilidade dele. Ela pegou rapidamente o celular e começou a filmar, ansiosa para capturar aquele momento mágico para seu vlog. Era como assistir a uma cena de um filme, mas com ela sendo a protagonista.
Quando o desenho finalmente tomou forma, Clara ficou boquiaberta, encantada com a perfeição do gatinho que agora repousava na espuma do café.
— Oh mein Gott, it’s perfect! (Oh meu Deus, está perfeito!) — exclamou, a voz cheia de admiração genuína. Ela pegou seu celular e começou a tirar fotos, registrando cada detalhe daquele pequeno milagre. — I can’t believe this… My latte is a piece of art! (Não posso acreditar... meu latte é uma obra de arte!) — disse, com uma risada de pura felicidade, enquanto a câmera capturava seu sorriso radiante.
Clara deu a primeira golada no café, e a suavidade do leite misturado com o sabor encorpado do café a fez soltar uma risada. Era como se cada gole fosse uma pequena indulgência, uma felicidade simples, mas profunda.
— Okay, this is a whole new level of cute. (Ok, isso é um nível totalmente novo de fofura) — murmurou, recostando-se na cadeira e deixando-se envolver pela atmosfera mágica do café. A cidade continuava sua agitação lá fora, mas ali dentro, tudo parecia em câmera lenta, como se o tempo tivesse parado para ela saborear aquele momento.
Com o café terminado, Clara sentiu-se leve, pronta para continuar sua jornada. A próxima parada? Mais delícias.
— Now, let’s try something else! (Agora, vamos experimentar outra coisa!) — disse, levantando-se com entusiasmo, pronta para se perder em mais sabores.
Ela saiu do café e seguiu para uma rua vibrante, onde barracas de comida estavam alinhadas em cada canto. O cheiro de takoyaki recém-preparado a atraiu como um ímã, e Clara não hesitou. A mulher que estava atrás da barraca manuseava com destreza a chapa quente, virando os bolinhos dourados enquanto uma nuvem perfumada de fumaça se ergue no ar.
— I’ve gotta try these! (Eu preciso experimentar isso!) — exclamou Clara, pegando o celular para filmar a cena, observando cada movimento da mulher enquanto ela preparava os takoyakis com perfeição. — So fresh, so delicious! (Tão fresquinho, tão delicioso!) — Clara disse, com um sorriso satisfeito nos lábios, antes de dar a primeira mordida. O contraste entre o crocante exterior e o recheio macio e quente fez sua boca se encher de sabor, e ela fechou os olhos, absorvendo cada nuance daquela explosão de gostos. Ela não precisava de mais nada para se sentir parte de Tóquio, aquele pequeno pedaço de cidade que ela agora chamava de lar por um momento.
Enquanto saboreava, um pensamento inesperado surgiu em sua mente, tão súbito quanto o estalar de um botão. Ela estava ali, em Tóquio, e Sae também estava por lá. Era como se a realidade e a fantasia se misturassem em um só momento.
Clara olhou para a câmera com um sorriso travesso e uma careta brincalhona.
— Imagine if I run into Sae here. That would be insane. (Imagina se eu esbarrar no Sae aqui. Isso seria insano) — disse, rindo nervosamente. A ideia, por mais improvável que fosse, não parecia tão absurda. Algo sobre aquele lugar, aquela cidade, fazia tudo parecer possível.
Com um suspiro divertido, ela deixou esse pensamento de lado, voltando sua atenção para a cidade ao redor. Tóquio estava viva, pulsante, e ela não podia esperar para se perder mais uma vez em suas ruas.
— Okay, no time to waste! Let’s keep this adventure going! (Ok, sem tempo a perder! Vamos continuar essa aventura!) — disse, com um sorriso empolgado, apontando a câmera para os arranha-céus cintilantes ao fundo, e para a multidão apressada que cruzava as calçadas.
À medida que o sol começava a se pôr, Clara chegou a um mirante, onde a vista de Tóquio se estendia até onde seus olhos alcançavam. O céu, tingido com tons de dourado e laranja, parecia abraçar a cidade e ela respirou fundo, absorvendo a beleza de tudo ao seu redor.
— Today has been incredible. I’ve experienced so much already, and I’m just getting started. (Hoje foi incrível. Já vivi tantas coisas e mal estou começando) — disse, com um sorriso genuíno e os olhos refletindo a gratidão e a empolgação que ela sentia.
Ela fez uma pausa, permitindo-se sentir o momento.
— Thank you for following along with me. I can’t wait to show you more of this amazing city. (Obrigada por me acompanharem. Não vejo a hora de mostrar mais dessa cidade incrível.)
Com o coração aquecido e o espírito cheio de aventura, Clara desligou a câmera e olhou para o horizonte. Sabia que o melhor ainda estava por vir.
No estúdio, o silêncio parecia espesso, como se as paredes invisíveis se fechassem a cada suspiro. Sae Itoshi estava ali, sozinho, mas sentia a presença de algo muito maior que ele. O peso do vazio diante de si, o papel em branco, se expandia, engolindo sua confiança. O estúdio, frio e impessoal, amplificava a solidão que se enraizava em seu peito. Tentava, com todas as forças que lhe restavam, acionar uma criatividade que teimava em se esquivar. Suas mãos, mais uma vez, buscavam o teclado como um refúgio, mas a melodia se dissolvia antes mesmo de se materializar. O som de sua respiração profunda era o único companheiro constante, enquanto a mente, turvada, teimava em fugir do que deveria ser simples.
Ele olhou para o papel, sentindo a frustração se acumular como uma nuvem escura. Cada letra que escrevia parecia um eco distante do que queria criar. As expectativas para o álbum solo o esmagavam. Ele sabia que seria monumental ou seria esquecido. As vozes da indústria, sempre à espreita, o observavam em silêncio, prontas para apontar qualquer erro. Sua mente estava turva, uma mistura de emoções desconexas, e ele não sabia mais se conseguia produzir algo que valesse a pena. O silêncio do estúdio, antes reconfortante, agora se tornava um peso invisível. Cada respiração sua se tornava mais pesada, quase como se ele estivesse tentando respirar sob a água.
De repente, a voz do produtor se fez ouvir, interrompendo o fluxo caótico de seus pensamentos.
— Vai ser algo grande, você sabe disso, não é? — A voz cortante e experiente de fora da porta parecia penetrar as paredes de silêncio, arranhando o ar com uma certeza que Sae já não possuía.
— Sim, claro — respondeu Sae, sua voz falhando um pouco ao tentar passar uma confiança que não existia. Ele odiava essas conversas, odiava ser forçado a vestir uma máscara de certeza quando por dentro se afundava cada vez mais.
Os olhos de Sae voltaram a se fixar no papel, que permanecia intocado, como uma sentença. Tentava se reconectar à melodia, mas as notas lhe escapavam. As emoções, aquelas mesmas que ele tanto desejava expressar, continuavam se amontoando de maneira intransponível. Algo dentro dele se rebelava, uma sensação de alienação profunda, como se sua própria essência estivesse em desacordo com o que ele tentava criar. Ele não sabia mais quem era naquele momento. O que estava criando não se parecia com nada que ele fosse. A pressão de ser algo que os outros esperavam estava o desfigurando de dentro para fora, e ele sentia isso mais do que qualquer coisa.
Ele passou a mão pelos cabelos, os dedos pressionando o couro cabeludo com força, e a raiva interna se revelou em uma risada baixa, quase sem som.
— Isso não vai funcionar... — murmurou, a voz rouca e embargada pela frustração, a raiva disfarçada em um simples lamento. Sua mente não estava mais com ele; ela se arrastava para um lugar escuro, um vazio que ele tentava evitar, mas que, de alguma forma, o chamava incessantemente.
Tentando resistir, ele focou na melodia mais uma vez, mas logo a mente o arrastou para a mesma turbulência. O que ele queria criar parecia se dissolver nas emoções que ele não sabia como traduzir em palavras, em acordes. O vazio dentro de si o consumia. Ele sabia o que queria fazer, mas não tinha como capturá-lo. Estava bloqueado, paralisado.
Com um gesto impaciente, pegou a caneta, a pressão no corpo aumentando. Sua mão tremia ligeiramente enquanto começava a escrever palavras que não se conectavam, jogadas no papel sem qualquer intenção. A tinta se espalhava, manchando o que era seu último esforço. O som da caneta riscando o papel cortava o silêncio, e o próprio som parecia ser uma paródia da sua falha criativa. Sua mente estava fragmentada, e com ela, sua confiança se esvaía a cada linha sem sentido. O papel, agora sujo com suas tentativas frustradas, parecia zombar dele, como se fosse o único reflexo de sua incapacidade.
O estúdio, vazio e opressor, tornava-se um labirinto, e o tempo parecia estar se arrastando, como se cada segundo fosse uma eternidade. Ele estava drenado — não apenas fisicamente, mas mental e emocionalmente. Como poderia criar algo genuíno, quando não conseguia sequer se entender?
E foi então que ele percebeu que já havia se perdido em um ciclo interminável. Tentando, tentando, tentando e, no final, sem sequer um passo à frente. Seu olhar vagueava pelas paredes do estúdio, buscando algo que o despertasse. Qualquer coisa. Mas a inspiração parecia uma lembrança distante, uma neblina que não conseguia agarrar. Seu foco se desfazia, e a cada novo pensamento, ele se afastava mais do que tentava construir.
A porta do estúdio se abriu, quebrando o silêncio com a entrada do produtor. A voz dele, mais suave agora, parecia pesar no ar.
— Essa música… tem algum significado especial para você?
Sae se recostou na cadeira, os olhos fechados e, por um instante, se perdeu na profundidade da própria respiração. A pergunta o atingiu como uma flecha, e ele sentiu uma aversão imediata. Esse tipo de questionamento o irritava — como se ele tivesse que justificar cada palavra que escrevia. A verdade, porém, era que ele não sabia o que dizer.
— Significado? — repetiu, a risada amarga soando em sua voz. — Não. Só estou tentando fazer algo que os fãs gostem. Não é nada profundo, se é isso que você quer ouvir.
Sua resposta saiu mais ríspida do que pretendia, mas ele estava se afundando. O peso dentro de si se intensificava a cada segundo. A última coisa que ele queria era abrir a janela para o tumulto que se passava dentro dele, esse emaranhado de emoções que ele não compreendia. Não queria olhar para o fundo de seu próprio abismo.
O produtor hesitou, talvez percebendo a tensão, antes de continuar, a voz agora mais suave, mas com um toque de preocupação.
— Você sabe, Sae, criar algo grandioso às vezes exige mais do que agradar aos fãs. Às vezes, a música precisa ser mais do que somente um produto.
Aquelas palavras pareceram atravessar a sala, ressoando em Sae. Ele tentou tapar os ouvidos, afastar o pensamento incômodo que lentamente criava raízes em sua cabeça. Porém não conseguiu. Ele não queria, mas começava a questionar se era isso que ele realmente queria — criar para agradar ou criar algo que fosse genuíno.
— Não tenho tempo para filosofar sobre a música — respondeu, a voz baixa, quase fatigada. — Eu só preciso entregar o que foi pedido.
A tensão se espalhou pelo ar, o peso do silêncio mais uma vez preencheu o estúdio. Sae fechou os olhos, tentado esquecer tudo o que estava acontecendo, mas, no fundo, algo dentro de si sabia que não poderia mais ignorar o que estava em jogo.
A porta se abriu novamente, e Shidou entrou com sua presença descontraída, distraído com o celular na mão, como se nada tivesse mudado.
— Clara Heine já chegou no Japão, né? — disse, jogando a frase no ar como se fosse somente uma informação casual.
Sae sentiu o corpo se tensionar, um choque repentino percorreu seus ossos. O nome dela, Clara Heine, reverberou em sua mente como um trovão. Ele não estava preparado para ouvir aquilo agora, mas não pôde evitar. O som de sua voz parecia carregar um peso que ele não estava disposto a suportar.
Ele não conseguiu manter a indiferença que se forçava a exibir. O tumulto cresceu dentro de si, e, sem querer, a tensão transbordou.
— Ela... chegou mesmo? — murmurou, sua voz abafada, quase imperceptível. A dúvida se misturava com algo mais, algo que ele não queria admitir.
Shidou, ciente no impacto de suas palavras, seguiu em frente, mas o peso da menção de Clara Heine estava em Sae agora, tomando conta de tudo. Ele tentou manter a fachada, mas não pôde evitar o aperto que se formou em seu peito. Clara Heine estava ali, agora, mais próxima do que ele queria.
— Que bom. Agora, posso continuar com o meu trabalho — disse, forçando um sorriso. Mas, mesmo sem querer, havia algo, no fundo de seu olhar, que contradizia suas palavras. Algo estava prestes a mudar.
Depois de um longo e exaustivo dia, Sae finalmente se permitiu um momento de descanso. Com um suspiro pesado, ele se atirou no sofá, o corpo ainda pesando pela carga de trabalho que o consumia. Seus dedos deslizaram automaticamente sobre a tela do celular, sem real intenção, enquanto sua mente vagueava, distanciada. A tela brilhava em seus olhos, mas nada conseguia realmente capturar sua atenção — até que um ícone familiar apareceu.
Ele parou de rolar, os olhos fixos na foto que surgiu na tela. Clara Heine. Lá estava ela, radiante, sorrindo amplamente sob o céu de Tóquio, a Torre de Tóquio ao fundo, iluminada de forma deslumbrante. Ela estava no centro da cidade, com uma energia vibrante que parecia quase palpável. A legenda era simples, mas cheia de vida:
“I love Tokyo! Ich liebe Tokio! 🩵” (Amo Tóquio!)
Sae sentiu um peso inesperado no peito, como se algo tivesse apertado seus pulmões, impedindo-o de respirar por um segundo. Seus olhos não conseguiam desviar-se da imagem dela. O sorriso... ele estava tão genuíno, tão espontâneo. Havia algo naquele sorriso que parecia mexer com ele de uma forma que ele não esperava, como se o toque de Clara no mundo ao seu redor fosse algo que ele não pudesse controlar.
As notificações começaram a pingar em sua tela, sem parar. Ele observou, em um estado quase automático, enquanto os comentários desfilavam à sua frente, cada palavra mais penetrante que a anterior.
“She came to see her man 👀” (Ela veio ver o homem dela)
“Sae is going to freak out!” (Sae vai surtar!)
“Look at your woman, Sae!” (Olha sua mulher, Sae!)
Ele leu cada comentário mais de uma vez, as palavras ecoando em sua mente. As mensagens, tão espontâneas e divertidas para os outros, pareciam que tinham sido projetadas diretamente para ele, como se estivessem fazendo pressão sobre algo que ele não queria admitir. Seu estômago se contorceu, e uma sensação quente e incômoda subiu por seu corpo. A frustração misturada com confusão, mas o mais estranho de tudo era a sensação de possessividade, como se o comentário tivesse uma capacidade quase tangível de arranhar sua pele. Ele queria ignorar, mas não podia.
— Maldita foto — Sae resmungou, a mandíbula tensa, os dentes cerrados. Ele tentou não sentir, mas sabia que não poderia afastar o turbilhão que agora se formava dentro de si. O sorriso dela ainda estava lá, gravado em sua mente, e os comentários continuavam a reverberar, como uma música irritante e impossível de apagar.
Com esforço, ele se forçou a olhar para a tela novamente, encarando a imagem como se pudesse fazer a sensação desaparecer. Mas, dentro dele, tudo havia mudado. O que antes parecia simples e distante — Clara, com seu sorriso brilhante e seu charme inegável — agora parecia algo maior, algo que ele não conseguia mais ignorar. Ele não sabia mais o que pensava sobre ela, ou o que estava acontecendo com ele mesmo, mas uma coisa era clara: as reações que surgiam dentro dele eram complexas, e ele não sabia como lidar com elas.
Sae fechou os olhos, tentando silenciar o ruído mental que começava a se formar, mas, como sempre, não funcionava. A imagem dela persistia, como uma sombra em sua mente, e os comentários estavam lá, plantando sementes de dúvidas que agora se espalhavam, tomando conta de sua consciência crescentemente.
Ele olhou para o celular, que agora estava apagado, mas o silêncio do aparelho parecia zombar dele. A quietude da tela fria refletia o turbilhão interno que ele mal podia controlar. Sae respirou fundo, sentindo seu peito apertar. Quando olhou novamente para o celular, a tela inerte parecia mais provocativa do que nunca, como se fosse a única coisa sólida em meio ao caos.
Foi então, naquele instante silencioso e pesado, que ele percebeu. Não havia mais volta. Não havia mais como se esconder daquilo, como fugir desse sentimento que crescia dentro dele, imenso e incontrolável.
Evitá-la já não era mais uma opção.
Continua...
Heeey, lindezas! 💗 O que acharam do quarto capítulo de RKN? Digam aqui pra mim!
Quero agradecer de coração por todos os votos e comentários de vocês! Saber que estão gostando me deixa imensamente feliz! Têm sido o meu refúgio nos meus dias difíceis, obrigada 💗💗
Juro que o encontro deles está BEM próximo! NÃO VEJO A HORA 😭😭
Em breve vou lançar umas fanarts da Clarinha pra vocês conhecerem a diva melhor! Hihi
Não se esqueçam de votar e comentar, pois isso me motiva bastante a continuar com as atualizações!
Beijinhos e até a próxima! Muah 💋
© kazzwtora 2025
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro