
♡ ' 五 ' : もう少しで、もう少しで私たち. ୨୧
︵︵﹆ . ⁺ . ✦ ﹒₊˚𓂃 ★﹒₊‧
꒰੭ ゚ ׅ リズムに恋をのせて ໒ ゚ ꒱
˙ . ꒷ 𝓒𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐜𝐢𝐧𝐜𝐨 . 𖦹˙— 🎀
ㄑ ꔠ ⋮ Quase Lá,
Quase Nós ୭ ! ✦
── ֺ ᪄ 𖹭 ၃ ִ ──
4861 palavras
— Hot Alert, guys! (Alerta quente, galera!)
A voz de Michael Kaiser, carregada de entusiasmo e um tanto estridente, cortou o silêncio do corredor, antecedendo até o som da porta do estúdio aberta com um estrondo.
Ele entrou, a porta se escancarando atrás de si, agitando o celular no ar como se fosse um troféu recém-conquistado.
— Guess who's gonna be at the Tokyo Night Sphere? (Adivinhem quem vai estar na Tokyo Night Sphere?) — anunciou em alto, os olhos brilhando de malícia, como se fosse o dono da verdade.
Isagi, que ainda estava colocando os fones de ouvido, franziu a testa, confuso.
— Hã? O que ele falou?
— Que vai ter alguém no evento de hoje à noite... — murmurou Rin, sem desviar o olhar do notebook, os dedos rápidos sobre as teclas. — Mas não disse quem.
Kaiser riu alto, quase como uma criança travessa, e jogou o celular no colo de Shidou, que imediatamente se inclinou para pegar o aparelho, os olhos fixos na tela com uma curiosidade insaciável.
— “Clara Heine confirmada como atração surpresa”... — leu em voz alta, a pronúncia de inglês meio torta, mas perfeitamente compreensível. Ele levantou os olhos, um sorriso esperto se abrindo no rosto. — Aí, cílios mais velho... é hoje que você vê sua princesinha estrangeira ao vivo, hein?
Sae não respondeu de imediato. Permanecia encostado na parede, os braços cruzados, porém, o maxilar travado entregava mais do que ele queria. O canto da boca estava contraído, como se estivesse lutando contra uma onda de reações que não queria deixar transparecer.
Kaiser se aproximou ainda mais, como se sentisse o prazer da provocação no ar, piscando com diversão.
— You going, yes? Come on... don’t be shy. She’s here for you, obviously. (Você vai, sim? Vamos lá... não seja tímido. Ela está aqui por você, obviamente.)
— I’m busy (Tô ocupado) — a resposta de Sae foi baixa, firme, quase uma ordem para o assunto ser encerrado.
Isagi soltou uma risadinha nervosa, tentando aliviar a tensão no ambiente com uma brincadeira.
— Vai ser um evento enorme... talvez a gente devesse ir. Imagina a visibilidade que pode trazer para a banda.
Rin, percebendo a oportunidade de traduzir para Kaiser, suspirou antes de falar, sabendo que o colega ainda tinha dificuldades com o japonês.
— Yeah, yeah, visibility... my ass (É, é, visibilidade... minha bunda.) — murmurou Kaiser, com um sorriso torto e a voz carregada de uma ironia afiada. — He’s scared. That’s it. Sae Itoshi, scared of a girl. (Ele está com medo. É isso aí. Sae Itoshi, com medo de uma garota.)
Lentamente, Sae virou o rosto em sua direção, os olhos agora afiados como lâminas, cortando o espaço entre eles. O ambiente pareceu se apertar ao redor deles.
— Shut up, your majesty of nonsense. (Cale a boca, sua majestade do absurdo) — A resposta em inglês foi seca, quase como um golpe no ar. O tom cortante fez a sala parar por um instante, o ar carregado de tensão.
Entretanto, Kaiser, como sempre, somente deu de ombros com um sorriso vitorioso ainda estampado no rosto.
Rin, finalmente desistindo da tentativa de manter a calma, fechou o notebook com um suspiro.
— Hurry up and decide if we're going or not. Just let me know if I need to wear formal clothes. (Apresse-se e decida se vamos ou não. Apenas me avise se eu precisar usar roupas formais.)
— Oh, you will. She’s wearing a dress, I bet. (Oh, você vai. Ela está usando um vestido, aposto.) — Kaiser disse, rindo enquanto começava a se afastar da sala.
Shidou ainda parou na porta, lançando um olhar para Sae, a expressão carregada de uma diversão que ele não escondia.
— Só não explode, viu? Você tem cara de quem vai derreter no primeiro olhar.
O silêncio caiu como uma cortina logo depois, pesado e desconfortável, enquanto os outros começavam a se aprontar para sair. A música de fundo ainda tocava, suave e quase zombeteira, contrastando com o peso no ar.
Sae permaneceu imóvel, os olhos fixos no celular de Shidou, que ainda estava sobre a mesa. A tela brilhava com a imagem de Clara Heine, uma mulher que parecia irradiar uma serenidade inatingível. Linda. Radiante. Um sorriso que parecia iluminar tudo ao seu redor.
Ele respirou fundo, um suspiro longo e calculado, como se tentasse esfriar o tumulto crescente dentro de si. A mão, quase involuntariamente, passou pelo cabelo, tentando ordenar os pensamentos, ou talvez a raiva que começava a ferver.
Ainda assim, ele sabia. Lá, no fundo, a decisão já estava tomada. Ele poderia fingir que não se importava, poderia tentar manter a fachada, mas não adianta: algo havia mudado. Mesmo que ele ainda tentasse negar, o que quer que fosse entre ele e Clara já não podia ser ignorado.
Os outros estavam se aprontando, a animação deles contrastando com o peso que ainda o prendia. Ele continuava parado, o olhar perdido, preso a pensamentos desconexos, sentindo o calor da situação crescer como uma onda prestes a quebrar.
— Vai ou não vai, ruivinho? — perguntou Shidou, rindo enquanto cruzava a porta.
Sae lançou um olhar breve em sua direção, o semblante carregado de irritação contida, mas não disse nada.
— Não é da sua conta.
Kaiser apareceu atrás de Shidou, com um sorriso travesso, como se estivesse em um momento de puro deleite, assistindo a um espetáculo pessoal.
— Of course it will. There's nowhere to run from me! (É claro que sim. Não há para onde fugir de mim!) — disse ele, com os olhos brilhando de pura provocação. — Don’t even try that “I’m busy” excuse… You’re just scared. (Nem tente a desculpa “estou ocupado”... Você só está com medo.)
Sae não respondeu de imediato. A raiva crescia dentro dele, uma tensão que ele não sabia como dissipar. Ele passou a mão pelo cabelo novamente, em um gesto impaciente, como se tentasse controlar o turbilhão de emoções que agora o consumia.
E então, com um suspiro pesado — como se estivesse aceitando algo inevitável, algo que ele não podia mais evitar — ele pegou o casaco e caminhou até a porta.
— Vamos. Mas não esperem que eu ache isso divertido.
A porta se fechou atrás dele com um clique firme, e o som do mecanismo de fechamento ressoou no silêncio que ficou para trás.
Dentro dele, uma sensação de inevitabilidade o dominava. Ele sabia. Aquela noite seria tudo, menos comum. E, por mais que tentasse negar, ele estava prestes a encarar algo que não poderia mais enterrar.
O evento estava logo ali, e Sae sentia o estômago apertado, uma inquietação crescente que ele odiava sentir. O que estava acontecendo com ele? Como podia se importar tanto com uma mulher que ele mal conhecia, alguém que só vira em uma entrevista viralizada?
Entretanto, por mais que tentasse se afastar da ideia, a lembrança daquela entrevista pairava em sua mente. Clara Heine, sorrindo, falando dele com uma naturalidade tão cortante que parecia atravessar a tela e tocá-lo diretamente. Ele não conseguia se livrar da imagem dela, daquele sorriso genuíno e da expressão despreocupada, como se nada ao redor importasse.
O que ele deveria fazer agora? Ignorar tudo isso — a mídia, a pressão, as expectativas — ou finalmente ceder à curiosidade e aos sentimentos que se acumulavam, confusos e sem sentido?
Sae cerrou os dentes, tentando afastar a sensação crescente de impotência. Não queria ser mais um idiota, mais um nome jogado aos ventos dos tabloides, uma história de verão descartada ao primeiro sinal de dificuldade. Porém, havia algo ali. Uma conexão, talvez — ou seria só sua própria insegurança tentando pregar-lhe uma peça?
“Eu sou melhor que isso,” pensou, o peito apertado de frustração.
“Mas, merda, eu vou vê-la agora. Não importa o que aconteça.”
A decisão estava tomada. Mesmo que fosse por impulso, ele sabia que não conseguiria se controlar. Ele ia estar lá. Contudo, no fundo, ele sabia que nada seria mais o mesmo depois daquela noite.
Os flashes explodiam em sequência — luzes brutais, intermitentes, como pequenos relâmpagos que não perdoavam. O som abafado dos cliques se misturava ao burburinho ansioso da multidão, mas Sae caminhava como se estivesse em câmera lenta. A expressão era impassível, tão polida quanto o smoking que vestia. Apesar disso, por dentro, algo rugia, selvagem.
Cada passo sobre o tapete vermelho reverberava nos ouvidos como um tambor batendo perto demais. A algazarra em volta parecia distante, abafada por uma camada densa de expectativa, como se o ar carregasse eletricidade prestes a se transformar em tempestade.
Ela estava ali.
Ele não a via. Não ainda. Porém, sentia. Como um arrepio subindo pela espinha, como um toque fantasma queimando na nuca. Sua presença era um fio de calor que serpenteava pelo ar, inegável.
Um vulto no canto do olho — branco. Um brilho dourado. O coração tropeçou num batimento antes que a razão interviesse. Ele se virou com brusquidão, o ar preso na garganta.
Entretanto, não era ela. Claro que não.
A raiva veio rápido. Passou a mão pelo rosto, o maxilar tenso. Aquela espera se alongava como um prego enferrujado sendo arrastado pela alma. Se ela não aparecesse logo, ele sairia. Antes que sua cabeça o traísse com mais miragens. Ou pior — antes que o coração cedesse.
— Dude, she's even more beautiful in person (Cara, ela é ainda mais linda pessoalmente) — disse alguém logo atrás, com uma risadinha encantada. — Clara Heine just arrived. (Clara Heine acabou de chegar.)
Sae congelou.
O nome ricocheteou dentro dele como uma faísca elétrica. Por um instante, tudo desacelerou — como se o tempo tivesse prendido a respiração. As luzes do salão tornaram-se borrões oscilantes, os murmúrios eufóricos se desfizeram em um zumbido distante, e até o calor abafado da multidão pareceu recuar.
Ele não se virou de imediato. O medo sussurrou sob sua pele — não de encontrá-la, mas de tudo que poderia sentir se o fizesse.
Ainda assim, seus pés começaram a se mover, guiados por um instinto silencioso, como se cordas invisíveis o puxassem em direção ao inevitável.
Clara Heine.
O nome reverberava em sua mente como uma nota presa no ar. Cada passo adiante parecia mais surdo que o anterior. O mundo ao redor desbotava, como se tudo tivesse perdido o foco — tudo, exceto a possibilidade dela.
E então, o momento se partiu.
Fotógrafos surgiram como uma onda mal contida. Um mar de flashes estourou diante dele, uma parede de corpos e gritos, lentes apontadas como armas. Sae franziu o cenho e avançou, cotovelos cerrados, cortando a multidão como quem fere.
Contudo, quando por fim emergiu do outro lado, ela... já não estava lá.
Parou, os ombros arquejando. Os olhos procuravam sem pedir permissão, vasculhando o salão entre brilhos de vestidos e espelhos cintilantes.
Nada.
A esperança evaporou no ar como perfume antigo — tão presente segundos antes, e agora somente um rastro, um vazio.
Ele ficou ali, parado, preso entre batidas irregulares e a ausência. O tempo não voltou. Nunca volta.
Talvez tenha se enganado. Talvez só tenha visto o que queria ver — uma mulher qualquer, vestida de branco, transformada em lembrança pela mente cansada.
Suspirou. O gosto da decepção era áspero como poeira.
— Ridículo. Estou ficando patético. — A voz saiu baixa, quase um sussurro mordido entre os dentes.
Virou-se devagar, tentando ajustar a velha armadura de indiferença sobre a alma exposta. Caminhou até a borda do salão, como quem procura sombra em dia nublado. Encostou-se em uma coluna de mármore polido, os dedos pressionando levemente a pedra fria, buscando nela alguma firmeza.
Então, de relance, no espelho lateral, algo brilhou.
Um vulto claro, cabelos pálidos, movimento sutil demais para ser ignorado. Um reflexo. Um fantasma.
O coração deu um solavanco. Ele se virou depressa, os olhos arregalados, como se a esperança ainda não tivesse aprendido a morrer.
Entretanto, era só outra mulher. Outro erro. Outro pequeno corte que doía mais do que deveria.
Dessa vez, o riso veio, breve e seco. Um som sem cor que faleceu antes de escapar por completo.
Estava mesmo perdendo o controle.
Ia se afastar do espelho, abandonar o reflexo e o salão inteiro, quando os flashes voltaram — mais fortes, quase cegantes. Ele ergueu os olhos, por impulso.
Eram Meguru Bachira e Nayeli Hart, o novo casal da mídia.
Ela tinha a mão na nuca dele. O toque íntimo, natural. E ele sorria. Sorria como se o mundo inteiro tivesse parado ali, naquele instante, com ela.
O maxilar de Sae endureceu. Aquele tipo de amor, tão escancarado, tão vivo, parecia uma provocação silenciosa. Quase cruel.
— Achei você! — exclamou Bachira, puxando Nayeli pela mão até Sae.
Nayeli sorriu, com uma alegria leve, sincera.
— Finally. We almost gave up. (Finalmente. Quase desistimos.)
— Ela disse que quase desistiu de te encontrar — traduziu Bachira, franzindo o cenho.
— Eu sei inglês, Bachira.
— Ah... é mesmo, né?
Nayeli riu, desatenta à troca.
— I love this venue. It’s chaotic, but kind of magical. (Eu adoro esse local. É caótico, mas meio mágico.)
Sae inspirou fundo, os olhos se perdendo na dança de luzes do salão.
— Magical, huh?
Tudo à volta era ruído, excesso, agitação. Mas, por dentro, ele só ouvia um silêncio.
Bachira notou a rigidez e tentou aliviar, com aquele típico sorriso torto.
— Não parece tão mágico assim agora, né?
Sae não respondeu de imediato. Seu olhar vagava como se buscasse uma saída invisível.
A vontade de sumir era quase física. Mas estava preso. Cercado por luz demais e ar de menos.
— You okay? (Você está bem?) — perguntou Nayeli, com um toque de doçura espontânea.
Sae esboçou um sorriso. Um reflexo mecânico, vazio, que não alcançou os olhos.
— Just not a fan of crowds. (Só não sou fã de multidões.)
O casal trocou um olhar rápido. Sae não mentia. O incômodo era real — e cada minuto ali dificultava escondê-lo.
— Quer dar uma volta? — sugeriu Bachira, a voz mais baixa. — Lá fora deve estar mais tranquilo.
Sae hesitou. Os olhos passeavam pela multidão como quem avalia o mar antes de pular. O simples pensamento de ar fresco parecia promissor.
— I’d love to see the stars (Eu adoraria ver as estrelas) — disse Nayeli, com um sorriso quase infantil. — I wonder if we can spot any through all this Tokyo glow. (Gostaria de saber se conseguimos identificar algum em meio a todo esse brilho de Tóquio.)
— Fine. (Ótimo.)
Se afastaram pelo corredor lateral. Mas mesmo ali, no espaço estreito e silencioso, Sae ainda se sentia preso dentro de si.
Caminhava ao lado dos dois, mas era como uma sombra puxada pela luz. Presente, mas sem forma. O som abafado do salão ficou para trás, substituído pelo eco suave dos sapatos no mármore.
Apesar disso, a ausência de som só amplificou o barulho dentro dele.
Bachira ria baixinho de algo que Nayeli dizia. Pareciam pertencer a outro mundo. Sae estava ali, porém distante. Como alguém preso do outro lado de um vidro grosso.
— A propósito, cadê o resto do pessoal? — perguntou Bachira, voltando o olhar. — Ainda não vi ninguém da banda.
Sae demorou a reagir. As palavras pareciam flutuar, lentas, até alcançarem seu foco.
— Devem estar por aí.
— O Isagi sumiu de novo?
Houve uma pausa. Sae arqueou uma sobrancelha, quase sorrindo.
— Disse que ia “socializar”.
— Medo. Quando ele fala isso, sempre acaba cercado de gente pedindo selfie.
Nayeli riu, contagiada pelo tom, mesmo sem entender totalmente o contexto.
Entretanto, Sae continuava alheio. Como quem observa a própria vida se desenrolar por trás de um vidro. Inalcançável.
O riso do casal se desfazia gradualmente, leves como bolhas de sabão que estouravam antes de tocar o chão. O som ecoava por instantes, somente para sumir no calor abafado da festa.
Sae os acompanhava em silêncio, os passos arrastados, como se o chão estivesse mais denso sob seus pés. A cada movimento, algo invisível o puxava para dentro de si — como areia movediça, emocional, lenta e implacável.
Por um momento, quase retrocedeu. Pensou em se refugiar na fachada ensaiada de sempre — pedir uma bebida qualquer, forçar um sorriso ao lado de desconhecidos que sabiam seu nome, mas não seu peso.
No entanto, não conseguiu.
A mente, inquieta, projetava fragmentos — flashes de luzes estroboscópicas, música abafada pelas batidas do próprio coração, rostos que passavam rápidos demais. Nada fixava, nada tocava. Era como atravessar um espelho rachado: via tudo, mas não sentia nada.
Chegou a dar um passo — por pouco não a procurou. Por pouco não cedeu ao instinto.
Ela ainda estava ali? E o pior: será que queria ser encontrada?
Ao redor, a festa continuava seu próprio ciclo — intensa, viva, ignorante à sua ausência. As luzes piscavam em tons hipnóticos, as conversas se chocavam como ondas sem direção, e gargalhadas explodiam em meio a câmeras e taças, reverberando sem tocar.
Sae estava ali. Sim, fisicamente. Mas era como assistir a um videoclipe em câmera lenta e sem som.
Tudo brilhava. Tudo pulsava.
E ele apenas ouvia o próprio silêncio, um ruído espesso, como fumaça em seu peito.
Um silêncio que carregava um nome. O nome dela. Preso, afundado na garganta.
Então, veio o som. Um estouro vibrante demais, como se o próprio ambiente tivesse respirado fundo. As taças tilintaram em resposta, as pessoas aplaudiram alguma coisa. E, no centro do turbilhão, a voz dela.
O tempo pareceu parar. Ou desacelerar, como se cada segundo ganhasse peso próprio. E doeu. Como milissegundos comprimidos no peito.
Sae girou nos calcanhares, os olhos atentos e hesitantes, buscando qualquer sinal. Um brilho familiar, um gesto pequeno, qualquer eco visual que dissesse: ela está aqui.
Contudo, encontrou somente confusão. Rostos borrados em movimento, braços ao alto, cabelos rodopiando. Um caos de luz e cor que o fazia se sentir ainda mais deslocado.
Dentro dele, o silêncio crescia, ensurdecedor. Mais alto que qualquer refrão.
O barulho externo parecia se intensificar — ou talvez fosse ele que estava ficando mais surdo à realidade. A festa ganhava nitidez para os outros, mas para ele tudo era desprovido de alma. Era como andar entre fantasmas.
As pessoas se tornavam vultos. Os rostos, borrões. Os gestos, vazios de significado.
Talvez fosse melhor esquecer. Mergulhar no anonimato da multidão e permitir que o tempo apagasse o que restava. No entanto, algo nele resistia.
Clara ainda estava ali. Ele sentia — como se o ar ao redor soubesse e sussurrasse isso sem palavras. Uma presença invisível, firme, grudada aos seus pensamentos.
Porém, onde? Onde ela estava?
E então, de repente, vozes próximas. Conhecidas.
— Ei, cara, onde você ‘tava? — perguntou Isagi, tentando parecer casual, mas havia tensão por trás do sorriso, nos olhos que analisavam demais. — Já passou da hora. Temos que resolver algo importante com a banda.
As palavras foram como um laço apertando em torno do pescoço. Um lembrete de que havia um papel a cumprir. Um mundo que esperava que ele estivesse inteiro.
— Mas eu... ainda não encontrei a Clara.
Rin o encarava como sempre — expressão neutra, olhos que não revelavam nada. Já Shidou soltava uma risada seca, quase zombeteira.
— Poxa, que azar, né? Quem sabe na próxima.
Kaiser se aproximou e tocou suas costas. Não houve calor. Apenas um gesto mecânico, como um empurrão suave de alguém que não queria realmente sentir.
— Work comes first, Sae. Let’s go. (O trabalho vem em primeiro lugar, Sae. Vamos lá.)
O vazio dentro de Sae já não era apenas uma sensação — era matéria. Densa. Escura. Uma presença silenciosa que se expandia por dentro como névoa gelada, preenchendo os espaços entre costelas e pensamentos.
Ele ergueu os olhos para os amigos.
Rostos conhecidos, mas estranhamente desfocados, como figuras em uma fotografia antiga esquecida ao sol. Sorrisos, palavras, gestos — tudo parecia chegar a ele com um atraso incômodo, como se atravessassem um vidro grosso, impossibilitados de tocá-lo de verdade.
Eles falavam. Porém, não o viam.
Cada passo que dava o afastava mais — não deles, mas de si mesmo. Era como caminhar por dentro de um corpo que não obedecia mais, deixando a alma escorregada em algum lugar atrás, congelada naquele instante em que o nome dela foi cuspido pelo som do ambiente, cruel e abrupto.
Clara Heine.
Era como se o nome tivesse raízes, agarradas ao peito, e puxasse tudo para dentro.
Os outros seguiam à frente, firmes, como se soubessem exatamente para onde ir. Como se o mundo ainda funcionasse. Mas, para Sae, o tempo oscilava — lento demais, rápido demais. Um emaranhado confuso que não parava de girar.
Ele tentava focar, tentava ancorar o olhar em algum rosto que fizesse sentido, que o fizesse respirar de novo. Mas tudo se embaralhava em traços borrados, como retratos vistos através de um vidro molhado e estilhaçado.
— Sae, let's go (Sae, vamos) — a voz de Kaiser cortou, seca, impaciente.
Sae não respondeu.
Não por falta de atenção — mas porque, dentro dele, não havia resposta alguma. Nada que quisesse sair. Nenhuma palavra encontrava forma, nenhuma certeza queria ficar.
Então ele apenas continuou andando.
Arrastando os pés com o peso de quem carrega lembranças demais nos ombros.
Tentando fugir de algo que já estava entranhado demais.
Entretanto, o vazio era incansável. Seguía com ele como uma sombra colada aos calcanhares, sussurrando na voz dela, refletido no olhar dela, feito da ausência que doía mais do que qualquer presença.
Após o compromisso, a primeira coisa que atingiu Sae quando cruzou a porta foi o cheiro.
Pairava no ar como um fantasma gentil, mas cruel. Lavanda com algo cítrico — a mistura exata que um dia colou na pele de Clara, nas roupas, nos fios do cabelo que dançavam ao vento. A fragrância o envolveu como se tentasse acolhê-lo, mas só conseguiu apertar seu peito com um tipo de carinho que feria. Familiar ao ponto da dor.
Por um segundo, ele se permitiu fechar os olhos. Quase reconfortante. Quase.
Contudo, logo o ar pareceu errado. Como um quadro pendurado torto, como se alguém tivesse entrado e mudado tudo de lugar quando ele não estava olhando. O sofá, a mesa, as luzes — tudo parecia levemente desalinhado. Ou talvez fosse ele, desalinhado do mundo.
A casa não era barulhenta, mas havia peso. Um tipo de silêncio que parecia ter forma, que se estendia por cada canto com dedos invisíveis. Como se os cômodos respirassem em uníssono, segurando algo que não queriam soltar.
Ainda assim, havia uma presença.
Ela estava ali, dissolvida no ar morno que tocava sua pele com delicadeza forçada. Pairava no espaço entre um pensamento e outro, entre a batida irregular do coração e a lembrança que nunca saía. Invisível, sim. Contudo, mais presente do que tudo ao redor.
Sae passou os dedos pelos cabelos com um gesto trêmulo, como se pudesse arrancar aquela sensação da cabeça. O toque não confortava. Ajudava pouco. Só evidenciava o tremor nos ossos, a tensão que se acumulava no corpo como uma tempestade prestes a romper.
Sentou-se no sofá e se deixou afundar, como se o móvel pudesse engolir a angústia junto com ele. Os músculos cederam, pesados demais para sustentar qualquer reação. Dentro dele, um nó pulsava — frustrado, quente, cruel.
Tantas pessoas naquela festa. Tantos rostos passando como cenas aceleradas de um filme antigo. Vozes misturadas, risos, luzes e movimento. E mesmo no meio da multidão, ele não a viu.
Como se tudo tivesse sido arquitetado por mãos invisíveis e impiedosas. Como se cada escolha, cada passo, cada segundo tivesse sido medido com precisão para impedir que seus caminhos se cruzassem. Uma dança irônica entre destino e descaso.
Ele esteve perto. Tão absurdamente perto.
Entretanto, o “quase” era afiado. Cortava fundo, como vidro contra a pele.
Deitou-se ainda mais no sofá, o olhar fixo no teto como se as linhas e frestas escondessem alguma explicação enterrada. Uma resposta. Um sinal.
E se fosse isso? Um aviso? E se o universo estivesse tentando dizer alguma coisa, com toda aquela crueldade silenciosa?
A ideia surgiu de repente, incômoda como uma farpa cravada na alma. Por mais que tentasse negar, ela voltava. Sempre voltava. Como chuva que escorre pelos dedos abertos: impossível de conter.
Ela continuava ali, persistente, quente, intangível e, ao mesmo tempo, viva demais.
Com um impulso quase desesperado, Sae se ergueu do sofá. Como se levantar fosse um ato de revolta contra o tempo, uma tentativa falha de forçar uma segunda chance — voltar, procurá-la, falar. Qualquer coisa. Agarrar o momento antes que se dissolvesse de vez.
No entanto, era tarde.
O tempo — frio, impiedoso — já tinha passado. E agora, ele estava ali. Parado no lugar errado, no momento errado, cercado pelas ruínas do que não aconteceu. Era um veneno lento. Mais cruel que o nunca.
Destrancou o celular com dedos ainda trêmulos. A luz azulada da tela iluminou seu rosto pálido, revelando olheiras fundas, o olhar perdido de quem andava por dentro de si sem encontrar saída.
Abriu o Instagram e, ali, no meio do feed, Clara Heine.
O mundo parou. Tudo ao redor sumiu. Lá estava ela. Na mesma noite. No mesmo espaço que ele — mesmo que ele não soubesse.
O coração bateu com violência, sacudindo seu peito como um tambor fora de ritmo. Sae não se mexeu. A imagem parecia tê-lo enfeitiçado, ancorado naquele momento.
O sorriso dela, os olhos brilhando como se guardassem estrelas. Tão viva. Tão perto. E tão fora de alcance.
Isso doía mais que tudo: saber que ela esteve ali. Que ele esteve ali. E que, por um segundo de desatenção do destino, tudo escorregou.
A dor era nítida. Ardente. Como uma cicatriz aberta que sangrava em silêncio.
Ele fechou os olhos, porém Clara ficou — impressa por dentro das pálpebras, sorrindo, brilhando, feliz. E ele? Provavelmente a poucos metros de distância. Invisível. Desconhecido.
O pensamento o esmagou: e se tudo tivesse sido armado para ser assim? Um jogo de cordas e marionetes, em que ele era só mais uma peça desajustada, destinada ao erro. Destinada ao “quase”.
O que deveria ser mágico virou castigo. Um eco amargo do que poderia ter sido. Se ao menos tivesse chegado antes… Porém, não. A falha era dele.
Suspirou, jogou o celular na mesa de cabeceira. O som seco cortou o silêncio, mas não a dor. Ela continuava ali — firme, constante e teimosa.
Afundou-se na cama, o olhar perdido. O colchão parecia tentar tragá-lo por inteiro, como se entendesse o peso que ele carregava. O silêncio ao redor não consolava — zombava. Cada segundo sem som gritava.
“Estava tão perto…”
As palavras saíram quebradas. Sem força, sem direção. Só um desabafo jogado no escuro. E, mesmo com os olhos fechados, tudo que via era o sorriso dela — marcado a fogo e cruel na beleza. Como se dissesse: você perdeu.
Ele se sentia patético. E odiava isso. Entretanto, não conseguia parar. Como algo tão pequeno, tão breve, podia se tornar tão inatingível?
Levantou-se devagar. O corpo parecia feito de chumbo. Olhou ao redor, como se o quarto escuro pudesse oferecer alguma resposta. Porém, tudo o que encontrou foram sombras, dançando indiferentes.
“Eu nunca vou conseguir, não é?”
Era como correr atrás do vento. Quanto mais tentava, mais se afastava. Clara estava em tudo — nos móveis, nos detalhes, nas frestas da cortina. Dentro dele.
“Será que ela também pensa em mim?”
A dúvida ficou suspensa, pesada, sufocante. E ele temeu a resposta, ou pior, o silêncio.
Foi quando o celular vibrou repentinamente.
No começo, ele nem se mexeu. Uma notificação qualquer, talvez. Então, viu o nome.
Leu uma vez.
Os olhos deslizaram pela tela, mas o cérebro hesitou, como se precisasse de um segundo a mais para entender.
Leu de novo.
Os dedos ainda pressionando o celular com força demais, como se o aparelho pudesse escapar de suas mãos a qualquer momento.
E mais uma. Só para ter certeza.
O mundo, antes confuso e embaçado como uma paisagem vista através de vidro molhado, pareceu girar devagar demais. O som do próprio coração preenchia os ouvidos como um tambor abafado.
Ela estava falando sério?
As palavras estavam ali, fixas na tela, pequenas demais para a enormidade do que significavam.
Aquilo era real?
Um calor desconhecido subiu pelo peito, quebrando o peso que antes o esmagava. O “quase”, que até segundos atrás latejava feito dor crônica, agora tremia na beirada de se tornar um “agora”.
A mensagem era simples, porém, o impacto dela reverberava como um trovão abafado em dias nublados. E era isso — ela tremia, vibrava. Como se o tempo tivesse segurado o fôlego junto com ele. E ele também.
Sae baixou o celular devagar, como se qualquer movimento brusco pudesse desfazer a realidade que começava a se formar. As mãos cobriram o rosto, os dedos entrelaçados no cabelo. E então veio o riso — trêmulo, seco, quase incrédulo.
Riu como quem tropeça na própria esperança, sem saber se era alívio ou desespero. Riu como quem não sabe se chora ou agradece, como quem carrega um furacão preso entre os pulmões.
Entre o “não é possível” e o “talvez seja agora”, talvez o universo nunca quisesse separá-los. Talvez só estivesse adiando, testando sua paciência e brincando com os ponteiros do relógio, esperando o momento certo.
E, pela primeira vez em muito tempo, Sae não lutou contra esse pensamento. Quis acreditar em tudo o que tinha.
Que o momento certo — enfim — era agora.
Heeey, lindezas! 💗 O que acharam do quinto capítulo de RKN? Digam aqui pra mim!
Primeiramente, MIL DESCULPAS pela demora pra atualizar! Infelizmente passei por umas recaídas na minha saúde, me impedindo de escrever no mesmo ritmo de costume. Espero poder compensar nos próximos capítulos 😔
Deve ter gente querendo me caçar após esse capítulo, mas juro que a enrolação acabou (ou não rsrs)
Eu ficaria igual o Sae, tendo um treco de ansiedade por não ver a pessoa logo (ansiedade e eu somos bff).
Não se esqueçam de votar e comentar, pois isso me motiva bastante a continuar com as atualizações!
Beijinhos e até a próxima! Muah 💋
© kazzwtora 2025
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