32.
EMILY SAINZ
📍Monte Carlo, Mônaco
"Novas memórias."
O ambiente ao nosso redor exalava elegância e luxo. Homens de ternos impecáveis e mulheres em vestidos deslumbrantes caminhavam pelo tapete vermelho, seus sorrisos acompanhados pelo som incessante de flashes de câmeras. Eu me sentia completamente fora de lugar, uma estranha no meio daquele mundo.
Carlos, por outro lado, parecia perfeitamente confortável. Com o braço firmemente envolvido no meu, ele me guiava com confiança, oferecendo um sorriso reconfortante sempre que eu olhava para ele com um semblante inseguro.
— Sabe, você não precisava exagerar no nervosismo. — Ele disse em um tom descontraído, olhando para mim de lado. —
— Eu não estou exagerando. — Respondi baixinho, apertando meu vestido com a mão livre. — Eu só não entendo por que você achou tão importante que eu viesse.
Carlos parou de caminhar por um momento, virando-se para mim com um olhar que misturava paciência e algo mais que eu não consegui decifrar.
— Porque você faz parte disso. — Ele respondeu simplesmente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. —
— Parte do quê? — Questionei, franzindo o cenho. —
— Você vai ver. — Ele respondeu com um sorriso misterioso antes de continuar andando, me puxando junto. — Além do mais, viemos representar nossa família. Blanca está grávida, não tem como vir comigo, Lily.
Meu olhar vacilou ao ouvir suas palavras. Representar a família? Aquilo soava importante demais para mim, especialmente considerando o quanto eu ainda me sentia perdida em relação a tudo.
— E você achou que eu sou a melhor pessoa para isso? — Perguntei, tentando disfarçar meu desconforto com um tom levemente irônico. —
Carlos parou novamente, virando-se para me encarar. Seus olhos estavam suaves.
— Você é a única pessoa que poderia estar aqui comigo — Ele disse, sem hesitar. — Não importa o que você sinta agora, Lily. Você é parte disso, parte de nós.
Respirei fundo, sentindo o peso das palavras de Carlos. Ele sempre soube como me desarmar com essa confiança inabalável que tinha em mim, mesmo quando eu não conseguia acreditar em mim mesma.
— Tá bom. — Concordei, mesmo relutante. — Vou tentar ser eu mesma. Só não garanto que vai ser suficiente.
— Sempre é. — Ele respondeu com um sorriso tranquilizador antes de voltar a me guiar pelo salão. —
Enquanto caminhávamos, meus olhos vagavam pelo local, absorvendo os detalhes e, inconscientemente, procurando por alguém em específico. A cada rosto que passava por mim, meu coração se apertava um pouco mais na expectativa de vê-lo.
Carlos continuou caminhando ao meu lado, mas percebi que ele me observava de soslaio. Era o jeito dele de tentar decifrar algo sem ser muito direto.
— Sabe, quando fui te buscar mais cedo... — Ele começou, sua voz casual demais para ser verdade. — Eu percebi que o clima estava meio... estranho entre você e o Lando.
Minhas mãos ficaram tensas ao ouvir o nome dele, e tentei disfarçar, mexendo distraidamente no tecido do meu vestido.
— Estranho? — Repeti, fingindo não entender. —
— É. — Carlos olhou para mim, arqueando uma sobrancelha. — Vocês mal se olharam, e quando se olharam foi... como posso dizer? Intenso.
Engoli em seco, sabendo que ele estava certo, mas não tinha ideia de como responder sem parecer que estava escondendo algo.
— Não aconteceu nada. — Respondi rapidamente, mas minha voz soou um pouco apressada demais para ser convincente. —
Carlos parou de andar, me obrigando a fazer o mesmo, e virou-se para me encarar de frente.
— Emily, você sabe que não adianta mentir pra mim, né? — Ele disse, com um tom firme, mas sem perder a suavidade. — Se algo aconteceu, é melhor falar logo.
Suspirei, sentindo o peso do momento. Era difícil esconder as coisas de Carlos, principalmente porque ele sempre conseguia me arrancar a verdade de um jeito ou de outro.
— Não sei se aconteceu algo. — Admiti, baixando o olhar. — É complicado, Carlos.
Ele franziu o cenho, mas esperou que eu continuasse, sem me pressionar.
Suspirei profundamente, sabendo que não adiantaria tentar enrolar Carlos. Ele sempre tinha esse talento irritante para arrancar a verdade de mim.
— A gente quase se beijou ontem. — Confessei, minha voz soando hesitante. —
Os olhos de Carlos se arregalaram, e um sorriso começou a se formar em seu rosto antes que ele tentasse disfarçar com um pigarro.
— Quase se beijaram? — Ele repetiu, visivelmente surpreso e feliz. —
Revirei os olhos, sentindo meu rosto esquentar.
— Sim, mas ele se afastou. Disse que não podíamos fazer isso, que era errado. — Expliquei, tentando manter minha voz firme, mesmo que a lembrança ainda mexesse comigo. —
Carlos cruzou os braços, inclinando a cabeça, claramente intrigado.
— E depois disso? — Ele perguntou, esperando pela minha resposta. —
— Depois disso, ele me entregou uma carta. — Falei, suspirando novamente. — Era algo que eu escrevi pra ele antes do acidente, mas eu não lembrava. Não sei como ele conseguiu, mas parece que aquilo mexeu muito com ele.
— E com você? — Carlos perguntou, o tom agora mais suave. —
— Também. — Admiti, baixando o olhar. — Mas, depois disso, ele começou a se afastar, e eu... Não tentei falar com ele. Ele também não veio atrás de mim, então achei que era melhor deixar assim.
Carlos balançou a cabeça, um sorriso quase incrédulo nos lábios.
Carlos indicou uma mesa ao fundo do salão, onde uma placa com o nome da família Sainz estava elegantemente posicionada. Ele guiou-me até lá, e nós nos sentamos. O ambiente ao redor estava cheio de vozes, risos e música suave ao fundo, mas tudo parecia desaparecer enquanto eu processava tudo o que havia acabado de confessar.
Carlos inclinou-se na cadeira, apoiando os braços na mesa, e depois segurou minha mão com firmeza, como sempre fazia quando queria que eu prestasse atenção.
— Emily, escuta... — Ele começou, seu tom mais sério agora. — Isso que está acontecendo entre você e o Lando... Só o tempo vai conseguir resolver.
Eu olhei para ele, sem saber exatamente como responder. Carlos continuou, apertando levemente minha mão, como se quisesse me passar segurança.
— O Lando é um bom homem, você sabe disso. — Ele disse, seu olhar cheio de sinceridade. — Mas ele tem medo. Medo por tudo o que aconteceu da última vez entre vocês dois.
Engoli em seco, sentindo meu coração apertar ao lembrar do que Lando havia me contado. Era estranho ouvir sobre um passado que parecia tão distante e, ao mesmo tempo, tão meu.
— E se ele nunca superar esse medo? — Perguntei, minha voz quase um sussurro. — Como vamos conseguir seguir em frente com tudo isso nos segurando?
Carlos inclinou-se um pouco mais, seu olhar cheio de compreensão.
— Emily, mesmo que você saiba o que aconteceu, precisa entender que o Lando também está lidando com isso. — Ele começou, sua voz calma, mas firme. — Vocês dois passaram por algo muito grande, e superar isso leva tempo.
Suspirei, passando a mão pelo rosto.
— Mas eu não quero ficar presa a isso. Eu quero seguir em frente, Carlos. Quero que ele também queira. — Minha voz tremia levemente, expondo minha frustração. —
Carlos segurou minha mão novamente, seu toque reconfortante.
— E talvez ele queira, Emily, mas o medo de reviver algo ruim pode ser paralisante. — Ele disse, com cuidado. — O que vocês tinham antes do acidente era muito forte, importante. E agora, acho que ele está tentando encontrar uma maneira de ter isso de volta, mas sem repetir os erros do passado.
Eu olhei para Carlos, suas palavras ecoando na minha mente. Ele estava certo, mas a dor de ver Lando tão distante, tão preso aos seus próprios medos, ainda me atormentava.
— Eu sei, Carlos. Eu só... não sei o que fazer com isso. — Admiti, minha voz fraca, enquanto olhava para a mesa. — Quero acreditar que podemos seguir em frente, mas o medo está sempre lá, entre nós.
— O que posso te dizer é que ele não vai superar isso sozinho, Emily. Vocês precisam se ajudar. E, talvez, o mais importante seja dar espaço, mas ao mesmo tempo não se afastar. Às vezes, o tempo é o único remédio para esses medos. — Ele explicou, cauteloso. —
Carlos me abraçou com força, o que me fez sentir uma sensação de conforto, como se ele estivesse tentando me transmitir toda a calma que eu tanto precisava. Fechei os olhos por um momento, me permitindo sentir o calor e a segurança daquele gesto.
— Eu sei, Carlos. — Murmurei, sentindo o peso das suas palavras, mas ao mesmo tempo, um pequeno alívio por saber que ele estava ali para me apoiar. —
Enquanto estávamos naquele abraço, ouvimos uma voz animada se aproximando. Carlos se afastou um pouco, e eu olhei para ver Charles chegando com um sorriso largo, acompanhado de algumas risadas altas.
— Aí estão, meus irmãozinhos espanhóis preferidos! — Charles exclamou, quase pulando para nos alcançar. Ele tinha esse jeito irreverente de sempre trazer leveza para os momentos tensos, e naquele instante, eu não pude deixar de sorrir com a energia dele. —
Carlos revirou os olhos, mas o sorriso em seu rosto mostrava que ele estava realmente se divertindo com a atitude de Charles.
— O que você está fazendo aqui? — Carlos perguntou, rindo. — Pensou que a gente estava num jogo de futebol?
Charles deu de ombros, se jogando na cadeira ao nosso lado.
— Não, mas pensei que era uma boa oportunidade para ver o que vocês dois estavam tramando. Está todo mundo por aí se divertindo, e vocês, como sempre, com essa cara de quem está carregando o peso do mundo. — Ele brincou, e logo em seguida se virou para mim com um sorriso travesso. — E aí, Emily, a situação está tão difícil assim?
Eu ri, tentando aliviar um pouco a tensão que se acumulava nos meus ombros.
— Talvez um pouco. — Falei, ainda com o sorriso fraco, mas já me sentindo um pouco mais leve. —
Carlos olhou para Charles com um sorriso divertido, mas também com um toque de seriedade.
— Você sabe que a Emily está passando por um momento complicado, né? Não é só de diversão que se resolve tudo. — Carlos falou. —
Charles levantou as mãos, fingindo se render.
— Eu sei, eu sei. Mas todo mundo precisa de uma pausa, né? Olha, vamos esquecer tudo por um tempo. Que tal aproveitar a festa? Pode ser bom para todos nós. — Ele falou, tentando animar o clima. —
Eu hesitei por um momento, mas a sinceridade no olhar de Charles me fez finalmente concordar.
— Tudo bem, vamos aproveitar um pouco. — Disse, sentindo um alívio, como se a ideia de me permitir uma pausa fosse exatamente o que eu precisava naquele momento. —
Charles deu um sorriso travesso, claramente se divertindo com a situação, e olhou para Carlos com uma expressão divertida.
— Ah, você sabe que eu vou roubar a Emily de você, né? — Ele disse, fingindo dar uma olhada exagerada em minha direção, como se estivesse planejando uma grande estratégia. — Vou até fazer de conta que a gente tem mais em comum, e você vai ficar aqui, com essa cara de sério, enquanto eu me divirto.
Carlos fez uma careta, claramente sem levar a sério, mas ainda assim revirando os olhos.
— Você não tem chance, Charles. — Ele respondeu, rindo baixinho. — Mas tudo bem, vai lá e tenta, quem sabe você tenha mais sorte que eu.
Charles se jogou de volta na cadeira, rindo com a própria piada, mas logo se virou para Carlos, com um sorriso mais malicioso.
— Carlos, vai arranjar uma mulher para você também, cara. E eu vou levar a Emily para se divertir. — Ele disse, piscando para mim, como se já estivesse me considerando sua parceira oficial na diversão. —
Charles se levantou, ainda segurando minha mão com entusiasmo, e começou a me puxar em direção à festa.
— Vamos lá, Emily, hoje você vai esquecer todos os seus problemas. Confia no leleco! — Ele disse, rindo, enquanto eu apenas balançava a cabeça, sorrindo com a energia dele. —
— Espera, Charles. — Falei, parando de andar por um momento, o que o fez se virar para mim com uma expressão curiosa. — Eu queria te fazer uma pergunta antes.
Ele ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços de forma exagerada, como se estivesse prestes a ouvir algo muito importante.
— Pode perguntar, mas espero que seja algo digno da minha sabedoria. — Brincou, piscando para mim. —
Eu ri baixinho, tentando disfarçar a leve tensão em minha voz.
— Você viu o Lando? Ou sabe se ele vai vir? — Perguntei, tentando soar casual, mas falhando miseravelmente. —
Charles abriu um sorriso travesso, claramente achando graça da minha pergunta.
— Mas é claro que ele está aqui, Emily! — Ele exclamou, fingindo surpresa. — A família dele é a anfitriã do evento, onde mais ele estaria?
Senti meu coração acelerar, uma mistura de ansiedade e nervosismo tomando conta de mim. Charles percebeu minha expressão e deu um passo à frente, inclinando-se ligeiramente como se fosse contar um grande segredo.
— Relaxa, ele está por aí em algum lugar. Mas, se eu fosse você, aproveitaria a festa e deixaria ele te encontrar. — Disse, com um sorriso cúmplice, antes de me puxar novamente para o meio da multidão. —
Eu tentei manter a calma, mas a ideia de encontrar Lando naquela noite já começava a me deixar inquieta. Charles, por outro lado, parecia decidido a garantir que eu me distraísse, pelo menos por enquanto.
Charles continuou me puxando pela multidão até que parou de repente perto de uma mesa decorada, onde Rosalina estava. Ela sorriu assim que nos viu, com aquele olhar acolhedor que sempre tinha.
— Emily! — Rosalina disse, abrindo os braços para me abraçar assim que nos aproximamos. — Que bom ver você por aqui.
— Oi, Rosa. — Respondi, sorrindo para ela, já me sentindo um pouco mais confortável. — Pelo visto, seu namorado decidiu que vai cuidar da minha noite hoje.
— Como sempre. — Ela respondeu, rindo, enquanto olhava para Charles com uma mistura de carinho e exasperação. — Ele adora encontrar missões, não é?
— Ei, não me joguem para escanteio! — Charles reclamou, fingindo estar ofendido. — Estou salvando a Emily do drama e da chatice. Sou um herói, na verdade.
Rosalina balançou a cabeça, rindo.
— Claro que é. — Ela disse, segurando a mão de Charles. — Mas talvez você possa desacelerar um pouco? Ela não parece tão à vontade com todo esse caos.
Olhei para Rosalina, grata pelo gesto, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Charles já estava rebatendo.
— Caos é o que ela precisa! — Ele declarou, gesticulando exageradamente. — Mas já que você insiste, talvez a gente pegue leve... por uns minutos.
— Uns minutos? — Rosalina arqueou a sobrancelha para ele, claramente se divertindo com a cena. —
Eu ri, sentindo parte da tensão aliviar.
— Vocês dois são incríveis, sabiam? — Comentei, balançando a cabeça. —
Charles riu do meu comentário e, sem perder tempo, foi até uma pequena mesa próxima, onde estavam dispostas várias bebidas. Ele pegou um copo com algo colorido e voltou rapidamente, entregando-o para mim com um sorriso triunfante.
— Aqui está, senhorita! Uma bebida especial para animar sua noite. — Ele disse, fazendo um gesto teatral enquanto me entregava o copo. —
— Especial? — Perguntei, levantando uma sobrancelha e analisando o líquido no copo. —
Rosalina, ao meu lado, deu uma risadinha, claramente conhecendo o lado exagerado de Charles.
— Não se preocupe, Lily. — Ela disse, tentando conter o riso. — Ele só escolheu o drink mais bonito. Duvido que saiba sequer o que tem aí.
— Ei! — Charles protestou, fingindo indignação. — Eu escolhi cuidadosamente. Essa bebida tem um toque de magia!
— E açúcar, provavelmente. — Acrescentou Rosalina, rindo ainda mais. —
Eu ri, já me sentindo mais à vontade, e aceitei o copo. Dei um pequeno gole, o sabor doce e refrescante explodindo na minha boca.
— Hum, está bom mesmo. — Admiti, olhando para Charles. — Você acertou, por acaso ou não.
— Por acaso, é claro. — Rosalina comentou, com um olhar travesso para Charles. —
Ele colocou a mão no peito, como se estivesse ofendido.
— Vocês me subestimam! Mas tudo bem, vou provar que consigo transformar essa noite na melhor de todas. — Ele declarou, olhando para mim com um sorriso desafiador. — Confia em mim, Emily, você vai se lembrar dessa noite.
Pelo visto, a noite junto com eles seria realmente longa e, sinceramente, talvez fosse exatamente do que eu precisava.
— Tá bom, vamos pegar mais bebidas comigo, Lily. — Rosalina disse, segurando minha mão e me puxando para longe da mesa. Seu tom era animado, mas eu sabia que ela também estava tentando me distrair. —
Enquanto caminhávamos em direção ao bar improvisado, uma garota loira passou apressada por nós, esbarrando em mim e derramando todo o conteúdo do seu copo na minha roupa.
— Ai, droga! — Exclamei, olhando para a bagunça no meu vestido. —
— Você é idiota ou o quê? Não viu a Emily aqui? — Rosalina disparou, virando-se para a garota com uma expressão furiosa. —
A loira, que parecia não ter pressa em se desculpar, deu um sorriso debochado.
— Nossa, foi mal. — Disse, sem nenhum tom de arrependimento, antes de olhar para Rosalina. — Talvez ela devesse prestar mais atenção.
— Magui, você só pode estar brincando. — Rosalina respondeu, cruzando os braços. — Dá pra acreditar que você faz esse tipo de coisa?
— Relaxa, Rosa. Não é o fim do mundo. — Magui respondeu, ainda com um sorriso provocador, e então virou-se para mim, avaliando-me de cima a baixo. — Nossa, Emily, parece que essa festa realmente não é seu lugar.
Rosalina deu um passo à frente, mas eu segurei seu braço, tentando evitar que a situação piorasse.
— Você não precisa cair na provocação dela. — Disse, em um tom firme. Então me virei para Magui. — Acho que seria melhor se você fosse embora.
Magui deu uma risada curta, ajustando os cabelos loiros enquanto olhava diretamente para mim.
— Tudo bem, eu vou. — Disse, com um tom que beirava o desdém. Mas, antes de se virar, fez questão de adicionar. — Só queria dizer que Lando beija muito bem.
Meu coração congelou por um segundo, e Rosalina ficou visivelmente irritada, pronta para responder.
— Não vale a pena. — Disse rapidamente, segurando Rosalina antes que ela pudesse explodir. Magui lançou um último olhar provocador antes de finalmente ir embora, e eu suspirei, tentando conter a enxurrada de pensamentos que invadiram minha mente. —
— Essa garota é insuportável! — Rosalina resmungou, ainda olhando para a direção em que Magui havia desaparecido. — Emily, você está bem?
— Sim. — Menti, tentando esconder o desconforto. — Vamos só pegar algo para limpar isso.
Sinceramente, eu não estava entendendo por que o que ela disse tinha me deixado tão mal.
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O meu corpo se movia no ritmo da música, cada batida ecoando na minha mente e me impulsionando a continuar. Rosalina já tinha desistido de me acompanhar, me deixando sozinha com a pista de dança e as bebidas que pareciam nunca acabar. A cada copo que eu tomava, sentia minha cabeça ficando mais leve, minhas preocupações dissolvendo-se no álcool e na energia da festa.
Eu ri sozinha enquanto girava no meio da pista, a música me guiando. Estava me divertindo, me soltando como há muito tempo não fazia. Mas, de repente, senti uma mão firme na minha cintura, me puxando para trás. Meu coração acelerou por um instante, e eu me virei rapidamente para ver quem era.
Era Lando.
Seus olhos estavam fixos em mim, misturando preocupação e uma pitada de irritação. Ele não parecia se divertir nem um pouco com meu estado.
— O que você está fazendo? — Perguntei, minha voz um pouco arrastada pelo álcool. —
— Você precisa de uma pausa, Emily. — Ele respondeu, firme, mas com um tom de carinho escondido em suas palavras. — Acho que já foi o suficiente por hoje.
Eu ri, inclinando a cabeça para o lado, ainda sentindo o calor do álcool percorrendo meu corpo.
— Uma pausa? — Perguntei, com a voz arrastada e um sorriso provocador no rosto. — Lando, eu estou me divertindo como nunca. Você deveria experimentar também.
Ele franziu o cenho, os olhos avaliando meu estado, como se estivesse tentando entender até que ponto eu estava ciente do que dizia.
— Emily, olha para você. — Ele disse, a voz mais baixa, mas ainda carregada de preocupação. — Você não está acostumada a beber assim, e claramente já passou do limite.
Revirei os olhos, tentando me livrar de sua mão na minha cintura, mas ele não me soltou.
— Não seja tão sério, Lando. — Respondi, ainda tentando manter minha postura firme, mas tropeçando ligeiramente. — Só porque você gosta de controlar tudo, não significa que eu precise fazer o mesmo.
Ele suspirou profundamente, e seu rosto endureceu por um momento antes de suavizar novamente.
— Eu não estou tentando te controlar. — Ele respondeu, sua mão se movendo levemente para segurar meu braço, mais como apoio do que como imposição. — Mas eu me importo com você, e estou vendo que isso não vai terminar bem.
As palavras dele me atingiram como um balde de água fria, mas ainda assim, eu tentei manter minha teimosia intacta.
Eu ri novamente, mas dessa vez o som saiu mais amargo, quase desafiador.
— Ah, Lando, por que você não vai cuidar da outra? Qual era o nome dela mesmo...? — Pausei, fingindo pensar, antes de soltar. — Magui! Isso mesmo.
Ele estreitou os olhos para mim, claramente confuso e ligeiramente alarmado com minha mudança de tom.
— Magui? Vocês se encontraram? — Ele perguntou, em um tom de seriedade. —
Cruzei os braços, tentando me firmar no lugar, mesmo com o mundo parecendo girar ao meu redor.
— Encontramos, sim. E sabe o que mais? — Continuei, a voz carregada de sarcasmo. — Ela me disse algo bem interessante. Que você... beija muito bem.
Vi o choque atravessar o rosto dele, seguido por uma expressão que eu não consegui decifrar completamente. Era uma mistura de incredulidade e frustração.
— Emily... — Ele começou, mas eu o interrompi antes que pudesse dizer mais alguma coisa. —
— Não precisa se explicar, Lando. — Falei, dando um passo para trás, quase tropeçando. — Só achei que você deveria saber que ela gosta de compartilhar detalhes.
Lando respirou fundo, claramente tentando manter a calma, mas o músculo em sua mandíbula tremia, denunciando sua irritação. Ele deu um passo na minha direção, as mãos levantadas em um gesto de rendição.
— Emily, chega disso. Podemos sair para conversar lá fora? — Ele falou, suspirando. —
Revirei os olhos, enquanto minha mente ainda girava com as palavras de Magui e o álcool que percorria minhas veias.
— Conversar sobre o quê? — Perguntei, cruzando os braços. — Sobre como você é um ótimo beijador? Ou talvez sobre o quanto a Magui parece gostar de você?
Lando passou a mão pelo cabelo, claramente tentando conter sua frustração. Seus olhos encontraram os meus, e a seriedade em seu olhar me pegou de surpresa.
— Não é nada disso, Lily. — Ele disse, sua voz firme, mas calma. — Só quero falar com você. Lá fora. Longe de todo esse barulho e... dessas coisas que não fazem sentido agora.
— Não fazem sentido? — Retruquei, soltando uma risada amarga. — Engraçado, porque parece que tudo faz sentido demais.
— Por favor, Emily. Só... confia em mim, tá? — Ele respirou fundo novamente, claramente se esforçando para manter a paciência. —
Hesitei, sentindo a luta interna entre a mágoa e a curiosidade. Por mais que eu quisesse continuar provocando, havia algo no tom dele que parecia diferente, quase... genuíno.
— Tá bom. — Respondi, finalmente cedendo. — Mas só porque quero entender por que você acha que tem alguma coisa para dizer que vale a pena ouvir.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus, o toque firme, mas de alguma forma reconfortante. Hesitei por um momento, surpresa com o gesto, mas não o afastei. Ele me guiou através da multidão, ignorando os olhares e sussurros ao nosso redor, até que finalmente saímos para o ar fresco da noite.
A música abafada ainda podia ser ouvida ao longe, mas do lado de fora, a calma parecia quase esmagadora em comparação ao caos que deixamos para trás. Lando soltou minha mão, mas só depois de ter certeza de que eu estava estável, me apoiando levemente contra a parede próxima.
— Pronto. — Ele começou, cruzando os braços enquanto me olhava. — Agora podemos falar sem você precisar jogar mais indiretas ou provocar.
Rolei os olhos, ainda com uma pontada de sarcasmo no tom.
— Você pediu para sair daqui. Então fala. — Respondi, cruzando os braços também, como se estivesse me protegendo de algo que nem eu conseguia identificar. —
Lando me olhou por um momento, os olhos escuros brilhando à luz suave da noite. Sem dizer uma palavra, ele deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, ele inclinou o rosto e seus lábios encontraram os meus.
O beijo foi inesperado, mas carregado de uma intensidade que fez o mundo ao nosso redor desaparecer. Por um instante, fiquei imóvel, a surpresa me deixando estática, mas logo me vi cedendo à suavidade de seu toque. Minha respiração vacilou, e minhas mãos, quase instintivamente, seguraram sua camisa, como se precisasse me ancorar.
Lando manteve o beijo firme, mas não apressado, como se estivesse se certificando de que eu entendesse tudo o que ele queria dizer sem precisar usar palavras. Quando ele finalmente se afastou, apenas o suficiente para me olhar, seus olhos encontraram os meus, intensos e cheios de algo que eu não conseguia nomear
Ele respirou fundo, ainda próximo o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração misturando-se com a minha. Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto nervoso que eu nunca tinha visto nele antes.
— Me desculpa, Emily. — Lando começou, a voz baixa e rouca. — Pelo beijo... e por hoje. Por ter te ignorado.
Fiquei em silêncio, tentando entender o que ele estava dizendo e o porquê de ele estar se desculpando agora. Ele desviou os olhos por um momento, como se tivesse reunindo coragem para continuar.
— Eu sei que fui um idiota. — Ele continuou, olhando novamente para mim, os olhos agora cheios de algo que parecia ser arrependimento. — É só que... tudo seria mais fácil se você se lembrasse de tudo.
— Ei, eu entendo. — Comecei, minhas palavras saindo mais suaves do que eu esperava. Eu peguei a mão dele e a coloquei suavemente sobre o meu peito, deixando-a ali. — Eu posso não lembrar do que vivemos, mas aqui, ele sabe quem pertence.
Continuei, apontando para meu coração, tentando transmitir o que sentia, mesmo sem as memórias.
Lando ficou em silêncio por um momento, seu olhar se suavizando à medida que ele compreendia o que eu estava tentando dizer. Seus dedos ficaram levemente pressionados contra minha pele, e senti seu toque gentil, como se ele estivesse buscando algo em minha expressão.
— Eu só queria que você soubesse... que, mesmo sem memória, meu coração ainda te reconhece. — Eu terminei, minha voz baixa, mas cheia de uma verdade que eu não podia esconder. —
Lando olhou para mim por um momento, como se tentasse processar minhas palavras. Depois, seus olhos se suavizaram ainda mais, e ele deu um sorriso lento, o tipo de sorriso que eu lembrava bem, aquele sorriso que tinha o poder de acalmar todos os meus medos.
— Isso... — Ele começou, sua voz suave, quase como se estivesse aliviado. — Isso significa mais para mim do que você imagina.
Eu senti meu peito apertar, mas, dessa vez, não de preocupação. Era uma sensação estranha, uma mistura de alívio e felicidade. Ele parecia genuíno, como se o peso que ele carregava há tanto tempo tivesse, finalmente, diminuído um pouco. Eu sorria, sentindo uma leveza que há dias não sentia, talvez até semanas.
Foi quando percebi que, apesar da confusão que rondava nossa situação, aquele sorriso era o que eu realmente precisava ver. Era a prova de que, talvez, nós ainda tivéssemos algo. Algo que não dependia apenas das memórias perdidas ou dos erros cometidos.
— Você sorriu. — Eu disse, quase em um suspiro, o sorriso se alargando em meu rosto. — Finalmente.
Lando riu suavemente, mas sua risada tinha um toque de vulnerabilidade, como se ele estivesse admitindo que, apesar de tudo, ele estava aliviado por saber que eu não o rejeitava.
— Eu sei, foi um bom sorriso, né? — Ele brincou, e eu pude sentir a tensão entre nós diminuir completamente. —
Eu dei um passo em sua direção, sentindo uma nova onda de calor no peito.
— O melhor sorriso que eu já vi. — Respondi, meu sorriso se tornando mais genuíno enquanto via aquele sorriso dele. —
— Fico agradecido pelo elogio, Lily. — Ele disse, a voz um pouco mais séria, mas com um toque de humor. — Mas, acho que precisamos voltar para dentro, né? Não quero deixar o pessoal esperando por nós.
Eu suspirei, sentindo a realidade da situação me atingir novamente. O momento que tivemos ali fora parecia perfeito, mas o evento, as pessoas, e tudo o mais ainda estavam lá dentro, esperando. A pressão do mundo real voltava com força.
— É, você tem razão. — Respondi, com um sorriso suave. — O evento não vai parar por nossa causa.
Lando me olhou mais uma vez, seus olhos ainda com uma mistura de alívio e carinho.
— Então, vamos? — Ele perguntou, dando um passo em direção à porta. —
Eu assenti, sentindo o coração ainda bater mais forte do que deveria, mas de uma forma boa. Mesmo com tudo o que tinha acontecido, parecia que estávamos prontos para enfrentar o que viesse. Juntos.
— Vamos. — Respondi, caminhando ao lado dele, sentindo uma leveza renovada enquanto voltávamos para a festa. —
No fundo, eu sabia que essas novas memórias que estávamos criando juntos eram incríveis, mas, ao mesmo tempo, o que eu mais desejava era me lembrar de tudo. De como ele me fazia sentir antes de tudo isso acontecer, de como tudo tinha começado. Principalmente dele.
001. Esperamos que os momentos felizes deles cheguem logo.
002. Deculpa qualquer erro ortográfico. Espero que estejam gostando da Fanfic.
003. Votem e comentem muito para que eu possa voltar com capítulo amanhã. Bjos da Bia.
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